CONVITE À MISERICÓRDIA
Mateus 5.7
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 7.2.1999 – manhã
1. INTRODUÇÃO
Cabe aos cristãos exercitar a misericórdia em meio a uma sociedade estruturalmente injusta. Às vezes, no entanto, nos caramujamos, nos avestruzamos, para não ver as carências em nosso redor.
Há diferentes tipos de necessidades:
. necessidades individuais (materiais, emocionais, espirituais)
. necessidades coletivas (como no caso de fomes e terremotos)
Essas necessidades podem ser visíveis (que suprimos com uma bolsa de alimentos, um albergue, um emprego) e invisíveis (como rejeição, solidão, desespero, desânimo, baixa-estima, medo, fracasso, moral), possivelmente presentes hoje aqui. Para percebê-las, precisamos dos olhos de Jesus.
Infelizmente, há sempre alguém em piores condições, espirituais, emocionais ou materiais, do que nós mesmos. Não se trata de consolo para sua própria miséria, mas da certeza de que sempre podemos ajudar alguém.
2. A ESSÊNCIA DA MISERICÓRDIA
A misericórdia, palavra que aparece 261 vezes diretamente na Bíblia, é mais que um sentimento de simpatia. A palavra tem a força da ação. Ser mesericordioso é ser movido pela compaixão.
O protótipo da pessoa misericordiosa é o chamado bom samaritano, que gastou tempo pessoal, pôs o ferido em seu animal, espargiu óleo sobre suas feridas e doou dinheiro para pagar sua hospedagem. Ele entendeu que os bens que tinha lhe foram dados para seu conforto e para o conforto dos outros.
Misericórdia é a produção do bem.
Misericórdia é um ato em direção ao suprimento de uma necessidade.
Misericórdia é a capacidade que uma pessoa tem de sentir a necessidade do outro como sendo sua.
Demonstrar misericórdia é mover-se em direção ao outro. Implica em tomar a iniciativa, sem esperar que o necessitado busque misericórdia, que, por vezes, é humilhante.
Precisamos educar nossos olhos para ver nos outros não aquilo que podem nos oferecer, mas o que nós lhes podemos oferecer. Precisamos ter os olhos de Jesus, que, quando viu as multidões, teve compaixão delas (Mt 9.36).
A misericórdia é a compaixão exercida em função da necessidade de alguém. Não tem nada a ver com justiça. Ao ver aquela Jerusalém que a recusava, Jesus poderia pensar que estávamos recebendo aquilo que fizeram…
Fracassamos, quando confundimos misericórdia com justiça. A misericórdia, como recomenda o apóstolo Tiago (Tg 2.13), deve triunfar sobre a justiça. A justiça destrói. A misericórdia reconstrói. A justiça é um atributo de Deus que não nos cabe imitar. Quando a exercemos, usurpamos Deus. A misericórdia, esta sim, deve ser um estilo de vida cristã, que representa uma forma de imitar a Deus, nunca uma usurpação.
Nosso modelo de misericórdia, portanto, é Deus mesmo. Ele é rico em misericórdia (Ef. 2.4). Por sua misericórdia, Ele não nos consome. Quando somos misericordiosos, não consumimos nosso próximo. A misericórdia de Deus não se esgota. É sua misericórdia que faz com que Ele olhe para nós (Sl 40.1).
Esta realidade nos inspira a pensar na misericórdia como uma autêntica lei da gravidade. Nós não percebemos que ela existe, mas sem ela nos subsistiríamos sobre a face da terra. É assim com a misericórdia de Deus. Não a percebemos, mas é ela que impede que sejamos destruídos (Lm 3.22).
3. A BÊNÇÃO QUE VOLTA
Nesta beatitude (Mt 5.7), Jesus mostra como encontrar a bênção num mundo necessitado e ferido: mostrando misericórdia (7b), dando em lugar de receber, o que é uma heresia para um mundo onde apenas se busca receber. Bom seria que nosso mundo permitisse a globalização da solidariedade.
O sentido da promessa da bem-aventurança está no Salmo 41.1-2. Deus nos pede misericórdia em relação ao próximo, mesmo aquele que nos injustiçou. O resultado é que Deus não nos abandonará. Por vezes, não vemos o resultado. Somos até escorraçados por produzir o bem. Deus, no entanto, nos garante (Sl 41.1) que Ele nos livrará do mal, se nossa vida trilha o asfalto da misericórdia.
Se queremos exercê-la, há vários meios, depois de termos adquirido os olhos de Jesus:
. a ação pessoal direta
. a ação pessoal indireta (mediante contribuições financeiras a uma instituição. A IB Itacuruçá tem programas de exercício de misericórdia, ajudando pessoas com alimentos, remédios, emprego, cuidado, etc.)
5. CONCLUSÃO
[Em forma de teste]
Você é misericordioso?
Você sente alegria em compartilhar suas experiências, seus conhecimentos e suas coisas?
Você sente alegria em ver rostos que ajudou a redescobrir a esperança, a fé e a felicidade?
Você conhece a alegria de receber misericórdia?
Você reconhece que também precisa (ou vai precisar) de alguém, de alguém que lhe demonstre compaixão. Ou, ao contrário, você não precisa de ninguém?
Ninguém está acima da possibilidade de passar por alguma necessidade. Todo aquele que demonstra compaixão recebe compaixão, tanto daqueles a quem mostra compaixão mas também do próprio Deus.
Para ser misericórdia mesma, a misericórdia independe do mérito do outro.
O exercício da misericórdia deve ser uma parte natural da vida cristã.
O exercício da misericórdia depende de uma compreensão de nossa carência diante de Deus.
Quando excercitamos a misericórdia, estamos imitando a Deus, que tem prazer em demonstrar misericórdia (Mq 7.18). Ele nos chama de vasos de misericórdia (Rm 9.23).
[Para o caso de alguém não se sentir alcançado pela misericórdia de Deus.]
Você quer ser vaso de misericórdia?
Se sim, primeiro você precisa da misericórdia da salvação. Paulo alcançou misericórdia: no caso, ser aceito como seguidor de Deus, ele que foi perseguidor dos seguidores de Deus (1Tm 1.13). Isto pode acontecer com quem estiver precisando do perdão de Deus para ter um novo relacionamento com Ele.
Se sim, você também precisa experimentar a misericórdia do cuidado. Aproxime-se do trono da graça, para alcançar misericórdia, em seus momentos de necessidade (Hb 4.16). Quando você a experimentar, poderá ser um vaso de misericórdia.