ACADEMIA DA ALMA 8 — OUÇA OS MAIS VELHOS (5/10)

ACADEMIA DA ALMA, 8
"A vida em 10 atitudes, 5
 
OUÇA OS MAIS VELHOS
 
PARA MEMORIZAR
"Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá".
(Êxodo 20.12 – ARA)
 
PARA PENSAR
"O ancião merece respeito não pelos cabelos brancos ou pela idade, mas pelas tarefas e empenhos, trabalhos e suores do caminho já percorrido na vida".
(Yaacov ben Shimon)
 
PARA VIGIAR
Eu me lembrarei que minha história não começou quando comecei a entender as coisas ou quando eu nasci. Ela começou antes, com meus pais e meus avós, a quem devo ouvir. Todos os que vieram antes de mim, dentro e fora da família, são meus mestres e quero aprender com eles.
 
PARA ALCANÇAR
Eu me assentarei aos pés dos que têm algo a me dizer, para aprender com os seus acertos e mesmo com seus erros. Eu posso acertar como eles. Eu não preciso errar como eles.
 
 
1. A SABEDORIA DA HONRA
 
A Bíblia nutre respeito igual por todas as faixas etárias. Um dos provérbios celebra:
 
"A beleza dos jovens está na sua força;
a glória dos idosos, nos seus cabelos brancos" 
(Provérbios 20.29 — NVI).
 
A Bíblia reconhece o papel dos mais velhos na condução da vida nacional, familiar e individual.
 
"Ouça, meu filho, a instrução de seu pai
e não despreze o ensino de sua mãe.
Eles serão um enfeite para a sua cabeça,
um adorno para o seu pescoço".
(Provérbios 1.8-9)
 
"Ouça o seu pai, que o gerou;
não despreze sua mãe
quando ela envelhecer." (Provérbios 23.22).
 
Todas essas instruções estão sintetizadas nos Dez Mandamentos, especialmente quando orienta:
 
“Honra teu pai e tua mãe, a fim de que tenhas vida longa na terra que o Senhor, o teu Deus, te dá" (Êxodo 20.12 – NVI).
 
Todos nós temos débitos com nossos pais. Mesmo que avaliemos que não tenham sido bons em sua paternidade, ainda assim lhes devemos. Vieram para nos ajudar a olhar para Deus como Pai. Se fracassaram, podemos agradecer seu exemplo negativo, para não sermos iguais a eles.
Quando honramos nossos pais, cuidamos deles, da sua saúde em vida ou da sua memória.
A honra ao pai e a mãe é um chamado à gratidão, mas é também um convite à sabedoria. Quem honra seus pais é sábio. Quando honramos nossos pais, vivemos de tal maneira que a nossa vida cresce em qualidade. Quando os desonramos, deles não cuidando, podemos até poupar tempo e dinheiro, mas perdemos a nossa dignidade. 
Uma amiga, Sirlei, conta a sua história de cuidado. "Meu pai teve insuficiência cardíaca aguda sendo submetidos a cirurgia para colocação do marcapasso. Minha mãe ficou com ele no hospital,  até ser diagnosticada com câncer. Nós, filhos, fizemos tudo que tinhamos que fazer no intuito de vê-la curada. Ela sempre pedia: cuidem de seu pai em minha ausência. Meu pai ficou alguns anos morando sozinho por opção dele. E alguns anos após falecimento dela,  meu pai quebrou o fêmur. Hoje luto pra manter meu pai bem cuidado, conforme o pedido de minha mãe. Aluguei uma casa na minha rua para ficar perto de mim e poder dar toda assistência necessária. Agora,  está na minha casa. Meus pais fizeram o possível e o impossível para nos dar o melhor. Agora é a nossa vez de retribuir a todos os anos que nos cuidou".
Quando honramos nossos pais, aprendemos com eles. Vendo como faziam, podemos fazer igual ou melhor.
Quando honramos os nossos pais, escutamos sobre a sua vida, o que nos dá uma história. Não começamos hoje. Nossa vida vem de longe, nos erros e nos acertos.
Quando honramos nossos pais, imaginamos como eles fariam. Se estiverem vivos, podemos perguntar-lhes. Se não, podemos nos lembrar dos princípios que nos deixou.
Muitas vezes, nossa honra alcança os nossos avós. A história de Martha, uma jovem senhora carioca, é a de muitos, centrada no convívio e na observação: "Eu aprendi a meditar na Palavra com meu avô Carlos e aprendi com ele alguns hinos do cantor Cristão. Todos os dias pela manhã ele acordava cedo e ia para sua pequena escrivaninha. A luz do quarto ficava apagada. Ele só acendia a luz de sua pequena escrivaninha. Eu saía da sala por diversas vezes e ia observar ele lendo a Bíblia. Ele lia uma Bíblia grande e marcava ela com lápis vermelho. Após orar, ele andava pelo quintal louvando ao Senhor. Meu avô é um homem segundo o coração de Deus. Ele me ensinou a amar a Palavra de Deus, a cantar hinos, a marcar minha Bíblia e fazer anotações". (Martha Evangelista)
Honrar os pais não pode se converter em idolatria, o tema central dos Dez Mandamentos. Na verdade, cada um deles é contra a idolatria, porque a idolatria nos despersonaliza. É o relacionamento com Deus que nos dignifica. Quem teve (ou tem) pais notáveis corre o risco de pedestalizá-los. Quem tem (ou teve) pais indignos corre o risco de imortalizar a amargura. Honrar os pais é prestar atenção no que dizem. Se o que dizem não está correto, o filho não é juiz, mas a Palavra de Deus. É à luz desta Palavra que os pais devem ser julgados; os filhos também. E esta sublime Palavra nos recomenda que, se erraram conosco, devemos perdoar-lhes incondicional e unilateralmente. O quinto mandamento não impõe condições prévias para a honra. Se há obstáculos ao exercício da honra, devem ser removidos por meio do perdão, mesmo que eles não o peçam. 
Quando gestos dos pais nos deixaram traumas, precisamos ter maturidade para lidar com o problema, sob pena de ficarmos mutilados pelo resto da vida. Não se trata de perdoar pelo esquecimento. Miroslav Volf propõe que interrompamos o ciclo destrutivo das lembranças dolorosas. Ele não tem em mente as dores que, por vezes, emergem do convívio ou não-convívio entre pais e filhos. O caso dele foi diferente: por ter uma esposa norte-americana, foi interrogado e ameaçado durante meses por uma equipe de militares da antiga Iugoslávia; eles queriam incriminá-lo por crimes que não cometera. Quando finalmente se viu livre, acabou tendo suas memórias povoadas pelo horror do medo.
Sua reflexão se aplica a todo tipo de ódio (não importa que seja etiquetado como indiferença), inclusive aquele que leva filhos a não honrarem seus pais cruéis. A partir da sua experiência com o regime comunista, Volf concluiu que "o mal precisa não de uma, mas de duas vitórias. A primeira acontece quando um ato de maldade é perpetrado; a segunda, quando a maldade é retribuída".   Ele decidiu seguir o ensino e o exemplo de Jesus Cristo em relação aos seus agressores. Em lugar de pretender esquecer as injustiças cometidas contra nós, ele sugere que devemos desejar que o trauma não venha à mente. "Aprender a lembrar bem é uma chave para a redenção. E a própria redenção do passado está inserida numa história mais ampla, que é a restauração integral divina de nosso mundo falido, restauração essa que inclui o passado, o presente o futuro".   Ele está certo em dizer que "não podemos experimentar uma cura interior completa de uma maldade sofrida sem 'curar' o relacionamento com o malfeitor".  Afinal, se foi no relacionamento que fomos feridos, é "a reconciliação com o malfeitor que completa a cura da pessoa que sofreu a injustiça".   
Sua proposta é clara: "Nunca se deveria exigir daqueles que sofreram injustiças que esqueçam e sigam em frente. Esse conselho impossível seria também um conselho errado. O esquecer injustiças deve acontecer como consequência da dádiva de um novo mundo".   O ideal é que cada injustiça sofrida seja "exposta em todo o seu horror, seus perpetradores condenados e os arrependimentos transformados, e as vítimas honradas e curadas". Depois, "nossa mente será arrebatada na bondade de Deus, na bondade do mundo novo de Deus, e as memórias de injustiça irão secando como plantas sem água".   
O caminho seguido e sugerido por Miroslav Volf pode ajudar aqueles cujas almas foram feridas por estranhos ou familiares, sobretudo por pais. Depois do perdão, a honra aos pais poderá vir. Sem perdão, não há reconciliação; sem reconciliação não há honra.
Filhos, honrem os seus pais agora.
Pais, o que vocês fazem é para sempre. Você é exemplo. Seja um bom exemplo. Quando falhar, tornando-se um mau exemplo, numa lembrança que apavore, peça perdão ao seu filho. Ele o perdoará.
 
 
2. A ARTE DE CONTINUAR A HISTÓRIA
 
Nós somos a continuidade dos nossos pais. A história deles continua na nossa.
A história que escrevemos tem capítulos que vêm de livros anteriores.
Os pais são parte da grande história de nossas vidas.
Nossos avós são parte da grande história de nossas vidas.
Quando os ouvimos, conhecemos a nossa própria história até os dias de hoje. O presente que escrevemos e o futuro que escreveremos, por mais diferentes que sejam, têm suas raízes fincadas no chão da história que viveram os que chegaram antes de nós, aos quais estamos ligados por laços de sangue para sempre.
A honra aos pais (ou ancestrais) é uma seção da honra aos mais velhos, estejam eles em casa, na escola, no meio de transporte, na igreja, na área de lazer ou na empresa em que atuamos. Quem respeita os pais respeita os mais velhos. Quem ouve seus pais ouve os mais velhos que o cercam.
Ouvir os mais velhos é também uma questão de honra, gratidão e sabedoria.
Quanto à honra, precisamos nos lembrar que o mundo em que vivemos nos está sendo legado pelos que vieram antes de nós. A empresa em que trabalhamos foi construída por homens e mulheres que deixaram um legado. Se achamos que poderiam ter feito melhor, antes de julgá-los com severidade devemos estudar as condições que lhes foram dadas, para vermos se fizeram o que podia ser feito.
Quanto à gratidão, um jovem pai refletiu:
— Esta atitude de 'aluno' para com os mais experientes, em especial para com os pais, tem a ver com gratidão por tudo o que fizeram por nós, enquanto filhos. Sei – e já falei com os meus pais sobre isso – que acertaram e erraram, mais sempre com a intenção de fazer o melhor por mim. (Clístenes)
Quanto à sabedoria, precisamos conhecer a história da nossa família, organização ou empresa, sabendo os nomes dos que escreveram a história que vamos continuar.
Os filhos sábios sabem que seus pais são sábios, como foi o caso de Paulo, que se lembra do conselho que seu mãe lhe deu, ele adolescente: "Com 14 anos de idade e  trabalhando em escritório de uma Indústria, recebi um conselho de minha progenitora, mais ou menos nos seguintes termos:
— Filho meu. Como você bem sabe, vivemos de uma abençoada pensão deixada seu pai, o que nos possibilitou vivermos honradamente até o dia de hoje. Agora que você já está bem adiantado em seus estudos, resolvi dar-lhe um conselho que, penso, será de grande valor para sua vida futura. Estude bem (pois é muito difícil) para se tornar funcionário do Banco do Brasil, como foi seu pai. Não possuo condições financeiras para financiar seus estudos em Faculdades e muito menos para adquirir os livros.
A sugestão de minha mãe se tornou o alvo de minha vida de estudante. Estudei, com afinco. Como resultado do esforço despendido e ajuda divina, logrei alcançar o alvo desejado por minha mãe;  fui aprovado no primeiro concurso que fiz para o Banco do Brasil e depois continuei minha carreira como funcionário do Banco Central, logo no início de sua fundação, até minha aposentadoria". (Paulo Barros)
Tanto na honra quanto na sabedoria podemos falhar. Podemos descartar os velhos porque não produzem como produziam. Podemos ignorar os velhos, por arrogância e presunção, como se lhes fôssemos melhores.
Podemos, ao contrário, nos alimentar com os conhecimentos que os nossos antecessores acumularam, alguns transmitidos de geração em geração. 
Uma jovem mãe lembra do que aprendeu com seu avô. "Com meu avô materno aprendi a ser forte e otimista mesmo quando tudo parece perdido". (Leticia)
Um homem experimentado recorda: Aprendi de meu pai que o caráter de um homem é que o faz pronto e o molda para enfrentar a vida. Aprendi de minha mãe que existe algo mais em cada um de nós quando se pretende erguer uma família: amor incondicional". (Humberto)
Os bons profissionais sabem valorizar bem a experiência dos que vieram antes.
Durante alguns anos trabalhei como diretor setorial de uma organização humanitária internacional.  Uns 15 anos depois de minha saída recebi um telefonema. Após as identificações, notei que o profissional que me ligava ocupava a mesma função em que atuei, com um foco semelhante ao meu.
Disse isto a ele. Falei das dificuldades que enfrentara e como conseguimos avançar. Ele foi simpático, mas nunca mais fez contato.
Em outras palavras, quando aquele profissional entrou na organização, ele não se interessou em conhecer a história da organização e nem mesmo do seu setor. Se visse o que eu fiz, sobretudo os meus erros, ganharia tempo e economizaria dinheiro para a sua empresa. Preferiu não ouvir os mais velhos.
Em outro momento, posterior, estava no camarim da TV Globo, para uma entrevista de um programa matinal. Éramos dois no mesmo espaço. O outro era o jornalista e historiador Nelson Motta, rosto muito conhecido, com colunas em televisão e livros publicados em sua área. Eu era desconhecido. Quando a produtora entrou, para lhe chamar, perguntou:
— Quem é Nelson Motta?
— Sou eu — Respondeu.
Antes de sair, comentei comigo:
— Uma pessoa de televisão não saber quem é Nelson Motta é inadmissível.
Ele reagiu:
— São assim os jovens. Eles não se interessam.
Parte das atitudes destes profissionais vem da rejeição à tradição, vista como necessariamente impeditiva das mudanças necessárias. A tradição é, sabemos, uma força poderosa. Pessoas presas à tradição não saem de um passado, mais imaginário do que real. Empresas ou organizações que idolatram a tradição simplesmente morrem; trata-se de uma questão de tempo.
Qualquer grupo que promove uma partida de futebol sabe disto. Um time precisa mesclar a experiência dos mais velhos com o ímpeto dos mais jovens. Um jogo de casados contra solteiros é, muitas vezes, vencido pelos casados. Os mais jovens driblam mais, atacam mais, chegam mais perto do gol adversário, mas nem sempre ganham. Os casados correm menos, driblam menos, atacam menos e, muitas vezes, ganham. A diferença responde pelo nome de maturidade, que torna os mais velhos menos afoitos e menos afobados. Eles correm menos porque fazem a bola correr mais. Eles aprenderam que não é dos fortes e velozes a vitória, mas dos que correm melhor.
A tradição é um dos fatores de sucesso, mas tem que ser conjugada com a renovação. A tradição exige conhecimento. A renovação precisa de coragem. A tradição pode ser uma fuga aos desafios do presente. A tradição pode ser filha da preguiça em trabalhar duro para que o progresso aconteça. A tradição, para ser mantida, precisa ser renovada.
"Sempre fizemos assim" deve ser uma frase ausente na vida de uma família ou organização. Se uma empresa entrega um produto, bonito e bom, que ninguém quer receber, a empresa vai quebrar. Não adianta dizer que quem rejeita o seu produto está errado; a empresa que não mudar não sobreviverá.
O apego à tradição, mesmo vitoriosa, é a permanência numa zona de conforto, geralmente perigosa. Nesses casos, “as pessoas que estão no comando do antigo sistema não percebem a mudança. Quando percebem, deduzem que não é importante. Então percebem que é um nicho e, depois, uma moda. E quando finalmente compreendem que o mundo realmente mudou, já deixaram passar grande parte do tempo que tinham para se adaptar”.  
A tradição, portanto, não é para ser idolatrada. Ela é um dos componentes da vida, e a mudança é outro.
 
 
3. UM PEDIDO AOS VELHOS
 
O cineasta egípcio Ahmed Maher particiou ativamente do movimento que culminou com a inimaginável queda de Hosni Mubarak.
Perguntado sobre que conselho daria aos jovens insatisfeitos de outros países, ele sugeriu:
— Meu principal conselho: não dêem ouvidos aos mais velhos. Eles dirão que é impossível.
Maher não precisa estar com a razão.
"Velho" não se definie pela idade, mas pela visão da vida, não importa se o corpo pesa.
"Velho" também se define pela atitude diante dos jovens. Se tudo o que eles fazem está errado, você é "velho".
Se você estimula os jovens, mesmo que fique em casa, não será chamado de "velho" por eles.
Se você sonha junto, mesmo que a maturidade o torne menos confiante, você é irmão dos irmãos, não importa a data em que lhe foi emitida a certidão de nascimento.
Se você protesta junto, escreve junto a história da mudança.
Tudo o que o é realizado hoje era impossível ontem.
Quando nos encontramos um velhinho no banco pedindo ajuda para movimentar o caixa eletrônico, talvez meneemos a cabeça com o desejo de dizer:
— Atualize-se, velho.
Sem dúvida alguma, todos precisamos estar sempre atualizados para nos mantermos para nos beneficiarmos dos recursos que a tecnologia da informação nos proporciona. Pagar as contas sem sair de casa, comprar uma passagem pela internet, conversar com pessoas queridas distantes sem pagar pela ligação e vendo os seus rostos, manter numa pasta digital todos os seus documentos e ler seus livros (eletrônicos) em qualquer lugar sem ter que os carregar são benefícios que compensam todo o esforço da atualização.
— Atualize-se, velho.
Mas, velho, não se atualize nas questões essenciais da vida, que transcendem os penduricalhos que tornam a vida mais fácil, mas não necessariamente melhor.
Velho, não se atualize concordando que o errado é certo, porque o errado é errado e o certo não é errado e isto não é uma questão de gerações.
Velho, não se atualize mudando o seu ritmo porque lhe pedem ou para se ajustar a uma velocidade frenética sem qualidade de vida, sem lugar para observar a natureza, sem tempo para prestar atenção no outro.
Velho, não se atualize seguindo a moda dos mais jovens, numa imitação que que o torne ridículo aos olhos deles.
Velho, não se atualize preferindo que os seus dias agora sejam chamados de "terceira idade", se você prefere velhice.
Velho, não se atualize abrindo mão de seus valores, negando sua experiência, jogando fora seus sonhos.
Afinal, o novo não é necessariamente o melhor, o forte não é sempre moderno, o que-todo-mundo-faz não está sempre certo.
Velho, a sociedade precisa do velho como ele está, velho, velho empenhado em ajudar a construir um mundo novo.
Velho, não reclame por estar velho. Trata-se de um privilégio negado a muitos.
 
 
4. UM APELO AOS JOVENS
 
Os velhos precisam ser ouvidos.
Sabemos que nossa cultura trata mal os seus velhos.
Se é verdade que há muitos leis, boas por sinal, para os proteger, ainda assim são vistos como peso e não como sábios. A maioria das empresas os dispensa, quando estão no auge de sua capacidade produtiva.
No entanto, eles guardam verdadeiros tesouros que podem ser revelados aos mais jovens.
Um bom princípio na tomada de decisões é escutar os mais velhos. Pode ser que não tenham a mesma instrução escolar que nós, mas têm a formação da vida.
A sabedoria é o verdadeiro diploma. Afinal, com quantos cursos se faz um sábio?
Um caso real nos ajuda a ver o valor dos mais velhos.
Um profissional de meia idade, doutor em filosofia, teve que tomar uma decisão que tinha a ver com assumir uma função numa organização de ensino. Sem saber como proceder, ele reuniu uma coleção de amigos numa sala e pediu a opinião de cada um, um a um.
Todos ofereceram sábios conselhos.
O mais sábio veio de um amigo que estivera em silêncio todo o tempo, talvez receoso de falar diante dos currículos dos outros conselheiros convocados.
Na verdade, nessa época, ele estava aposentado como porteiro de um prédio próximo. Ele tinha vários prazeres, como recitar, de cor, longos poemas e participar das reuniões dos jovens que os mais velhos tendem a achar barulhentas.
Quando ele falou, proferiu o conselho mais sábio, prontamente acatado pelo profissional.
Não podemos desprezar o conhecimento da experiência, guardado na memória dos mais velhos. Nossos pais estão entre essas pessoas. Os jovens que ouvem seus pais erram menos.
Assim, diante de uma decisão a ser tomado, seremos sábios se procurarmos pessoas mais experientes, apresentarmos nossos dilemas e ouvir o seu conselho.
Alguns já tiveram os dilemas que tivemos. Eles vão nos dizer em que acertaram e em que erraram. E nós teremos a vantagem de não precisar erramos também.
Filhos, honrem seus pais agora, enquanto é tempo. Ouça-os.
Netos, honrem seus avós agora, enquanto estão aos seu lado. Faça com que lhes contem suas histórias.
Profissionais, honrem seus superiores. Ouça-os. Ouçam os colegas que chegaram primeiro. Conheça a cultura da empresa, para preservá-la no que tem de bom, para mudá-la no que empanam o presente e obscurecem o futuro.
Não devemos idilizar os velhos, achando que sempre pensam corretamente e agem de modo justo.
Devemos honrar, mas não ouvir os velhos rabugentos, que reclamam de tudo e de todos, sem sólida razão. 
Devemos respeitar, mas não seguir os velhos apegados às tradições, sejam boas ou sejam ruins (sim, há tradições ruins a serem abandonadas), como sendo dignas e imutáveis.
Devemos considerar, mas não repetir os velhos que se tornaram (ou sempre foram, talvez) amargos, prontos para exagerar os erros dos outros e minimizar os seus. Acham-se sábios sem o serem.
Devemos nos relacionar, mas não imitar os velhos mesquinhos, que não querem compartilhar suas experiências e conhecimentos. Lembro-me que, recém-chegado a uma universidade, propus a um dos seus programas preparar um manual para os mestrandos e doutorandos que lhes facilitasse seus trabalhos finais, com orientações que lhes permitisse perceber melhor os erros mais comuns e seguir mais rápido e melhor a conclusão de sua formação, com a entrega da tese ou dissertação. Um dos professores-líderes da casa rejeitou minha ideia, com as seguintes palavras:
– Quando fiz meu doutorado, ninguém facilitou as coisas para mim. Eu me virei. Cada um se vire.
Felizmente, outros professores concordaram com a minha sugestão.
Sem idilizar-lhes, devemos honrar os velhos, todos os velhos.
Devemos honrar e ouvir os velhos que têm sonhos, para si mesmos, sua família, sua organização, sua empresa. Têm muito a nos dizer e dirão, se os ouvirmos.
Devemos honrar e observar como os velhos falam e trabalham. Com eles, aprendemos até o bom uso da língua. Com eles, aprendemos ofícios e dominamos habilidades que podem se tornar nossas profissões.
Devemos honrar e crescer com os velhos, no modo como se relacionam com o tempo. Eles já aprenderam que o mundo não vai acabar hoje e aqui algumas coisas podem esperar. Aprendi com David Malta Nascimento, meu chefe como reitor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Muitas vezes, eu chegava em seu gabinete com um papel e um problema:
— Pastor David, temos que resolver isto hoje.
Ele pegava o papel e guardava o problema na gaveta.
— Amanhã, vemos isto.
Eu saía surpreso e, às vezes, não voltava no dia seguinte, porque o problema tinha desaparecido.
Com os velhos sábios, podemos aprender a não perder tempo com que não vale a pena.
Devemos honrar e aprender com os velhos a como controlar nosso ímpeto, sem perder a coragem. Eles sabem, por experiência, que as paixões passam, sejam ideológicas ou afetivas, porque só persiste mesmo o amor. 
Devemos honrar e respeitar os mais velhos, quando eles mesmos são mestres na arte de respeitar os outros, de acolher os diferentes, a valorizar as coisas realmente importantes. 
Devemos honrar e admirar os velhos, sobretudo aqueles que nos mostram como seus sonhos foram realizados, para que aprendamos a como realizar os nossos, nunca trafegando pela avenida do fácil, porque a Avenida Fácil é tem saída.
Devemos honrar e beber com os velhos cujas atitudes revelam que o conhecimento é para ser distribuído, o dinheiro é para promover o bem e o tempo é para ser compartilhado.
Em termos programáticos, eis um caminho de obediência ao mandamento da honra:
 
1. Ouça os mais velhos e você errará menos. Ouça os mais velhos e você aprenderá com os erros deles. Errar como eles erraram é errar de novo. Erra de novo quem não aprende a lição.
 
2. Ouça os mais velhos para fazer igual. Imite-os no que fizeram de bom, na coragem que tiveram, na ousadia que mostraram, na metodologia que inventaram.
 
3. Ouça os mais velhos para fazer diferente. Talvez os gestos dos mais velhos seja um antimanual, uma aula sobre como não fazer. Não siga pisadas que estão ali apenas para lhe lembrar que seu itinerário deve ser outro. 
 
4. Ouça os maios velhos para ir além. Se você for tão bem quanto seus pais ou antecessores, excelente. E talvez você possa ir além deles, que será também muito bom.
 
5. Escute o mais velho quando diz "vai" ou quando grita "pare", quando aprova com um "sim" ou quando segura com um "agora não", quando sugere que "está na hora" ou quando recomenda que "deixe para depois". Ouça com pressa e avalie sem pressa. Depois decida. Se você está seguro que o conselho é bom, siga. Se estiver certo que o conselho não é bom, discuta. Se estiver em dúvida, siga-o.
 
6. Quando for escolher a profissão, escute seus pais, procure profissionais experientes e assente aos seus pés. Se eles foram otimistas, acredite. Se foram pessimistas, reflita. Lembre-se que eles fizeram o caminho que você ainda vai fazer. Seja humilde diante deles. Aprenda: não queira lhes ensinar.
 
7. Cresça com os bons autores e seus livros, como estes, entre outros:  
 
1. "O peregrino" (1678), de John Bunyan
2. "Os irmãos Karamazov" (1880), de Fiodor M. Dostoievsky
3. "Resistência e submissão" (1945), de Dietrich Bonhoeffer.
4. "O homem à procura de si mesmo" (1953), de Rollo May
5. "Ouça o espírito, ouça o mundo"  (1975), de John Stott
6. "Celebração da disciplina" (1978), de Richard Foster.
7. "A volta do filho pródigo" (1992), de Henri Nouwen.
8. "O impostor que vive em mim" (1994), de Brennan Manning 
9. "Transpondo muralhas" (1997), de Eugene Peterson.
10. "Maravilhosa graça" (1997), de Philip Yancey
 
8. Entre ensinar e aprender, escolha aprender. Quando encontrar um velho que queira lhe ensinar, ponha-se a aprender. Seja ensinável.
 
9. Valorize seus pais. Valorize quem veio antes de você. Valorize seu colega mais velho no trabalho. Valorize seu chefe.
 
10. Escolha referências para seguir. Não se envergonhe de admirar pessoas. Se você é jovem, seus colegas são colegas, não referências. Referência é quem inspira. Siga seus pais. Siga pessoas maduras. Siga pessoas que já tiveram seus sonhos e que já enfrentaram obstáculos como você.
 
ACORDE
Responda às seguintes perguntas, para aferir seu grau de vivência ao quinto mandamento:
1. Você se aproxima dos velhos para escutar suas histórias? (AUTOCONHEÇA-SE)
2. Você se considera paciente para passar tempo com os mais velhos? (CONFESSE)
3. Você pede a Deus sabedoria para aprender com que sabe? (ORE)
4. Você já tomou a decisão de cuidar dos seus pais, caso venha a ser este o caso?
5. Que passos tem dado para se relacionar de modo saudavelmente respeitoso com os mais velhos?
6. Você está pronto para seguir os bons conselhos que ouve?
 
PARA LER
FOSTER, Richard e WILLARD, Dallas. 25 livros que todo cristão deveria ler. Tradução de William Lane. Viçosa: Ultimato, 2013.
GOLEMAN, David. Foco. Tradução de Cassia Zanon. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
VOLF, Miroslav. O fim da memória. Tradução de Almiro Pisetta. São Paulo: Mundo Cristão, 2009.
 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO