A Bíblia tem uma pertinência extraordinária. Muitas vezes, ao lê-la, nos parece estar lendo uma matéria do jornal de hoje. Assim é com o que Paulo disse em Efésios 5.16: “Os dias são maus.” A respeito desses dias a que Paulo se refere, John Mackay nos informa: “O sonho do grande Augusto fora dar ao Império Romano uma constituição perfeita e permanente; e morreu na convicção de o ter conseguido. Mas no tempo de Paulo, não muitas décadas depois da morte de Augusto, a vida em Roma, e em todo o Império, era caracterizada por um processo de desintegração social e pelo sentimento de futilidade e degenerescência dos indivíduos.” (“A ordem de Deus e a desordem do homem – a Epístola aos Efésios e a época atual”, União Cristã dos Estudantes do Brasil, SP/Confederação Evangélica do Brasil, RJ, 1959, pp.25,26).
Os dias de hoje também são maus, muito maus. Tanto, que as perspectivas para o novo ano são, em certo sentido, de desespero e não de esperança. As previsões são de mais desemprego, menos recursos para os serviços públicos, mais inflação, e mais outras coisas ruins. Mas Paulo deu alguns conselhos aos seus leitores cristãos sobre como enfrentar aqueles dias maus, conselhos que são perfeitamente atuais. Eles estão contidos no texto de Efésios 5.15-21. Somente conseguiremos passar a salvo por estes dias maus que enfrentamos se praticarmos os sábios princípios aqui ensinados pelo grande apóstolo.
Em primeiro lugar, devemos estar atentos para que o nosso procedimento não seja de tolos, mas de sábios (v.15). Nestes tempos de tanta insensatez, precisamos ser sábios para não aderir a qualquer movimento, opinião, idéia, suposta verdade ou suposta solução de problemas. Diz a Palavra: “Bem-aventurado é aquele que não anda no caminho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos zombadores; pelo contrário, seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita dia e noite.” (Sl.1.1,2). E mais: “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria.” (Pv.1.7).
Em segundo lugar, devemos aproveitar bem cada oportunidade (v.16). Literalmente, o texto fala em “remir o tempo”, porém a palavra grega usada para tempo é “kairos”, cujo sentido é de momento, oportunidade, e não “kronos”, que traz o sentido de decorrência, de período. A mitologia grega simbolizava o tempo como uma figura alada que tinha cabelos apenas na parte da frente da cabeça, de modo que, quando ela passasse voando, era preciso grande agilidade para agarrá-la. Aproveitemos cada oportunidade de fazer a coisa certa, servir ao próximo, sermos honestos, estudar, trabalhar, crescer como pessoas. Isso ameniza os dias maus.
Em terceiro lugar, precisamos entender qual é a vontade do Senhor para as nossas vidas (v.17). A Palavra diz: “Não vos amoldeis ao esquema deste mundo, mas sede transformados pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.” (Rm.12.2). O filho de Deus só é um verdadeiro amigo de Jesus se fizer a sua vontade (Jo.15.14). Não poderemos vencer a batalha contra estes dias maus se não nos amoldarmos à vontade de Deus. Em cada situação é preciso perguntar: “Qual é a vontade do Senhor?”
Em quarto lugar, devemos nos deixar encher pelo Espírito Santo. O versículo 18 diz: “E não vos embriagueis com vinho, que leva à devassidão, mas enchei-vos do Espírito.” Nos dias maus referidos por Paulo, as autoridades romanas diziam que para deixar o povo satisfeito bastava dar-lhe “pão e circo”, isto é, comida, bebida e diversão. O mundo busca esquecer seus problemas na bebida, na diversão e coisas semelhantes, mas o cristão busca satisfação, alegria e poder no Espírito Santo, para enfrentar seus dias maus, e não para fugir deles. Diante do tribunal que o julgava, Pedro ficou cheio do Espírito Santo e respondeu aos juízes de forma admirável (At.4.8,13). A vida torna-se leve quando somos cheios do Espírito.
Em quinto lugar, devemos buscar a comunhão com os demais irmãos em Cristo (v.19). Paulo refere-se a falar, cantar e louvar ao Senhor em coletividade. Precisamos da comunhão uns com os outros para nos firmarmos, nos fortalecermos e atravessar estes dias maus. Diz a Palavra: “Pensemos em como nos estimular uns aos outros ao amor e às boas obras, não abandonemos a prática de nos reunir como é costume de alguns, mas, pelo contrário, animemo-nos uns aos outros.” (Hb.10.24,25). É na comunidade de fé que somos apoiados em oração, em serviço amoroso e em encorajamento, a fim de enfrentar nossas batalhas.
Em sexto lugar, devemos cultivar a gratidão a Deus, e não a murmuração (v.20). Infelizmente, os dias maus são dias de sofrimento, e este leva à murmuração. Deus não se aborrece de nos queixarmos de nossas adversidades e de pedirmos por sua misericórdia, mas não aceita o murmurar. Murmurador é aquele que não aceita a provação, que aquele que acha que faria melhor do que Deus. O ensino de Paulo é que Deus é o Senhor da História e de nossas vidas, até mesmo dos dias maus. Portanto, louvemos ao Senhor com ações de graças, em nome de Jesus, pois ele “faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam” (Rm.8.28).
Em sétimo e último lugar, devemos abandonar a arrogância e a autossuficiência, devemos sujeitar-nos uns aos outros (v.21). A pior coisa que pode acontecer a um soldado é achar que ganhará a guerra lutando sozinho. A Palavra diz: “Cada um considere os outros superiores a si mesmo.” (Fp.2.3). E mais: “Digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo mais do que convém, mas que pense de si com equilíbrio, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.” (Rm.12.3). Precisamos da ajuda, do apoio, da orientação, da sabedoria e do serviço dos outros, para vencer a batalha contra os dias maus que nos afligem.
Fazer tudo isso que Paulo ensinou de modo nenhum nos garante a ausência de problemas, mas nos dará condições de enfrentá-los e nos trará paz ao coração. Que o Senhor nos ajude a assim fazer.
Pr. Sylvio Macri