UMA PARTE DE MIM

UMA PARTE DE MIM

Enquanto, dentro de mim, uma parte era amputada para salvar o todo, a parte fora de mim crescia, de modo a preencher os vazios e a se desenvolver por entre as áreas preenchidas.
Quando anunciei que me aproximava do meu jardim (e eu não fui operado precisamente em frente ao jardim-Quinta da Boa Vista?), não fiquei sozinho, como Jesus ficou, abandonado por seus discípulos no Getsêmani. Na mesma hora da intervenção, um grupo se reunia para a intercessão por mim, o que muitos já vinham fazendo desde a informação primeira. Meus irmãos em Cristo não cochilaram, como os grandes Pedro, Tiago e João.
Além da doação de lágrimas, orações e outras expressões de afeto, muitos me doaram seus sangues, dos quais felizmente não precisei.
Também fui perguntado se meu plano de saúde cobria todas as despesas, ao que respondi afirmativamente. Foi-me dado o tempo que precisasse para me recuperar.
No dia da cirurgia, médicos-irmãos estiveram no hospital para acompanhar os procedimentos antes, durante e depois.
Os telefones, atendidos por minha incansável Rita, tocavam a todo minuto ainda no hospital e cada palavra de estimulo que me era transmitida aumentava a confiança no sucesso da cirurgia. Cada etapa era vencida à luz de muitas testemunhas, a maioria fisicamente distantes mas emocionalmente coladas.
Eu não podia ser visitado. E como a ordem médica era para o meu bem, que todos buscavam, todos compreenderam.
Quando cheguei em casa, os telefonemas passaram a ser acompanhados por cartões, mensagens eletrônicas, oferecimentos de ajuda, livros, flores, frutas, comidas e doces. Tive que ser obediente para não ficar obeso. Um procedimento bancário que demandaria minha ida a uma agência não foi necessário, porque um irmão trouxe a agência à minha casa. Até meu cabelo foi cortado no meu escritório, sem que eu pedisse.
Assim agiu comigo (e não pude mencionar todas as ações) a minha igreja, cada vez mais uma parte de mim. Para sempre.
Pela gravidade do diagnóstico e pela força dos movimentos que provoca, uma cirurgia como esta pesa no corpo e na mente. E só não pesou mais por causa da bondosa mão de Deus, a quem para sempre serei grato, manifesta também através das ações dos meus irmãos da Igreja Batista Itacuruçá, aos quais grato serei. Para sempre.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO