Academia da Alma 2.0 — Encontro 10: O dinheiro e eu

ACADEMIA DA ALMA 2.0

Encontro 10

 

Síntese:

O DINHEIRO E EU

Como ganho e como gasto meu dinheiro?

 

Sabedoria bíblica:

“Quem ama o dinheiro jamais se fartará de dinheiro; e quem ama a abundância nunca ficará satisfeito com o que ganha. Também isto é vaidade”. (Eclesiastes 5.10) Lance o seu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias você o achará. Reparta com sete e até mesmo com oito, porque você não sabe que mal sobrevirá à terra”. (Eclesiastes 11.1-2)

 

Decisão: REPARTO!

 

O dinheiro nos acompanha.

Para que viéssemos ao mundo, nossos pais gastaram dinheiro. Eles gastaram dinheiro para cuidar de nós e nos educar. 

Tendo alcançado nossa autonomia, gastamos dinheiro para nos manter, para fazer o que os nossos pais fizeram e para prosperar.

 

COISAS DA INFÂNCIA 

 

A maioria de nós ganha menos do que precisa. E necessidades que requerem dinheiro ficam sem ser satisfeitas.

A maioria de nós gasta mais do que pode. E tem que conviver com pressões e preocupações assustadoras.

Aprendemos a lidar com o dinheiro em casa, com ou sem palavras.

Quando eu era bebê, meus pais se mudaram de cidade, para longe dos meus avós, tios e primos, em busca de melhores condições de trabalho. Antes que eu completasse sete anos, eles trocaram de cidade três vezes. Aprendi que ganhar implica sacrifício.

Na última cidade da infância, moramos primeiro numa casa do meu avô e depois numa alugada. Meus pais (que sempre repetiam o bordão que ainda ecoa na minha cabeça: “precisamos economizar”) compraram um terreno, que ajudei a preparar carregando terra num carrinho que seria a nossa casa própria. Aprendi que temos pensar no dinheiro agora, mas com o olho no futuro.

Na infância e na adolescência, em todas as nossas casas tinha uma cama (ou no meu quarto ou no de minha irmã) reservada para os hóspedes. E eu me lembro de todos, especialmente dos pastores, com quem compartilhei o mundo do meu dormitório. Aprendi que podemos repartir.

Palavra de ensino só lembro daquelas: “precisamos economizar”. Por sua causa, sorvete se tomava em casa, comida era a de casa, mais baratas.

Exemplos lembro de muitos, dos muitos que foram convidados à nossa casa e a nossa mesa. Bem pequeno, meus pais receberam uma caravana. Não cabia todo mundo. Meu pai alugou quartos nuns dormitórios próximos. É assim que me lembro como eram chamados os hotéis. E é assim também que me lembro da primeira história engraçada: depois de alugar os quartos, meu pai começou a designar os destinos. A um dos visitantes coube alojar-se no “dormitório”. Ele disse que não iria. Meu pai lhe disse:

— Está com medo?

Ele respondeu:

— Eu não tenho medo. Eu tenho cisma.

Vivi a história e não a esqueci porque meu pai sempre a repetia.

Quando meu pai morreu, sempre economizando décadas após décadas, tinha guardados alguns recursos, que usamos para gastar no seu cuidado ao final de sua vida. Ele devia pechinchar; eu pechincho (amo um desconto). Ele via olhar o preço antes de comprar; eu olho sempre (não consigo olhar o cardápio sem ver a coluna do preço e pedir o menos caro). Percebi, mais tarde, que meu pai perdeu alguns prazeres da vida, aqueles que o dinheiro pode comprar.

Também acompanhei a trajetória do meu avô. Meu pai dizia que ele não sabia fazer negócio, o que não posso garantir. O maravilhoso pai da minha mãe era fazendeiro de café, no Espírito Santo. Ele vendeu (ouvi que por causa de uma crise nacional) e comprou uma fazenda  no literal (parece que pouco produtiva). Depois se mudou para uma chácara nos arredores da capital e posteriormente para uma casa num conglomerado de várias no centro do bairro. Terminou seus dias na casa que lhe restou. Não tenho a menor condição de avaliar se meu avô errou. No entanto, para mim ficou a imagem do empobrecimento paulatino e, junto, uma lição: devemos examinar todos os lados ao tomar uma decisão de ordem financeira, cujo impacto pode alcançar gerações. 

Foi o que aprendi.

O que você aprendeu em casa sobre dinheiro?

Concordando ou rompendo com os nossos antepassados ou com a cultura entranhada em nossos corpos, precisamos decidir como ganharemos e gastaremos nosso dinheiro.

Se nossos pais não nos disseram, o dinheiro que nos davam custou o trabalho deles. Dinheiro não cai da árvore. Vem do esforço, não de golpes; vem do suor, não da sorte; vem da disciplina, que não mora nas filas das casas lotéricas.

Não temos que ser avarentos, mas precisamos guardar dinheiro, o que implica em todos os meses gastarmos menos do ganhamos e só depois de termos conferido se efetivamente o recurso está disponível.

Ricos empobrecem, se não guardam. Pobres enriquecem, se poupam. Tão importante quanto saber ganhar é saber guardar. Nosso dinheiro precisa durar mais que o mês em que foi conquistado. Nosso dinheiro deve perdurar depois que tivermos partido, abençoando nossos filhos até que possam produzi-lo com seu próprio esforço ou mesmo os que não poderão ou não saberão amealhá-lo.

Envolvamos nossa família nos projetos, porque demandam recursos financeiros para sua realização.

Criemos um clima fraterno em torno do dinheiro, não de opressão.

Eduquemos financeiramente os seus filhos. Explique como o dinheiro será gasto. Quando eles começarem a ter renda, convide-os a participar das despesas da casa.

Envolvamos toda a família. Não basta apenas um gastar ordenadamente, se outros gastam desordenadamente.

 

 

HIPOCRISIA À VISTA

 

Nossa relação com o dinheiro tende a ser hipócrita. Dizemos uma coisa e fazemos outra. 

Dizemos que não somos gananciosos, mas nossos olhos têm a forma de cifrões.

Dizemos que somos generosos, mas em nosso funeral ninguém lembrará o que lhes demos, porque não lhes demos.

Dizemos que dinheiro é apenas um meio de pagamento, mas o idolatramos como o nosso deus. (Como “mamom”, segundo a advertência de Jesus, ao usar o termo hebraico para “dinheiro”).

Dizemos que não nos relacionamos com pessoas em função do dinheiro delas, mas quem o tem está sempre cercado e cultivamos amizades com quem o tem.

Para mostrar nossa fidelidade a Deus, mostramos nosso horror ao dinheiro, citando o texto bíblico de que ele é a raiz de todos os males. Na verdade, não citamos a Bíblia, mas o vulgo, porque o que as Escrituras Sagradas dizem é que a φιλαργυρία (filarguria), amor ao dinheiro ou simplesmente cobiça, é a raiz dos males (1Timóteo 6.10).

Assim, não temos que adorar o dinheiro e nem precisamos desprezá-lo. Não é ele o problema, mas porque o buscamos e como o tratamos. A questão é se nós governamos ou se ele nos governa. Ele governa o mundo. Governa-nos ele?

O dinheiro é essencial, mas não pode nos governar.

 

 

PRINCÍPIOS PARA SEMPRE

 

Podemos sugerir alguns princípios para o dinheiro:

 

1. Devemos ganhar o máximo de dinheiro e gastar o mínimo. Acumulemos riqueza, desde que de forma honesta: pelo trabalho, pelo estudo (Queremos ganhar dinheiro? Capacitemo-nos!), pelo investimento (poupança, aplicação de qualquer tipo, como compra de imóveis).

 

2. Devemos usufruir o que dinheiro permite, mas só podemos gastá-lo  depois que efetivamente o recebemos. (Uma transferência que será feita ainda não foi feita, e muitas coisas podem acontecer nesse ínterim; o salário pode não cair na nossa conta, logo não pode ser gasto em função da expectativa que será pago).

 

3. Precisamos separar uma parte do que efetivamente recebemos para poupar e doar. Quando poupamos, enfrentamos as nossas próprias adversidades. Quando poupamos, compramos bens de raiz, que perduram por gerações. Quando doamos, mostramos que não idolatramos nosso dinheiro ou nossa necessidade. Neste sentido, além da dinâmica espiritual que lhe subjaz, a entrega do dízimo é uma poderosa demonstração de sabedoria. Se separamos uma parte do que ganhamos, mostramos que podemos viver com menos do que ganhamos. 

Sejamos generosos para com pessoas e causas. Doa quem reconhece que Deus é o Senhor de todas as coisas. Doa quem confia que Deus lhe suprirá em todas as suas necessidades. Doa quem reconhece que o que tem veio de Deus. Doa quem quer para o mundo o que Deus quer.

 

4. Precisamos pensar a médio e longo prazos sobre dinheiro. Muito do que queremos virá depois de muitos anos de trabalho e poupança. A maioria das pessoas deseja ter uma casa própria, mas não a terá, algumas não por falta de dinheiro, mas por falta de sabedoria. A maioria dos cristãos deseja fazer uma viagem pelas terras da Bíblia, mas não a fará, por não se preparar financeiramente. Quem hoje está empregado poderá não estar amanhã. Um negócio lucrativo 

hoje pode despencar depois de amanhã. Hoje é o dia ganhar e guardar. Nunca é dia de esbanjar ou ostentar.

Numa fase da minha vida, fui guindado no trabalho a um posto, que não busquei, para ganhar o dobro do que recebia.

Cheguei em casa e disse:

— Meu salário duplicou. Vamos fazer de conta que continuo ganhando o mesmo. Continuamos morando no mesmo lugar. Mantivemos o mesmo veículo abaixo dos colegas na hierarquia. Durou pouco o eldorado, mas o suficiente para que fizéssemos uma boa aplicação imobiliária.

O modo como ganhamos o nosso  dinheiro diz quem de fato nós somos.

O modo como gastamos o nosso dinheiro informa em que realmente cremos.

Se queremos ser felizes, precisamos colocar o dinheiro sob os nossos pés, nunca num altar.

Se queremos ser bons, nunca podemos usar o dinheiro para comprar atenção, reconhecimento ou afeto das pessoas.

Se queremos ser honestos, nunca podemos nos vender.

Como o dinheiro nos faz perder a vida, cada dia temos que decidir que não perderemos a nossa.

Você ganha mais do que precisa? 

O que você faz com o que não precisa?

 

Para ser madura a nossa relação com o dinheiro, os verbos que conjugamos devem ser:

Ganhar.

Consumir.

Guardar.

Compartilhar.

(GC-GC)

 

Esse epítome deve nos acompanhar em todas as áreas de nossa vida, seja o tempo que temos, o conhecimento que adquirimos, os dons que recebemos.

 

 

DEZ CONSELHOS BEM PRÁTICOS

 

1. Planejemos o que vamos gastar (porque, para que e quando). Não gastemos sem pensar. Acompanhemos o que gastamos.

 

2. Só gastemos até 80% do que entrou. Não gastemos 100% do que entrou, mas, no máximo, menos 10% (dízimo), menos 10% de poupança.

 

3. Planejemos nossos gastos a curto prazo (contar a pagar) e longo prazo (objetivo a alcançar, como um carro ou a casa própria). Antes de construir sua terra, façamos um orçamento (Lucas 14.28).

 

4. Usemos cartão de crédito só se conseguimos pagar a despesa no mês em que vence. Nunca parcelemos a dívida do cartão. Se está difícil controlar, dispensemos o cartão. Só façamos compromissos realmente necessários e que possamos pagar dentro ou antes do prazo de seu vencimento.Fujamos do crédito consignado.

 

5. Para cuidar de nós mesmos e/ou da nossa família, estabeleçamos o objetivo do que queremos comprar, para onde e quando vamos viajar, etc. Objetivos aparentemente inalcançáveis são alcançáveis. Vejamos: quem tem o hábito de tomar refrigerante (ou suco) todos os dias, pode abandonar a prática (por razões de saúde e poupança. Um frasco de refrigerante não tomado (um dólar) por dia é igual a 11.000 dólares em 30 anos. Imagine outras economias. 

 

6. Guardemos para quando faltar (em caso de desemprego, doença ou falência da empresa ou estado em que trabalha). Como diz a sabedoria popular, “quem não guarda o que tem, a pedir vem”. As carências de hoje nos pressionam mas, ao gastarmos, temos que considerar as necessidades que virão. Quando não guardamos, desperdiçamos. Quando desperdiçamos, não temos.

 

7. Façamos seguro, plano de saude e plano funeral. Devemos guardar dinheiro para o nosso desemprego, para a nossa doença e para o nosso sepultamento, na trilha do que fez Abraão (Gênesis 23.20). 

 

Israel Belo de Azevedo