SEMINÁRIOS DE TEOLOGIA, 1 — A IMPORTÂNCIA DO QUE CREMOS

A IMPORTÂNCIA DO QUE CREMOS(2 Coríntios 4.13-18) 
 
Israel Belo de Azevedo
 
Como escreveu Louis Berkhof, "a teologia é uma forma de amar a Dios com aa mente. Por essa razão, não é uma doutrina secreta mas um assunto público". 
 
 
1. A teologia nos mostra que há teologia em tudo o que pensamos.
 
Tudo é teológico. Um evento na sociedade, seja uma morte trágica, seja o julgamento de um ex-presidente, impõe-nos uma reflexão, que passa pela teologia. A morte de um ator de forma dramática tem algum outro significado? O julgamento de um ex-presidente da República é fruto da sanha messiânica do seus acusadores?
Somos sempre teólogos, porque estamos sempre refletindo sobre Deus e o mundo. Importa que saibamos que tipo de teologia estamos desenvolvendo.
Se queremos, por exemplo, saber como Davi era um homem segundo o coração de Deus, precisamos ler seus salmos, onde ele se revela por inteiro. Ele confia ao ponto de crer que nada lhe faltará por Deus estar com ele (Salmo 23.1).
 
 
2. A teologia nos lembra que nós somos o que cremos. Nós fazemos o que cremos.
Como o salmista, cremos e falamos. (Salmo 116.10).
Como os apóstolos Pedro e João, não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido (Atos 4.22). Mais que isto, não conseguimos deixar de agir segundo o que temos visto e ouvido.
A oração que fazemos, no silêncio do nosso quarto ou em público, revela o que cremos. Cremos, por isso oramos. O conteúdo do que cremos está na forma da oração que professamos.
Se confiamos muito, é porque cremos muito.
Somos movidos por ideias, sejam elas filosóficas ou teológicas. Nosso compromisso deve ser sempre pensar biblicamente e nesta tarefa a teologia nos ajuda.
"Aquilo que compreendemos sobre Deus e suas ações tem um papel importante na formação de nossas perspetivas e, a partir daí, na tomada de nossas decisões. Aquilo que sabemos sobre Deus moldará o modo como anos relacionaremos e nos comunicaremos com ele". 
 
 
3. A teologia nos desafia a refletir sobre o que cremos e porque o cremos. igreja, depois dos primeiros momentos, sentiu a necessidade de ensinar os que iam se convertendo, para que soubessem explicar, para si mesmos e para os outros, as razoes da sua fé.
A fé é, ao mesmo tempo, emoção ou razão. A fé é emocional porque brota de um desejo; para ser abraçada, pode não demandar razão. Para se permanecer nela, ela precisa da razão. A fé é também racional, uma vez que todas as afirmativas que vêm dela podem e dever ser organizadas e sistematizadas para que que não se emaranhem e se contradigam. A razão, isto é, neste caso a teologia, é algo racional, porque sistematiza o que cremos.
É por isto que é o líder numa comunidade de fé deve manejar bem a palavra da verdade (2Timóteo  2.15). Manejar bem a Bíblia é para todos os cristãos, uma vez que todos somos instados a dar a razão da esperança que há em nós (1Pedro 3.15).
Como escreveu Karl Barth, "a teologia não é um assunto privado apenas para teólogos", mas um "assunto para a igreja". 
 
 
4. A teologia nos prepara para olhar o mundo segundo a perspectiva certa, a de Deus.
 
Jesus orou para que ficássemos livres do mal (João 17.15), que inclui a ideia de ficarmos livres de pensar como o mundo, que jaz no maligno, pensa. 
Quando Jesus nos pede para não nos preocuparmos excessivamente com as coisas (Mateus 6.31), está sugerindo que não andemos como o mundo anda. Quando mostra que nao devemos reagir à violência assacada contra nós (Mateus 5.39-41), está nos sugerindo uma outra forma de viver. Quando nos mostra que temos que perdoar (Mateus 18.22), está recomendando que vivamos como ele mesmo, o perdoador por excelência, viveu
Se queremos ter a mente de Cristo, precisamos aprender como Cristo era. A Biblia nos ensina e a teologia organiza este ensino sobre Cristo.
 
 
5. A teologia nos capacita a compreender as Escrituras.
 
Quando Pedro pregou pela primeira vez, ele citou as Escrituras e as interpretou. Fez teologia. Quando Felipe evangelizou o anônimo eunuco etíope, ele lhe explicou o que o forasteiro lia em Isaías (Atos 8.31).
Compreender o que lemos é uma tarefa para todos nós. Imaginemos o evangelista Felipe dizendo ao eunuco que deviam voltar a Jerusalém para perguntar o significado do que lerá em Isaías.
 
 
6. A teologia nos orienta em nossa interação com a cultura de um modo adequado, sem aceitar tudo dela, sem negá-la, apreciando-a à luz do exemplo e ensino de Jesus Cristo.
 
Temos que julgar o que vem da cultura e reter o que é bom (1Tessalonicenses 5.21). A teologia é também um olhar sobre a cultura. Sua análise nos ajuda em nossas decisões no contexto em que vivemos.
 
 
7. A teologia nos instrui na defesa da nossa fé e a nos proteger contra os falsos ensinos.
 
Desde o principio, os primeiros cristãos enfrentaram dificuldades com ensinos que pareciam cristãos, mas não eram cristãos. Os evangelhos estavam sendo preparados como forma de preservação mas as cartas apostólicas foram escritas para instruir a igreja diante dos erros. A lista de livros inspirados da Biblia foi formada para servir de anteparos a delírios pseudocristãos.
A tarefa continua.
De dentro da igreja, surgem ideias que a Biblia não aprova. De fora da igreja, aparecem ideias que a Biblia reprova. E é a teologia que nos conduz nesta tarefa, chamada de apologética, que cuida de apresentar o que cremos tendo no horizonte o que dizem e escrevem claramente contra a fé ou aparentemente a favor da fé. 
Todo cristão deve se apegar "firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela" (Tito 1.9).
 
 
8. A teologia nos ajuda a identificar nossos próprios erros
 
Na ação e na reflexão, nossa fonte suprema é a Bíblia.
São úteis também os teólogos, que à luz dessa Palavra, contribuem para percebamos também nossa teologia. O que pensamos pode estar errado. O modo como interpretamos as Sagradas Escrituras pode estar errado. É a teologia que sistematiza a boa teologia. Por isto, como brincou C.S. Lewis, "todo mundo lê, todo mundo presta atenção a discussões. Consequentemente, se você não der atenção à Teologia, isso não significa que não terá idéia alguma sobre Deus. Significa que terá, isto sim, uma porção de idéias erradas — idéias más, confusas, obsoletas. A imensa maioria das idéias que são disseminadas como novidades hoje em dia são as que os verdadeiros teólogos testaram vários séculos atrás e rejeitaram". 
A tarefa da teologia é fazer uma mediação racional entre nós e a Biblia.
 
 
9. A teologia nos acompanha em nosso processo de maturidade cristã.
 
Sem a leitura sistemática e correta da Bíblia, não crescemos. A leitura sistemática da Biblia vem do desejo, da decisão e da disciplina pessoal. A leitura correta da Biblia depende do estudo da teologia.
Sem a teologia, repetimos conceitos. Com a teologia, captamos os conceitos e criamos.
Sem a teologia, ficamos no mesmo lugar. Com a teologia, crescemos espiritual, moral e intelectualmente.
Sem a teologia, ficamos na superfície. Com a teologia, descemos para beber aguas cada vez mais límpidas.
Sem a teologia, sequer sabemos que estamos errados. Com a teologia, vemos o caminho certo por onde seguir.
 
 
10. A teologia nos inspira a lidar bem com os nossos problemas.
 
Nós temos problemas por viver num mundo mal. A teologia nos ajuda a compreender o mundo.
Nós temos problemas por conviver com o sofrimento, o nosso e dos outros. A teologia é também uma teodiceia, ao nos oferecer ensinos sobre a natureza do mal e do sofrimento.
Nós temos problemas porque nossas emoções não são saudáveis. A teologia é um convite ao equilíbrio e à serenidade. 
Nós temos problemas porque a sociedade quer nos dizer o que pensar e isto nos deixa confusos. A teologia nos orienta em nossa interação com o mundo.
Nós temos problemas porque enfrentar situações que não podemos explicar ou superar. A teologia nos ajuda a compreender.