Editora diz que “Feridos em nome de Deus” é para tirar os bandidos do meio evangélico

Claudinei Franzini é um dos gerentes gerais da editora Mundo Cristão, sediada em São Paulo e que acaba de publicar o livro “Feridos em nome de Deus”, uma longa reportagem em que Marília de Camargo César levanta os abusos cometidos por pastores. Nesta entrevista, em linguagem direta e provocativa, ele fala da reação ao livro.

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PRAZER DA PALAVRA — Como estão as vendas de “Feridos em nome de Deus”?
CLAUDINEI FRANZINI — A primeira edição de 5 mil esgotou-se em 48 horas. A expectativa era grande a ponto de acabar sem que tivéssemos tempo de atender a demanda naquele momento.

PRAZER — O sucesso do livro surpreendeu a editora MC?
FRANZINI — Sem dúvida foi algo imprevisível. Nós sabíamos que o livro teria impacto e que as pessoas gostariam de ler o texto. Por essa razão, três dias antes da chegada do livro na editora, nós já havíamos encomendado mais 7 mil cópias. Ainda assim, nós imaginamos que seria mais lenta a venda do material.

PRAZER — Que reações o livro enfrentou sobretudo entre as lideranças evangélicas?
FRANZINI — Acreditamos que a maioria dos nossos líderes evangélicos é “sangue” bom e daí a gente sabia que receberia muito apoio, como realmente vem acontecendo. Contudo, é notório como o livro causou indignação em muitos líderes. Nós identificamos três grupos entre os que se manifestaram:
Os primeiros foram aqueles que apoiaram o texto porque têm recebido gente ferida em suas igrejas. Para esses, o livro vem como apoio ao seu ministério e irá ajudar as pessoas.
Os segundos são os centralizadores, manipuladores e gente que se identificou no perfil mencionado pela autora. Esses ficaram furiosos porque o livro é o espelho deles.
O terceiro grupo é formado por aqueles que não leram e não lerão o livro, mas estão preocupados porque estamos “manchando” a imagem da igreja. A esses posso atribuir a codinome de hipócritas, porque eles também ajudam a manchar a igreja do Senhor diante da sociedade sempre que se calam em nome da boa vizinhança e do pseudotestemunho cristão.

PRAZER — Vocês tiveram alguma duvida em publicar o livro, temendo as reações?
FRANZINI — Dúvida em nenhum momento. Fomos nós quem incentivamos a autora a dar prosseguimento na obra. Contudo, sempre há uma preocupação natural com todos os leitores que apreciam a boa leitura que a editora Mundo Cristão publica. Isso já havia ocorrido também com os livros do Pr Paulo Romeiro e até com a obra “O Livro de Deus – A Bíblia Romanceada”. Mas não passa de zelo, cuidado com nossos leitores.

PRAZER — Ao exporem parte das vísceras evangélicas, vocês não se sentiram “entregando o ouro ao bandido”?
FRANZINI — De forma alguma. Na verdade o bandido já está com o ouro em mãos há muito tempo, principalmente quando pensamos que os abusos em nome de Deus vêm acontecendo em todos os âmbitos da sociedade religiosa mundial. Lembremos o grande número de acordos que a igreja católica vem fazendo nos EUA e outras regiões do mundo por conta da pedofilia do clero, que não deixa de ser uma ação criminosa em nome de Deus. Sabemos que nossa igreja está infestada de casos de abusos sexuais e espirituais. Em nome de quem agem tais pessoas? Alguém tem de denunciar essa atrocidade que ocorre em nossos dias e aí eu vejo o verdadeiro papel dos meios de comunicação em denunciar os contraventores da ordem e do bem coletivo. O que fizemos não tem a ver com entregar o ouro ao bandido e sim uma tentativa de tirar os bandidos do nosso meio.

PRAZER — Há outros títulos nesta área (jornalismo investigativo ou de denúncia) planejados. Quais e para quando?
FRANZINI — Sim. É característica da editora Mundo Cristão convidar os seus leitores à reflexão séria e construtiva por meio de suas publicações. Foi assim com o “Super-Crentes”, com “Evangélicos em Crise”, “É proibido”, etc. No forno temos o livro do Paulo Brabo, “Bacias da Alma – confissões de um ex-dependente de igreja”, muito reflexivo sobre o papel real do clero e da comunidade cristã. Outro que promete ser instigante ao bom senso está sendo escrito pelo Nelson Bomilcar, com o título de “Os Sem Igreja”, que talvez saia ainda esse ano. Temos mais um nessa linha, previsto para o primeiro semestre de 2010, escrito Pr Paulo Romeiro, mas eu não posso revelar o tema ainda.

PRAZER — O texto de Marília é uma prova que autor nacional vende?
FRANZINI — A Mundo Cristão tem acertado em seus lançamentos. Seja nacional ou internacional, nossas publicações precisam ter previsão de vendas superiores a 20 mil no primeiro ano do lançamento. Independe se é brasileiro ou estrangeiro, se o livro tem conteúdo bom, teologia saudável e não comprometedora e promete causar impacto na vida de quem o lerá, nós publicamos. Com isso, nós podemos dizer que a questão está mais relacionada ao preço pelo qual o produto será vendido e pelo tema abordado. A partir do momento que passamos a oferecer produtos altamente relevantes para as pessoas e com preço que elas possam pagar, nossa distribuição teve um salto significativo. Aliás, detesto ouvir a frase: brasileiro não lê. Na verdade brasileiro lê e muito, quando pode comprar o livro desejado.

REPRODUÇÃO — Autorizamos a reprodução deste conteúdo com a condição que seja citada a fonte nos seguintes termos: Reproduzido do site PRAZER DA PALAVRA, de Israel Belo de Azevedo, que pode ser ser acessado em www.prazerdapalavra.com.br.