Um livro em destaque: “A arte e o ofício da pregação bíblica”

altResenha de A ARTE E O OFÍCIO DA PREGAÇÃO BÍBLICA, de Haddon  Robinson e Craig Larson (org). São Paulo: Shedd Publicações, 2009. 887p.


Sobre a pregação já se disse tudo, inclusive que ela morreu.
No entanto, nunca se pregou tanto na história do Cristianismo. O problema, havendo tão pouca transformação, como lembra Doug Paigitt (em “Preaching ré-imagined”), não é a quantidade, mas a qualidade do que se está pregando.
Certamente, a maioria dos pregadores quer levar melhor a cabo sua arte e ofício. É neste desejo que apostaram Haddon Robinson e Craig Larson, pregadores e professores de pregação nos Estados Unidos. Que fizeram eles?  Competentemente, colecionaram os melhores artigos aparecidos numa revista americana especializada em em liderança (“Leadership”) e noutra dedicada à pregação (“Preaching”), convidaram autores para produzirem materiais novos e escreveram eles mesmos alguns capítulos, resultando num caleidoscópio imperdível sobre a pregação bíblica relevante e atraente.
“A arte e o ofício da pregação bíblica” tem 201 artigos, uns maiores, outros breves, escritos por mais de 100 colaboradores, entre eles, os dois organizadores (Robinson e Larson) e pregadores como John Stott, Rick Warren, Bill Hybels, Charles Swindoll, Jay Adams, Dallas Willard, Richard Foster, John Ortberg, John Piper, Warren Wiersbe, Timothy Keller e Ben Patterson, para mencionar alguns. Alguns participam com um estudo e outros, com vários.
Todos os artigos partem de um pressuposto: a Bíblia é a Palavra de Deus (“Quando a Bílbia fala, Deus fala”, como na citação de Agostinho) e esta Palavra deve ser pregada com paixão. Como diz Stott, “expor as Escrituras é esclarecer o texto inspirado com tal fidelidade e sensibilidade que a voz de Deus seja ouvido e seu povo lhe obedeça” (p. 21). Por isto, como escreve John Koessler, “a questão central não é a forma ou o estilo do sermão. A questão central se resume a certificar-se de que as pessoas entendam que o que Deus quer que elas façam veio” do texto sobre o que se prega; afinal, “somos dirigidos pela convicção de que a verdade de Deus, nas verdades registradas em linguagem humana, tem o potencial de transformar a vida das pessoas” (p. 274). Não por ocaso, crê Larson, “ouvir todo um sermão de qualidade é como subir o monte da Transfiguração” (p. 34).
A partir daí, os colaboradores vão desfiando suas convicções e compartilhando suas experiências. Hybels (cujos artigos já valeriam pelo livro todo) diz um fator importante na pregação é o suor, pelo que precisa de 20 horas para preparar um sermão. Todos são tributários da ênfase de Wiersbe: “A pregação não é o que nós fazemos; é o que somos” (p. 90). Com isto faz coro Richard Fosters, quando diz, na esteira de E.M. Pounds, que “se oramos com os membros de nossa igreja — se realmente oramos com eles — eles prestam atenção na nossa pregação porque sabem que os amamos” (p. 674). O pregador deve usar a linguagem do coração dos ouvintes, mas com autenticidade, como acerta Rick Richardson (p. 207).
O material é distribuído em dez partes, começando com o preparo do pregador e alcançando a avaliação da mensagem. Os colaboradores, portanto, escrevem sobre diferentes aspectos, com informações de natureza técnica, bíblica, retórica e histórica, mas sempre sob o crivo da dimensão prática, razão porque há muitos exemplos sobre como eles encaminharam dificuldades surgidas no ofício de pregar para jovens, para mulheres, para imigrantes, para homens de negócio, entre outros segmentos de platéia.
Os autores recomendam aos pastores a não evitarem temas difíceis, nem situações difíceis. Um deles (Ben Patterson) vaticina: “O evangelho precisa ser pregado e ouvido diante do pano de fundo sombrio da morte, da tragédia, da fome mundial e do perigo nuclear. Do contrário, nunca será pregado nem ouvido. A glória de Deus não vem até nós em um vácuo, mas no meio da dor da vida. As pessoas que evitam a dor também evitarão o evangelho” (p. 266).
 “A arte e o ofício da pregação bíblica” não é um livro analítico, embora alguns capítulos o façam. Ele é prescritivo e pode ser lido de uma vez e/ou consultado pelas áreas de interesse. Este manual abrangente de útil valor para os comunicadores da graça, sempre enfatizada como centro o tema de todas as mensagens.
Por reunir tantos autores, há um certo grau de repetição que, pelo tamanho da obra, servem como enfases, o que é muito bom para o leitor, ao ver que tantas pessoas estão falando a mesma coisa, a partir de suas próprias experiências.
Uma questão que deve ter ocupado os editores brasileiros foi a presença do ensaísta Ted Haggard, que protagonizou um escândalo estando na liderança de uma igreja e na presidência da mais importante associação evangélica nos EUA, das quais foi afastado, ao ter revelado seu envolvimento homossexual com um prostituto. Mantido na edição brasileira, o artigo dele, sobre (adivinhe!) santidade, é totalmente dispensável, por ser insípido.
O leitor brasileiro gostaria de ouvir vozes de outros continentes, uma vez que são exceções os autores de outros países. Ademais, não é dada voz a pensadores da pregação aninhados em outras tribos, como Brian McLaren e Doug Pagitt, por exemplo.
A despeito de produzido num contexto norte-americano, o livro não esquece o lugar do pregador no espaço e no tempo, como bem adverte Rick McKiniss: “Somos chamados para proclamar Cristo, mas, por necessidade, fazemos isto no contexto de nossas pressuposições culturais. Já que as premissas culturais são parte do modo que pensamos, elas podem ser instrumentos de persuasão poderosa.  Nosso trabalho é emprega-las sem nos esquecermos do discernimento e da imparcialidade — sem fazer concessões” (p. 200).
Todos os brasileiros envolvidos com a pregação aprenderão muito com “A arte e o ofício da pregação bíblica”. E bom será que uma editora brasileira se disponha a fazer para ele um companheiro nacional, com as vozes e experiências dos nossos “grandes”, como (com o perdão das omissões involuntárias), Ariovaldo Ramos, Caio Fábio, Enéas Tognini, Fausto Aguiar Vasconcelos, Jerry Stanley Key, Luiz Sayão, Paschoal Piragine, Ricardo Gondim, Russell Shedd, Valdir Raul Steurnagel e Wander Ferreira Gomes.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO
 

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