EU GOSTARIA QUE AS GERAÇÕES SOUBESSEM QUEM FOI HÉLCIO DA SILVA LESSA

EU GOSTARIA QUE AS GERAÇÕES SOUBESSEM QUEM FOI HÉLCIO DA SILVA LESSA

Não importa se você o conheceu. Você ainda ouve os seus sermões. Você ainda navega na cultura que implantou aqui. Você ainda é pastoreado por Hélcio da Silva Lessa, que aqui pontificou de 1962 a 1992, ano em que se tornou emérito. Desde o dia 5 último, ele saiu da emergência para entrar na memória, de onde não mais sairá.
Quem o conheceu tem guardadas as suas lembranças.
Tenho-as.
Numa delas, descíamos, alguns seminaristas, para ouvir suas exposições bíblicas nos cultos de quarta-feira. Queríamos aprender como aquele homem tirava leite de pedra, porque alguns textos pareciam secos demais para inspirar alguém, mas ele fazia com que deles jorrassem a água da graça. Como dizíamos à época, “bebíamos de balde”. Na volta para cima, os comentários eram sempre de admiração.
Noutra, eu chegava à igreja, já no terceiro ano (os dois passados na Primeira de Marechal Hermes), para ser seminarista. Apresentei-me para receber as instruções. Sua resposta me desesperou:
— Escolha os seus caminhos.
Bem mais tarde, seu gabinete (utilizada hoje pela Visão Ministerial do Crescimento) era onde se reunia o conselho (composto por David e Erotildes Malta Nascimento, Darci Dusilek, José Carlos Torres e Luiz Curvacho, além do próprio Hélcio) da efêmera e relevante revista “Missão”, voltada para o compromisso social, tentando ser nos anos 80 o que décadas antes foram Diretriz Evangélica, Juventude e Cristianismo Hoje. O mais novo deles (abaixo assinado) era o editor, desesperado com tantas discussões e poucos textos para a revista.
Conheci muitas mentes brilhantes, à sombra das quais pus meu banquinho. No alto da galeria está Hélcio da Silva Lessa. Uma das minhas tristezas da minha vida, foi ver este brilho se apagando. Visitá-lo no hospital (onde precisou estar algumas vezes) ou em casa era um trampolim para a tristeza. Cadê aquela ironia fina e rápida? Cadê aquelas palavras vivazes? Dois dias antes da minha cirurgia, estive com ele, para sair com a mesma tristeza. Passei na sua casa a manhã que se seguiu à madrugada de sua silenciosa saída de cena, com o corpo, que não olhei, sobre a cama.  No culto à noite, em gratidão por sua vida, não fixei nele os meus olhos. Quando, na manhã final, as pétalas o cobriram, antecipando a grama verde que o guardará, não lhe dirigi meu olhar. Para que na minha memória aquele brilho não se apague. É o que eu peço a Deus.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO


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