“Enquanto Saul estava indo para lá, o Espírito de Deus o dominou também, e ele foi profetizando por todo o caminho, até chegar à casa dos profetas. Lá, tirou a roupa e profetizou na presença de Samuel. E ficou deitado no chão, nu, o dia inteiro e a noite inteira. E foi assim que surgiu o seguinte ditado: Será que Saul também virou profeta?” (1Samuel 19.23,24, NTLH).
Duas vezes em 1Samuel aparece a expressão “Será que Saul também virou profeta?”. No capítulo 10, v. 12, e no trecho transcrito acima. Na primeira vez, por ocasião da unção de Saul como rei. Na segunda vez, durante a perseguição que Saul moveu a Davi para eliminá-lo.
Ciente de que seu mandato estava com os dias contados pelo Senhor, e que Davi havia sido ungido como seu sucessor, Saul desenvolveu um ódio mortal por Davi, e tentou matá-lo várias vezes. Por isso, Davi, que era um dos comandantes do exército e genro de Saul, resolveu afastar-se dele, e foi buscar abrigo em Ramá, com Samuel, que o levou para a sua casa de profetas.
Ao saber onde estava Davi, por três vezes Saul mandou homens para prendê-lo, mas todos eles foram tomados pelo Espírito de Deus e caíram em uma espécie de êxtase profético. Saul, então, resolveu ir pessoalmente, e com ele aconteceu a mesma coisa, porém ainda quando caminhava para lá. Chegando à casa dos profetas, seu êxtase tornou-se mais profundo: passou um dia e uma noite inteiros deitado no chão, nu.
Pelo que diz o texto, parece que este acontecimento e o de 1Samuel 10.9-12 deram origem a um jargão popular: toda vez que alguém que não era reconhecido publicamente como profeta começava repentinamente a profetizar, perguntava-se: “Será que Saul também virou profeta?” E parece também que tornou-se um ditado pejorativo, devido ao trágico desfecho do reinado de Saul.
Mas há lições nesse episódio: 1Samuel 16.14 diz que o mesmo Espírito do Senhor que havia vindo sobre Saul quando da sua unção como rei, “retirou-se” dele, e “um espírito mau da parte do Senhor o atormentava.” Agora, contudo, o Espírito volta a ele. Por que? Primeiro para impedi-lo de matar Davi, o que ocorreu também com os homens que enviara. Segundo, para mostrar-lhe que Deus é o Senhor da história, e ele não poderia mudar o que o Senhor já determinara, avisando-o por meio de Samuel: o fim do seu reino.
Pr. Sylvio Macri
