As 7 palavras da cruz

AS 7 PALAVRAS DA CRUZ

Por

Israel Belo de Azevedo

1

A primeira palavra da cruz

“O perdão é a forma final do amor”.

(Reinhold Niebuhr, 1892-1971)

Na cruz, Jesus proferiu sete profundas frases.

A primeira foi:

— Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.

(Lucas 23.34)

E não foi por acaso que Ele colocou como primeiro item da pauta o perdão. Não foi a primeira vez que perdoou.

O perdão foi a primeira disposição de Jesus na cruz. As seis frases seguintes articulam-se com a primeira.

O que não tinha erro perdoou.

O magoado decidiu não morrer magoado.

O escarnecido perdoou.

O linchado perdoou.

O crucificado perdoou.

Jesus, com sua primeira frase quando agonizava na cruz, nos ensina que a nossa felicidade depende de nossa disposição em perdoar. É por isto que a Bíblia está cheia de “perdoe”.

O perdão foi essencial na missão de Jesus. Que o digam Simão Pedro e Judas Iscariotes. O perdão tem que ser essencial na nossa vida.

O perdão nos torna semelhantes ao Deus Eterno, que é bom e perdoador (Salmo 86.5).

O perdão permite a reconciliação, de que tanto precisamos.

Nossa amizade com o Deus Eterno começou quando Ele nos perdoou (1João 1.9).

Perdoe. Ainda dá tempo. Sempre é tempo.

“Suportem-se uns aos outros e perdoem-se mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem também uns aos outros”.

(Colossenses 3.13)

2

A segunda palavra da cruz

“Uma fé pequena leva as almas até o céu, mas uma grande fé traz o céu até as almas”.

(Charles Spurgeon, 1834-1892)

Jesus foi crucificado junto com dois criminosos, cujos nomes e crimes não são fornecidos.

O criminoso número 1 descarregou sua fúria verbal, desprezando e debochando de Jesus.

O criminoso número 2, que chamou Jesus pelo nome, tinha uma correta visão sobre si mesmo e sobre os condenados.

Por suas palavras, podemos supor que compartilhava a expectativa do seu povo sobre o Messias que haveria de vir e imaginar que, tendo ouvido a primeira frase de Jesus (“Pai, perdoa-lhes”), arrependeu-se da vida até então levada e se sentiu incluído na lista dos perdoados.

Jesus nada disse ao arrogante e debochado criminoso número 1, mas ao segundo garantiu que naquele mesmo dia, na hora em que morressem, estariam juntos no céu.

A resposta de Jesus mostra que Ele ouve as nossas orações, mesmo que contenham erros. Afinal, não sabemos mesmo orar como convém (Romanos 8.26)

A promessa particular ao segundo criminoso faz parte da promessa geral feita a todos os que aceitam o perdão que oferece. A salvação é imediata. O céu imediato. É Jesus quem nos garante.

“Jesus respondeu:

— Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu já lhes teria dito. Pois vou preparar um lugar para vocês”.

(João 14.2)

3

A terceira palavra da cruz

“Jesus Cristo não é o problema. Ele é a solução para todos os problemas na vida, na morte e para a eternidade”.

(Harry Ironside, 1876-1951)

Quando morreu, Jesus tinha no mínimo 33 anos de idade e, no máximo, 38.

Maria, sua mãe, estava na casa dos 50 anos, considerada idosa naquela época.

Jesus tinha outros irmãos e irmãs, mas Ele era o mais velho. Tinha responsabilidades. Perto de ser “cortado da terra dos viventes” (Isaías 53.8), Ele se preocupou com a sua mãe.

Como seus irmãos não acreditavam que fosse o Messias (João 7.5), Jesus entendeu que deveria confiar o cuidado de sua mãe ao seu amigo João, tão jovem quanto Ele.

Então disse à mãe:

— Mulher, eis aí o seu filho.

E depois ao amigo:

— Eis aí a sua mãe.

(João 19.26-27)

É impressionante como Jesus mantém a serenidade. Padecendo o suficiente para pensar apenas em si mesmo, Ele pensou em sua mãe, quando uma espada lhe despedaçava a alma (Lucas 2.35) e pensava em João, que também chorou.

A resposta de Jesus nos inspira a manter nossos compromissos, mesmo que as circunstâncias mudem.

A atitude de João, ao aceitar a tarefa, nos convida a estar prontos para ajudar o próximo, mesmo quando nos custa, pouco ou muito.

“Honre o seu pai e a sua mãe, para que você tenha uma longa vida na terra que o SENHOR, seu Deus, lhe dá”.

(Êxodo 20.12)

***

4

A quarta palavra da cruz

“Sempre e em todos os lugares Deus está presente e sempre procura se revelar a cada um de nós”.

(A.W. Tozer, 1897-1963)

Seis horas depois do início da sua agonia na cruz, Jesus faz uma oração tão pungente que a profere em aramaico, a língua da sua alma, embora falasse também hebraico e grego.

Ele grita:

— Eli, Eli, lemá sabactani?

(Mateus 27.46)

A frase tirada do Salmo 22 significa: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”

Seus ouvintes acharam que, no desespero, Ele pedia socorro ao profeta Elias, que vivera nove séculos antes.

A frase nos desconcerta.

Ele viveu como um ser humano mas nos perturba vê-lo indignado (João 2.15), chorando (João 11.35) ou suando sangue (Lucas 22.44).

Jesus não é humano nem divino pela metade. É por inteiro humano e divino. E isto está muito além de nosso entendimento.

Sua fala é de quem sofre, mas confia. E ela nos ensina.

Podemos abrir nosso coração diante do compassivo e compreensivo Deus Eterno, que não se entristece diante de nossa autenticidade. Se não for sincera a nossa oração, não será uma oração.

Como Jesus, também podemos nos sentir abandonados, mas não o somos. Deus nunca nos desampara.

“Somos perseguidos, porém não abandonados; somos derrubados, porém não destruídos”.

(2Coríntios 4.9)

***

5

A quinta palavra da cruz

“O homem deve saber que só sendo vulnerável pode verdadeiramente oferecer e aceitar amor”.

(Leo Buscaglia, 1924-1998)

O evangelista sintetiza o drama:

“Vendo Jesus que tudo já estava consumado, para que se cumprisse a Escritura, disse:

— Tenho sede!”

(João 19.28)

O sacrifício do Messias estava a ponto de fazer sentido. Não era um cordeiro do tipo que era morto a cada pecado humano. Era o Deus-homem morto uma única fez, não por si, mas por nós e para nós.

O Jesus-Deus, que sabe que tinha feito tudo o precisava fazer,  é o mesmo Jesus-homem que tem as mesmas necessidades de cada um de nós.

Enfraquecido ao extremo, Jesus admite sua condição e pede água para sobreviver. Recebe vinagre, como forma de desprezo.

A desidratação é uma experiência-limite; a sede mata.

Podemos passar também por experiências-limites: dor extrema, como prenunciando a nossa morte; solidão completa, indicando o nosso desespero; fome absoluta, semeando o fim; sede total, o limite do limite.

Quando omitimos nossa fragilidade, não podemos ser ajudados.

Talvez abusem de nossa vulnerabilidade, oferecendo-nos vinagre. Talvez nos ajudem, dando-nos um copo de água.

A autenticidade é sempre a nossa melhor escolha.

“Por isso, sinto prazer nas fraquezas, nos insultos, nas privações, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte”.

(2Coríntios 12.10)

***

6

A sexta palavra da cruz

“O prêmio de uma boa ação é tê-la praticado”.

(Sêneca, 4 a.C.-65 d.C.)

Exaurido, Jesus disse:

— Está consumado (João 19.30).

O Crucificado entendeu que tinha feito o que se propusera a fazer.

Quando o homem se afastou de Deus, ficou decidido no céu que, em algum momento da história, um dos Três viria à terra e demonstraria de modo definitivo ao ser humano o quanto era amado.

Por isso, Jesus veio. Veio para viver. Veio para ensinar. Veio para morrer. Veio por amar.

O plano não era conhecido dos homens. Assim, Jesus foi aceito livremente por uns. Logo, livremente Jesus foi rejeitado por outros.

O plano era perfeito porque não dependia do homem, que não pode se salvar a si mesmo.

O plano era perfeito porque era uma oferta graciosa, contendo um maravilhoso convite para a vida, mas deixando o homem livre para escolher.

O plano perfeito foi perfeitamente consumado.

Ao nos oferecer a salvação, Jesus nos mostra que tinha um plano. Viveu e morreu feliz porque, tendo um plano, cumpriu-o.

Se queremos ser felizes, precisamos de um plano, tê-lo claro para nós e nos empenhar para o consumar.

“Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; que o teu bom Espírito me guie por terreno plano”.

(Salmo 143.10)

***

7

A sétima palavra da cruz

“A crucificação de Jesus foi a chocante resposta à oração para que o reino de Deus viesse à terra como no céu”.

(N. T. Wright, 1948-*)

Com minha voz no máximo,

Apesar do som, por me faltar vigor,

estar mínimo,

Eu oro, nossa amizade ainda maior:

Nas tuas mãos entrego a minha vida,

Para que tua mão, em forma de asa,

Me leve de volta para a nossa casa.

A vida que me deste na história vivida

Agora te devolvo.

Era mesmo tua.

Ensinei, perdoei, vivi,

Pouco na igreja, muito na rua.

Agora morro.

Nosso plano cumpri.

Sofri.

Filhos no corpo não gerei,

Só no espaço larguíssimo da alma.

Amor-Eros não experimentei.

Amor-Agape distribuí.

Amor-Filia também compartilhei.

Por um pouco, não mais que segundos, sabemos,

A morte parecerá vitoriosa.

Pararei de respirar,

Tu me tomarás para levar

Para além do que se pode ver.

Por um pouco a noite me envolverá

Até que nos encontremos na manhã definitiva e radiosa

Onde tarde, noite, pranto não entrará.

Um pouco dessa beleza magistral mostraremos

Quando me forem procurar

Na casa que não é minha,

Não é minha a casa de José.

Não ficarei deitado

Num túmulo, mas num toldo magnífico, em pé,

Por todos os nossos amigos esperaremos.

“Então Jesus clamou em alta voz:

— Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito!

E, dito isto, expirou”.

(Lucas 23.46)

Israel Belo de Azevedo