PARANDO NO ESTALEIRO
Filipenses 3.13-14
1. OS TRÊS ESTÁGIOS DA VIDA CRISTÃ
A vida cristã é uma caminhada de três estágios: salvação, santificação e glorificacao.
1. A salvação é um processo pelo qual Deus em Jesus nos conquista, perdoando-nos os pecados e nos concedendo a paz que consiste no acesso livre à presença do Pai Eterno. Nós não nos salvamos: nós somos salvos. Por isto, o apóstolo Paulo insiste que a salvação é um oferecimento gratuito de Deus em Jesus Cristo (Efésios 2.8 — 8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus) e que a nossa salvação foi uma conquista de Jesus; isto é, ao morrer na cruz e nos perdoar, Ele nos conquistou para o seu Reino, resgatando-nos do reino onde não há luz
Nossa participação consiste em nos deixarmos ser conquistados. Há diferentes tipos de resistência a esta conquista.
Uns resistem porque não acham justo não terem que fazer nada para serem salvos; é-lhes inaceitável que Jesus já os tenha justificado. Segundo a lógica humana, esta objeção é irrespondível. No entanto, se o amor humano não tem lógica, muito menos lógica tem o amor divino. Ao nos ver assim, afastados da glória que projetou para nós, Ele interveio para nos salvar.
Outros resistem porque querem submeter sua experiência ao canon da razão, esquecidos que é sempre legítima, mas sempre incompleta. Desde os gregos, com suas elevadas percepções filosóficas, a razão vem sendo entronizada, chegando a uma construção muito sólida a partir do século 17, que levou o homem a acreditar na construção de uma nova sociedade. A razão, no entanto, não tem impedido o florescimento da miséria e da violência, da cobiça e da guerra, como se estas fossem os frutos da lógica humana. A razão é linda, mas não torna a vida de ninguém feliz, porque não leva ninguém a amar.
Outros resistem porque têm algum compromisso com o seu passado, seja com uma tradição ou com a sua família, tempo em que aprenderam verdades diferentes, segundo as quais, por exemplo, a que há mediadores entre Deus e homens e que o esforço humano, por meio das obras, é indispensável, entre outros ensinos. Em lugar de ler o Novo Testamento com sua fulgurante simplicidade, essas pessoas preferem seguir fábulas.
Outros resistem porque têm medo de firmar um compromisso, esquecidos do preço que Jesus pagou por eles, a própria vida.
Outros resistem porque acham que estão bem e que não precisam de salvação, mesmo porque não estão perdidos. Estes contentes não parecem ter alma, parecem não ter fome e sede de uma vida que ultrapasse o aqui e agora, por mais radiante que pareça.
Para todos estes, o convite salvador é o mesmo”, vinda da boca de Jesus: “Venham a mim, todos”e “Venham a mim. Sejam meus seguidores e aprendam comigo ( (Mateus 11.28-29, partes) e “Arrependam-se dos seus pecados e creiam no Evangelho” (Marcos 1.15).
2. A santificação é um processo pelo qual Deus vai nos aperfeiçoando. Antes da salvação, éramos como esqueletos num vale de ossos (Ezequiel 37), mortos que estávamos em nossos erros (Efésios 2.5). Desde então há uma imensa operação a ser feita pelo Espírito Santo em nós. Trata-se do processo da santificação.
Diante desta ação do Espírito Santo, cabe-nos convidá-lo para conduzir este processo, feito de avanços, pela ação do Espírito, retrocessos, por nossa causa, e avanços, pela ação do Espírito. Assim como não somos salvos, também não nos santificamos. Fomos salvos. Estamos sendo santificados.
3. A glorificação acontecerá após a chamada final, para recebermos o prêmio da soberana vocação. Em certo sentido, este é o alvo maior de nossas vidas, porque se trata de um prêmio sem prazo de validade. O Novo Testamento chama a este prêmio de coroa da justiça (2 Timóteo 4:8 — Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda), coroa de glória (1 Pedro 5:4 — Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória) e coroa da vida (Tiago 1:12 — Bem-aventurado o homem que suporta, com perseverança, a provação; porque, depois de ter sido aprovado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam. / Apocalipse 2:10 — Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida).
Os cristãos vivemos entre a salvação e a glorificação. É o tempo da santificação, em que marcha rumo à maturidade.
2. NOSSO NAVIO NAVEGA
Neste tempo, nossa vida pode ser comparada a um navio.
Mesmo quem não entende de náutica pode observar os navios nos estaleiros. Periodicamente, os navios precisam ser conduzidos aos estaleiros.
Nesses lugares, a superfície externa do casco é reparada, por meio da remoção de incrustantes que a ele se agregam e reduzem o rendimento da propulsão.
Outras alterações são feitas, como a recuperação ou troca de elementos estruturais comprometidos pelo processo de corrosão; a recuperação do sistema de fundeio e ancoragem do navio, formado pelas amarras e pela âncora, e a recuperação do sistema de manobra do navio.
Como os navios, permitimos que nossas vidas sejam corroídas por diversos fatores. Como os navios, perdemos a capacidade de ancorar, deixando-nos para todos os lados. Como os navios, deixamos que o nosso sistema de manobra fique comprometido, senão avariado.
Detenhamo-nos no processo de incrustação.
A vida cristã, entre a salvação e a glorificação, tem muito a ver com os navios, especialmente à nossa capacidade de nos deixarmos incrustar. Como os navios, ao longo da nossa experiência, nossas vidas vão acumulando inscrustantes. Nos navios, o resultado é uma redução na velocidade, em função do atrito com a água, e o aumento do peso a ser transportado, peso, neste caso, sem nenhuma função.
Nas vidas dos navios e nas nossas, os incrustantes são inevitáveis. Não há como um navio não ser encrustado. Por isto, ele tem que ser conduzido ao estaleiro. Depois, é liberado para voltar aos mares. Não há como uma vida não receber incrustantes. Por isto, também devemos entrar no estaleiro para sermos espiritualmente docados, que nos habilita a dar o fruto do Espírito.
A docagem faz parte do nosso processo de amadurecimento, não do envelhecimento. Quando somos docados, somos recapacitados para viver. Quando não docados, apenas envelhecemos.
Cada um de nós tem os seus incrustantes.
. hábitos pecaminosos e não confessados, logo não superados
. magoas acumulados, por razões legítimas ou não
[Desenvolver]
Precisamos confessar os nossos pecados. — Mas, se confessarmos os nossos pecados a Deus, ele cumprirá a sua promessa e fará o que é certo: Ele perdoará os nossos pecados e nos limpará de toda maldade. (1João 1.9)
Precisamos crer em Deus, não em nossas memórias.
Somos beneficiados quando esquecemos nossos próprios erros passados e dos erros passados dos outros para conosco. Há benefícios em esquecer o passado, não em recordá-lo, exceto em poucas circunstâncias. Esquecer as coisas do passado nos libera da escravidão deles.
3. PROSSEGUINDO EM NOSSO PROPÓSITO
Esses incrustantes têm que ser retirados das nossas vidas e lançados no fundo do mar.
O apóstolo Paulo nos ajuda no entendimento deste processo espiritual.
[TEXTO BÍBLICO]
[Filipenses 3.12b-14]
Prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, [a fim de ganhar] para o prêmio da soberana vocação [chamado celestial — NVI] de Deus em Cristo Jesus.
O apóstolo parte de dois pressupostos: o primeiro é que os cristãos fomos conquistados por Cristo Jesus. De posse desse tesouro, os cristãos devemos nos submeter ao processo de amadurecimento, como parte de nossa santificação. O segundo pressuposto é que os cristãos temos um alvo, que é ganhar o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus; isto é, quando, ao final da jornada humana, Deus começar a chamar aqueles que vão receber a coroa que preparou, nossos nomes serão mencionados. Só ali termina a luta e começa a eternidade plena.
Para alcançar o prêmio, precisamos deixar para trás o que deve ser deixado para trás. Precisamos nos livrar de nossos incrustantes.
O que deixar para trás? O que tirar no estaleiro espiritual?
. Para quem não foi salvo, a resistência a aceitar a redenção que Jesus oferece.
. Para quem foi salvo, a perda da alegria da salvação, que é o poder de Deus sobre as nossas vidas. Não podemos esquecer que fomos salvos porque fomos chamados diretamente do céu (soberana, celestial chamada).
. Para os cristãos, em geral, toda produção da natureza humana, que são bem conhecidas, sendo elas a imoralidade sexual, a impureza, as ações indecentes, a adoração de ídolos, as feitiçarias, as inimizades, as brigas, as ciumeiras, os acessos de raiva, a ambição egoísta, a desunião, as divisões, as invejas, as bebedeiras, as farras e outras coisas parecidas com essas. Repito o que já disse: Os que fazem essas coisas não receberão o Reino de Deus (Gálatas 5.19-21). Isto é, não receberão o prêmio de serem chamados por Cristo no julgamento final.
CONCLUSÃO
Uma vida feliz é uma vida com propósito.
Há muitas coisas a nos desviar de nossos propósitos.
1 Coríntios 9:25 Todo atleta que está treinando agüenta exercícios duros porque quer receber uma coroa de folhas de louro, uma coroa que, aliás, não dura muito. Mas nós queremos receber uma coroa que dura para sempre.
Uma pessoa madura é aquela que considera que há uma vida ainda mais frutifera a ser vivida.