“Então seu marido Elcana perguntou-lhe: Ana, por que choras? Por que não comes? Por que o teu coração está tão triste? Não sou melhor para ti do que dez filhos?” (1Samuel 1.8).
Ana tinha vindo com seu marido a Siló para adorar e sacrificar ao Senhor dos Exércitos, algo que faziam todos os anos, como mandava a lei de Moisés. Nessa ocasião toda a família comia daquilo que era oferecido em sacrifício. Penina, a outra mulher de Elcana, juntamente seus filhos, recebiam uma porção cada um, mas Ana recebia porção dobrada, porque Elcana a amava, apesar de ela ser estéril. Era um gesto inútil, porque Ana, tomada de grande tristeza, não tinha fome, só tinha vontade de chorar. Ainda mais pelo espezinhamento com que Penina a tratava nessas ocasiões.
Ana se sentia a última das mulheres na face da terra quando Elcana cometeu a bobagem de perguntar-lhe: “Não sou melhor para ti do que dez filhos?” Como diríamos hoje em nossa maneira popular, Elcana perdeu uma grande oportunidade de ficar calado. A resposta era óbvia, Ana poderia ter dito: “Não, você não é melhor para mim nem do que um, quanto mais do que dez filhos.” Mas preferiu calar-se e orar. E orou não da maneira usual, em voz alta, mas em silêncio, com tanta intensidade, que Eli, o sacerdote, vendo sua inquietação, pensou que ela estivesse embriagada e zangou com ela.
Foi então que Ana abriu seu coração para o sacerdote: “Sou uma mulher angustiada; não bebi vinho nem bebida forte, mas derramei a minha alma diante do Senhor. Não penses que a tua serva é uma mulher sem valor, porque tenho falado até agora da minha grande ansiedade e aflição.” (1Sm.1.15,16). Não ter filhos era a pior de todas as desgraças para uma mulher israelita. Mesmo hoje a imensa maioria das mulheres considera-se infeliz se não puder ter filhos, e seria um gesto de grande insensibilidade um marido dizer a uma mulher estéril que ele é melhor para ela do que um, dois ou dez filhos.
Este acontecimento nos traz uma grande lição: quando uma pessoa querida está sofrendo e você não tem como aliviar o sofrimento, ou não sabe o que dizer, não diga nada. O máximo que você pode fazer é sentar-se junto dela e chorarem juntos. No mais, ore ao Senhor e peça por socorro e graça. O sacerdote Eli apenas disse a Ana: “Vai-te em paz; e o Deus de Israel te conceda o pedido que lhe fizeste. (….) E sua aparência deixou de ser triste.” (!Sm.1.17,18). Desde então Ana sabia que seria mãe.
Pr. Sylvio Macri