POLÍTICA E ÉTICA (Sylvio Macri)

“Mas eu estou fraco, embora ungido rei. Estes homens de Zeruia são fortes demais para mim.” (2Samuel 3.39).

Decisões políticas podem parecer acertadas, mas nem sempre são legítimas. O início do reinado de Davi foi marcado por escolhas claramente políticas, mas não muito éticas.

Por exemplo, Abner, o chefe do exército de Saul, por uma razão não explicada na Bíblia, sobreviveu à catastrófica batalha do monte Gilboa, enquanto Saul e seus três filhos guerreiros tombaram na cena de guerra. Mas Saul tinha outro filho, Isbosete, um sujeito pusilânime. Como Davi já havia sido aclamado rei de Judá, Abner, agindo com esperteza política, constituiu Isbosete rei sobre o restante de Israel, transformando-o num fantoche sob seu domínio.

Entretanto, quando Isbosete tentou reagir aos abusos praticados por Abner, este propôs aliança a Davi, para transformá-lo em rei de todo o Israel. Politicamente, era correto aceitar essa aliança, mas não moralmente, pois Abner até então tinha combatido ferozmente a Davi e seus homens, inclusive tendo participado das incursões movidas contra ele por Saul, para matá-lo.

Joabe, comandante do exército de Davi, vinha chegando a Hebrom, a capital do então reino de Davi, quando soube que Abner acabara de sair dali, após ter sido recebido em paz e feito aliança com Davi. Joabe desaprovou a decisão de Davi, julgando-a grave erro político, o que era verdade, pois o rei corria o risco de tornar-se também um fantoche nas mãos de Abner. Além disso era um desprestígio aos seus aliados de primeira hora.

Por isso, Joabe e Abisai, seu irmão, sem que Davi soubesse, mandaram mensageiros a chamar Abner de volta a Hebrom, e quando este chegou aos portões da cidade, Joabe matou-o traiçoeiramente. Supostamente foi para vingar seu irmão Asael, morto por Abner na batalha de Gibeão, mas por trás desse assassinato estava uma motivação política. Dali por diante o caminho ficaria livre para Davi e seu grupo dominarem todo o Israel.

Davi, entretanto, se achou enfraquecido por causa do poder concentrado nas mãos de Joabe e Abisai, os filhos de Zeruia que, por sinal, era tio dele. Envolvido em maquinações políticas e carecendo da orientação sábia e piedosa de um homem como Samuel, já falecido, Davi esqueceu-se que tinha sido ungido rei pelo próprio Todo-Poderoso, e, portanto, não dependia da força de homem nenhum. A unção divina já lhe dera todo o poder que precisava.

Sob a direção divina, deveria ter-se orientado por princípios éticos e não por conveniência política.

Pr. Sylvio Macri