BIBLIA, O LIVRO DA PÁSCOA (Luiz Sayão)

A Páscoa é um tempo sacro. É uma das datas que apontam para um irromper do Sagrado no calendário profano. A inspiração dessa tradição de fé tem origem nas Escrituras Sagradas, ponto de referência da tradição judaico-cristã. A Páscoa judaica é descrita em Êxodo 12, no segundo livro da Lei (Torá), enquanto que a Páscoa cristã é narrada nos evangelhos sinóticos (Mateus 26; Marcos 14 e Lucas 22).

A sociedade brasileira está entre as mais elaboradas em sua relação empática com o Sagrado. A prova disso é a intensa procura pela Bíblia no território verde-amarelo por parte de todas as confissões. Há versões judaicas como a Torá, do Rabino Meir M. Melamed, e os Salmos de David  (editora Sefer); as tradicionais versões católicas da Vulgata de António Pereira de Figueiredo, de 1790 e a do padre Matos Soares, de 1930 e a clássica versão protestante de João Ferreira de Almeida de 1681,  publicada integralmente apenas em 1753.

Nos últimos trinta anos o número de versões cresceu e a procura pelo Texto Sagrado atinge milhões de exemplares todos os anos. A versão de Almeida apresenta diversas revisões: Versão Corrigida (1995) e Versão Atualizada (1993) impressas pela Sociedade Bíblica do Brasil; versão Corrigida Fiel (1994), da Sociedade Bíblica Trinitariana e a Versão Revisada (1967), da Imprensa Bíblica Brasileira.

Novas versões, menos literais e baseadas na pesquisas lingüísticas recentes têm-se multiplicado. No contexto católico, foram publicadas várias versões: Em 1976 surge a Bíblia de Jerusalém, muito erudita e repleta de notas técnicas; em 1982 surge a Bíblia Vozes; em 1990 é publicada a Bíblia Pastoral, em linguagem popular e de perfil libertário; em 2001 sete editoras católicas lançam a versão da CNBB. No contexto protestante destacam-se a Bíblia na Linguagem de Hoje (Sociedade Bíblica do Brasil, 1988), versão de linguagem popular, recentemente revisada e lançada sob o título Nova Tradução na Linguagem de Hoje, e a Nova Versão Internacional (publicada em 2000 pela Editora Vida/IBS), de linguagem contemporânea e muita riqueza exegética e literária, afinada com a NIV, versão da Bíblia mais lida no mundo anglo-saxão. Finalmente, devem ser citadas a série de André Chouraqui, de perfil notavelmente literário e baseada em sólida erudição hebraica, e a Tradução Ecumênica, lançada em 1997 pelas Edições Loyola, muito erudita e a mais rica em notas críticas e lingüísticas disponível em português.

Toda essa diversidade de versões mostra que o brasileiro tem fome de Deus e busca o Sagrado como ninguém. A Páscoa é a celebração da vida, da liberdade e da vitória da vida sobre a morte. No Brasil a celebração da vida não se opõe ao Sagrado. Quem dera a reflexão desta Páscoa prolongue a convivência pacífica e respeitosa das diversas fés do nosso país e permita que a experiência do Sagrado do nosso povo desdobre-se em ética, justiça e igualdade, e principalmente na vitória da vida sobre a morte, sentido fundamental da celebração da ressurreição.

LUIZ SAYÃO

14/03/2011