1
Sabemos que a nossa vida é como uma neblina que o sol em segundos dissipa, mas vivemos como se não fôssemos morrer.
Sabemos que uma doença invisível pode corroer os nossos corpos, mas exibimos os nossos músculos.
2
Lamentamos a falta de educação do vendedor na loja, mas não lhe sorrimos quando lhe fazemos o pedido.
Lamentamos que as pessoas não façam as coisas certas, mas deixamos de fazer o que é bom com medo da opinião dos outros a nosso respeito.
3
Dizemos aos nossos filhos para fazerem o que nós não fazemos, mas protestamos quando eles fazem o que nós fazemos e não o que nós lhes dizemos para fazer.
Dizemos "obrigado" com enfado quando nos dão algo, mas protestamos com exagero quando somos esquecidos.
4
Queremos receber palavras e gestos de afeto, mas não somos afetuosos.
Queremos ser ouvidos, mas achamos que ouvir não cabe em nossa apertada agenda.
5
Reclamamos quando não somos respeitados, mas damos razão ao outro para nos criticar.
Reclamamos da violência na rua, mas berramos contra os desafetos.
6
Ficamos tristes quando nossas desculpas não são aceitas, mas rejeitamos conceder o perdão que nos é pedido.
Ficamos tristes quando temos que enterrar os nossos mortos, mas não nos dispomos a carregar os caixões dos mortos dos outros.
7
Temos certeza que dinheiro não traz felicidade, mas guardamos o nosso como se fosse o tesouro do sentido da vida.
Temos convicção de que é melhor distribuir do que reter, mas preferimos receber e acumular.
8
Reconhecemos que somos todos iguais, mas não admitimos que nos cortem os privilégios.
Reconhecemos que precisamos uns dos outros, mas não nos fortalecemos mutuamente.
9
Gostamos de ser convidados à mesa, mas não convidamos para a nossa.
Gostamos de ser aplaudidos, mas não celebramos as realizações dos outros.
10
Lembramos com gratidão e até com lágrimas nos olhos daqueles que nos deram a mão um dia e nos tornaram vencedores, mas quem poderá dar o mesmo testemunho a nosso respeito?
Lembramos com alegria daquilo que Deus fez por nós, mas achamos que desta vez o nosso problema não tem solução.
ISRAEL BELO DE AZEVEDO
