TAGARELA (Sylvio Macri)

“Alguns filósofos epicureus e estóicos puseram-se a debater com eles. Uns perguntavam: o que este tagarela quer dizer? E outros falavam: Parece ser propagador de deuses estranhos. Pois Paulo anunciava a boa nova de Jesus e a ressurreição. Então o tomaram e o levaram ao Aréopago. E disseram: Podemos saber que ensino novo é esse de que falas?” (Atos 17.18,19).

O prazer dos atenienses era ouvir e discutir novidades, e isso foi útil a Paulo, pois propiciou-lhe uma melhor oportunidade de pregar-lhes o evangelho. O apóstolo estava de passagem por Atenas, aguardando seus companheiros de trabalho, pois seu tino missionário lhe dizia que devia ir Corinto pregar, onde teria um grande campo. Mas enquanto esperava, Paulo se indignava com a idolatria dos atenienses, e lhes anunciava Jesus.

Sua pregação na praça pública deixou alguns curiosos e outros zombeteiros. Estes, menosprezando-o, chamaram-no de “tagarela” ou “plagiador ignorante”. É interessante que a palavra que usaram designava os pequenos pássaros que vão pelo chão bicando aqui e ali, tentado se alimentar. Era um termo pejorativo, “usado para descrever mestres que, não tendo ideias próprias na cabeça, não tinham escrúpulos em plagiar os outros, apanhando restos de conhecimento daqui e dali.” (John Stott, A Mensagem de Atos, ABU Ed., SP, 2003, p.317).

Paulo pouco se importava com isso, pois já esperava reações contraditórias dos atenienses ao evangelho. Escrevendo mais tarde aos coríntios, ele disse que a palavra da cruz é absurdo, estupidez, para os que se julgam sábios (1Co.1.18-24). Por isso agarrou com firmeza a oportunidade de discursar no Aerópago, palavra que se refere a um lugar, mas também a um conselho, cujos membros eram os guardiães da religião, moral e educação da cidade.

O “tagarela” deu, então, um poderoso testemunho de sua fé no único Deus, criador e sustentador do Universo, Senhor da história e das nações, o Pai de quem todos devemos e podemos ser filhos, e o Juiz do mundo, por meio de seu Filho, Jesus Cristo, a quem ressuscitou. Ao mesmo tempo combateu inteligentemente a idolatria ateniense, esta, sim, uma verdadeira estupidez. Seu discurso tem um tom de defesa, mas não deixou de ser um grande sermão, à altura dos intelectuais que o ouviram.

Pr. Sylvio Macri