Academia da alma 2.0 — Encontro 11: Minha missão

ACADEMIA DA ALMA 2.0

Encontro 11

 

Síntese:

MINHA MISSÃO

Para que eu vivo? 

 

Sabedoria bíblica:

“Que proveito alguém tem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?”. (Eclesiastes 1.3)

 

Decisão: ENVISIONO!

 

Quando olho uma foto da minha infância, vejo uma igreja reunida. Não estou na foto. Meu avó estava lá. A igreja começou na casa dele. 

Quando aprendi a ler, aos 9 anos de idade, desejei e decidi ser escritor. Eu me disciplinei, lendo tudo o que eu podia, exceto gibi. Também nessa época eu queria ser cantor, mas era para com “mil vozes o Brasil encher com os louvores de Cristo”, num “singular prazer” (Hino 386 do Cantor Cristão).

Quando visito os movimentos do meu pai, eu o vejo como dentista e diácono, professor e pregador da Bíblia, pelo que viajava pelas igrejas. Na adolescência, ele nos disse que iríamos nos mudar para o Rio de Janeiro. Não dava mais para segurar. Ia fazer o seminário e ser pastor. 

Quando eu mesmo fui para o Seminário, o mesmo dele, perguntaram-me o que queria ali. Eu disse que queria me dedicar à educação teológica, mas não queria ser pastor. E ali atuei por duas décadas, separadas ao meio.

Quando me tornei pastor, ainda mais velho que meu pai (ele aos 36 anos e eu, aos 47), decidi fazer da leitura da Bíblia o foco do meu pastorado. Neste foco ainda me encontro, possivelmente até que vá morar na minha casa definitiva.

Concluo, então, que o tema da missão é o tema da minha vida.

Nele temos que ficar, como sugeriu Martin Luther King Jr. a uns estudantes do Spelman College em 10 de abril de 1960: 

 

“Devemos continuar agindo. Se não puder voar, corra; se não puder correr, ande; se não puder andar, rasteje, mas, seja como for, continue seguindo em frente”. 

 

SEM MISSÃO NÃO DÁ

 

Resgato um texto que escrevi nos ano 80:

 

“Uma vida sem missão é uma vida sem sentido. A vida da igreja é sua missão de servir como Jesus serviu. Se ela vive apenas para si, sua vida não faz sentido. Nem igreja ela é.

No plano pessoal, uma vida sem missão não tem razão de ser. A vida de uma pessoa é sua missão. É servindo como Jesus serviu que a gente encontra sentido na existência humana.

E aqui não se está propondo um ativismo louco. Pelo contrário. A experiência simbólica da igreja de Éfeso nos ajuda a entender que o sentido da vida-missão da igreja e da gente não é o culto, não é a piedade, não é a eficiência, não é a fidelidade doutrinária e moral, não é o compromisso com a verdade, nem a capacidade de sofrer, mas as motivações com que desenvolvemos todas estas atitudes (Apocalipse 2.1-7).

Sabemos que o sentido da vida não está nas coisas que fazemos, mas no sentido que damos a essas coisas.

O sentido da vida é servir. O resto é vida vazia (Eclesiastes 12.8). É correr atrás do vento (Eclesiastes 1.14)”.

 

Sim, a vida é sua missão.

O resto é circunavegação.

Vamos a algumas delas.

Não passam de janelas.

 

 

UMA VIDA MISSIONÁRIA

 

Missão nos lembra "missões", palavra central na experiência das igrejas. Como este plural apareceu em português, é pesquisa a ser feita.

De qualquer modo, missões, no plural, não pode ofuscar a missão, no singular.

Por alguma razão, valorizamos missões e desconsideramos a missão.

Só que missões é um desdobramento de uma missão.

Missão todos temos e todos fazemos. Não depende de tempo, conhecimento ou dinheiro. É a nossa vida, que é sempre missionária.

Missões é uma forma de fazer missão. Nem todos fazem missões. 

Quanto à missão, nossa decisão não é fazê-la ou não, mas como a faremos.

Nossa missão pode ter como foco seguir uma ideologia em curso, seja a de ter ou parecer.

Nossa missão pode visar a satisfação dos prazeres, do corpo ou da mente.

Nossa missão pode ser ganhar dinheiro, cada vez mais, mas pode ser ganhar e compartilhar.

Nossa missão deve ser primeiramente uma vida íntegra, de modo que as pessoas nos vejam e queiram ser como nós somos porque nós queremos ser como Jesus.

Nossa missão é viver missionariamente, indo por todo o mundo e sendo aquilo que Jesus nos pediu para fazer.

Nossa missão é ser sacerdote em nossa casa, pastoreando nossa família.

Nossa missão é nos importar com os necessitados e nos envolver na satisfação de suas carências.

Nossa missão acontece do outro lado da rua.

Nossa missão se realiza no porto ou no aeroporto, onde pessoas que nunca ouviram falar de Jesus passam todos os dias.

Nossa missão vai ao cemitério onde adeuses por vezes desesperados são dados pela falta da esperança que podemos anunciar.

Nossa missão está no cárcere onde a liberdade verdadeira, pelo conhecimento de Jesus, pode ser alcançada, mesmo que as grades visíveis continuem fechadas.

Nossa missão é a criança sem lar ou o idoso num lar que os abrigue, quando os seus de origem não mais os acolhem.

Nossa missão é a política, pelo voto consciente ou pelo exercício de uma vocação partidária.

Nossa missão é o trabalho, lugar de realização, lugar de autossustento, lugar de testemunho, lugar onde o sal é necessário e a luz precisa brilhar. 

Só uma vida missionária pode ser chamada de vida. As outras formas de viver podem fazer o mundo se curvar aos nossos pés, mas teremos perdido o principal: nossa alma. A alma de nossa vida é a obediência ao chamado de Jesus, que pode ser especial para alguns, mas começa universal para todos. 

Nossa vida missionária precisa que nossos olhos estejam fitos no Deus Pai, que nos envia; em Jesus Cristo, o primeiro dos missionários, e no Espírito Santo, que nos fortalece para uma obra que é para a vida toda, porque é a nossa vida toda.

 

Missionário é quem atravessa a rua para anunciar a paz.

Missionário é quem no amor real para com o próximo se satisfaz

Missionário é quem segue a pé ou pega uma bicicleta, uma moto, uma charrete, um automóvel, um barco, um avião para levar a paz na mochila, na mala, na mão.

Missionário é quem, tendo Jesus como Senhor, compartilha a graça que recebeu e pela qual trilha.

Missionário é quem não aceita que viva como lixo na rua ou na margem o seu irmão.

Missionário é quem respeita o credo do outro mas o seu amorosamente compartilha.

Missionário é quem sai do seu conforto e, para estar ao lado do outro e lhe cantar a paz, dorme no chão.

Missionário é quem, não podendo ir, entrega seu dinheiro para possibilitar que outros levem longe a palavra que salva, o remédio que cura ou o mesmo o pão.

 

Ser missionário é para quem tem não apenas nome, mas alma de cristão.

Cristão é quem crê em Jesus Cristo está a grande e completa Salvação.

Cristão é quem faz o que Jesus fez ao desenvolver aqui a sua missão.

Cristão é quem ama quem o ama e ama até o que lhe dá indiferença ou rejeição.

 

Missionário é quem ouve o grito dos perdidos e dos excluídos com emoção.

Missionário é quem anuncia a paz como uma forma de gratidão.

 

 

A MISSÃO DE CADA UM

 

Nem todos leram José Ortega y Gasset:

“Sem missão não há homem”.

 

Aprendi com dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), então arcebispo de São Paulo. Numa entrevista a “O Pasquim”, foi perguntado sobre como conseguia se manter firme em sua luta, apesar da oposição e perseguição do governo federal.

Ele respondeu que prosseguia porque era a sua missão e isto dava sentido à sua vida. 

Diferentemente, para muitas pessoas, o sentido da vida está na comida, na bebida e na diversão. O trabalho é apenas a fonte dos recursos para os prazeres.

Esta filosofia de vida acompanha o ser humano desde muito cedo. O profeta Isaías, há 26 séculos, convivia com esta filosofia (Isaías 22.13).

Pode ser outra a nossa crença sobre a vida. Viver pode ser mais que comer, beber e brincar. 

A vida é mais quando é missionária: a vida é realmente vida quando vivida na perspectiva da missão, como a da paternidade. Para os pais, vale a pena tirar prazer do suor do trabalho para criar bem seus filhos ou mesmo para lhes deixar bens. A paternidade é uma respeitável missão. Felizes são os que a levam a sério.

A vida mais excelente está mais além: está no amor que não espera retorno, senão o retorno do amor em si mesmo, se é que se lhe pode chamar de retorno.

Viver de modo excelente é envolver-se em sentimentos e gestos que tornam dignas vidas postas abaixo da dignidade.

A vida indigna de muitos serve a interesses de poucos poderosos, aos quais é preciso enfrentar, o que implica em pagar um preço (1Coríntios 25.32).

Enfrentando altruisticamente esses interesses ou afundando-nos no egoísmo, morreremos.

Nossa morte será digna se a nossa vida tiver sido digna. Uma vida digna é uma vida missionária. Afinal, “o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo”. (Romanos 14.17)

 

 

 

 

 

 

 

QUANDO ACABAR

 

Nenhum de nós está a salvo de uma tragédia que nos obrigue a nos equilibrar entre a vida e a morte.

Sob os cuidados dos médicos, nossos familiares poderão agir e orar por nós, mas nós nada poderemos fazer, senão esperar, se tivermos consciência.

Enquanto seguimos nosso itinerário, feito de trabalho e amor, de graça e esforço, há uma pergunta a considerar: embora tenhamos muito ainda a realizar, se a nossa jornada se encerrar agora podemos dizer que valeu a pena?

Para que a nossa vida valha a pena, seja breve ou longa, tem que ser intensa. A intensidade se realiza, não  multiplicidade de tarefas, mas na boa gestão do nosso tempo, porque sabemos que é curta a duração de nossos dias.

Para que a nossa vida valha a pena, por muitas que sejam as atividades, tem que ser profunda, distante de tagarelices e frivolidades, mesmo que divertidas. Uma vida profunda é parte de um projeto maior.

Para que a nossa vida valha a pena, por sedutoras que sejam as tentações, tem que ser verdadeira. Se o livro da nossa vida precisar ser aberto, não haverá sequer um capítulo capaz de surpreender negativamente. Quanto ao nossos erros, deles já nos arrependemos.

Para que a nossa vida valha a pena, muitos sendo os empreendimentos, tem que ser missionária, isto é, voltada para tornar melhores as vidas dos outros.

Temos que ouvir o apóstolo Paulo se despedindo dos seus irmãos antes de uma viagem sem volta:

 

“Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, desde que eu complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus”.

 (Atos 20.24a)

 

 

EM RESUMO, TUDO PASSA PELA MISSÃO 

 

Uma vida sem missão é uma vida sem sentido.

Nossa vida é nossa missão. É servindo como Jesus serviu que encontramos sentido em nossa existência.

O sentido da vida não está nas coisas que fazemos, mas no sentido que damos a essas coisas.
O sentido da vida é servir. O resto é vida vazia (Eclesiastes 12.8). É correr atrás do vento (Eclesiastes 1.14) 

O sentido da nossa vida não é a religião, não é a solidariedade, não é a eficiência, não é a fidelidade, não é a produtividade, não é o compromisso com a verdade, não é a capacidade de sofrer pelo outro, mas as motivações com que desenvolvemos todas estas ótimas atitudes (Apocalipse 2.1-7).

Podemos ser religiosos por causa do prêmio e desistiremos. Podemos ser solidários em busca dos aplausos, mas serão poucos. Podemos ser eficientes, até adoecer. Podemos ser produtivos, mas um dia nos cansaremos. Podemos amar a verdade e ela poderá nos levar a deixar de amar as pessoas. Podemos sofrer, mas poderemos desanimar.

O que torna prazerosa e permanente a nossa dedicação é a razão por que fazemos o que fazemos. Se sabemos por que fazemos, vale a pena fazer.

Quando vier o cansaço, descansaremos e continuaremos.

Quando nos alcançar o desânimo, olharemos para a frente e prosseguiremos.

Quando crescerem as críticas, rejeitaremos as falsas, prestaremos atenção às corretas e seguiremos em frente.

Se ficarmos doentes, buscaremos a cura, para avançar.

Se nos desviarmos da rota, voltaremos ao primeiro amor (Apocalipse 2.4).

Tendo o sentido da missão, temos o mais importante.

Sem o sentido do alvo, para onde lançamos nossas flechas?

 

Como resumiu Ralph Waldo Emerson, “a realização máxima de uma pessoa é ter um propósito para seu emprego ou felicidade, seja fazer cestas, espadas, canais, estátuas ou canções".

Que proveito você tem de todo o seu trabalho, se não realizar sua missão e se realizar nela.

Se é assim, qual é a sua missão?

Se a tem, prossiga nela.

Se não a tem, envisione-a.

Com a missão adiante de nós, nosso trabalho não é vão (1Coríntios 15.58)

Sem dela, é correr é apenas fadiga de quem corre atrás do vento.

 

Israel Belo de Azevedo