SÉRIE: VIRTUDES CRISTÃS, 3/3 (Oswaldo Jacob)

Meditações em Romanos 12.9-21

 

Os versos 17-21, consideram a nossa relação com os inimigos: não retaliação, mas serviço.

 

Paulo nos ensina que a nossa relação com os inimigos é de não retaliação e, sim, de serviço amoroso. Não devemos pagar o mal com o mal, mas o mal com o bem. A ordem é procurarmos fazer o que é certo diante de todos (v.17). As pessoas estão olhando para nós. O nosso testemunho deve ser contundente e inequívoco. O que é fazer certo diante de todos? Podemos nos lembrar da recomendação de Jesus no final das bem-aventuranças: “Bem-aventurados sois, quando vos insultarem, perseguirem e, mentido, disserem todo mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e exultai, pois a vossa recompensa no céu é grande; porque assim perseguiram os profetas que viveram antes de vós” (Mt 5.11,12). Sofrermos por causa de Cristo é uma coisa, mas outra bem diferente é sofrermos porque tivemos um mal comportamento, não damos testemunho fidedigno do evangelho. Por esta razão, o apóstolo Pedro nos orienta sabiamente: “Mas nenhum de vós sofra como homicida, ladrão, praticante do mal, ou como quem se intromete em negócios alheios. Mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; pelo contrário, glorifique a Deus com esse nome” (1 Pe 4.15,16).

            Lembremos sempre: Do que depender de nós, tenhamos paz com todos os homens (v.18). A paz de Cristo deve sempre dominar os nossos corações (Cl 3.15). Jesus é a nossa paz (Ef 2.14). Viver em paz com todos os homens não significa concordar com tudo o que eles dizem e fazem, mas conhecer os nossos limites e respeitar posicionamentos. Trabalhar para uma convivência respeitosa.  Concentrar no que é comum para o bem da sociedade e do país. No âmbito da comunidade dos salvos, sempre valorizar e honrar os irmãos. Orar e trabalhar para que haja harmonia tendo Cristo com o nosso referencial de relacionamento saudável.

            Paulo nos exorta a não exercermos a vingança. Não é competência nossa julgar e punir quem quer que seja. Esta é atribuição de Deus, pois Ele mesmo diz: “A vingança é minha, eu retribuirei” (v.19). Quantas vezes desejamos nos vingar das pessoas que nos fazem o mal. Não, Deus cuidará delas. O nosso Deus é perfeitamente justo. Nada escapa à Sua justiça em Cristo Jesus (At 17.30,31). Por esta razão, o mesmo Paulo exorta aos gálatas: “Não vos enganeis: Deus não se deixa zombar. Portanto, tudo o que o homem semear, isso também colherá. Pois quem semeia para a sua carne, da carne colherá ruína…” (6.7,8). Todas as pessoas que nos fizerem mal, devemos entrega-las para Deus em oração.  Além disto, o que devemos fazer por nossos inimigos? Dando a eles de comer e de beber. A nossa atitude amorosa, como filhos de Deus, produzirá neles vergonha extrema. Comentaristas mais recentes chamam atenção para um antigo ritual egípcio no qual o penitente carregava brasas ardentes na cabeça para provar que o seu arrependimento era verdadeiro. Neste caso, as brasas seriam “um símbolo dinâmico da mudança de mentalidade que se estabelece como resultado de um ato de amor”.[1]

O velho apóstolo conclui o capitulo 12, exortando: “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem” (v.21). Aqui está o segredo de uma vida feliz: fazer sempre o bem à semelhança do nosso Salvador e Senhor Jesus (At 10.38). Em todo o Sermão do Monte, o Mestre nos ensina que o discípulo feliz é aquele que é humilde, que chora por seus pecados em profundo arrependimento, que tem fome e sede de justiça, que é misericordioso, limpo de coração, pacificador, perseguido por causa da justiça de Cristo e que sofre agravo. Também, ama os seus inimigos e ora pelos que o perseguem; que não julga, mas deixa o julgamento para Deus (Mt 5.1-12; 43,44; 7.1-5).

Há uma coerência no texto de 9 a 21, pois inicia com o amor sincero, sem fingimento e conclui com a não retaliação, ou seja, não se deixar vencer pelo mal, mas vencê-lo com o bem. O amor não faz mal ao próximo. Ele tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1 Co 13.4-8). Depois de uma introdução a todo texto, iniciamos a primeira exposição, considerando o amor na família de Deus (vv.9-16). Na segunda, porém, tratamos a nossa relação com os inimigos buscando servi-los e não respondermos ao agravo ou retaliarmos. A vida de Cristo em nós, a vida cristã, é marcadamente uma vida de amor profundo e abrangente. Jesus deixou muito claro: “Eu vos dou um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (João 13.34). Seguindo ainda o ensino de Jesus: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai que está no céu; porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons e faz chover sobre justos e injustos. Pois, se amardes quem vos ama, que recompensa tereis? Os publicanos também não fazem o mesmo?” (Mt 5.44,45). Seja no ambiente cristão ou fora dele, sejamos discípulos, apenas discípulos do Senhor Jesus.  Paulo era um discípulo de Jesus Cristo, disposto a morrer por Ele (At 20.24; Fil 1.21). Que assim seja com cada um de nós para a glória de Deus Pai!



[1]KLASSEN, William em sua obra “Coals of Fire: Sign of Repentance or Revenge?” (Brasas de Fogo: Sinal de Arrependimento ou Vingança?, em New Testament Studies 9, 1962-3, p. 349, citado por Murray (Vol. II, p. 143), Morris (1988, p. 455) e Dunn (Vol. 38B, p. 571). Citado por John Stott em ”A Mensagem de Romanos. São Paulo: ABU, 6ª. Imp. 2014, p. 407.