SERVO DO REI, MAS AMIGO DO PROFETA

Ebede-Meleque é um personagem bíblico incomum. Primeiro, por ser um estrangeiro servindo na corte do rei judeu Zedequias, o último da dinastia de Davi a sentar-se no trono. Segundo, por ter tido uma atuação decisiva no livramento do profeta Jeremias da morte certa.  Ele era etíope e, segundo Jeremias 38.7, oficial do palácio real. Seu nome verdadeiro não deve ter sido esse, Ebede-Meleque, cujo significado é “Servo do Rei” (também pode significar “Ministro do Rei”) e que talvez fosse um título. Segundo alguns estudiosos é provável que ele fosse o chefe do harém real, cargo de muita importância na antiguidade.

Outros oficiais de Zedequias – Sefatias, Gedalias, Jeucal e Pasur – pressionaram o rei a punir o profeta Jeremias com a morte, por causa de suas mensagens duríssimas prevendo a derrota iminente de Judá para os babilônios, que há meses já cercavam a cidade de Jerusalém, a última a ser conquistada e arrasada por eles. Jeremias dizia: “Quem ficar nesta cidade morrerá pela espada, pela fome e pela peste.” (Jr. 38.2). Mas a maior acusação desses oficiais contra o profeta era que ele que ele desanimava o povo e o que restava do exército judaico, dizendo que quem se rendesse aos babilônios viveria.

O rei, estando em posição de fraqueza perante seus ministros, sucumbiu à pressão, deixando a decisão por conta desses inimigos de Jeremias. Disse ele: “Ele está em suas mãos; porque não é o rei quem lhes fará oposição.” (Jr.38.5). Na casa de Malquias, filho do rei, havia uma cisterna sem uso, com muita lama no fundo e foi lá que jogaram o profeta, que atolou na lama. A cisterna era tão funda, que foi necessário usar cordas para descer Jeremias até o fundo. A intenção dos oficiais era deixá-lo morrer lá.

Ao saber disso, Ebede-Meleque, resolveu peitar seus colegas e exortou rei a tirar o profeta da cisterna e livrá-lo da condenação à morte, porque, disse ele, eles “fizeram muito mal” em lançar Jeremias naquele buraco, pois logo ele morreria de fome. O rei, então, autorizou Ebede-Meleque a tirar Jeremias da cisterna e mudou sua pena para simples prisão no pátio da guarda, onde permaneceu até a invasão pelos babilônios.

Apesar da lealdade que devia ao rei e a seus colegas de corte, Ebede-Meleque, temente a Deus, não se omitiu diante da injustiça que estava sendo praticada contra um legítimo mensageiro do Senhor, cujas profecias vinham sendo cumpridas uma a uma. Fica, para os políticos cristãos de hoje o exemplo desse homem, que mesmo sendo estrangeiro, não se calou diante de uma grande injustiça praticada por outros oficiais e permitida pelo rei, nem adotou a prática do corporativismo, defendendo o erro perpetrado por seus pares, coisa tão comum atualmente. 

 

Prf. Sylvio Macri