Muito se tem falado sobre como a pandemia do covid-19 prejudicou as comemorações do Natal, sobre como o “Natal da pandemia” será diferente, sem graça e triste. Muitos têm dito até que “este ano não haverá Natal”. Então fico pensando nas tantas tragédias que assolaram a humanidade nesses vinte séculos em que se comemora o Natal, e que não conseguiram matar essa tradição.
A pandemia que estamos vivenciando felizmente não tem o poder de cancelar o Natal. Pelo contrário, veio refrescar algumas verdades fundamentais que, infelizmente, têm sido esquecidas. São lições da pandemia sobre o Natal.
A primeira delas é que Natal é humildade e não ostentação. Talvez nada na história do mundo moderno seja tão humilhante como um vírus mutante do qual não se sabe a origem e para o qual não existe cura, que até o momento em que escrevo infectou 78,5 milhões de pessoas e matou mais de 1 milhão e 725 mil delas, arrasando as nações mais poderosas do mundo. A pandemia veio trazer-nos de volta à humildade, aquela que nos lembra o Menino Deus, filho de um carpinteiro e de uma mulher do povo, que nasceu numa estrebaria e teve por primeiro berço um cocho. A pandemia veio cancelar as festas deslumbrantes, regadas a muita comida e bebida, com ostentação de roupas caras e muita aglomeração. A pandemia veio, silenciosamente, trazer-nos de volta à graça de Deus.
A segunda lição é que Natal é qualidade e não quantidade. O verdadeiro Natal não se mede pela quantidade de pessoas que dele participam, mas pela qualidade do relacionamento entre elas. A pandemia veio trazer-nos de volta às comemorações simples em que participa apenas a família nuclear (pais e filhos), e propiciam verdadeira comunhão. O verdadeiro Natal não se mede pela quantidade e variedade de comidas e bebidas posta numa mesa rica e farta, mas pelo prazer da celebração da dádiva do Menino Deus.A pandemia veio trazer-nos de volta à necessidade de uma celebração de qualidade, simples e comedida, própria para as ocasiões de crise, mas plena de significado.
A terceira lição é que o Natal é uma festa espiritual e não material. O Natal tornou-se um evento de mercado, uma oportunidade de negócios, que explora justamente o individualismo consumista e utilitário. A referência ao Natal se faz pela necessidade, falsamente criada, de obter bens os mais variados. Na maior parte são coisas supérfluas, adquiridas com dívidas, muitas vezes em detrimento de coisas mais importantes, como o pagamento do aluguel e de outras despesas sérias. Para a maioria das pessoas “Feliz Natal” quer dizer “feliz consumo”. A pandemia, ao nivelar ricos e pobres, nações ricas e nações miseráveis, veio trazer-nos de volta às coisas mais importantes da vida, que certamente não são as materiais. A mensagem do Natal é que Deus é Espírito, mas encarnou-se e veio habitar entre nós, para trazer-nos de volta aos valores espirituais, e para dar à vida humana seu verdadeiro valor. Por isso deu seu Filho para morrer por nós. Natal não tem nada a ver com bens materiais e seu consumo, mas com a vida espiritual que Jesus deseja dar-nos.
Vemos assim, que, em vez de cancelar o Natal o que pandemia fez foi trazer de volta seu verdadeiro significado.
Pr. Sylvio Macri