Há pastores vorazes que vendem mentiras

ENTREVISTA DE ISRAEL BELO DE AZEVEDO A UMA SEMINARISTA

Uma estudante, Juçara Silva, do Seminário Batista Gonçalense, enviou-me as seguintes perguntas, as quais respondi.
Espero que a entrevista seja útil para o debate das idéias.

CENÁRIOS DO CRISTIANISMO
* Temos visto muitas mudanças no mundo em geral, até onde essas mudanças têm influenciado o exercício de liderança de nossas Igrejas?

Em nossa época, tudo o que é sólido se desmancha no ar. As pessoas trocam de nacionalidades, famílias e religião; só não trocam de time de futebol. Ao mesmo tempo, as coisas antigas (digamos, rurais) convivem com as hipermodernas (dominadas pelas tecnologias da informação). De igual modo, as necessidades humanas são as mesmas. No plano religioso, o tema central é o sofrimento.
Neste sentido, o mundo é novo e o mundo é o mesmo. A grande diferença é o uso intensivo das tecnologias da informação e o fim das lealdades. É neste cenário que os líderes precisam se mover, numa tarefa bastante complexa e que, por isto, vem recebendo diferentes respostas.

CRESCIMENTO EVANGÉLICO
*Como vê o crescimento do evangelho e com ele o aparecimento de muitas denominações que inclusive muitas tem feitos desse evangelho puro um comércio?

No Brasil tem sido intenso o crescimento do número de pessoas se tornando membros de igrejas evangélicas. Há aspectos positivos e negativos nisto. Positivamente, a graça de Jesus vai sendo anunciada. E isto não tem preço. A missão da igreja precisa terminar em templos cheios. Negativamente, no entanto, muitos vêm para a igreja mas não vêm para a cruz. Vem, não pelo que Jesus oferece, mas pelo que os pregadores oferecem. E muitos desses pregadores não têm compromisso com a Palavra de Deus, em função de sua voracidade por igrejas cheias. Esses pastores vorazes prestam um desserviço ao Evangelho, ao venderem mentiras e a afastarem do interesse pela fé aquelas pessoas com visão crítica, viso que é apenas reforçada pelo comportamento desses pregadores.

* Para que hoje pudéssemos pregar o evangelho com liberdade, muito de nossos irmãos no passado foram mortos. Qual a importância desses homens para o crescimento do Reino e seu estabelecimento na terra?

Tertuliano disse, no século terceiro da era cristã, que o sangue dos mártires é semente, referindo ao Evangelho. Hoje há plena liberdade religiosa em nosso país e essa história de liberdade tem pouco mais de cem anos (e muito menos anos nos interiores do país). Durante os séculos 16 a 19, ser evangélico tinha um preço, às vezes, o da vida. Devemos muito aqueles que pregaram sem medo, como Salomão Luiz Guinsburg.

ORIGEM DOS BATISTAS
* Há uma divergência dentro da denominação batista quanto a sua origem. Em sua opinião qual a teoria mais relevante e que se aproxima mais das nossas posições e doutrinas?

Em história o que conta são os documentos. Aquelas idéias de que os batistas existem desde o tempo de Jerusalém, quando Jesus batizava no rio Jordão (daí, JJJ), é uma história de carochinha inventada nos Estados Unidos por uma razão pouco nobre, que é a seguinte. Os batistas eram a maior denominação naquele país até chegarem os metodistas, mais evangelistas e mais inovadores, ao usarem a música mais intensivamente. Chegaram e cresceram. No entanto, os metodistas eram uma denominação recente, surgida no século 18. Numa comparação, perdiam para batistas, que eram mais antigos, surgidos no século 16. É neste contexto de competição que aparece a idéia do sucessionismo.
Outros aventaram a idéia de que os batistas surgiram do movimento anabatista. Há alguns pontos de contato no plano das idéias, mas não dos fatos. Não há uma linhagem de anabatistas desembocando no movimento batista. Os batistas surgem como parte de um movimento de renovação religiosa no interior do anglicanismo.
É esta história que temos que celebrar, porque é história.

INFLUÊNCIA INTERNACIONAL
*Quais os benefícios que Aliança Batista Mundial tem trazido para as Igrejas Batistas do Brasil do século 21?

Talvez fosse melhor inverter a seqüência: qual a importância das igrejas batistas do Brasil para a Aliança Batista Mundial. Muitos fazem a mesma pergunta: que benefícios tem a Convenção Batista Brasileira para uma igreja local. Depende: uma igreja de porte grande pode produzir sua própria literatura, enviar seus próprios missionários e formar seus próprios pastores. Elas não precisam da Convenção, mas a Convenção precisa delas, tanto dos seus recursos financeiros quanto humanos e ideológicos. A Convenção entra com a idéia da unidade e da harmonia. É uma ilusão pensar que ela não tem importância; ela é fomentadora da identidade batista.
Se pensarmos nas igrejas pequenas e médias, é evidente a necessidade de uma Convenção. Elas são supridas na formação dos seus pastores e no material pedagógico que recebe. É através da Convenção (por suas Juntas) que essas igrejas fazem a obra missionária, tanto fornecendo missionários quanto os sustentando, sendo os seus recursos financeiros somados aos outros para fazer o bolo capaz de prover os fundos para o envio de obreiros ao Brasil e ao estrangeiro.
O mesmo raciocínio se aplica à Aliança Batista Mundial. Uma Convenção como a Batista Brasileira não precisa tanto da Aliança, exceto nos aspectos da unidade e da identidade. Aliança precisa mais da Convenção. Na verdade, uma precisa da outra. Eu, por exemplo, leio os boletins, impressos e eletrônicos, publicados pela Aliança Batista Mundial e ficou informado sobre meus outros irmãos batistas ao redor do mundo. Esta noção de pertencimento, que a Aliança dissemina, é de grande valor.

* Até que ponto as Igrejas Batistas dos Estados Unidos e suas convenções influenciam ainda hoje nossas Igrejas no Brasil?

A influência da Convenção é Batista dos Sul dos Estados, que foi determinante no Brasil até os anos 70, é bastante discreta. São poucos os missionários que mandam para o Brasil e os que vêem não exercem postos de liderança como ocorreu até os anos 70 do século 20. As outras convenções norte-americanas exercem influência ainda mais discreta.
Hoje a grande influência vem dos megapastores, como Rick Warren (com sua “igreja com propósitos”) e Bill Hybels (com sua “rede ministerial”), que desenvolvem ministérios de classe mundial. Esses homens têm moldado muitos ministérios aqui.

DESEMPENHO MISSIONÁRIO
* Como vê o desempenho missionário no Brasil e o seu crescimento desde a chegada dos missionários pioneiros?

Sempre houve entre os batistas, desde seus albores no Brasil, um forte interesse missionário. A ênfase inicial foi colocada na conquista do sertão, por meio da Junta de Missões Nacionais. Nessa época, foram legendárias as figuras de L.M. Bratcher e David Gomes, percorrendo o país numa época de meios limitados de transporte. Ao mesmo tempo, mesmo que timidamente, outros países foram alcançados através da Junta de Missões Estrangeiras (depois Junta de Missões Mundiais). O pêndulo da paixão acabou pendendo pelos outros países, sob a liderança do pr. Waldomiro Tymchak.
A grande dificuldade da obra missionária é a definição de estratégias, já que o campo é o mundo. No caso brasileiro, sempre houve obra missionária, mas sempre faltou também uma reflexão sobre a missiologia, vale dizer, sobre a obra missionária realizada. Chegamos a um ponto em que precisamos refletir sobre missões: há recursos humanos e financeiros que permitem este esforço. Precisamos da mesma reflexão nas áreas da comunicação (em que os batistas são muito omissos), da educação eclesiástica (em dificuldade pela pulverização de ofertas) e da educação ministerial (em que há mais seminários do que precisamos).
É tempo de estas áreas (comunicação, educação eclesiástica e educação ministerial) se mesclarem com a área missionária para a definição de uma visão ampla e de uma metodologia adequada às necessidades tão grandes. Se estas áreas permaneceram como ilhas, correm mais riscos com a elevação do nível dos mares.

SONHOS
* Quais seus sonhos como líder para a denominação batista?

O que desejo para os batistas é que se unam para terem uma atuação efetiva nos meios de comunicação de massa, sobretudo na televisão. Quem não está na televisão não existe e nós não estamos.
Almejo também um redesenho de nosso sistema educacional, sem lugar para um programa único, mas com possibilidades de uma visão, que possibilidade o crescimento bíblicos dos membros das igrejas. Neste contexto, precisamos de uma política nacional de educação ministerial. Do jeito que está, com cada igreja, associação ou convenção fazendo o que quer, não podemos continuar.
Sonho com mais unidade entre os batistas, com uma fusão, por exemplo, com a Convenção Batista Nacional, que já pediu perdão pelos problemas ocorridos nos anos 60 em correspondência à Convenção Batista Brasileira, que respondeu pifiamente. (Falo com tranqüilidade, porque foi membro da comissão que elaborou a resposta e eu queria mais: queria que acenássemos em direção à unidade e até a reunificação)
Sonho ainda com mais participação na discussão das causas nacionais, de modo proativo. Nem defensivamente temos atuado.

EXPERIÊNCIA PESSOAL
*Como foi sua conversão e chamada ao ministério pastoral? O que o levou a ser um líder batista?

Não sou líder. Sou apenas o pastor da Igreja Batista Itacuruçá, no bairro da Tijuca. Diante 20 anos fui professor e diretor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (1976-1985 e 1999-2009), do qual foi também fui aluno (1972-1975) e filho de aluno (1966-1968). Minha vida foi ligada (não está mais), portanto, ao Seminário do Sul por mais de 40 anos, computados os intervalos.
Nasci em 1952 no Espírito Santo, filho e neto de batistas. Fui batizado na Primeira Igreja Batista de Campo Grande, na região metropolitana de Vitória, pelo pastor Saturnino José Pereira.
Eu era membro da Igreja Batista Itacuruçá em 1998, quando ela ficou dramaticamente sem o seu pastor. Como não era pastor e não queria ser pastor, a igreja me convidou para ser o pregador. Aceitei com prazer, enquanto exercia minhas atividades na área educacional universitária. Depois de alguns meses, a igreja me convidou para o seu pastor. Resisti enquanto pude. Fui encurralado por Deus. Uma de minhas alegrias é que meu pai, o pastor Derly Franco de Azevedo, participou do meu concílio e assinou minha primeira Bíblia de pastor. Ele sempre desejou por esses momento, mas nunca me disse. Sou, portanto, um pastor jovem, já que exerço a função desde dezembro de 2009. Estou aprendendo, com muita alegria.

EXPERIÊNCIA PESSOAL
*Como foi sua conversão e chamada ao ministério pastoral? O que o levou a ser um líder batista?

Não sou líder. Sou apenas o pastor da Igreja Batista Itacuruçá, no bairro da Tijuca. Diante 20 anos fui professor e diretor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (1976-1985 e 1999-2009), do qual foi também fui aluno (1972-1975) e filho de aluno (1966-1968). Minha vida foi ligada (não está mais), portanto, ao Seminário do Sul por mais de 40 anos, computados os intervalos.
Nasci em 1952 no Espírito Santo, filho e neto de batistas. Fui batizado na Primeira Igreja Batista de Campo Grande, na região metropolitana de Vitória, pelo pastor Saturnino José Pereira.
Eu era membro da Igreja Batista Itacuruçá em 1998, quando ela ficou dramaticamente sem o seu pastor. Como não era pastor e não queria ser pastor, a igreja me convidou para ser o pregador. Aceitei com prazer, enquanto exercia minhas atividades na área educacional universitária. Depois de alguns meses, a igreja me convidou para o seu pastor. Resisti enquanto pude. Fui encurralado por Deus. Uma de minhas alegrias é que meu pai, o pastor Derly Franco de Azevedo, participou do meu concílio e assinou minha primeira Bíblia de pastor. Ele sempre desejou por esses momento, mas nunca me disse. Sou, portanto, um pastor jovem, já que exerço a função desde dezembro de 2009. Estou aprendendo, com muita alegria.