Há pouco mais de três meses mudei-me com minha esposa do Rio de Janeiro para Itaperuna, minha terra natal, que fica no Noroeste fluminense. A cidade mudou muito e foi preciso algum tempo para que minha memória fosse aclarada, mas aos poucos vieram à tona lembranças antigas, muitas delas pelo fato de encontrar pessoas com quem convivi há mais de cinquenta, sessenta e até setenta anos, e de passar por lugares onde vivi minha infância e adolescência. E aos poucos também me dei conta de minha mãe está presente na maioria dessas lembranças.
Minha mãe teve três filhos, nascidos com auxílio de parteira, sendo que eu nasci na roça, no sítio do meu avô. Hoje, o lugar é um dos novos bairros da cidade. Logo depois do meu nascimento toda a família de minha mãe mudou-se para Magé, e como meu pai não tinha nenhum parente na cidade, ela ficou sozinha cuidando de três crianças pequenas (minha irmã nasceu logo depois). Durante longos anos ela enfrentou uma dupla jornada como costureira e dona de casa. Lembro-me de vê-la trabalhando na máquina de costura às vezes até as dez horas da noite para dar conta das tarefas.
Então essa é uma das primeiras lembranças que tenho de minha mãe: de uma trabalhadora incansável. Contudo, quando criança eu não tinha essa percepção – de quanto minha mãe era trabalhadora. Acho estranho que na maioria dos textos que se escreve em homenagem às mães essa faceta importante de suas vidas não seja mencionada. Talvez porque não seja algo assim tão romântico. Mas para mim é um detalhe muito importante, porque mamãe foi o maior exemplo que tive de uma pessoa trabalhadora, de alguém que era capaz de trabalhar até dezesseis horas por dia sem um momento de descanso. Nisso ela foi um modelo para mim.
Minha mãe era uma mulher muito inteligente. Foi minha primeira professora, e de meus irmãos também. Ainda bem jovem, e mesmo com pouca escolaridade, tinha sido professora numa escola da zona rural. Não sei como em meio à sua longa jornada diária ela encontrava tempo para nos ensinar e ajudar nas lições escolares, e até mesmo para ajudar outras crianças. Essa é uma das boas lembranças que tenho dela – de uma mulher inteligente, que jamais se esquivou de me ensinar tudo o que eu precisava para ser um bom cidadão, sem nunca atribuir a outros o que era seu dever.
Andando pela rua onde fui criado, me veio outra lembrança muito especial. Aos domingos pela manhã íamos os quatro à igreja. Ela levava minha irmã no colo, eu ia seguro em sua mão e meu irmão caminhava ao lado. Apesar de todas as suas lutas e de não ter ajuda do marido, ela nunca deixou de frequentar a igreja, da qual era fundadora, e que se reunia em um local provisório, a uma boa distância de onde morávamos. Minha mãe foi minha discipuladora, levando-me a Cristo, por meio do ensino, do exemplo e das orações. E quando comecei a andar em ambientes não cristãos, nunca deixou de orar por mim, até que me convertesse de fato.
Foi com ela, também, que aprendi a cantar quase todos os hinos do hinário “Cantor Cristão”. Enquanto ela trabalhava na máquina de costura eu sentava ao lado e ia folheando o hinário, perguntando como se cantava cada hino. Era só mencionar a primeira frase e ela começava a cantar o hino correspondente. Conhecia de cor mais de quinhentos hinos do “Cantor Cristão” e tinha uma bela e poderosa voz de soprano.
Minha mãe foi tudo isto para mim: sustentadora, mestra, guia espiritual e professora de música. E muito mais poderia dizer. Quase tudo que sou hoje devo a ela.
Pr. Sylvio Macri