Academia da Alma 2.0 (12): Nossos pilares

ACADEMIA DA ALMA 2.0

Encontro 12

 

Síntese:

MEUS PILARES

Em que me firmo?

 

Sabedoria bíblica:

“Deus fez tudo formoso no seu devido tempo. Também pôs a eternidade no coração do ser humano, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim”. (Eclesiastes 3.11)

 

Decisão: ESPERO!

 

No belíssimo poema paulino sobre o amor, ele canta que os três pilares da vida são: a fé, a esperança e o amor (1Coríntios 13.13).

Tudo começa com o amor, amor de Deus para conosco, mas se torna efetivo pela nossa fé.

Viver pela fé não é temer a razão.

Seguir com esperança não é negar a realidade.

Amar a Deus não é passar ao largo da compaixão.

 

SOBRE O PILAR DA FÉ 

 

Parodiando Philip Yancey, sugerido que ter fé é ouvir rumores do outro mundo. Abrão, depois Abraão, saiu de Ur porque ouviu o rumor do Deus Eterno dizendo que o convidava para deixar sua terra e ir para uma mostraria no caminho. Ele foi. Oswald Chambers (1874-1917) devia estar pensando nele quando escreveu:

 

“A fé jamais sabe para onde está sendo levada, mas ama e conhece Aquele que está levando”. 

 

Gosto sempre de pensar que fé é uma resposta. 

A fé começa quando experimentamos a insuficiência das certezas que temos sobre o nosso presente e sobre o nosso futuro.

A fé continua quando nos perguntamos se há algum sentido para a vida, insatisfeitos com a noção de que somos regidos pelo acaso.

A fé prossegue quando nos sentimos incomodados com o vazio de uma existência marcada apenas pelo ciclo nascer-viver-morrer.

A fé nasce com um desejo.

A fé respira quando paramos de nos contentar com o que pensamos ou com o que nos ensinaram, talvez em livros muito lidos de autores vivamente aplaudidos, e nos pomos a pesquisar.

A fé se põe a caminho quando, deixando de lado nossos temores e preconceitos, permitimos que Deus se revele a nós através da leitura da Bíblia.

A fé se descortina como uma possibilidade quando, desconfiados ainda ou já apaixonados, descobrimos como e quanto somos amados pelo Deus Eterno, como o demonstram as histórias e os ensinos do livro que homens e mulheres divinamente inspirados escreveram e preservaram.

A fé se solidifica quando nos deparamos com a vida, morte, ressurreição e ascensão do Deus-homem Jesus, imigrante rejeitado pela maioria ontem, amigo e irmão dos que querem sua companhia hoje e Senhor a se manifestar completamente amanhã.

A fé não é um salto no escuro. A fé inclui um salto, mas quem crê sabe o que vai encontrar: um braço forte ou uma rocha firme para o acolher.

A fé não é uma renúncia à razão. A fé caminha com a filosofia, a pesquisa, a ciência, mas quem crê não encaixota o pensamento em modos que podem ser ampliados.

A fé não é uma superstição. A fé se recusa a acreditar em símbolos, objetos e fatos que as mãos humanas criaram, porque quem crê ora de olhos fechados diante do Deus invisível.

A fé não é uma negação de todos os desejos. A fé busca satisfazer os desejos, mas quem crê não se algema a nenhum deles.

A fé não é um pensamento positivo. A fé alimenta a esperança, esperança baseada na história do amor de Deus e sempre leva a sério a nossa responsabilidade.

Fé é confiar que somos amados por Deus, que intervém, fala conosco e nos ouve.

Fé é pensar e dar graças a Deus pelo dom da razão, que nos faz profissionais, pensadores, artistas, atletas, cientistas.

Fé é crer no que é razoável, mesmo que pareça improvável, quando garantido como tendo ocorrido ou que vai acontecer pela Palavra de Deus.

Fé é desejar o que é melhor para nós e para os outros, sonhando com a bondade no comando.

Fé é imaginar que podemos ir além, de mãos dadas com o Senhor da história, cujo convite à amizade prazerosamente aceitamos.

A fé é um sentimento que se define, mas uma atitude que se vive.

Precisamos confiar.

Confiar em Deus é um exercício de aprendizagem. A tarefa é difícil porque vai contra a nossa natureza. Nosso estilo de vida é marco pela autoconfiança exagerada, que nos leva a pensar que podemos resolver todos os nossos problemas.

Confiar em Deus é um exercício de entrega. E a entrega é uma admissão de nossa próprio incompetência. Por isto, antes de gritá-la, preferimos quebrar nossa cabeça até à completa exaustão, em lugar de renunciar ao controle. Orar é entregar. E sabemos que é absolutamente impossível conjugar os verbos controlar e orar ao mesmo tempo.

É por isto que confiar é sobretudo um exercício de fé.

"Fé" não é uma palavra de fácil compreensão. Na Bíblia, ela tem várias dimensões. Uma delas é a fé-visão, contemplada em Hebreus 11.11, quando estabelece que "a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que não se veem”. Pela fé-visão, vemos Deus agindo antes mesmo de Ele agir.

No entanto, fé é mais que visão. Quando Paulo fez a descoberta que é pela fé que vivemos (Romanos 1.17), o apóstolo passou a destacar que somos aceitos na comunidade do amor de Deus para uma vida nova por meio da fé em Cristo como Salvador. Esta é a fé para a salvação.

Precisamos também da fé-confiança, que decorre da fé salvadora e da fé visionária, para que possamos seguir o convite bíblico: "Entregue o seu caminho ao Senhor, confie nele, e o mais ele fará" (Salmo 37.5).

Precisamos confiar.

 

 

SOBRE O PILA DA ESPERANÇA

 

Um dos privilégios da minha vida foi conhecer Jürgen Moltmann (nascido em 1926). Tendo feito palestras no Rio de Janeiro, fui ouvi-lo. As lembranças foram que a tradução foi ruim e que o espaço era muito pequeno. Ele me pareceu pequeno (de estatura e brilho), mas sua obra é exuberante, toda ela dedicada ao tema da esperança cristã, sempre associada com o ideal da justiça. Escreveu ele, por exemplo:

 

“A esperança cristã não promete dias cheios de sucesso para os ricos e fortes, mas ressurreição e vida para os que podem estar nas sombras da morte. Sucesso não é o nome de Deus; justiça, sim”.

 

Ele nos mostra que a esperança é o fundamento da vida.

De fato, dizemos que a esperança é a última que morre. Por isto, repetimos que enquanto há vida há esperança.

Esses pensamentos refletem nossos desejos. Na verdade, muitas vezes continuamos vivos sem esperança e sem capacidade de produzi-la. Aliás, nunca somos capazes de produzir esperança.

A esperança é um presente que o Deus Eterno nos entrega. A fé é que é humana. 

Pensemos na maior realização da humanidade, que foi a travessia do mar Vermelho pelos hebreus em fuga, ocorrida há mais de três milênios. Pela fé creram que o Deus Eterno era capaz de abrir as águas e pela esperança viram a terra seca sob o seus pés do outro lado.

A esperança vem do Deus Eterno e resulta em alegria e paz. A alegria vem da confiança no cuidado divino. A paz vem do sentimento de que somos amados pelo Eterno Pai.

Cuidemos para que a esperança não se torne um salvo-conduto para a irresponsabilidade. Não pode ser a certeza de que vai acontecer o que queremos. Não pode ser um disfarce para a nossa autossuficiência ou arrogância.

Ter esperança é aguardar acontecer o que o Deus Eterno vê. É ter férrea vontade de viver e lutar pela vida. É saber que a morte não é o fim, uma vez que nada nos separa do amor que a Trindade divina sente e mostra por nós (Romanos 8.38).

Já que esperança é dom, como tê-la?

Já que esperança é dádiva, como recebê-la?

Já que esperança é graça, como mantê-la?

Para vivermos no compassado da esperança, precisamos crer. A graça vem primeiro: somos amados incondicionalmente pelo Deus Eterno. A fé vem depois e é a nossa resposta a tão grande salvação.

Agora, podemos pedir que o Deus Eterno nos encha de esperança, derramando-a continuamente em nosso coração.

Só há esperança onde há oração.

Oramos porque dependemos. Oramos porque cremos. Oramos porque sofremos. Oramos por causa do muito que recebemos.

Para vivermos no compasso da esperança, precisamos crer e continuar crendo, mesmo contra as circunstâncias, que o Deus Eterno trará à realidade o que Ele vê, talvez sem nossa participação (enquanto dormimos) ou através de nossa atuação (enquanto suamos) ou por meio daqueles que para conosco exercem compaixão, mesmo que a vitória não vislumbremos. 

Precisamos assumir a responsabilidade de cuidar como sendo o nosso ministério.

Precisamos usar os recursos que o Deus Eterno nos disponibiliza: sua Palavra, pela qual nos guia; nossa meditação, pela qual nos pastorei; os livros bons com os quais nos desafia; as lindas músicas que nos envia como refrigério.

 

 

O PILAR DO AMOR

 

Amo o apóstolo Paulo. Eu já o amava, mas quando fiz uma viagem rápida pela Turquia, eu voltei totalmente apaixonado. O homem (que eu imagino baixinho) percorreu toda aquela região, chamada de Ásia pelas autoridades romanas.

Eu perguntei à guia como ele fez essas viagens. Ela disse que foi a pé, porque alugar um animal ou uma carruagem era muito caro. O que ele fez andando eu fiz sobre as asas de um avião ou assentado numa poltrona de ônibus. Confesso: não consegui imaginar como andou tanto (devia ser magrinho também o meu querido Paulo). Sei porém que fez por amor. Quando se ama, sacrifício não é sacrifício. Paulo não só escreveu sobre amor; ele amou.

Indefinível, o amor é palavra, sentimento, atitude e ação. Começa no céu. Acontece na história. Sobe ao infinito.

Amar é verbo de muitos objetos.

Amamo-nos a nós mesmos. Cada vez mais apaixonadamente, cada vez mais intensamente, cada vez mais perdidamente, nós nos amamos. Nós nos amamos e queremos ser amados. Para ser amados, chegamos a fazer o que não queremos, seguimos a moda que não apreciamos, vamos a lugares de que não gostamos, buscamos aplausos de que não precisamos. 

Amamos a Deus. Às vezes apaixonadamente, às vezes displicentemente; às vezes intensamente, às vezes burocraticamente; às vezes sem expectativa de recompensa, às vezes apenas pelas bênção esperadas. Amamos a Deus para lhe corresponder docemente ou por o temer doentiamente. Amamos a Deus como uma forma de busca sem fim ou pelo entendimento de que Ele nos buscou e sem Ele não podemos viver.

Amamos o outro. Amamos o outro pela alegria que sua companhia nos dá ou pelo prazer que seu corpo nos oferece e enternece. Amamos o outro para com ele realizar desejos e para com ele nos realizarmos como pessoas.

Sempre conjugamos e sempre conjugaremos o verbo amar que se ancora na reciprocidade.

Podemos ir além. É quando amamos mesmo sendo incompreendidos, desprezados, perseguidos, rejeitados. É quando amamos o desconhecido, o abandonado, o diferente, o injustiçado, o inalcançado. Quando amamos olhando no espelho do amor de Deus para conosco, amamos desprendidamente, amamos missionariamente, amamos solidariamente. 

É este jeito puro de amar que temos que cuidar para que sempre nos habite.

O amor é a mãe de todas as virtudes que o Espírito Santo produz em nós. Quando amamos, sentimos alegria, promovemos a paz, somos pacientes, somos corteses, somos misericordiosos, somos fiéis, comportamo-nos de modo tranquilo, dominamos nosso temperamento.

Embora o ódio da guerra, da arrogância e do preconceito triunfe e nem sempre sejamos recomendados, não desistamos de amar na prática (1Coríntios 13.4-8). 

Quem ama vai até o fim (João 13.1), não importa o preço (Lucas 10.33-35).

Desejemos amar como Deus nos amou e ama. Peçamos a Ele para dilatar o nosso coração, que naturalmente quer se encolher, quer escolher, só colher, recolher. Criemos desejos e formas para amar mais, não menos. Ensinemos o amor com os exemplos de renúncia, de gratidão e de solidariedade que vivemos.

Quando amamos, nós nos parecemos com Deus (Gênesis 33.10).

Quando amamos, antecipamos o que viveremos na eternidade.

Do amor nasce a alegria.

Devemos nos lembrar que a fé é uma escolha indispensável para a renovação da vida, mas produzirá morte se não for mediada pelo amor.

De igual modo, a esperança é uma atitude indispensável para a orientação da vida, mas se transformará em ilusão se não for nutrida com amor.

O cuidado vale para outras direções. A razão é uma habilidade indispensável na reflexão sobre a vida, mas será mãe da destruição se não for controlada pelo amor.

O dinheiro é um recurso indispensável para a manutenção da vida, mas será idolatrado se não for usado com amor.

A tecnologia é um recurso indispensável para a recriação da vida, mas ceifará milhões se não for embalada pelo amor.

A arte é um bem indispensável para a fruição da vida, mas será vazia se não for concebida com amor.

O tempo é um compasso indispensável para a realização da vida, mas será uma algema se não for vivido em amor.

A solidariedade é uma força indispensável para a transformação da vida, mas virará vaidade se não for motivada pelo amor.

A amizade é uma necessidade indispensável para o entendimento da vida, mas será um cabresto se não for vigiada pelo amor.

A alegria é uma emoção indispensável para a completude da vida, mas será um trampolim para a superficialidade se não for acompanhada do amor.

Para que não degenerem, todas as coisas indispensáveis para a nossa vida precisam ser orientadas e animadas pelo amor.

Quem é conduzido pelo Espírito de Deus ama, embora amar seja contra a sua natureza.

Para viver no compasso do amor, precisamos permitir que o Espírito Santo de Deus sopre seu hálito no nosso coração e o preencha completamente.

 

Deus nos ama quando o amamos.

Ele nos ama quando o desprezamos.

Sua fidelidade para conosco é diferente.

Não está fincada no amor a que se corresponde.

Está fundada sobre o amor que tudo compreende.

O amor de Deus é para ser recebido.

Melhor o fruiremos se for celebrado.

Mas Deus não é como ser humano que empresta

E só na reciprocidade se manifesta.

Para que continue a ser derramado,

O amor de Deus só espera ser desejado.

 

 

UM BALANÇO

 

Na hierarquia da vida que leva Deus a sério, o amor é mais importante que a fé, pela qual somos salvos, e que a esperança, pela qual nos mantemos vivos; o amor é o sentimento que dá qualidade à fé e à esperança.

O amor é um caminho, e isto indica uma de suas características: aprende-se a amar. Nenhum de nós sabe amar. Quando crianças, só sabíamos ser amados; quando adultos, devemos saber amar, que é um dos sinais da nossa maturidade.

Vivemos pela fé quando amamos a razão, sabendo que Deus pode ir além dela.

Seguimos com esperança quando vemos a realidade, mas cremos que Deus pode rompê-la.

Amamos a Deus quando sentimos compaixão, mesmo que nos custe parte ou tudo o que temos.

É verdade que, no seu completíssimo poema sobre o amor, Paulo canta que os três pilares da vida são: a fé, a esperança e o amor (1Coríntios 13.13).

Também é verdade que o autor de Eclesiastes coloca os mesmos pilares:

 

“Deus fez tudo formoso no seu devido tempo. Também pôs a eternidade no coração do ser humano, sem que este possa descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até o fim”.

(Eclesiastes 3.11)

 

O autor começa com o amor. Viver é amar o Deus Eterno que fez tudo formoso.

Ele considera a esperança. Viver é fazer o coração vibrar com a eternidade

Ele comenta a fé. Viver é crer que o Deus Eterno está no controle desde o princípio e o guardará até o fim.

 

Israel Belo de Azevedo