MARIA MADALENA DIANTE DE JESUS

MARIA MADALENA DIANTE DE JESUS DO LADO DE FORA DO TÚMULO

15 atitudes que sua história nos ensina

(João 20.1-18)

 

Israel Belo de Azevedo

 

Os lugares da Caveira (Gólgota), onde Jesus foi crucificado, e do túmulo, onde Jesus foi sepultado e de onde ressuscitou, eram muito próximos.

Na verdade, ao tempo de Jesus, Jerusalém, que era dividida em duas partes (dentro e fora dos muros centenários), contava com uma população fixa em torno de 40 mil habitantes e flutuante com até 200 mil habitantes em tempos de festas, como a da Páscoa). O Gólgota e o Getsêmani eram muito próximos, como parte do monte das Oliveiras. A parte de Jerusalém de dentro media 1.000 (leste a oeste) por 1.700 metros (norte-sul). Do monte das Oliveiras, fora da cidade, se vê uma das faces dos muros, distantes uns 700 metros. Além disso, havia as vilas próximas, como Belém, a 10 km, e Betânia, a 6 km.

Maria, chamada Madalena, não era de Jerusalém. Como os discípulos de Jesus, vinha do Norte, vinha da Galiléia, a uns 160 km, em média. Ao tempo da morte de Jesus, ela estava em Jerusalém, morando na cidade velha ou em alguma vila próxima. Jesus mesmo não morava em Jerusalém, quando veio de Cafarnaum, às margens do lago da Galileia, onde residia. Jesus estivera em Jerusalém, quando foi apresentado no seu 41° dia (Lucas 2.22) e para a festa da Páscoa (Lucas 2.41) na adolescência (aos 12 anos) e também quando foi tentado (por Satanás (Lucas 4.9). Adulto, esteve, segundo o evangelista João, em outros festivais pascais na cidade (João 2.23, João 5.1 e João 7.14). Nos dias anteriores ao evento da crucificação/ressurreição, Jesus primeiramente se hospedou fora da cidade, possivelmente na casa de amigos e seguidores, como a família de Lázaro, Maria e Marta, fazendo curtas viagens até Jerusalém, onde foi obrigado a permanecer depois de preso, na quinta-feira.

Maria Madalena, a mulher mais citada no Novo Testamento, depois da mãe de Jesus, era de Magdala, daí o seu sobrenome. Magdala fica(va) a 8km de Cafarnaum. Pouco sabemos sobre ela, o suficiente para termos certeza que não era uma prostituta, como está no imaginário, ideia que enganou um papa (Gregório, o Grande, 540-604), por causa de uma interpretação totalmente errada da narrativa de Lucas 8.1-3, onde é apresentada como possuída por demônios e liberta por Jesus, e de Lucas 7.36-50, onde é apresentada uma mulher pecadora (adúltera), sem nome e sem cidade. As duas são inequivocamente pessoas distintas. [1]

Sabemos também que ela fazia parte de um grupo de mulheres, possivelmente ricas, que sustentaram financeiramente a Jesus em seu ministério (Lucas 8.1-3). Talvez fosse a líder delas, embora possivelmente solteira. Não há nenhuma evidência, por mínima e remota que seja, que Maria Madalena fosse casada com Jesus.

Na manhã da ressurreição, depois de uma noite certamente insone, Maria Madalena foi visitar o túmulo de Jesus. Não estava sozinha. Estava acompanhada, entre outras (Lucas 24.10), por outra Maria, talvez a esposa de Zebedeu e mãe de Tiago e José (Mateus 27.56), e também por Salomé (Marcos 16.1). Ela era possivelmente a líder do grupo; talvez por isto o evangelista João nomeie apenas a ela.

Ao ver o túmulo vazio, Maria Madalena foi ao encontro de Pedro, hospedado em algum lugar da cidade ou arredores. Depois de ter dado o aviso, ela voltou para o jardim do túmulo. Olhou e viu que estava vazio. Sobre o lugar onde deveria jazer Jesus estavam dois anjos vestidos de branco. Ela dialogou com eles, em busca do corpo do seu Mestre, de quem pretendia cuidar. Quando desviou o seu olhar, de dentro para fora, viu um homem, não um anjo. Ela pensou que fosse o jardineiro. O túmulo ficava num jardim (João 19.41). Quando Jesus chamou por seu nome, ela o reconheceu com uma linda expressão: “Raboni”.

O Raboni Jesus pediu a Maria para não ficar ali diante dele, mas que fosse contar aos discípulos, além de Pedro, que a promessa se cumprira: o Messias estava vivo.

Foi o que ela fez, saindo da história para entrar em nossas vidas como um exemplo a ser seguido.

 

1. Como Maria Madalena, podemos ser transformados completamente.

O Diabo foi derrotado, embora ainda conserve parte do seu poder. Ele procura por pessoas que queiram se juntar a ele para aumentar a força dele, para roubar mais, para destruir mais, para matar mais (João 10.10), por meio da mentira, no qual é especialista (Joao 8.44).

Ele mente dizendo às pessoas que tiveram infâncias difíceis, de privações e abusos, que não têm mais direito de viverem felizes, que suas vidas estão perdidas.

Podemos até ter estado sob o poder de Satanás, como Maria Madalena, que num determinado período dd sua existência, foi fortemente dominada por Satanás. Sete emissários de Satanás (demônios) a dominaram, mas Jesus os expulsou a todos e libertou Maria Madalena do poder deles sobre a sua vida. Depois disto, não andava mais encurvada, não andava mais triste; depois disto, era uma pessoa livre.

Jesus faz o mesmo hoje com qualquer pessoa que esteja dominado por Satanás, seja por ouvir suas mentiras, seja por fazer alianças com ele para obter o que ele diz que pode dar, como vitórias sobre inimigos, prosperidade ou mesmo cura de sofrimentos. Ele pode ter até algum poder, mas não tem poder sobre aqueles que se encontram sob os cuidados de Jesus, como aconteceu com Maria Madalena.

Talvez você esteja sob o poder de Satanás, por causa de alianças que celebrou com ele, mas você pode ficar livre deste poder, porque Jesus é muito mais poderoso que o Diabo. Não tenha medo; confie em Jesus; entregue sua vida completamente a Jesus. Ele defenderá você.

 

2. Como Maria Madalena, podemos ser restaurados por Jesus.

A história de Maria Madalena é a história da restauração. Os evangelhos são histórias de restauração. Quem se encontrou com Jesus e confiou nele como Salvador e Senhor foi restaurado.

A prostituta parou de vender seu corpo. O fiscal desonesto de impostos deixou de se corromper. O cego teve de volta a sua visão. O discípulo temperamental aprendeu a ser manso. O atormentado pela culpa recebeu um convite para ser seu enviado ao mundo. O pregador que abandou os companheiros numa viagem voltou a fazer parte da equipe missionária. A mulher com hemorragia pôde voltar a sorrir. O homem de mão mirrada pode mexer de novo os dedos. A mulher encurvada voltou a andar com firmeza.

Maria Madalena era uma mulher atormentada, até ser encontrada por Jesus. Nele encontrou paz. Talvez carregasse feridas humanamente incuráveis, mas Jesus as curou, uma a uma. Talvez fosse rejeitada como culpada de ser dominada pelos demônios, mas Jesus a aceitou e fez dela uma líder.

Podemos estar atormentados, mas Jesus derrama a sua paz em nossos corações. Se temos Jesus ao nosso, não precisamos ter medo, seja de mentiras, seja de verdades.

Jesus dá força aos cansados. Jesus dá alegria aos trustes. Jesus dá vigor aos desanimados.

Jesus restaura a nossa dignidade perdida, pelo abuso que cometeram contra nós ou pelo abuso que nós mesmos cometemos. Com ele, o menor pode ser grande. Maria Madalena, a endemoniada, a encurvada, é levantada como anunciadora das boas notícias de Jesus. Ela é uma apóstola (enviada) de Jesus. Jesus restaurou também a dignidade de Pedro, pecador, pescador, traidor, desanimado; Jesus faz do pecador um pescador de gente, um corajoso que expõe sua própria vida para anunciar Jesus, um animado apóstolo de Jesus que escreveria:

 

“Louvemos ao Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo!

Por causa da sua grande misericórdia, ele nos deu uma nova vida pela ressurreição de Jesus Cristo. Por isso o nosso coração está cheio de uma esperança viva. Assim esperamos possuir as ricas bênçãos que Deus guarda para o seu povo. Ele as guarda no céu, onde elas não perdem o valor e não podem se estragar, nem ser destruídas” (1 Pedro 1.3-4 NTLH).

 

3. Como Maria Madalena, podemos participar do sustento da causa de Jesus.

Sobre Maria Madalena, antes da ressureição de Jesus, somos informados que ela é algumas mulheres, “com os seus próprios recursos, ajudavam Jesus e os seus discípulos” (Lucas 8.2-3).

Sendo transformadas por Jesus, ela queria que outras pessoas também conhecessem a Jesus para serem transformadas. Por isto, seguia na equipe de Jesus, colocando sua história a serviço de Jesus, mas também seu tempo e seus recursos financeiros.

Ainda hoje Jesus precisa de Maria Madalena. Podemos ser Maria Madalena. A missão de Jesus, naquele tempo e no nosso, se faz com recursos, em forma de conhecimento, tempo e dinheiro, todos dedicados a Deus.

 

4. Como Maria Madalena, podemos ir a Jesus.

No domingo bem cedo, antes de todos, Maria Madalena saiu em busca de Jesus.

O corpo de Jesus, supunha ela, estava no túmulo onde o deixará no final da sexta-feira. Talvez correndo os riscos próprios de uma caminhada à noite no escuro, ela se pôs a caminhar. Não sabemos onde morava. Logo, não sabemos se andou muito. Deve ter andado depressa. Não queria chegar, mas tinha pressa de ver o corpo de Jesus.

A esperança de Maria estava em Jesus. A vida de Jesus, nem que fosse agora seu corpo morto, era a sua vida. Com ele tivera um relacionamento profundo, de obediência, seguimento e serviço. Tinha sede de Jesus. Ainda tinha sede de Jesus. Não sabia que Jesus estava vivo, mas tinha sede de Jesus.

Tendo sede, foi a Jesus.

Quem tem sede, deve ir a Jesus.

O convite dele, que ela talvez tenha ouvido pessoalmente, permanece até hoje: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba” (João 7:37).

Maria Madalena um dia foi a Jesus.

Maria Madalena continuava indo a Jesus.

Ainda hoje podemos beber de Jesus, pela primeira vez e, depois, todos os dias. Só ele nos satisfaz em nossas necessidades profundas.

Maria Madalena acordou cedo para ir a Jesus.

Se necessário acorde cedo, para ir a Jesus. Que ir a Jesus seja a sua primeira busca, talvez bem cedo, antes de o dia começar.

 

5. Como Maria Madalena, podemos pedir ajuda.

Quando descobriu que o corpo de Jesus não estava onde deveria estar, Maria Madalena correu atrás de Pedro e de João, em busca de uma resposta. Ela não conseguia entender o que estava acontecendo. Imaginando que eles soubessem a resposta, procurou ajuda com eles.

Muitas vezes na vida, não sabemos como agir. Se estamos perdidos, devemos perguntar a quem sabe. Se não compreendemos um texto da Palavra de Deus, devemos buscar quem saiba, nos livros ou em consultas a pessoas. Se percebemos que a solução de um problema está além do nosso alcances, devemos buscar a ajuda de quem possa nos ajudar. Um grande problema para nós pode ser pequeno para a outra pessoa.

Pedir ajuda não é sinal de fraqueza, mas de força.

Há pessoas que sofrem a vida toda, guardando segredos desnecessários, mantendo vícios deletérios, ruminando traumas superáveis, apenas porque não buscam ajuda.

Como Maria Madalena, precisamos procurar Pedro e João para que nos explique onde está o corpo de Jesus. Eles conviveram mais tempo com Jesus do que ela; deviam saber. Há pessoas mais experientes do que nós e algumas delas são atenciosas, misericordiosas e generosas, as quais devemos buscar. Seremos mais fortes juntos.

 

6. Como Maria Madalena, podemos saber que o túmulo de Jesus estava vazio.

Maria Madalena não esperava a ressurreição. Os discípulos não esperavam a ressurreição (João 20.9). Não havia narrativa semelhante na história de Israel. Eles conheciam apenas histórias profetas que fizeram pessoas reviver, como Eliseu, mas agora o profeta estava morto. Ninguém poderia trazê-lo de volta. Apesar dos ensinos de Jesus, de que morreria e ressuscitaria, se ouviram, não entenderam. Estavam completamente atônitos.

A história da ressurreição foi consequência daquilo que Maria Madalena e as demais testemunhas viram. Não foi inventada. Não foi um gesto de marketing pensado para enganar. Os adversários da nova fé é que insinuaram que os seguidores de Jesus tinham inventado a ressurreição; os próprios evangelhos contam esta fracassado tentativa.

A dificuldade, em todos os tempos, é que a ideia da ressureição não passa pelo crivo da razão. Não passa mesmo, mas é milagre, um milagre para abençoar a humanidade, não apenas a uma pessoa. A ressureição de Jesus atesta a veracidade da sua vida e mensagem. A ressurreição de Jesus nos demonstra que podemos ter esperança em nossa própria ressurreição.

Maria viu o túmulo vazio. Pelo testemunho dela, podemos ver também o túmulo vazio.

Maria se encontrou com o Jesus ressuscitado. Em nossa própria experiência, podemos nos encontrar com Jesus, porque ele ressuscitou, tendo aparecido a Maria Madalena e a centenas de outras pessoas (1Coríntios 15.6).

 

7. Como Maria Madalena, nós temos valor diante de Deus.

Assim nós descreveríamos Maria Madalena: uma mulher que se deixou usar por Satanás, que a atormentava. Conhecendo uma mulher, assim talvez quiséssemos distância dela.

No entanto, Jesus a considerava como uma mulher de valor, tanto que a aceitou em seu grupo de discípulos. Permitiu que ela e outras pessoas desclassificadas viajassem com ele. Ele permitiu que ela o acompanhasse a Jerusalém. Ele não a via como uma mulher atormentada, mas como uma mulher cheia de dignidade.

Uma prova disto é que Maria Madalena é a primeira pessoa a ver Jesus. Numa época em que as mulheres não contavam e não eram mencionadas, Maria Madalena foi considerada e o seu nome foi contado. A propósito, uma das evidências da veracidade da ressurreição foi ele ter aparecido primeiramente a uma mulher: quem haveria de crer numa história dessas?

E esta era a verdade da história.

Não importa a nossa história.

Jesus aparece a pessoas consideradas sem valor. Para ele, todas as pessoas têm valor. São filhos do mesmo Aba, de quem ele era igualmente filho.

Ele não nos vê como homens ou como mulheres, mas com pessoas de valor. Ele não nos vê como casados ou solteiros, viúvos ou divorciados, ele nos vê como pessoas de valor. Ele não vê o nosso passado cheio de traumas; ele enxerga o nosso futuro cheio de esperança.

 

8. Como Maria Madalena, podemos aprender que nem a morte é o fim.

Jesus tinha morrido.O  mestre a quem seguirá por alguns anos tinha morrido. O mestre que transformará a sua vida, da tristeza para a alegria, tinha morrido. O mestre que lhe ensina a viver tinha morrido.

Maria Madalena procura o corpo de Jesus, para cuidar dele, para prolongar o tempo com ele, mas não o encontrou. Quando não o encontrou, sua dor aumentou, mas quando o reconheceu vivo, sua vida recomeçou. A morte de Jesus não foi o fim da história de Jesus ou da história de Maraia Madalena. Maria Madalena, diante de Jesus, aprendeu que a morte não é o fim da história.

A morte de uma pessoa querida não é o fim da nossa vida.

Nada é o fim.

 

A doença não é o fim.

O divórcio não é o fim.

A decepção não é o fim.

A depressão não é o fim.

O desemprego não é o fim.

Um diagnóstico desolador não é o fim.

 

Ser reprovado numa prova, não ser chamado num concurso, ser vaiado numa apresentação, não ser recebido numa audiência, ser criticado injustamente, não ser aceito pelos amigos por causa de uma ideia ou de um ideal, ser substituído no trabalho ou no jogo, ser humilhado publicamente não é o fim.

 

Ter pesadelos à noite não é o fim.

Ter insônia na madrugada não é o fim.

Ter uma saudade incurável não é o fim.

 

Perder a liberdade não é o fim.

Perder a esperança não é o fim.

Perder a vontade de viver não é o fim.

Perder um membro do corpo não é o fim, seja levado por uma doença devastadora ou por uma bomba covarde.

 

Um fracasso não é o fim.

Uma derrota não é o fim.

O vale da sombra não é o fim.

A morte de uma pessoa querida não é o fim.

Nada é o fim.

 

O que nos parece o fim pode ser o começo.

No ano em que terminou pela morte o governo do grande rei de sua pátria e por causa da grande começão nacional e pessoal que a tragédia provocou, Isaías começou realmente a viver.

No dia em que ficou cego, Saulo de Tarso começou a enxergar.

Na hora em que foi envergonhada, Maria de Nazaré foi honrada.

 

O fim pode ser o começo.

Até a nossa própria morte pode ser o começo, quando seguimos o caminho que Jesus nos abriu para fazermos.

Nada, pois, nos separa do amor de Deus, quando estamos de mãos dadas com Jesus.

 

9. Como Maria Madalena, podemos persistir.

Maria Madalena queria ver o corpo de Jesus. Quando viu o túmulo vazio pela primeira vez, correu para avisar aos seus irmãos de fé. Em seguida retornou, em busca do corpo de Jesus. Quando encontrou os anjos, perguntou; quando encontro aquele que supunha ser o jardineiro, perguntou. Ele não saiu da cena. Ele não saiu de cena.

Como Maria Madalena, não devemos desistir de nossos bons projetos e abrir mão de nossos bons hábitos.

Sua persistência foi honrada com uma tarefa, a de contar o que vira, e ela persistiu; antes, levou sua tarefa até o fim.

Como Maria Madalena, não devemos desistir de nossas tarefas. A vitória é filha da perseverança. Vale a pena persistir.

 

 

10. Como Maria Madalena, podemos ser autênticos em nosso sofrimento.

Quando viu o túmulo vazio e não viu o corpo de Jesus, Maria Madalena chorou.

Ela chorou quando entrou no túmulo. Ela chorou ao sair do túmulo. Ela continuou chorando enquanto procurava. Os anjos ouviram seu choro; Jesus notou seu choro. Maria Madalena foi autêntica.

Sua atitude lembra a de muitos salmistas, que choravam, lamentavam, reclamavam, protestavam. Se estavam tristes, diziam. Se estavam alegres, cantavam. Se se sentiam injustiçados, gritavam. Se eram feridos, gemiam.

Essas atitudes fazem lembrar a de um amigo. Acometido por uma doença, ele me escreveu: “Às vezes, questiono, principalmente porque tento andar da forma mais correta sem causar nada de ruim ao meu próximo, muito pelo contrário, mas como diz o salmista, não devo me incomodar com o crescimento dos ímpios, pois um dia cairão”.

Fui visitá-lo. Eu lhe disse que não entendia o seu questionamento, porque parecia que estava obrigando Deus a lhe ser fiel porque ele era fiel. Ele me disse:

— Era o que eu pensava naquela hora. É assim que eu falo com Deus, com toda a sinceridade. Sei que o meu pensamento não está correto, mas ele me ouve e me entende. Não escondo nada dele.

Eu lhe dei razão. Ele foi sincero em seu lamento diante de sua dor.

É assim que devemos orar, com sinceridade. Nossa teologia pode estar errada, mas nosso corações tem que ser sincero.

Maria Madalena não deu uma de mulher forte. Ela chorou.

Quando reconheceu Jesus, não economizou. O “Raboni” expressa toda a sua autenticidade. Maria Madalena foi sincera na reclamação; ela foi autêntica na adoração.

 

11. Como Maria Madalena, podemos crer em Jesus como Senhor.

Diante do homem que descobriu ser Jesus, Maria Madalena solta uma exclamação de fé: “Raboni”. A palavra é exclusiva; só ela o profere. Veio de dentro, como um grito maravilhoso de fé. Trata-se de uma palavra aramaico-hebraico. Vinha de “rabi”, mestre.

O título de “rabi” era dado a pessoas que estudavam a Bíblia como um título concedido numa cerimônia com imposição de mãos no Sinédrio. Ele era posto numa cadeira elevada, significando o respeito que tinham por ele, que recebia também uma chave é um rolo. A chave significava sua autoridade e o rolo indicava sua dedicação aos estudos. Ele tinha discípulos, capazes de fazer novos discípulos.

“Raboni” era usado para poucos, porque significava “meu grande Mestre” ou “meu grande senhor”. Quando Maria Madalena o usa, vai além da tradição, porque só homens poderiam ter um “Rabi” ou “Raboni”. Foi como se tomasse o lugar do Sinédrio, reconhecendo Jesus como Senhor, coisa que seus patrícios não fizeram.

Nos lábios de Maria Madalena, “Raboni” implicava que o reconhecia como o seu Salvador, como o Senhor da sua vida. Ela disse “Raboni”, como Tomé diria: “Meu Senhor e meu Deus” (João 20.28 NTLH). Não precisava dizer mais nada. Tudo estava dito.

Cristão é quem confessa a Jesus como Maria Madalena, como Tomé e tantos outras pessoas na Bíblia e além da Bíblia. Todos somos convidados a dizer com a boca que Jesus é o Senhor, isto é, Jesus é o nosso Senhor, declaração que implica no reconhecimento de que Jesus ressuscitou (Romanos 10.9). Para sermos salvos, precisamos declarar que “Jesus Cristo é o Senhor” (Filipenses 2.11).

Muitos têm recebido a Jesus como Senhor (Colossenses 2.6), mas muitos não fizeram esta necessária e salvadora confissão, como Maria Madelena.

Se você não o fez ainda, chame Jesus de “Raboni”, “meu grande Senhor”.

Cantemos como Judas, o escritor bíblico:

 

“Por meio de Jesus Cristo, o nosso Senhor,

louvemos o único Deus, o nosso Salvador,

a quem pertencem a glória, a grandeza, o poder e a autoridade,

desde todos os tempos, agora e para sempre!

Amém!”

(Judas 1.25 NTLH)

 

12. Como Maria Madalena, podemos ter nosso entusiasmo de volta para viver.

Dizer “Raboni” quer dizer mais. Trata-se de uma palavra que traduz o sentimento de Maria, o entusiasmado sentimento de ter a Jesus como o Senhor dela.

Até aquele momento sua vida mergulhava na noite escura da alma, como aquele olhar para dentro do túmulo vazio, onde Jesus não estava. Sua vida perdeu o sentido. Quando diz “Raboni”, numa expressão que veio de dentro do seu coração feliz, está dizendo que sua alegria. está de volta.

Myrtes Mathias (1933-1996) definiu bem os sentimentos de Maria Madalena:

 

“Eu estava tão cansada.

Tão cansada que resolvi subir ao Jardim das Oliveiras.

Sempre vou ao Jardim quando estou triste,

Cansada,

duvidando.

 

Ele estava lá.

Aproximei-me e chamei baixinho.

Tão baixo que só um Deus poderia ouvir:

RABONI!…

 

RABONI… o mais belo de Seus nomes.

RABONI… o Deus que ensina…

 

Deitei-me a Seus pés e comecei a falar:

– Estou cansada.

Tenho gasto minhas energias em vão.

Tenho perdido o tempo que me deste.

Fiz promessas tolas.

Contraí dívidas.

Acreditei e fui traída.

Queria voltar,

no tempo e no espaço.

Tanto, tanto que chegasse à Galiléia.

Romperia preconceitos e costumes

e sairia sozinha, sob as tamareiras,

a procurar-Te.

Talvez fosse tarde e a multidão

já houvesse partido.

Estarias só.

Também estarias cansado.

Talvez não tivesses ainda encontrado a pedra

para reclinar a cabeça.

Aproximar-me-ia.

Lavaria Teus pés e pediria que os pusesses

sobre a almofada que havia preparado.

Enquanto repousasses,

sentar-me-ia a Teus pés

e escreveria o mais bonito dos poemas.

Porque, então, já não seria mais eu,

mas apenas aquela que contempla,

aquela que ama.

O amor é sublime.

e amar-Te, Raboni, é o mais sublime,

o mais santo,

o mais incompreensível dos sentimentos.

 

Perdoa, Raboni, se falo assim.

Mas sonda meu coração e vê

que és tudo que tenho,

tudo que sinto,

tudo que eu esperava.

 

Prefiro morrer a ver algo se interpor

entre Ti e meu coração.

Tu me deste um novo nome.

Um novo e glorioso nome.

 

E por tudo que fizeste por mim,

amo-Te com um amor de escrava:

submisso,

incompreensível,

um sentimento que supera a si mesmo,

porque é adoração…

 

E porque não estou mais cansada,

nem triste,

nem duvidando,

digo-Te em tom de prece:

 

OBRIGADA, RABONI!” [2]

 

13. Como Maria Madalena, podemos ser testemunhas de Jesus.

Maria Madalena não era versada em teologia, mas sabia o que Jesus fizera de sua vida é disto testemunhava.

Ainda na Galiléia, certamente falara de como Jesus expulsara seus sete demônios. Em Jerusalém, testemunhou a Pedro e a João que o túmulo estava vazio. Recebendo a tarefa por parte de Jesus. O resumo evangélico é inspirador:

 

“Eu vi o Senhor. E contou o que Jesus lhe tinha dito” (João 20.18 NTLH).

 

Como Maria Madalena, podemos falar de Jesus. Nossa história fala de Jesus, se fomos salvos por ele.

Todos podem contar a sua história. Nem todos podem recitar versículos bíblicos. Nem todos sabem orar pelos outros. Nem todos conseguem pregar um sermão. No entanto, todos podemos contar a nossa história. Se Jesus está em nossa história, nossa história falará de Jesus.

A nossa história toca a história das pessoas. Por meio de nossa história, Jesus toca as vidas das pessoas.

 

A CRUZ NÃO FOI O FIM

 

No fim do dia,

veio a cruz.

Ele foi à cruz.

Ficava no alto

E se aproximava a hora sombria

Quando não haveria luz

Nem fora nem dentro.

Teve medo da morte.

(Quem não tem?)

Agonizou momento a momento,

Numa tortura oferecida como divertimento.

O corpo estava nu na noite fria

Quando pela última vez suspirou.

Mas A CRUZ NÃO FOI O FIM da sua dor imeritória.

 

No início da noite,

Veio o sepultamento,

Tempo que a esperança não habita

E não se vê — as trevas bloqueiam qualquer visita

E não se ouve — a voz não rompe a guarita

E não se fala — a vontade não palpita

E não se sente — o coração sequer medita.

Pior do que a aflição é o silêncio.

Mas O SEPULCRO NÃO FOI O FIM da sua memória.

 

Houve uma sexta-feira que não pode ser esquecida.

Houve um sábado cuja história não pode ser escrita.

 

E houve uma madrugada.

No dia seguinte.

A manhã do domingo não foi de início testemunhada.

No seu corpo a vida foi soprada.

No seu corpo a vida foi de novo soprada.

O corpo se levantou.

O corpo sozinho se levantou.

As flores caíram.

Os perfumes se esvaíram.

Os panos puíram.

O corpo andou.

Talvez tenha agradecido, ao tocar sua própria pele

e se sentir de volta.

O plano não fracassara.

Talvez tenha gritado por socorro.

(Mas quem ouviria?)

O corpo andou para sair da escuridão,

Porque lá fora não era noite.

Era dia,

Pela fresta da pedra que selava o sepulcro era o que se via.

Ele olhava para o portão de pedra.

Quem o removeria?

Quanto tempo ali ficaria,

Vivo, dado como morto?

Seus olhos viram a pedra rolando

E mostrando o horto,

Onde logo chegaria

Para os encontros só marcados na agenda do Pai.

 

Como a RESSURREIÇÃO NÃO FOI O FIM DA SUA GLÓRIA,

Ele ainda ficou com os seus,

Com os quais sonhou, andou, se alimentou

E inspirou.

Depois, partiu.

Mas A ASCENSÃO NÃO FOI O FIM DA SUA TRAJETÓRIA.

Porque ele pediu aos seus seguidores que contassem a sua história.

 

14. Como Maria Madalena, nossa vida pode ter sentido.

A história completa de Maria Madalena é a história de uma vida com dois tempos: o primeiro conta a história de uma vida atormentada, mas a segunda narra a história de uma vida inspirada e inspiradora.

Maria Madalena é a mulher oprimida que agora é usada por Deus para libertar pessoas.

Maria Madalena é a mulher que sai das lágrimas para o testemunho.

Maria Madalena nos deixa uma clara mensagem:

. Não fique encurvada. Levante-se. Maria Madalena tinha tudo para ser como vítima, mas, uma vez, tendo conhecido Jesus, passou a se vir como filha amada de Deus. A velha vida de lágrimas ficou para trás, levantou-se e retomou sua vida.

. Não viva chorando. Cante. Quando viu o túmulo vazio, Maria Madalena chorou. E poderia ficar o resto da vida chorando, mas ela preferiu cantar: Raboni.

. Não guarde a alegria para si mesma. Conte. E poderia se recolher em sua casa, mas ela preferiu ser missionária à sua própria gente.Ela falava de Jesus.

 

15. Como Maria Madalena, podemos escrever nosso nome na história.

Maria Madalena tem nome e sobrenome. Sempre os teve, mas seria anônima se continuasse em Magdala. Foi Jesus quem lhe deu um lugar na história.

Num tempo de mulheres sem nome é sem rosto, Maria Madalena é uma apostola de Jesus, enviada ao seu tempo, e chega ao nosso como testemunha do que Jesus pode fazer conosco.

Nós podemos ter nosso nome no presente. Nós podemos ter nosso nome do futuro.

Nosso nome fica na história quando nos encontramos com Jesus.

Nosso nome fica na história quando encontramos nosso lugar ao lado de Jesus, seguindo a Jesus, obedecendo a Jesus, pensando como Jesus, agindo como Jesus.

Nosso nome fica na história quando, recebendo de Jesus uma missão, como Maria Madalena teve, nós a cumprimos até o fim. Como Paulo, Maria Madalena não tinha a sua vida como tendo valor por si mesma.

 

“Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão-somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus” (Atos 20.24 NVI).

 

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

 


[1] Um excelente artigo está disponível em “Maria de Magdala, a grande ”Apóstola dos Apóstolos”. Entrevista especial com Chris Schenk. Disponível em <http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/505130-mariademagdalagrandeapostoladosapostolosentrevistaespecialcomchrisschenk>

[2]MATHIAS, Myrtes. Poemas para o Meu Senhor. Rio de Janeiro, Casa Publicadora Batista, 1967, p. 16.