ACADEMIA DA ALMA 8 — VIGIE O SEU CARÁTER (8/10)

ACADEMIA DA ALMA 8

A vida em 10 atitudes, 8

VIGIE O SEU CARÁTER

 

PARA MEMORIZAR

“Não furtarás".

(Êxodo 20.15 — ARA)

 

PARA PENSAR

"Há um outro tipo de roubo sobre o qual não falamos. É quando temos mais do que precisamos e nada damos aos que nada têm. É o roubo que acontece quando consumimos, controlamos e acumulamos. Estamos diante de um individualismo inflexível. Não nos deixemos enganar: trata-se de glutonaria espiritual".

(Joan CHITTISTER)

 

PARA VIGIAR

Não me esquecerei que "os tesouros de origem desonesta não servem para nada, mas a retidão livra da morte" (Provérbios 10.2 — NVI).

 

PARA ALCANÇAR

Posso até não me contentar com o que tenho e posso desejar ter mais, mas peço a Deus para que o que eu ganhar seja fruto do trabalho.

 

Uma senhora caiu num supermercado. Machucou-se. Perdeu dinheiro porque deixou de trabalhar. Precisou fazer fisioterapia, bancada plano de saúde. Ficou boa.

Algum tempo depois, uma pessoa amiga lhe disse:

— Você tem direito a uma indenização. O supermercado é responsável pela sua segurança na loja.

— Mas eu nem sei como caí, se foi culpa do supermercado.

— Não interessa. Entre na justiça.

A senhora concordou. O processo andou.

Perto da audiência, ela se sentiu incomodada. Procurou um pastor, que lhe disse:

— Talvez a justiça lhe dê ganho de causa. Pode ser legal a sua vitória, mas será moral? O supermercado teve alguma responsabilidade: o chão estava molhado, tinha algum objeto no corredor?

— Acho que não. Quando me vi estava no chão. Eu me levantei e fui para a casa. Depois, comecei a sentir dores e procurei um hospital.

— A decisão é sua. — Concluiu o pastor.

A mulher compareceu à audiência e abriu mão dos seus eventuais direitos. Ela não se arrependeu, porque achou que fez o que era certo.

Se continuasse no processo, poderia apenas levar vantagem, tirando proveito da lei, tomando um dinheiro a que não tinha direito. Estaria furtando.

 

1. NEM SEMPRE A SABEDORIA POPULAR É SÁBIA

 

Furtar é, na Bíblia, um verbo para a ação cometida por quem se apropria daquilo que pertence ao outro. Na legislação, quando o ato é cometido com o uso da força, é tipificado como roubo.

As pessoas em geral não fazem distinção entre furtar e roubar. Fazem bem. No fundo, é o mesmo erro. A forma (com força física ou não, secretamente ou às claras) não altera o seu sentido. O melhor que fazemos, portanto, é usar os verbos como sinônimos, porque o uso da força encontra variações que vão da violência à física à sedução suave.

Devemos tomar cuidado com os valores que acabaram sendo consagrados nos ditados populares.

 

1. "Vergonha é roubar e não poder carregar".

Quando criança, uma pessoa foi surpreendida perto da linha do trem com o produto do seu roubou. Intrigou-me ouvir, talvez em tom de pilhéria, que "pecado é roubar e não poder carregar". O ditado continua, ora tendo somo sujeito o "pecado", ora a "vergonha". Seu pressuposto é que o pecado se consuma quando é descoberto. Quem se apropria do que é do outro e não é percebido é visto como esperto. Não: é vergonhoso roubar, até mesmo para matar a fome de um filho, se for o caso. O ladrão pode ser até absolvido, em nome do império da necessidade, mas, se for digno, terá vergonha.

Ficou famoso o caso de Ronald Biggs, que, tendo assaltado cinematograficamente um trem pagador inglês, fugiu para diferentes lugares, vindo parar no Brasil, onde viveu da sua fortuna roubada, sem ser incomodado. No Rio de Janeiro, durante algum tempo, compravam-se camisetas e canecas com seu rosto. No final da vida, decidiu voltar à Inglaterra, num avião fretado por um jornal, em troca da exclusividade pela história. Preso, seus advogados tentaram soltá-lo, mas o governo britânico se recusou a fazê-lo, sob a justificativa de que Biggs não se arrependera. Só muito doente, foi liberto. 

O tratamento dado ao ladrão inglês no Brasil ilustra o infeliz ditado.

 

2. "A ocasião faz o ladrão".

Tem razão o conselheiro Aires, personagem de "Esaú e Jacó", de Machado de Assis: "Não é a ocasião que faz o ladrão (…); o provérbio está errado. A forma exata deve ser esta: 'A ocasião faz o furto; o ladrão nasce feito'". [1]

A responsabilidade pelo roubo não é da circunstância ou de quem deixou a porta aberta; é de que quem roubou.

O ditado contém também um preconceito: os pobres são levados a roubar por sua condição, o que não é verdade. O crime não tem a ver com necessidade, mas com honra.

 

3. "Achado não é roubado".

Desde criança ouvimos que "achado não é roubado". Desde criança, então, o "não furtarás" é relativizado em nossas mentes. Podemos, assim, andar pelas ruas à espreita de algo perdido ou esquecido. Podemos até esperar por alguém que vá esquecer uma coisa, para tomá-la como nossa. O taxista pode torcer para que o seu cliente esqueça algo ou pode conferir com ele se não deixou nada no seu veículo. É o seu caráter que definirá sua atitude.

Os pais devem inspirar de outra forma. Se encontraram alguma coisa, deve deixar no lugar ou tudo fazer para que volte ao dono. Se um filho chega em casa com um objeto encontrado na escola ou em qualquer outro lugar, deve ser ensinado a devolver o mais rápido possível e a não pegá-lo. Como é aliviador a gente perder algo na rua, voltar e encontrar lá o que deixamos.

Melhor que "achado não é roubado' é "o grande ladrão começa pelos dedais" ou "ladrão de tostão, ladrão de milhão".

Um pai passou a enfrentar dificuldades com o seu filho, que chegava em casa com objetos encontrados na escola. Logo, o pai percebeu que o menino, talvez por lhe faltar o que seus colegas tinham, primeiro fabricava circunstância para pegar coisas e, depois, subtraía objetos por meio de estratégias diversas. O pai não descansou enquanto, mesmo envergonhado, seu filho não aprendeu a ser um homem de verdade e a viver do seu trabalho.

Os pais devem ser radicais, observando outros dois ditados populares, estes felizes: "Quem encobre ladrão é ladrão e meio" e "Tão ladrão é o que vai à horta como o que fica à porta".

Quem se omite diante de um roubo é ladrão também. É forte a advertência da Bíblia: "O cúmplice do ladrão odeia a si mesmo" (Provérbios 29.24).

Como escreveu uma mãe e avó: "Na maioria dos casos, o furto começa a ser aprendido no lar. É consequência de falta de respeito, passa pelo amor não recebido, passeia pelo amor próprio e é embalado pelo Diabo, o pai da mentira" (Luíza).

 

4. "Rouba, mas faz".

Jovem, morava no Paraná, onde havia um governador com fama de corrupto. Seu nome era Moisés Lupion (1908-1991), que acabaria cassado como corrupto pelo regime militar, embora posteriormente inocentado pela justiça. No governo, era apreciado por parte da população que dele dizia: "Ladrão por ladrão, Lupion é o bom".

O ditado era uma tácita aprovação ao governante que "rouba, mas faz". Pressupõe que todos roubam. Quem rouba e faz é melhor do que aquele que "apenas" rouba.

Os dois ditados mostram que o político é um reflexo da sociedade, que não pode receber como legítima a corrupção sob nenhuma circunstância.

 

5. "Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão".

O humor popular consagrou outros ditados, que acabam relevando ou mesmo incensando alguns tipos de ladrão: "Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão". A frase tem variantes: "Quem engana ao ladrão, cem dias ganha de perdão" e "É bom ladrão quem rouba a ladrão".

Diferentemente, ladrão que rouba ladrão é ladrão, não importa de quem tenha roubado.

 

6. "Acha o ladrão que todos o são."

Da sabedoria popular, um ditado vale a pena, por sua denúncia: "Acha o ladrão que todos o são".

O erro de muitos não justifica o de alguns. O ladrão não tem justificativa para o seu crime, mesmo que viva num meio de ladrões.

Está errado o ladrão que acha que todos o são. Não é verdade. A maioria é honesta e, se alguém pretende se espelhar deve ficar com a maioria, quando ela está certa.

 

2. MODOS DE FURTAR

 

Não furtamos apenas quando retiramos um bem (objeto ou dinheiro) de alguém. Há outras formas de roubo, pelo que devemos estar sempre atentos.

Vejamos algumas:

 

1. Rouba a empresa ou o chefe que trata mal ao seu empregado, deixando de lhe pegar um salário digno ou tirando dele a oportunidade de crescer profissionalmente. O trabalhador merece o seu trabalho (Lucas 10.7).

 

2. Rouba quem não fornece o serviço pelo qual foi pago. Pode ser o prestador de serviços, que deixa o trabalho pela metade, ou o funcionário que chega atrasado ou, presente, age com displicência ou faz o que é alheio à sua tarefa ou trata mal os clientes ou os colegas da empresa.

 

3. Rouba quem recebe por um serviço pelo qual não paga, seja luz, água ou sinal de telecomunicação. Os chamados "gatos" são eufemismos que não podem esconder seus nomes: roubos.

 

4. Rouba quem frauda o Imposto de Renda. O fato de que o dinheiro recolhido, na fonte ou no ajuste, não torna digno o gesto de sonegar informações ou mentir para pagar menos imposto. A arena da luta contra a injustiça deve ser coletiva, não individual. Lesar a Receita Federal, na declaração ou na alfândega, é o mesmo que furtar.

 

5. Rouba o governo quando não usa os impostos parar os fins para os quais foram recolhidos. Se este imposto é alto, é furto, mesmo que bem empregado. Se é justo, mas mal empregado, é roubo.

 

6. Rouba o empresário que não emite nota fiscal, mesmo que seja para pagar salários melhores, caso houvesse esta hipótese. Mesmo que o imposto seja extorsivo, tem que ser pago. Se não o for, será roubo. O território para o enfrentamento da cupidez do estado não é o do engano, mas o do debate político.

 

7. Rouba quem destrói bens privados ou públicos, seja a vidraça de uma loja, a catraca de um ônibus ou trem, o banheiro da escola ou da rodoviária, seja um automóvel que risca, uma calçada que se depreda. O protesto de natureza política precisa encontrar outros meios de se realizar. A violência depredadora tem um preço que os mais pobres vão pagar. A ira contra a desigualdade precisa encontrar formas sábias de se expressar.

 

8. Rouba quem picha um bem, seja ela público ou privado, sem a devida autorização. Não é obra digna do nome de arte a algaravia cometida com spray durante a madrugada, nem a mensagem clara deixada numa parede, se o proprietário não a autorizou ou solicitou.

Uma instituição de ensino em São Paulo colocou uma nota em sua parede como seguinte aviso: "Sr. Pichador. O dinheiro economizado com a manutenção das paredes é doado a uma instituição de caridade. Ajude-nos a mandar esta contribuição. Obrigado e que Deus te abençoe". Há anos o muro da propriedade está intacto.

 

9. Rouba quem pede emprestado e não devolve, seja um livro, uma caneta, um clipe ou um valor em dinheiro. Pouco importa se foi por desleixo ou por vontade expressa de se apropriar o bem do outro. Quem age desse modo rouba duas vezes: rouba o objeto e rouba a confiança do prejudicado em relação ao ser humano em geral. Quem empresta pode até esquecer, mas quem toma emprestado não pode fazê-lo.

 

10. Rouba quem furta ideias. O que pensamos vem das ideias dos outros, às quais precisamos sempre dar crédito. Roubar ideias é algo tão forte que mesmo as grandes empresas o fazem. Por esta razão, gigantes como Samsung e Apple estão sempre na justiça, uma acusando a outra de roubar patentes tecnológicas para seus futuros produtos. Roubar ideias é algo forte no mundo acadêmico, onde pessoas se dispõem, por preguiça ou esperteza, apresentar como suas as ideias dos outros, às vezes de colegas.

 

11. Rouba quem, parcial ou integralmente, copia livro sem autorização expressa do autor e/ou editora ou quem distribui. Na verdade, este tipo de furto é cometido por uma quadrilha. Rouba o professor que providencia ou solicita as cópias. Rouba o profissional que faz as cópias. Rouba o aluno que recebe o material furtado. Rouba o internauta que distribui cópias piratas de obras que não estejam em domínio público.

Eu recebo muitos emails com livros para abrir. São todos piratas. Não abro. Há sites especializados em preparar e distribuir produtos de roubo, alguns ainda disponíveis para venda.

Certa vez, um grupo da nossa igreja precisou de um livro para estudar. Como estava esgotado, pedi a autor, que me mandou um PDF do livro, com a condição que ficasse restrito ao grupo  de estudos.

O mesmo cuidado se aplica a filmes, músicas ou outros produtos que podem ser baixados. Há sites que vivem de distribuir produtos autorais piratas. São como o intermediário de cargas roubadas por criminosos armados.

 

12. Rouba quem leva para casa os produtos de um caminhão que tombou na estrada. Se a carga não for liberada, quem a leva é ladrão, tanto quanto quem porta um fuzil para intimidar o transportador.

 

13. Rouba quem leva do hotel em que está hospedado objetos de uso exclusivo no local da hospedagem. Há um site que periodicamente faz uma pesquisa para saber que nacionalidades mais furtam itens nos quartos de hotel. Segundo um levantamento em 28 países. A nacionalidade que mais respondeu "sim" à questão é vizinha do Brasil: os argentinos. Cerca de 73% deles admitiram já ter furtado pelo menos um item de acomodação hoteleira. Em seguida, vêm os viajantes de Cingapura (71%), Espanha (70%), Alemanha (68%), Irlanda (67%), Rússia (59%), México (59%), Itália (57%), Japão (56%) e Estados Unidos (53%). O Brasil não aparece entre os dez mais. Entre os itens mais roubados estão roupões de banho, toalhas, os cartões de acesso ao quarto, revistas e objetos da mesa de escritório, como canetas e blocos de anotação. Até mesmo Bíblias são roubadas. [2]

 

14. Rouba quem mente para obter desconto num ingresso para o cinema, por exemplo. O cinema está sendo furtado, ao deixar de arrecadar. Roubam os que usam meias verdades ou mentiras inteiras para obter desconto de algum pagamento a ser feito, seja fingindo ser estudante (com carteiras falsas) ou idoso. Roubam os que estacionam na vaga do deficiente ou idoso, não o sendo. É alta a criatividade para inventar motivos na busca de vantagens indevidas.

 

15. Rouba quem cola na escola. Há um infeliz ditado que poderia ser apenas uma rima: "quem cola não sai da escola". Quem cola passa na prova, mas não passa na vida. Quem cola do colega está furtando o conhecimento do colega que estudou. A formação do colega será legítima; a de quem coloca é falsa.

 

16. Rouba quem propositalmente dá um troco a menos, mas rouba quem, recebendo a mais, não o devolve. Não importa se a vítima é o caixa ou o conglomerado empresarial em cuja loja ou agência o produto foi comprado ou o dinheiro foi recebido. Neste caso, é bom nos lembrarmos do que fazemos quando descobrimos que fomos lesados, voluntariamente ou não: voltando correndo para exigir o que é nosso. O que pode fazer o caixa, se não pagar o prejuízo.

 

17. Rouba quem nega ao outro a oportunidade de se desenvolver como pessoa. Rouba quem pode dar uma cesta de alimentos mas não dá, pode dar um bolsa de estudos mas não dá, pode dar um abraço mas não dá, pode dar uma muda de roupa mas não dá, pode perdoar mas não perdoa. Quem pode fazer o bem e não o faz é ladrão, porque tira do outro a oportunidade de um pouco de qualidade de vida. "Comete pecado a pessoa que sabe fazer o bem e não faz" (Tiago 4.17 — NTLH). Pensamos em termos estruturais, "não podemos achar que não somos uma nação de ladrões, enquanto insistirmos numa sociedade onde alguém tenha que roubar para comer". [3]

 

18. Rouba quem guarda coisas pessoais mas que não usa e nem doa .Quem retém assim furta do outro a possibilidade de usufruir objetos que seriam mais bem utilizadas. "No sentido bíblico, roubar é um pecado individual e social. Reter uma coisa de que não precisamos, destruir o que é útil para os outros ou privar a comunidade de suas necessidades básicas é furtar". [4]Quem não se envolve para que o Evangelho de Jesus seja anunciado a outras pessoas, deixando, por exemplo, de entregar o dízimo que beneficiará essas pessoas com tão poderosa mensagem se omite e quem se omite é ladrão. Sem dúvida alguma, "há um outro tipo de roubo sobre o qual não falamos. É quando temos mais do que precisamos e nada damos aos que nada têm. É o roubo que acontece quando consumimos, controlamos e acumulamos. Estamos diante de um individualismo inflexível. Não nos deixemos enganar: trata-se de glutonaria espiritual". [5]

Nesta cupidez, "roubamos a Deus quando fracassamos em atender as necessidades dos outros. Somos infiéis a Deus quando esbanjamos a nossa riqueza conosco mesmos". [6]Devemos usar nosso dinheiro para suprir os outros em suas necessidades. Fazemos isto quando descobrimos que a verdadeira felicidade está na comunhão com Deus, não na posse das coisas, por melhores que sejam.

 

19. Rouba o cônjuge que, nos conflitos de separação, mente para negar os direitos dos outros, às vezes ou quase sempre, o de estar com o filho. Neste caso, são várias as vítimas: o cônjuge ferido e também o filho, de quem é arrancado o privilégio de conviver com um de seus pais. Rouba também o cônjuge que, unido ou separado, defrauda a imagem do outro diante do filho, o que tira da criança a oportunidade de viver em harmonia com os seus pais.

 

20. Rouba quem abusa de alguém, seja sexualmente, emocionalmente, espiritualmente. O abuso furta do outro o seu direito a uma existência digna. Como diz um antigo texto judaico, "o homem que rouba a confiança do outro é o pior dos ladrões".

 

21. Rouba quem sequestra uma pessoa (ou animal), tomando-a como refém para algum uso, seja a recompensa, a escravização para exploração da mão de obra, do corpo ou da mente. Os estudiosos nos informam que a ideia do sequestro faz parte intrínseca do "não furtarás", tanto que, mais adiante, o livro de Êxodo complementa: “Aquele que sequestrar alguém e vendê-lo ou for apanhado com ele em seu poder, terá que ser executado" (Êxodo 21.16).

 

22. Rouba quem corrompe, como rouba quem se deixa corromper.

Numa cultura marcada pela relativização dos valores da honestidade, devemos saber que "aqueles que corrompem a mente das pessoas são tão maus quando aqueles que roubam das pessoas" (Adlai E. Stevenson).

 

23. Rouba quem se recusa a estudar, quando pode estudar, o que o impede de crescer e se desenvolver. Há uma vida que o ladrão de si mesmo perde.

 

24. Rouba quem, precisando fazer mudanças na sua vida, não as faz,seja por medo, insegurança, superficialidade ou comodismo. Há muito para todos, mas nem todos a querem, ao ponto de desejar o que é bom.

 

25. Rouba quem se acomoda com o que é. Como anotou uma senhora, "quando nos acomodamos e achamos que já atingimos tudo quanto podíamos da sabedoria e da graça de Deus, quando dizemos para nós mesmos que já crescemos suficientemente no conhecimento da Palavra, é aí então que estamos nos furtando a cada dia do nosso próprio crescimento espiritual, privando-nos de conhecer um pouco mais do amor de Cristo, roubando de nós mesmos das bênçãos provenientes do amor Dele para conosco dia após dia de nossas vidas". (Eloisa Dantas) Como escreveu um jovem, "não devemos furtar de nós mesmos nosso tempo com Deus e o tempo que passamos aos pés da cruz. Não devemos furtar de nós mesmos os princípios de uma vida cristã saudável. Não devemos furtar de nós mesmos a alegria da vida e de viver". (Marcos Heleno Lopes)

 

26. Rouba quem compra o que não precisa.

Um provérbio sueco lembra: "Quando você compra o que não precisa, você rouba de você mesmo".

 

27. Rouba quem se deixa furtar pelo dinheiro.Um pastor muito capaz na arte de falar começou a fazer uma carreira paralela como palestrante. O sucesso foi tanto que tinha que recusar convites, que não faltavam. A remuneração era alta e o pastor começou a ganhar muito dinheiro.

De repente, ele simplesmente parou de fazer palestras remuneradas em empresas. Perguntaram a razão. Ele disse:

— Eu me impus um limite. Eu não poderia ganhar mais dinheiro fora da igreja do que dentro dela. E o dinheiro das palestras começou a superar meus honorários na igreja. Parei, antes que eu começasse a gostar e me apaixonar por dinheiro e perder a minha vocação.

Aquele pastor ouviu o conselho do poeta bíblico: "se as suas riquezas aumentam, não ponham nelas o coração" (Salmo 62.10 — NVI). Quando se torna dono do nosso coração, o dinheiro nos torna ladrões.

 

3. MANTENDO FIRME O NOSSO CARÁTER

 

Uma das primeiras palavras que dizemos é: "meu"/"minha". E nós a dizemos até de uma coisa que não nos pertence.

Ter (dinheiro, coisas, pessoas) nos dá segurança. Por isto, nos esquecemos do absoluto divino "não furtarás" para ter. E o desejo de ter pode corrompe o caráter.

 

Diante do mandamento, percorremos os extremos: ou o negamos ou buscamos segui-lo, vigiando para não furtar.

Na negação, podemos cometer uma ação direta: nós o rejeitamos como orientação de Deus para nós. Na negação, podemos cometer dois outros tipos de ação. Uma é relativizar o mandamento.

Como escreveu Laura Schlesinger, "a capacidade humana de racionalizar comportamentos permite às pessoas aplacar sua consciência procurando diminuir a aparente gravidade da ação. Ao racionalizar, as pessoas enganam-se a si mesmas, ao ponto de acharem que suas práticas nada têm de errado. Quando se trata de roubar, as pessoas encontram muitas racionalizações para transformar seu comportamento em algo tolerável ou, se não, aceitável", dizendo, por exemplo, "eu não sabia que era roubado". [7]

A outra atitude, muito próxima, é racionalizar a nossa conduta. Em lugar de dizer simplesmente que erramos, buscamos explicações. Num grande momento de cinismo, chegamos a dizer que "não prejudicamos ninguém". Quando erramos, sempre prejudicamos alguém, no mínimo a nós mesmos.

 

Em lugar de relativizar o oitavo mandamento, devemos mantê-lo como o que é: absoluto.

Todas as vezes que nos vemos relativizando o oitavo mandamento ou racionalizando quando o ferimos, devemos recordar o sentimento que experimentamos quando somos roubados. Quando vítimas de um assalto, sentimo-nos impotentes diante do crime. Quando nos tiram algo, é como se parte de nós tivesse sido arrancada. Geralmente, ficamos com raiva, com muita raiva.

Como nos sentimos, quando emprestamos um livro, que não nos devolvem; quando esquecemos um objeto e ele desaparece de onde o deixamos; quando, numa prova, atrás de nós o colega quer surrupiar o nosso conhecimento; quando picham o muro da nossa casa; quando um colega apresenta ao chefe uma ideia que é nossa e é promovido? Nessas horas, não desejamos que o oitavo mandamento não seja relativizado. Na nossa vez, não devemos relativizá-lo?

Achamos, com razão, que quem age assim conosco não tem caráter. Furtar tem a ver com caráter. Precisamos vigiar o nosso caráter para não furtarmos.

Devemos ser radicais. Devemos ser radicalmente íntegros.

Em lugar de roubar, devemos trabalhar.                                                                           

A recomendação bíblica é clara: "Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado" (Efésios 4.28).

Se roubamos, devemos nos arrepender e parar de roubar. Quem trabalha menos do que o contratado deve parar de roubar. Quem paga pouco ao seu empregado deve parar de roubar. Quem baixa música ilegalmente deve parar de roubar.

Quem roubou, além de parar, deve devolver o que tomou. Um coração arrependido não devolve apenas o mesmo que tomou, mas quatro vezes mais, como Zaqueu (Lucas 19.8). A lei do Antigo Testamento, no caso do roubo de um boi, jumento ou ovelha (os bens roubáveis na antiguidade), previa a devolução em dobro (Êxodo 22.4).

 

Em lugar de confiar no dinheiro, devemos confiar em Deus. Devemos partir do pressuposto que ele é o verdadeiro dono de todas as coisas (Salmo 24.1). Na hora de ganhar e usar o dinheiro, devemos ser responsáveis, tratando-o como sagrado.

Quando recolhemos os dízimos na igreja, oramos a Deus para que instrua os que vão administrar os recursos para que o façam com santidade e sabedoria. Devemos fazer o mesmo com os 90% que ficam conosco.

 

ACORDE

 

1. Você já roubou alguma vez? Nos meus primeiros anos escolares, havia uma questão numa prova cuja resposta em não sabia. Era sobre a Batalha dos Guararapes. Não fui descoberto, mas, graças a Deus, minha consciência me descobriu. Foi um dos grandes momentos na minha vida. Nunca mais colei. (AUTOCONHECIMENTO)

2. Que tentações você experimenta na obediência ao "Não furtarás"? Tem vencido? Tem perdido? (CONFISSÃO)

3. Tem pedido a Deus força renovada para viver uma vida inspirada por ele e não uma vida intoxicada pela idolatria do dinheiro? (ORAÇÃO)

4. Com relação ao dinheiro, reflita na orientação que veio de John Wesley: “Ganhe o máximo que puder. Poupe o máximo que puder. Doe o máximo que puder”. (REFLEXÃO)

5. Se tem roubado (dos outros, de você mesmo ou de Deus), seja o que for, decida parar agora. (DECISÃO)

6. Todos podem obedecer ao oitavo mandamento. Temos que nos empenhar neste itinerário. (EMPENHO)

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

CHITTISTER, Joan. The Ten commandments: laws of the heart. Maryknoll, NY: Orbis, 2006.

FOSTER, John. Dinheiro, sexo e poder.  São Paulo: Mundo Cristão, 2005.

SCHLESSINGER, Laura C. Los Diez Mandamientos. Traducción por Ana del Corral. New York: HarperCollins, 2006.

 


[1]MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. Esaú e Jacó.Várias edições, capítulo LXXV / PROVÉRBIO ERRADO.

[3]CHITTISTER, Joan. The Ten commandments: laws of the heart. Maryknoll, NY: Orbis, 2006, posição 979.

[4]CHITTISTER, Joan, op. cit., posição 903.

[5]CHITTISTER, Joan, op. cit., posição 957.

[7]SCHLESSINGER, Laura C. Los Diez Mandamientos. Traducción por Ana del Corral. New York: HarperCollins, 2006. Edição eletrônica, posição 4343.