“Pois, se o nosso Deus, a quem adoramos, quiser, poderá nos salvar da fornalha e nos livrar do seu poder, ó rei. E mesmo que o nosso Deus não nos salve, o senhor pode ficar sabendo que não prestaremos culto ao seu deus, nem adoraremos a estátua de ouro que o senhor mandou fazer.” (Daniel 3.17,18 – NTLH).
Sim, existe diferença entre crer em Deus pelo que ele faz e crer em Deus pelo que ele é. No primeiro caso, nossa fé está baseada na expectativa de milagres, de prodígios e sinais, de manifestações extraordinárias, de bênçãos pré-determinadas. No segundo caso, nossa fé está baseada no caráter de Deus, na sua sabedoria infinita, no seu amor inesgotável, na sua soberania absoluta sobre tudo o que somos e temos. Para os três amigos de Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, não importava se Deus os livraria ou não da fornalha de Nabucodonosor. Eles criam em Deus, e ponto final.
A fé no que Deus faz é imediatista. Ela tem o seu foco no problema, na necessidade. A fome pede um milagre que transforme pedras em pães. A sede pede um milagre que faça brotar água da pedra. A fé no que Deus é sabe que nem só de pão viverá o homem. A fé no que Deus é torna-se a garantia do que se espera e a certeza do que não se vê. Ela busca primeiramente o reino de Deus e a sua justiça, muito antes do que aquilo que comer, beber ou vestir.
A fé no que Deus faz ama o espetáculo, a pirotecnia, os efeitos especiais. Ela precisa de coisas arrebatadoras, de eventos e fatos extraordinários. Para quem tem esse tipo de fé, Deus precisa provar que é Deus mesmo, precisa ser desafiado a mostrar seu poder, tem que ser “o quarto homem na fornalha”. A fé no que Deus é, ao contrário, é bem singela, até mesmo simplória. Para quem tem esse tipo de fé, Deus não precisa provar nada, pois tudo pode, tudo lhe pertence e tudo é conhecido por ele. Se Deus não fez é porque não quis, e não há que discutir.
A fé no que Deus faz é insuficiente, frustrante, e nesse caso Deus também se torna insuficiente, frustrante, pois se ele não faz o que esperamos, ou a nossa fé é pequena demais ou Deus é pequeno demais. A fé no que Deus faz é fantasiosa, ilusória, pois pressupõe que não existem problemas, dificuldades e adversidades para o que crê. Ao contrário, a fé no que Deus é reconhece que no mundo teremos aflições. Quem tem esse tipo de fé crê que, apesar de sua fraqueza, a graça de Deus sempre lhe será suficiente e terá contentamento em toda e qualquer situação.
Pr. Sylvio Macri