29/12/2007
Salmo 6 [NVI]
(1) Senhor, não me castigues na tua ira,
nem me disciplines no teu furor.
(2) Misericórdia, Senhor, pois vou desfalecendo!
Cura-me, Senhor, pois os meus ossos tremem:
(3) todo o meu ser estremece.
Até quando, Senhor, até quando?
(4) Volta-te, Senhor, e livra-me;
salva-me por causa do teu amor leal.
(5) Quem morreu não se lembra de ti.
Entre os mortos, quem te louvará?
(6) Estou exausto de tanto gemer.
De tanto chorar inundo de noite a minha cama;
de lágrimas encharco o meu leito.
(7) Os meus olhos se consomem de tristeza;
fraquejam por causa de todos os meus adversários.
(8) Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal,
porque o Senhor ouviu o meu choro.
(9) O Senhor ouviu a minha súplica;
o Senhor aceitou a minha oração.
(10) Serão humilhados e aterrorizados todos os meus inimigos;
frustrados, recuarão de repente.
Estar cansado é uma condição de muitas pessoas. Essa condição pode ser temporária ou permanente.
O cansaço pode ser definido como escassez de energia para a vida. Uma pessoa cansada recebe uma carga de energia insuficiente para as demandas da sua vida. Imagine a sua casa; às vezes, o disjuntor não desarma? Em geral, o disjuntor desarma quando a energia gasta na casa está acima da energia destinada para aquela casa.
O Salmo 6 transcreve a oração de uma pessoa cansada. O cansado é alguém carregando um fardo mais que pode sustentar nos ombros. A energia que entra, seja física, emocional ou espiritual, é menor que a precisa. Na aritmética do cansado, as bênçãos de Deus sobre a sua vida são em menor número que as dificuldades experimentadas. À beira da exaustão e do desfalecimento, o cansado se acha sem forças para resistir (Salmo 6.7b).
A CONDIÇÃO HUMANA
O cansaço pode ser físico, emocional e espiritual ou físico, emocional e espiritual ao mesmo tempo. O salmo descreve sintomas de todos estes tipos de cansaço.
O CANSAÇO FÍSICO
— No cansaço físico, há uma sobrecarga sobre o corpo, maior que o corpo pode suportar. Esta sobrecarga pode vir por excesso de trabalho, pelo esforço para se viver a velocidade imposta pelo meio (profissional ou cultural) ou por uma doença limitadora.
Nosso corpo tem limites, que são pessoais. Quando ele é submetido a um esforço além deste limite, ele se adapta. Quando este esforço está muito acima deste limite, no volume ou na velocidade, ele se cansa e não consegue se adaptar ao esforço imposto. Uma pessoa que, em função do seu trabalho, corre o dia todo, deverá estar cansado ao final do dia. Penso nas mães cujos filhos pequenos exigem sua atenção, colo ou peito, dia e noite. Seu cansaço está nas olheiras que fadigam seus olhares.
Há outras fontes de cansaço, como, por exemplo, a insônia, que torna o dia seguinte longo e cansativo por natureza ou a enxaqueca, que dificulta o desenvolvimento das atividades.
Muitas vezes, por exemplo, nossos limites são reduzidos por causa de alguma doença, como a anemia ou alguma outra enfermidade, que um médico pode diagnosticar.
Em todos os casos, o cansado se sente como o poeta do Salmo 6. Ele se sentia “desfalecendo”, como seus ossos tremessem e todo o seu ser estremecesse (Salmo 6.2-3).
CANSAÇO EMOCIONAL
— O cansaço pode ser sobretudo emocional, que tem conseqüências ainda mais dramáticas.
O poeta bíblico pintou o retrato de todos os emocionalmente cansados:
"Estou exausto de tanto gemer.
De tanto chorar inundo de noite a minha cama;
de lágrimas encharco o meu leito.
Os meus olhos se consomem de tristeza;
fraquejam por causa de todos os meus adversários".
(Salmo 6.6-7)
Ele lembra Jó na sua lamentação: “Não tenho paz, nem tranqüilidade, nem descanso; somente inquietação” (Jó 3.26).
Não sabemos as causas do cansaço do salmista, apenas os sintomas. Podemos imaginar, à luz de nossas experiências atuais, o que provocava tanto sofrimento no poeta, porque não diferentes das nossas causas.
1. Uma causa bastante freqüente, e muitas vezes esquecida, é a existência de algum transtorno psíquico, que temos dificuldade em admitir, especialmente os cristãos, embora assim não devesse ser. Há pessoas em que disfunções hormonais, protéicas ou neurológicas são responsáveis por alterações no humor, resultando em ansiedade e até depressão. As lutas de uma pessoa com transtorno psíquico de algum tipo são muito mais severas. Todos ficamos abatidos com as frustrações, mas uma pessoa com dificuldades emocionais tende a se abater de modo mais doloroso.
2. Outra causa do cansaço é o perfeccionismo, que leva a pessoa a buscar superar-se, mesmo naquilo em que já é ótimo. No perfeccionista, há sempre um peso a se carregar, mesmo o que já foi carregado. Ele exige ou se exige sempre. Seu senso crítico não concorda que descanse um minuto sequer. Quando se assenta, logo se levanta, porque há algo a ser feito, mesmo que vá terminar cansado. Todas as injustiças do mundo, mesmo que em outro continente, preocupam-no e o fazem sofrer. Todas as lutas são as suas lutas.
Há outros elementos independentes ou interligados. Quem tem uma auto-estima baixa se cansa mais que os outros, porque sempre estará fazendo algo para agradar aos outros ou a si mesmo. Quem se sente rejeitado (e não importa se é ou não; importa se se considera como tal) buscará uma forma de agradar e ser respeitado, mesmo que exausto. Quem guarda raiva, sem a expressar de modo saudável, vai se cansar mais rápido. Quem tem um senso de inadequação (do tipo: “o mundo está perdido “ou “ninguém presta”) logo se cansará, porque nada vale a pena.
3. Quando somos cometidos por eventos dolorosos inesperados, ficamos cansados. Como não se cansar se o casamento caminha para o divórcio? Como não se cansar se o filho tornou-se um dependente químico? Como não se cansar se uma pessoa querida está gravemente doente? Até mesmo uma aposentadoria, tão esperada, pode se constituir, por irônico que pareça, numa fonte de cansaço. Sonhos despedaçados, com expectativas não realizadas, são corredores abertos para o cansaço emocional. Nossos “porquês” acabam nos sufocando.
Relacionamentos diariamente desgastantes tiram as nossas forças. Na experiência do poeta, o cansaço se espalha pela vida, pelos relacionamentos; ele olha para as pessoas e só vê inimigos (Salmo 6.7b). Não há dúvida que, como ensina a Bíblia, “melhor é um pedaço de pão seco com paz e tranqüilidade do que uma casa onde há banquetes e muitas brigas” (Provérbios 17.1). Pior que relacionamentos desgastantes, por paradoxal que seja, só mesmo a solidão. É melhor viver num deserto do na companhia de uma pessoa criadora de caso. Quando, em função de nossos relacionamentos, os escolhidos (dos amigos) e os não-escolhidos (parentes), somos apunhalados, não há como não ficar cansados. Há pessoas muito cansadas porque, por mais tentem e dêem uma nova chance, são atacadas por pessoas próximas, algumas até queridas, sempre a revelar sua natureza de escorpião.
Em algumas pessoas, como o salmista, o cansaço é tanto que lhe parece melhor morrer (Salmo 6.5). Nada lhe alegra. Nada lhe agrada.
CANSAÇO ESPIRITUAL
— Há também o cansaço espiritual. Muitas vezes, o cansaço espiritual está na gênese do cansaço emocional. Outras vezes, o cansaço espiritual é uma decorrência do cansaço emocional, que impede uma boa visão de quem Deus é e de quem somos nós. Por isto, não é incomum que o cansaço seja ao mesmo tempo físico, emocional e espiritual.
O cansaço espiritual está bem descrito no Salmo 6, bem como em outros, como no salmo 5.12, em que o poeta declara ter perdido a alegria da salvação. Esta é a expressão melhor para definir uma pessoa espiritualmente cansada: uma pessoa que perdeu a alegria da salvação e que, portanto, não se vê mais como alguém criado como o louvor da glória de Deus (cf. Efésios 1).
1. Uma pessoa espiritualmente cansada se sente castigada por Deus.
Como o salmista, todo o cansado espiritualmente clama assim:
"Senhor, não me castigues na tua ira,
nem me disciplines no teu furor"
(Salmo 6.1)
Em função de sua visão errada de Deus, o cansado sente que está como está porque está sendo castigado por Deus. Se as coisas estão como estão, é porque fez algo que desagradou a Deus e agora está recebendo a recompensa. O cansado está sempre varrendo a sua vida em busca de culpas, algumas que jamais encontrará. É como se os “amigos” de Jó ainda lhe sussurrassem culpas ao ouvido.
O cansado está cansado porque foi traído por alguém, mas é Deus quem o está castigando. O cansado está cansado porque foi dispensado do seu trabalho por uma decisão unilateral da empresa, mas é Deus quem o está disciplinando. O cansado está cansado porque ficou doente, mas é Deus lhe pesando a mão.
Há muitos cristãos cujo revelação de Deus terminou no Antigo Testamento. O cansado está cansado e tem na ponta da língua um texto de Hebreus, que cita dois textos do Antigo Testamento (Provérbios 3.10,11, que, por sua vez, retoma Deuteronômio 8.5).
“Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que Ele lhes dirige como a filhos: `Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho’.
2. Uma pessoa espiritualmente cansada acha que Deus está distante.
O grito do salmista, comum no Saltério, é: “Volta-te, Senhor” (Salmo 6.4).
Ao cansado falta coragem para afirmar que Deus não existe, mas a sua condição leva-lhe a achar que Deus está distante dele.
O cansado ora, mas não acha que sua oração passou do teto. Ele pede, mas não verá a resposta de Deus.
O cansado canta, meio desanimado, porque não acha que Deus habita no meio dos louvores (Salmo 22.3 — ARA).
O cansado até trabalha para o Senhor mas não crê que o que faz faça alguma diferença.
O cansado olha para a prosperidade dos ímpios, lê que o destino deles é o mesmo da palha que o vento espalha, mas não encontra consolo nessas palavras.
3. Uma pessoa espiritualmente cansada tem medo das adversidades.
O salmista tem uma certeza: os meus olhos fraquejam por causa de todos os seus adversários (Salmo 6.7b). O cansado olha para os lados e só vê adversidade. O cansado olha para si mesmo e se vê fraco para enfrentar os adversários. Se não desistiu de lutar, o cansado está próximo de o fazer.
O cansado perdeu a alegrai da salvação, com o ânimo que dá; o poder da cruz ficou no passado; a força da ressurreição perdeu o futuro.
O medo é tão forte que a morte parece ser a única possibilidade (Salmo 6.5b). Vindo ela, acabará o sofrimento, a espera. Uma pessoa espiritualmente cansada não tem perspectiva para a vida.
A SOLUÇÃO DIVINA
Cansados, ouçam a Palavra de Deus.
"Descanse no Senhor
e aguarde por Ele com paciência;
não se aborreça com o sucesso dos outros,
nem com aqueles que maquinam o mal".
(Salmo 37.7)
"Descanse somente em Deus, oh minha alma;
dEle vem a minha esperança".
(Salmo 62.5)
O cansaço é o sintoma; há algo mais profundo. Se é físico, demanda uma disposição. Se é emocional, demanda uma atitude. Se é espiritual, demanda uma escolha.
SE O CANSAÇO É FÍSICO…
— O cansaço físico é mais fácil de ser tratado, porque, nele, o problema está mais claro.
O primeiro cuidado é com a alimentação, que deve ser quantitativa e qualitativamente adequada às nossas necessidades. Se houver uma anemia, que debilita o corpo como um todo, deve um médico ser procurado, para que haja uma suplementação dietética ou medicamentosa que faça cessar a anemia. Há jovens se cansando porque não se alimentam direito, deixando de tomar um café decente pela manhã. Junior, adolescente, jovem, estude muito, mas muito mesmo; estude muito e se alimente bem.
O segundo cuidado é com o sono. Cada um de nós tem um estoque de horas de sono necessário para que haja descanso. Cada pessoa precisa saber qual é a sua necessidade. Se pretendemos reduzir o número de horas dormindo, devemos saber que a adaptação aos novos horários deve ser feita paulatinamente. A menos que não seja mesmo possível, durma. O mundo não vai acabar amanhã. Há coisas que o Senhor nos dá enquanto dormimos (Salmo 127.20), depois de um dia intenso de trabalho ou estudo. Junior, adolescente, jovem, estude, divirta-se, mas durma.
O terceiro cuidado é com o descanso. O corpo não foi feito para trabalhar sem parar. Até Deus descansou. Por que temos que trabalhar dia e noite, sem descanso e sem férias. A Bíblia prescreve o descanso. Nossas vidas seriam melhores se nos domingos, relaxássemos, adorássemos e nos alegrássemos. Por que um supermercado, um shopping, uma loja tem que abrir? Não sigamos a onda, correndo, correndo, correndo atrás do vento (Eclesiastes 1.14).
O terceiro cuidado implica em reavaliação. Precisamos avaliar o nosso corpo (por que, por exemplo, está ficando cansado a toda hora?) e as circunstâncias de nossa vida, incluindo aí o trabalho. Será que o nosso trabalho não é um ataque ao nosso jeito de ser? E não me refiro ao jeito de ser preguiçoso, que demanda arrependimento e confissão, mas à incompatibilidades de horários e ritmos. E me refiro também ao excesso de trabalho; precisamos mesmo trabalhar onde trabalhamos e o quanto trabalhamos?
Esta reavaliação precisa alcançar as pessoas em torno. No caso das mães cansadas em função das demandas com filhos pequenos, alguns de colo de berço e colo ainda, os cônjuges e outros membros da família precisam verificar se estão fazendo o que podem para ajudar no cuidado.
Está alguém fisicamente cansado? Descanse. Tem alguém fisicamente cansado em sua família? Ajude-o.
Para os cansados fisicamente, a promessa de Deus é cristalina:
"O deserto e a terra ressequida se regozijarão;
o ermo exultará e florescerá como a tulipa;
irromperá em flores,
mostrará grande regozijo
e cantará de alegria. (...)
Fortaleçam as mãos cansadas,
firmem os joelhos vacilantes;
digam aos desanimados de coração:
`Sejam fortes, não temam!
Seu Deus virá, virá com vingança;
com divina retribuição virá para salvá-los'.
Então se abrirão os olhos dos cegos
e se destaparão os ouvidos dos surdos.
Então os coxos saltarão como o cervo,
e a língua do mudo cantará de alegria.
Águas irromperão no ermo e riachos no deserto".
(Isaías 35.1-6)
SE O CANSAÇO É EMOCIONAL…
— O cansaço emocional é muito difícil de ser tratado porque o primeiro passo, que é reconhecer a dificuldade em toda a sua extensão, é muito difícil de ser dado.
Se sofremos de algum transtorno psíquico, nosso primeiro passo é reconhecer a nossa enfermidade, sim, enfermidade, com este nome, e buscar um profissional para que haja um diagnóstico e um tratamento. Depois nos caberá continuar com os cuidados prescritos, sejam eles por meio de psicoterapia ou de remédios a serem tomados regularmente.
Sem estes cuidados, até o toque suave de uma brisa nos deixa cansados. Imagine um ataque… Há dores que o remédio não cura, mas há sofrimentos que o remédio pode pôr fim, e às vezes sem nenhum efeito colateral.
Se somos perfeccionistas, lembremos que o perfeccionismo mata. Aqueles que levaram Jesus à cruz faziam parte dos perfeccionistas, que não podiam tolerar alguém que andasse com imperfeitos mendigos e imperfeitas prostitutas e que, ainda por cima, não guardava o sábado. Gosto de pensar nas doces palavras de Jesus à banda boa da igreja em Tiatira: “Aos demais que estão em Tiatira, a vocês que não seguem a doutrina dela e não aprenderam, como eles dizem, os profundos segredos de Satanás, digo: Não porei outra carga sobre vocês; tão-somente apeguem-se com firmeza ao que vocês têm, até que eu venha” (Apocalipse 2.24-25).
Sejamos críticos dos nossos atos e pensamentos, mas num tom que gere culpa e arrependimento, e não apenas culpa.
Se somos daqueles que nos cansamos de tanto nos agitar, memorizemos este versículo, repetindo-o sempre para nós mesmos:
“Parem de lutar! Saibam que eu sou Deus!
Serei exaltado entre as nações, serei exaltado na terra.
O Senhor dos Exércitos está conosco;
o Deus de Jacó é a nossa torre segura”.
(Salmo 46.10-11).
Gravem também estoutra promessa:
“Lembrem-se das coisas passadas,
das coisas muito antigas!
Eu sou Deus, e não há nenhum outro;
eu sou Deus, e não há nenhum como eu.
Desde o início faço conhecido o fim,
desde tempos remotos, o que ainda virá.
Digo: `Meu propósito permanecerá em pé,
e farei tudo o que me agrada”.
(Isaías 46.9-10)
Todas as nossas lutas são lutas de Deus. Crer nisto é repousante.
A difícil tarefa para quem não se sente amado é saber que, mesmo não se sentindo, é amado por Deus. Ele não entregaria seu Filho para morrer por alguém a quem não amasse. É até possível que você tenha sido rejeitado, até mesmo desde o ventre. Você não pode mudar isto, mas você pode amar a você mesmo, você pode se deixar amar por outras pessoas, você pode se deixar amar por Deus. Vale a pena crer como o profeta Miquéias: “Quem é comparável a ti, oh Deus, que perdoas o pecado e (…) tens prazer em mostrar amor” (Miquéias 7.18). A vida vale a pena.
Pare de fazer as coisas para os outros a fim de ser reconhecido por eles. Não há nenhuma garantia que amarão você como você os ama. Nada garante que sua “dedicação” a eles vai lhes alterar o jeito de ser. Eles dão o que são. E você é alguém a quem Deus ama.
O inabalável amor de Deus não nos protege de eventos tristes e que nos atingem dolorosamente. O inabdicável amor de Deus não nos poupa do divórcio. O inalterável amor de Deus não nos poupa de todos os acidentes de carro ou de avião. O incomparável amor de Deus não nos poupa de ter um filho que se desvia para o álcool ou para a droga ou para a preguiça. O incontrolável amor de Deus não nos poupa da doença, a nossa ou de uma pessoa querida. O ilimitável amor de Deus não nos poupa do desemprego. O imbatível amor de Deus não nos poupa de frustrações. O imensurável amor de Deus não nos poupa de ficar cansados.
Nunca podemos nos esquecer que o imponderável amor de Deus não nos exime de nossas responsabilidades. O divórcio é uma produção humana do casal ou de um deles, seja por infidelidade, crueldade ou leviandade. O inabdicável amor de Deus não se assenta ao volante de um veículo, o nosso ou daquele que cruza conosco. O incorruptível amor de Deus não tira a responsabilidade quem se afunda no vício. O indeclinável amor de Deus não dirige empresas que empregam e desempregam, nem preenche currículos. O inegável amor de Deus não evita que tenhamos parentes-serpentes ou amigos-escorpiões. O inesquecível amor de Deus não impede que tenhamos relacionamentos desgastantes. O inexaurível amor de Deus não nos supre sempre de boas companhias, bons amores ou boas amizades. E tudo isto nos cansa.
No entanto, o infalível amor de Deus estará conosco na vida conjugal para que não haja divórcio, mas, se houver, também estará conosco, havendo arrependimento e confissão. O infindável amor de Deus, que está sempre vigilante, nos poupa de muitos acidentes, segundo a sua soberania e misericórdia, embora não escreva manchetes para ficarmos sabendo como e quando se aconteceu. O inquebrantável amor de Deus está pronto a receber o filho pródigo, por mais dependente que esteja do que não deveria estar, e apoiar a família que espera pela volta do filho que partiu para longe. O invencível amor de Deus percorre conosco o labirinto do sucesso profissional, para nos orientar. O invulnerável amor de Deus nos livra dos venenos que amigos e parentes nos lançam goela a dentro. O irretocável amor de Deus nos ensina a viver com as pessoas como elas são, com sabedoria divina, com paciência divina, com perdão divino. O irreversível amor de Deus nos faz companhia quando nos faltam as de carne e osso.
Saber que somos amados por Deus, que acorda cedo conosco, dorme tarde conosco, corre conosco, nos dá ânimo para enfrentar as lutas de nossas vidas. Como é bom saber que não estamos sozinhos.
SE O CANSAÇO É ESPIRITUAL…
— Peça a Deus para ter discernimento, que ajude você a ir além dos sintomas e alcançar a raiz da dificuldade.
1. Diante do cansaço espiritual, tenha uma teologia correta acerca da natureza da vida.
A teologia do salmista, a teologia possível antes da cruz de Cristo, pressupunha sempre culpa em todo sofrimento. É por isto que o salmista começa, orando: “Senhor, não me castigues na tua ira, nem me disciplines no teu furor” (Salmo 6.1).
Apesar da cruz e da ressurreição de Jesus Cristo e apesar dos 27 livros do Novo Testamento, a teologia antiga ainda tem adeptos e faz estragos em muitas vidas. Por isto, exige uma reflexão mais ampla.
Retomemos, então, Hebreus 12.5-11, que, pela importância, vale a pena trazer à memória.
“Vocês se esqueceram da palavra de ânimo que Ele lhes dirige como a filhos: “Meu filho, não despreze a disciplina do Senhor, nem se magoe com a sua repreensão, pois o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho”.
Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Ora, qual o filho que não é disciplinado por seu pai? Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos.
Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade.
Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados”.
O próprio texto, lido no seu conjunto, oferece uma teologia completa e adequada ao tema da disciplina e do castigo.
. Devemos compreender Deus nos disciplina preventivamente, razão porque a Bíblia está cheia de suas orientações para vidas santas e sábias. É por isto nela encontramos o mandamento que é lâmpada, a instrução que é luz e a advertência que é disciplina para nos conduzir à vida (Provérbios 6.23). Não devemos nos opor à disciplina, que é boa para nós.
. Devemos aceitar que Deus permite que as adversidades nos venham. Portanto, devemos receber as dificuldades, vindas direta ou indiretamente de Deus, como cuidado para conosco. Se a orientação não é suficiente, Deus permite algum grau de sofrimento, provocado por nós mesmos, por outros ou vindas de fontes desconhecidas, para que nós cresçamos emocional e espiritualmente. Infelizmente, ainda não se descobriu uma fórmula para o crescimento que dispense o sofrimento.
Devemos, aqui, tomar muito cuidado, para termos o discernimento do Espírito Santo. É comum ao cansado ouvir como sendo palavra de Deus a seguinte repreensão: “Como é feliz o homem a quem Deus corrige; portanto, não despreze a disciplina do Todo-poderoso” (Jó 5.17). No entanto, quem diz isto é “amigo” de Jó… desejoso de encontrar uma explicação para o sofrimento de Jó. Fazemos muito mal em explicar os sofrimentos dos outros, quase sempre atribuindo-lhes culpa que, muitas vezes, não têm.
. Devemos nos lembrar que disciplina não é sinônimo de castigo. Aprendemos esta diferença na Bíblia, começando por Levítico 26.23-24, em que Deus diz:
“Se apesar disso vocês não aceitarem a minha disciplina, mas continuarem a opor-se a mim, eu mesmo me oporei a vocês e os castigarei sete vezes mais por causa dos seus pecados”.
Um salmista resume bem a questão: são castigados aqueles “que jamais mudam sua conduta e não têm temor de Deus” (Salmo 55.19). Há, portanto, castigo, para os ímpios. “O Senhor sabe livrar os piedosos da provação e manter em castigo os ímpios para o dia do juízo, especialmente os que seguem os desejos impuros da carne e desprezam a autoridade” (Hebreus 2.9).
A boa teologia põe a graça no alto, mas não esquece as conseqüências do pecado. A teologia da graça inclui a necessidade de arrependimento, confissão e disposição para uma vida santa. É uma tragédia a existência de um cristianismo libertino, professado por aqueles que acham que todos os pecados os já estão perdoados de antemão; na verdade, Deus perdoa todos os pecados confessados, e a confissão pressupõe desejo de mudança de vida. Há muitos cristãos brincando com Deus. Muitos têm pago caro por sua indisciplina.
Uma pessoa alcançada pela graça pede:
"Afastem-se de mim todos vocês que praticam o mal,
porque o Senhor ouviu o meu choro".
(Salmo 6.8)
Uma pessoa alcançada pela graça diariamente ora a Deus assim:
"Sonda-me, o Deus, e conhece o meu coração;
prova-me e conhece as minhas inquietações.
Vê se em minha conduta algo te ofende
e dirige-me pelo caminho eterno".
(Salmo 139.23-24)
E também:
"Sonda-me, Senhor e prova-me,
examina o meu coração e a minha mente;
pois o teu amor está sempre diante de mim,
e continuamente sigo a tua verdade".
(Salmo 26.2-3)
Se o seu cansaço é o preço do seu pecado, peça perdão a Deus, como Davi pediu. Uma vida de pecado é uma vida cansada. Uma vida perdoado é uma vida descansada. Viva a vida no estilo de Deus.
2. Diante do cansaço espiritual, firme sua vida fidelidade de Deus para com você, não na sua para com ele.
Lembre-se que tentar viver baseada em sua fidelidade vai deixá-lo apenas ainda mais cansado. A oração do salmista deve ser a nossa:
"Senhor, livra-me;
salva-me por causa do teu amor leal"
(Salmo 6.4b).
Salmista não diz:
“O que fiz por merecer tudo isto?
Salva-me por causa do que fenho feito pelo Senhor”.
Devemos abrir mão de uma religião baseada no esforço próprio. Esta é uma tentação permanente. Como os gálatas, começamos com a graça e podemos nos sujar de novo na lei.
Devemos parar de nos comparar com outros crentes. Quando fazemos isto, esquecemos da graça. O resultado é que, por vezes, nos sentimos melhores que os nossos irmãos, o que acontece toda vez que nos esquecemos que nosso padrão é Jesus, o autor de nossa fé. Podemos, neste processo comparativo, nos sentir piores que os outros, que demonstram ou parecem demonstrar o fruto do Espírito em suas vidas, mais uma vez esquecidos que todas as nossas conquistas (ou a de nossos irmãos) são dádivas de Deus. O fruto é do Espírito, não nosso.
3. Diante do cansaço espiritual, continue orando pela solução do problema profundo, não apenas do seu sintoma. O grito do salmista foi:
"Até quando, Senhor, até quando?"
(Salmo 6.3b)
Ore, confiando que Deus o escuta.
Pela mediação de Jeremias, Deus nos faz uma pergunta:
“Sou eu apenas um Deus de perto e não também um Deus de longe?”
(Jeremias 23.23).
Esta é uma afirmação em forma de pergunta, que aparece na boca de um homem no Salmo 139.
"Para onde poderia eu escapar do teu Espírito?
Para onde poderia fugir da tua presença?
Se eu subir aos céus, lá estás;
se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás.
Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar,
mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá".
(Salmo 139.7-10)
Deus é Deus de perto e também Deus de longe, no sentido de que está perto de nós, mesmo que nos sintamos distantes dEle.
Podemos orar, que seremos ouvidos.
Podemos cantar, que nosso louvor chegará ao céu.
Podemos trabalhar, que nosso trabalho não será sem valor.
Podemos olhar para a prosperidade do ímpio e ver, espiritualmente, que o seu caminho não é mesmo de prosperidade, embora possa parecer.
Quando relemos o Salmo 6, encontramos uma mudança radical de tom:
"O Senhor ouviu a minha súplica;
o Senhor aceitou a minha oração".
(Salmo 6.9)
Talvez o salmista estivesse orando e, durante a oração, como aconteceu com Daniel (Daniel 9.21), já ouviu a resposta ao seu clamor.
Pode ser que tenha escrito a primeira parte, de petição e lamentação, e, voltado, decorrido um templo, para registrar a resposta de Deus.
Não sabemos como foi, mas sabemos que a resposta de Deus é verdadeira.
Então, não pare de suplicar pelo descanso espiritual.
Ore, confiando que Deus escuta.
Quando Deus ouve a súplica do cansado, Ele remove as causas do cansaço.
Quando Deus ouve a súplica do cansado, Ele lhe dá uma nova perspectiva para a vida, perspectiva de vida, não de morte.
Quando Deus ouve a súplica do cansado, Ele lhe renova a paciência, se as lutas precisarem continuar.
Deus permanece interessado em nossa condição, mesmo que já tenhamos perdido o vigor:
Então: "Por que você reclama, oh Jacó, e por que se queixa, oh Israel:
`O Senhor não se interessa pela minha situação;
o meu Deus não considera a minha causa'?
Será que você não sabe? Nunca ouviu falar?
O Senhor é o Deus eterno, o Criador de toda a terra.
Ele não se cansa nem fica exausto;
sua sabedoria é insondável.
Ele fortalece o cansado e dá grande vigor ao que está sem forças.
Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem;
mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças.
Voam alto como águias;
correm e não ficam exaustos,
andam e não se cansam.
(Isaías 40.27-31)
Não há dúvida que “aquele que habita no abrigo do Altíssimo e descansa à sombra do Todo-poderoso pode dizer ao Senhor: “Tu és o meu refúgio e a minha fortaleza, o meu Deus, em quem confio” (Salmo 91.1-2).
Conhecedor de nossa condição, Jesus permanece convidando:
“Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mateus 11.28-30).
ISRAEL BELO DE AZEVEDO