Verbos e complementos 3 (Adalberto Alves de Sousa)

  Verbos e complementos 3
Por Adalberto Alves de Sousa
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À semelhança dos verbos analisados no artigo anterior, alguns verbos, como “pagar” e “perdoar”, também são conjugados com dois complementos, um referente a “coisa” e outro a “pessoa”. O detalhe é que os complementos desses não podem ser alternados. O que se refere a coisa é sempre introduzido sem preposição; o que se refere a pessoa é sempre introduzido com preposição. Um bom exemplo está no pai-nosso: “Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12 – NVI). Observe que as dívidas é que são perdoadas, não as pessoas. Isso pode ser visto em Mateus 9.2b: Tenha bom ânimo, filho; os seus pecados estão perdoados. Portanto, expressões como “nós fomos perdoados” não devem ser usadas. “Perdoa as nossas dívidas” equivale a “perdoa-as”; “perdoamos aos nossos devedores” equivale a “perdoamos-lhes”. O verbo “pagar” comporta-se da mesma forma. Coisas são pagas, não pessoas. O texto de Mateus 22.17b – NVI esclarece: “É certo pagar imposto a César ou não?”. É por isso que uma oração, como “Hoje é o dia de pagar o cozinheiro” deve ser substituída por “Hoje é o dia de pagar ao cozinheiro”. Com os dois complementos, teríamos: “Hoje é o dia de pagar o salário ao cozinheiro”. “Pagar o salário” equivale a “pagá-lo”; “pagar ao cozinheiro” equivale a “pagar-lhe”. Como esses verbos são usados frequentemente, não será difícil aplicar no dia-a-dia o que foi visto aqui. O desafio está lançado. Sempre é bom lembrar que os temas nesta seção são discutidos à luz da norma culta da língua portuguesa, e que existem registros menos formais, que são aplicáveis em situações diversas no nosso dia-a-dia.