Academia da Alma 2.0 — Encontro 5: Meus pecados

ACADEMIA DA ALMA 2.0

Encontro 5

 

Síntese 

DIANTE DOS MEUS PECADOS

Como trato os meus pecados?

 

Sabedoria bíblica:

“O que descobri é tão somente isto: que Deus fez o ser humano reto, mas ele se meteu em muitos problemas”). 

Eclesiastes 7.29)

 

Decisão: 

ARREPENDO-ME!

 

Entre as ilusões que desnecessariamente carregamos, uma é a de que somos naturalmente bons. Dizemos que nosso primeiro gesto visará o bem do próximo, não o nosso. Cantamos que preferimos a verdade à mentira. Alardeamos que amamos a paz, a começar em nós. "A tentação de nossa época é parecermos bons sem sermos bons". (Brennan Manning)

Essas afirmações afrontam a realidade, estampada nos meios de comunicação e abrigada nos nossos corações, de que somos pecadores. Como nos advertiu Lutero,  “todo o pecado é um tipo de mentira”.

Para o mal com o qual convivemos e também contribuímos, oferecemos diferentes respostas, menos a que deveríamos. Assim, ingenuamente explicamos que o egoísmo não passa de uma distorção do nosso verdadeiro eu, superficialmente atribuímos a mentira a um passageiro defeito, preconceituosamente gritamos que a violência é filha da desigualdade social

Fazemos tudo para expulsar a palavra “pecado’ para os tempos que chamamos de “atrasados” ou “obscuros”, mas ela nos acompanha, porque ela nos explica.

Nós, os “avançados”, os “esclarecidos”, somos pecadores. Desde crianças sabemos disto, apesar dos sinônimos que inventamos. As histórias das civilizações e as nossas histórias pessoais se encontram dentro dos nossos corações, onde o mal estabelece sua casa.

"A tentação de nossa época é parecermos bons sem sermos bons". (Brennan Manning)

 

O QUE TEMOS FEITO COM O PECADO?

 

O psiquiatra norte-americano Karl Meninger (1893-1990) escreveu em 1973 um livro que vale pelo seu título: "O que aconteceu com o pecado?". (“Whatever Became of Sin?”, publicado no Brasil sob o título "O pecado de nossa época".)

Respeitado por seus estudos no campo da psicologia do crime, Menninger advertiu que o que antes era considerado pecado agora é crime, sintoma ou irresponsabilidade, fazendo os pecados mudarem de cor como um camaleão ou simplesmente desaparecerem. Em sua conclusão, ele pede que renunciemos à apatia e corajosamente assumamos a responsabilidade pelo mal.

De fato, a palavra "pecado" praticamente desapareceu do nosso vocabulário, embora figure milhares de vezes na Bíblia. A ideia da transgressão aos padrões divinos tornou-se uma coisa do passado, embora todos soframos as consequências na pele.

O próprio cientista, que era cristão, ofereceu uma sugestão, que incluía as igrejas, que deveriam pregar com clareza a mensagem bíblica:

 

— Clame por conforto. Clame por arrependimento. Clame por esperança. O reconhecimento de nossa parte na transgressão mundial é a única esperança que resta.

 

Assim, ou levamos o pecado a sério ou não experimentaremos a graça. Quando confessamos os nossos pecados, somos perdoados por Deus (Salmo 32.5), que nos purifica completamente (Salmo 51.2) e nos devolve a alegria de viver (Salmo 51.12).

 

 

ANTES DE PECARMOS NOVAMENTE

 

Que fazer com o fato que somos pecadores?

 

1. Em lugar de fazer de conta que não existe pecado, algo sempre contra Deus, mesmo que contra nós mesmos ou contra o próximo, com tristeza e esperança precisamos nos reconhecer como pecadores. Pecamos no passado, ontem, há muito tempo. Pecamos hoje, pela manhã, em todos os períodos do homem. Pecaremos amanhã, e isto é inevitavelmente certo. 

Por mais que nos desagrade, o pecado é real e nós o cometemos.

 

2. Em lugar de culpar a outro, precisamos assumir nossa responsabilidade. Culpar o outro é uma forma de nos vermos como vítimas, não como autores de nossas decisões. A acusação de Adão, contra Deus e contra sua esposa, ecoa pelos séculos, repetida (talvez por nós, se não como realidade, como tentação):

— A mulher que me deste para estar comigo, ela me deu da árvore, e eu comi (Gênesis 3.12)

Temos aprendido também a transferir nossa culpa para a genética, para a neurologia, para a educação, para a economia ou para o meio em que vivemos

Explicamos que o nosso comportamento segue o padrão de nossa sociedade. Fizemos o que todos fazem, dizemos no esforço de nos sentirmos bem.

Justificamos que, estando sob forte tensão ou tentação, não tivemos outra alternativa diante da pressão, a não ser fazer o que fizemos.

Temos dificuldade em admitir o mais simples, o mais claro e o mais preciso: pecamos.

O melhor, o mais simples, o mais honesto, o mais santo é, tendo pecado, concluir que pecamos. 

 

3. Em lugar de tratar o pecado do outro com vigor e olhar para o nosso com compreensão, devemos ser corajosos na admissão da nossa própria culpa. Se continuarmos lenientes conosco, continuaremos pecando mais abundantemente.

Em nossa vida, mesmo quando procuramos fazer tudo certo, cometemos erros. Admitamos.

Diante pecado, podemos também, e também de modo inadequado, sentir vergonha ou mesmo ter nojo. Estes sentimentos apenas agudizam a culpa, mas não têm efeito positivo.

 

4. Em lugar de explicar o erro que cometemos, devemos admitir que falhamos, sem nos explicar, sem apontar nossas palavras para outros culpados e sem fechar os olhos para as consequências do que fizemos. Na verdade, “quem comete um erro o verá inevitavelmente escrito num muro, mesmo que o mundo não o culpe". (Martin Tupper)

Acertaremos, se tirarmos lições do fracasso momentâneo, para errarmos menos.

Acertaremos se nos alimentarmos da certeza a certeza de que a nossa vida não acabou e precisamos prosseguir, humildes em nossas vitórias e menos impiedosos diante das falhas dos outros.

 

5. Em lugar de ver o nosso pecado como algo que mereça a condenação para sempre, podemos nos arrepender e viver na alegria da liberdade, sem peso.

Tendo errado, admitido nosso erro, confessado nosso pecado, devemos aceitar, não recusar, que fomos perdoados.

À péssima notícia do pecado, há uma boa: há salvação para o nosso caso: Deus a providenciou na cruz e não há outro caminho para uma vida sem culpa (Gálatas 6.12).

A percepção do pecado nos deve levar à oração que nos liberta completamente: "Perdoa-nos, Senhor".

É o perdão que nos abre a porta para uma vida transbordante.

Tendo errado, devemos admitir, confessar e fruir o perdão, com o desejo de não pecar mais.

Quando pecamos, podemos ficar apavorados diante da possibilidade de sermos descobertos.

Podemos sentir vergonha por termos sido desmascarados.

Podemos nutrir raiva das pessoas que nos acompanharam em nosso erro.

Essas atitudes nada produzem de positivo.

Podemos explicar o nosso pecado, de modo que saiamos absolvidos.

Podemos atribuir nosso erro às circunstancias, como se isto nos eximisse de nossa responsabilidade.

Podemos dizer que agimos corretamente, como se o nosso pecado não fosse pecado.

Podemos simplesmente cantar que não nos arrependemos de nada.

Essas atitudes nos impulsionam a continuar errando, cada vez mais.

Podemos nos arrepender.

Se queremos mudar, perguntemos o que Deus espera de nós, quando pecamos.

Quando se viu diante do sua própria vileza, Davi, o rei-poeta que viveu há três mil anos, orou assim:

 

— Senhor, eu sei o que tu requeres de mim

Nesta hora de tristeza que parece não ter fim:

Que eu venha com meu coração despedaçado

E humildemente admito diante de ti o meu pecado.

(Salmo 51.17)

 

A explicação, a fuga e a arrogância são passaportes para que continuemos pecando.

O medo, a vergonha e a raiva logo passam, sem que mudemos.

É a confissão sincera que nos prepara para não cometermos novamente o mesmo erro.

Lembremos que “o arrependimento é a lágrima nos olhos da fé”. (Dwight L. Moody)

 

6. Em lugar de achar que nos conhecemos claramente, devemos pedir a Deus que nos sonde e ilumine, nos termos do Salmo 139.

Quando nos relacionamos, uns com os outros, ninguém conhece nossas reais intenções. Deus conhece. 

Quando nos propomos a realizar, não dominamos todas as nossas motivações. Deus domina.

Quando começamos uma jornada, não estamos seguros como vamos terminar. Deus está.

Quando nos lançamos numa empreitada, não temos certeza se vamos fracassar ou triunfar. Deus tem.

Quando um desejo nos domina, não controlamos todas as consequências a colher. Deus controla.

Quando tomamos uma decisão, não compreendemos plenamente se é o certo a fazer. Deus compreende.

Quando nos dispomos a mudar, não sabemos todo o preço a pagar. Deus sabe.

Podemos afirmar que queremos ajudar e não queremos. Deus sabe.

Podemos dizer que são puras as nossas intenções sem ser. Deus sabe.

Podemos mostrar uma certeza que não temos. Deus sabe.

Podemos esconder um medo. Deus sabe.

Podemos desejar o que não devemos. Deus sabe.

Podemos decidir certo ou errado. Deus sabe.

Podemos calcular mal o preço da mudança. Deus sabe.

Então, nosso pedido ao maravilhoso Deus que nos conhece é que a cada desejo nos prove, a cada pensamento nos sonde, a cada passo nos guie, a cada erro nos corrija, a cada desvio nos traga de volta, a cada acerto nos impulsione.

Então, devemos orar assim:

 

— Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração,

prova-me e conhece os meus pensamentos;

vê se há em mim algum caminho mau

e guia-me pelo caminho eterno”.

(Salmos 139.23-24)

 

 

PERGUNTAS QUE EXIGEM UMA RESPOSTA

 

Refletindo sobre o que o psiquiatra norte-americano Karl Menninger escreveu sobre o pecado, o pastor brasileiro Clinton César disse que percebe três tendências:

— A primeira é a de negá-lo, fugindo de suas conseqüências. A segunda é a de justificá-lo, mudando o agente responsável da culpa de si mesmo para outros. A terceira tendência, e a pior delas, é a de transformar o pecado em virtude, fazendo dele algo inofensivo, desejável e até mesmo necessário. Daí que o que antes era apenas tolerado, hoje tem sido estimulado; o que antes era vergonhoso, hoje tem sido motivo de glamur. (Cf. CÉSAR, Clinton. Sociedade sem pecado. Disponível em <http://igrejalibertas.org/textos/boletim%20CPL%2010_02_08.pdf> Não mais disponível.)

A estas tendências, podemos aduzir outra: a rejeição à advertência, que faz com que o pecador se sinta protegido para não ver seu erro e nele, então, permanecer.

Se esta análise está correta, cabe a cada um de nós alguns cuidados:

1. Quando pecamos, negamos nosso erro, como se assim fôssemos evitar suas consequências?

2. Quando pecamos, explicamos, para minimizar nossa culpa?

3. Quando pecamos, apequenamos nosso erro para não parecer grave ou nos vangloriamos por ter transgredido?

4. Quando erramos, aceitamos como amigos aqueles que nos advertem do nosso erro?

 

As respostas indicarão o que temos feito com o pecado. Não podemos relativizá-lo, como se não fosse uma transgressão contra Deus (Gênesis 39.9). Não podemos minimizá-lo, como se não fosse grave e detestável (Isaías 59.2). Não podemos nos alegrar com a nossa rebeldia (Jeremias 5.23). Se alguém nos advertir, devemos aceitar a correção para que voltemos a experimentar a alegria da salvação (Neemias 8.10).

 

PARA NÃO PECAR

 

O pecado é sempre trinitário:

Pecamos contra o outro,

Falhamos contra Deus,

Erramos contra nós mesmos,

Não temos outro cenário.

 

Não importa a letra do abecedário

Que escolhemos para fraudar:

Adulteração, Altercação,

Comparação, Corrupção,

Devassidão, Ingratidão, 

Prostituição, Subtração,

Traição, Violação.

São muitos os cabides no armário.

 

Para não pecar, só temos um itinerário:

Não desejar, quando for para errar;

Se desejar, não continuar;

Se continuar, confessar;

Se confessar, abandonar,

Para nunca mais ao erro voltar.

Se voltar, confessar;

Se confessar, abandonar,

Para nunca mais ao erro retornar.

 

Para não pecar, temos que fazer o inventário

Dos padrões que adotamos,

Das falhas que mais cometemos,

Mesmo que aceitos por aí de modo majoritário.

 

Para não pecar, permaneçamos no ideário:

Não depender de nós mesmos,

Confiar completamente em Deus,

Não achar que conseguiremos não cometê-lo

Só com o nosso próprio desejo arbitrário.

 

O perdão é comunitário:

No alto, Pai, Filho e Espírito Santo

Como que de mãos dadas estão a nos esperar.

Por aqui, precisamos do outro Para nos ajudar,

Em casa, na rua, na igreja ou no trabalho,

A sair do fosso que sabemos cavar.

É por isto que ainda nos convida

A própria voz de Deus elevada sobre o Calvário.

 

 

Israel Belo de Azevedo