EIS UM CRISTÃO
1Tessalonicessens 1.1-10
Quando escreveu suas cartas aos tessalonicenses, o apóstolo Paulo estava provavelmente em Corinto. E foi escrevendo aos coríntios, uns cinco anos depois (no ano 57, possivelmente), que ele produziu o mais lindo poema sobre o amor da história da humanidade. Neste poema, o escritor afirma que há três sentimentos essenciais ao ser humano: a fé, a esperança e o amor (1Coríntios 13.13).
Estamos diante de um triângulo amoroso: Paulo, tessalonicenses e coríntios. O problema dos coríntios era a falta de amor: até na hora da Ceia do Senhor o amor estava ausente. A virtude dos tessalonicenses era a presença do amor, que os tornava conhecidos de todos os contemporâneos. Com os dois públicos em mente, Paulo faz sua magnífica síntese acerca da jornada cristã: é uma vida vestida com a couraça da fé, revestida da força do amor e protegida pelo capacete da esperança (1Tessalonicenses 5.8).
Os cristãos, portanto, cultivam a fé, o amor e a esperança. Paulo, portanto, apreciava nos tessalonicenses o trabalho que resulta da fé, o esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo (1Tessalonicenses 1.3). De tal modo viviam, que seu pastor não precisava descrever a operosidade da fé, a abnegação do amor e a firmeza da esperança verificadas entre eles. A fé em Cristo produz ação; o amor em Cristo produz trabalho, e a esperança em Cristo produz persistência. (cf. PIPER, John. The Fruit of hope: endurance. Disponível em <http://www.soundofgrace.net/piper86/jp86002a.htm> Acessado em 26.3.2005>). “O evangelho não é a apresentação de uma idéia, mas a operação de um poder. Quando é pregado, o próprio poder de Deus está operando em favor da salvação dos homens, arrancando-os das forças da perdição e lhes transmitindo a nova era da vida” (Nygren. Citado por MORRIS, Leon. Las cartas a los tesalonicenses.)
A ELEIÇÃO CRISTÃ
A origem deste estilo de vida dos cristãos está em Deus, que os chamou. A vivência deste estilo está nos tessalonicenses que aceitaram o convite de Deus para um novo jeito de ser.
O apóstolo Paulo define o cristão como um escolhido por Deus que vive de modo digno do Evangelho.
1. Um cristão é um escolhido por Deus.
Esta é a primeira verdade a ser afirmada. Os cristãos são cristãos porque foram escolhidos para ser cristãos por Deus. Diz o apóstolo: Sabemos, irmãos, amados de Deus, que ele os escolheu porque o nosso evangelho não chegou a vocês somente em palavra, mas também em poder, no Espírito Santo e em plena convicção (versos 4-5a).
O Evangelho que Paulo e seus companheiros pregavam provém de Deus e é essencialmente Cristo, de quem o apóstolo é testemunha. Nele estão presentes o Pai, o Filho e o Espírito Santo. O Filho é a Palavra e é anunciada por meio de palavras. O Espírito Santo confere aos que aceitam a Jesus como o Deus tornado carne o poder para uma vida plena.
O Evangelho, portanto, é palavra (logos) e poder (dinamis), palavra que convence e poder que capacita para a vida. Por isto, evangelho só de palavras é falso. E evangelho só de poder é uma impossibilidade. A palavra precisa ser atestada pelo poder, para que convença. O poder precisa ser fundado na palavra, para que permaneça.
A pergunta é se este evangelho é para todos os homens. A Bíblia garante que sim: que a vontade de Deus é que todos os homens se salvem (1Timóteo 2.4). Quem são estes amados e eleitos, referidos na epístola e em outras do mesmo autor?
O apóstolo não tem qualquer preocupação teológica, neste momento, pois ele apenas descreve os eleitos, que são aqueles que respondem ao convite de Deus. É como se Paulo escrevesse: “Sei que vocês são eleitos por causa da maneira como permitiram que o Evangelho chegasse a vocês: como deve ser: pela palavra da pregação que lhes trouxe a boa notícia e com o poder do Espírito Santo que os têm capacitado para uma vida cheia de alegria”.
Preocupações teológicas sobre a eleição trazem confusão e dúvida. O apóstolo Paulo trata do assunto, por causa das mentes humanas, mas aqui a conclusão necessária é simples: se você já respondeu ao convite de Deus, você é um eleito de Deus.
DIGNOS DO EVANGELHO.
Por quatro vezes, nas duas cartas aos tessalonicenses (1Tessalonicenses 2.12; 4.12; 2Tessalonicenses 1.5; 2.11) e em outras epístolas (Romanos 12.17; Romanos 16.2; Efésios 4.1; Filipenses 1.27 Colossenses 1.10), Paulo lhes pede que vivam de maneira digna (digna dos santos, digna da vocação, digna do evangelho, digna do Senhor, digna de Deus, digna diante dos homens, digna do reino de Deus).
Uma vida digna é aquela em que fé, amor e esperança se encontram em toda as suas possibilidades (1Tessalonicenses 1.3).
A partir desta seção da primeira carta aos tessalonicenses, o apóstolo Paulo nos mostra como fé, esperança e amor se encontram.
(pela fé)
Somos justificados pela fé, mas a fé deve produzir obras. Se não produzir, não é fé. É superstição; é auto-engano. Há um trabalho que resulta da fé.
2. O cristão segue o Deus vivo.
Os tessalonicenses tinham deixado os ídolos e passaram a adorar o Deus vivo e verdadeiro (verso 9). Pode parecer estranho, mas uma resposta afirmativa a Deus implica uma resposta negativa aos ídolos, pois eles nos fecham acesso ao Deus vivo, por parecerem Deus. Quando, no deserto, os hebreus serviram a um bezerro, achavam que estavam diante de Deus. Quando deixamos que o nosso eu se torne nosso Deus, somos impedidos de ir a Deus, porque satisfeitos conosco mesmos. O mundo de Paulo e o nosso são idolátricos; mudam as suas faces, mas a sedução deles é a mesma.
Precisamos nos avaliar constantemente para ver se uma nuvem, uma nuvem de ídolos, nos impede de chegar a Deus.
3. O cristão imita a Cristo.
Os tessalonicenses são elogiados por se terem tornado imitadores de Paulo, Silvano e Timóteo: De fato, vocês se tornaram nossos imitadores e do Senhor (verso 6).
O tema da imitação aparece várias vezes nos escritos paulinos. Em alguns, ele se apresenta como um cristão a ser imitado. (1Coríntios 4.16 — Portanto, suplico-lhes que sejam meus imitadores; Filipenses 3.17 — Irmãos, sigam unidos o meu exemplo e observem os que vivem de acordo com o padrão que lhes apresentamos; 2Tessalonicenses 3.7 — Pois vocês mesmos sabem como devem seguir o nosso exemplo, porque não vivemos ociosamente quando estivemos entre vocês; 2Tessalonicenses 3.9 — não por que não tivéssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um modelo para ser imitado por vocês.
Fica claro o seu pensamento, quando esclarece que deve ser imitado porque era um imitador de Cristo: Tornem-se meus imitadores, como eu o sou de Cristo (1Coríntios 11.1). O alvo está colocado em outra epístola: Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados (Efésios 5.1). É mais fácil imitar pessoas do que a Cristo, a pregadores do que a Cristo. Ao mesmo tempo, não podemos esquecer que imitamos pessoas e somos imitados por pessoas.
Imitar é desejar ter o mesmo sentimento, é desejar viver sob o mesmo ideal, é querer tomar a mesma atitude. Imitar é seguir um modelo. Não podemos ser carbonos de Cristo, nem xeroxes de Cristo. Quando um artista pinta diante do modelo, ele não copia um modelo, mas cria a partir do modelo. Devemos fazer assim com Cristo. Não podemos copiar sua vida, porque isto é absolutamente impossível, mas podemos e devemos ouvir a sua voz, submetermo-nos à sua vontade, prestar atenção ao que fez.
Quando o cristão está diante dos outros, crentes como ele ou não, ele será observado e imitado. Muita gente diz que não é modelo para ninguém, mas não se pode ignorar que aquilo que somos, como pais, como irmãos, como filhos, como colegas, é observado e, muitas vezes, imitado, no bom e no ruim. Isto é da condição humana. Se assim é, se somos modelo, a pergunta é que modelo estamos sendo.
Os cristãos de Tessalônica, como seu mestre Paulo, tornaram-se modelo para todos os crentes que estão na Macedônia e na Acaia (verso 7). Neste caminho, aqueles irmãos seguiam outras igrejas cristãs de sua época (1Tessalonicenses 2.14). Eis o que devemos ser, em sinceridade, não no marketing da hipocrisia, querendo parecer ser o que não somos, mas nos esforçando para sermos o que Deus deseja que sejamos. Trata-se de uma caminhada rumo à estatura de Cristo (Efésios 4.13).
A pergunta que temos que nos fazer é: que ações a nossa fé tem inspirado? Ou temos nos contentado com uma fé contemplativa, teórica, que é a negação da fé? A quem temos imitado? A Jesus Cristo?
4. O cristão frui a alegria do Espírito Santo.
O apóstolo Paulo reconhece que os tessalonicenses, apesar de muito sofrimento, receberam a palavra com alegria que vem do Espírito Santo (verso 6).
A alegria no Espírito Santo não vem pelo sofrimento, mas pela certeza da sua companhia conosco, ao ocupar o lugar dele nos nossos corações. A alegria do Espírito Santo vem apesar do sofrimento, ao ministrar aos nossos corações para compreendermos os fatos que nos fazem sofrer, para interceder por nós, para nos confortar e para nos dar esperança.
O problema dos cristãos é que, fora da igreja, eles se contentam com as mesmas alegrias dos homens, algumas pecaminosas e fora da santidade a ser vivida. O problema dos cristãos que, dentro da igreja, eles se contentam com atividades cristãs, com cultos cristãos, que trazem alegrias secundárias, uma vez que a alegria primária, que se estende pelas secundárias, só pode vir do Espírito Santo. É por se concentraram nos prazeres secundários que muitos se decepcionam com o trabalho cristão e com o culto cristão, com as amizades e com os casamentos. Se nosso prazer estiver na companhia do Espírito Santo, as outras alegrias virão.
Temos que nos perguntar: que lugar ocupa o Espírito Santo em nossas vidas? Se não for o lugar central, não é o lugar onde o Espírito deve estar. Que ídolo ocupa o centro de nosso coração?
(pelo amor)
5. O cristão ama o seu próximo de modo abnegado.
O esforço cristão em direção ao outro deve ser motivado pelo amor; se não for, viverá de recompensas e nenhum esforço é recompensado à altura.
Nesta seção, o apóstolo menciona a oração uns pelos outros como uma atitude motivada pelo amor cristão. O exemplo foi dado por ele mesmo.
Paulo começa sua afetuosa carta, com uma informação reveladora do seu caráter e os de seus colaboradores: [Nós três, Paulo, Silvano e Timóteo] sempre damos graças a Deus por todos vocês, mencionando-os em nossas orações (verso 2). Gosto de pensar que eles, no culto que celebraram na casa em que moravam, abriam sua agenda de oração, com uma lista de nomes de irmãos tessalonicenses que precisavam da ação divina sobre as suas vidas.
Nossa irmã Aline Barbosa do Nascimento, falecida em 2003, realizou durante anos cultos em sua casa, dando continuidade ao que fazia sua mãe. Era parte do culto orar por pessoas relacionadas numa lista de várias páginas, alguns nomes colocados ali por anos. Imagino que nos cultos que Paulo dirigia o procedimento era o mesmo. Uma lista nos ajuda a lembrar; uma lista nos ajuda a ver as intervenções divinas; uma lista nos ajuda a ver aqueles que não precisam mais de nossas orações, seja porque morreram, seja porque foram curados, seja porque tiveram seus problemas resolvidos. Uma lista mostra o nosso interesse uns pelos outros. “Aqueles que se entregam a Deus são transformados pelo poder do seu divino amor de tal maneira que ficam desejosos de dar-se a si mesmos para servir aos outros” (MORRIS, Leon. Las cartas a los tesalonicenses.)
Como Paulo, devemos orar uns pelos outros. A oração faz aumentar o amor de uns pelos outros (verso 3). Os cristãos são infelizes mestres em dizer que estão orando pelos outros. Se você não está orando por seu irmão, não diga que está. Se está, só diga se for fazer a ele, não a si mesmo.
Você tem orado por outros cristãos? Você tem orado por não cristãos? A oração nos conecta às pessoas, pois demonstra nosso interesse por elas. Na verdade, a melhor coisa que podemos fazer por uma pessoa é orar por ela, pois a oração pode conectá-la a Deus.
O apóstolo menciona uma segunda atitude de amor: a proclamação da graça. Diz ele: Porque, partindo de vocês, propagou-se a mensagem do Senhor na Macedônia e na Acaia. Não somente isso, mas também por toda parte tornou-se conhecida a fé que vocês têm em Deus. O resultado é que não temos necessidade de dizer mais nada sobre isso (verso 8).
A partir de você tem-se propagado a mensagem do Senhor? Talvez você tenha estado envolvido em várias atividades evangelizadoras através da igreja, mas tem feito tudo o que pode e deve? Você tem alcançado seus amigos? Você tem se oferecido para orar por eles? Você tem coragem de abrir uma igreja na sua casa, com você, seus familiares e pessoas convidadas por você? Não se esqueça que a igreja em Tessalonônica se desenvolveu assim, alcançando todo o subcontinente asiático.
(pela esperança)
6. Um cristão espera a volta de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, para nos livrar da ira futura (verso 10).
Esta esperança produz perseverança. O final da vida de um cristão é feliz, e isto lhe dá confiança para lutar.
A esperança é para agora, não para o futuro; isto é: seu efeito é para agora, ao produzir perseverança. Sofrimento sem esperança produz desânimo e desespero; sofrimento com esperança produz perseverança e persistência. Esta é a radical diferença cristã. Por isto, sem a força da esperança, a obra de fé e o trabalho do amor não provêm de Deus, porque passarão.
Especialmente por ocasião da Páscoa, os meios de comunicação falam de Jesus de uma forma bem típica de uma falsa imparcialidade. Quando falam da sua morte, o verbo está no pretérito: “foi preso”, “foi crucificado”, “morreu”, etc. No entanto, quando falam de sua ressurreição, o verbo passa para o futuro do pretérito para indicar uma crença pouco provável: “teria sido enterrado”, “teria ressuscitado”, etc. Há cristãos vivendo com esse tipo de noticiário inscrito nas suas mentes: a ressurreição de Jesus não tem a força de uma verdade transformadora.
A ressurreição de Jesus é a maior prova do cuidado de Deus para conosco. Foi por isto que pediu que recordássemos sua morte até sua volta. Entre sua morte e sua volta, está sua ressurreição, que prova a Sua morte e prova a nossa ressurreição.
CONVITE
Um cristão é cristão porque recebeu a palavra do Evangelho, como o fizeram os de Tessalônica. Quando chegou pela primeira vez à cidade, Paulo começou explicando e provando que o Cristo deveria sofrer e ressuscitar dentre os mortos. E dizia: “Este Jesus que lhes proclamo é o Cristo” (Atos 17.3). E muitos se converteram.
Você fará o mesmo diante da mensagem salvadora?