Mensagem sobre risco do cigarro tem impacto no fumante
Fernanda Marques (Agência Fiocruz)
A lei antifumo – que acaba de entrar em vigor no Estado de São Paulo e busca eliminar o uso do cigarro em ambientes coletivos, públicos e privados – reacendeu, em todo o país, os debates sobre os malefícios causados pelo tabaco. Segundo os pesquisadores André Szklo, do Instituto Nacional do Câncer (Inca), e Evandro Coutinho, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), ambos no Rio de Janeiro, “é importante incentivar os fumantes a adquirir algum nível de percepção do risco associado ao seu comportamento atual, para motivá-los a parar de fumar”. Szklo e Coutinho investigaram em que medida o apelo ao medo contido em algumas campanhas governamentais antifumo – o que inclui, por exemplo, imagens de pessoas doentes nos maços – pode impactar o fumante, isto é, afetar sua vulnerabilidade, expressa pela percepção que ele tem da própria saúde.
O estudo – publicado no periódico Cadernos de Saúde Pública – teve como alvo cerca de 4 mil indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos que moravam em Brasília e em 17 capitais de estados brasileiros, em 2002, fumavam diariamente e já haviam consumido ao longo da vida, pelo menos, 100 cigarros. A análise dos questionários respondidos por esses indivíduos revelou que nove em cada dez consumiam até 20 cigarros por dia; um em cada cinco também abusava do álcool; e um em cada três considerava sua saúde razoável ou ruim. Ademais, “a proporção de fumantes com percepção de saúde autorreferida regular ou ruim foi 25% maior entre aqueles que fumavam mais de 20 cigarros por dia, quando comparados aos que consumiam até 20 cigarros por dia”, dizem Szklo e Coutinho no artigo.
Os pesquisadores avaliaram também a opinião dos participantes sobre as imagens associadas à falta de fôlego e à dependência usadas, à época, como alerta pelo Programa Nacional de Controle do Tabaco. Os fumantes, sobretudo os que consumiam mais cigarros por dia, independentemente da percepção que eles tinham dos seus estados de saúde, concordaram que aquelas encorajavam as pessoas a pararem de fumar. “Mensagens antifumo voltadas para perdas em curto prazo parecem ter aumentado a conscientização dos fumantes mais dependentes em relação às suas próprias vulnerabilidades”, sugerem os autores. De acordo com o artigo, tal resultado reforça o fato de que o “processo completo de parar de fumar costuma não ser imediato”. Muitas vezes, o fumante que se julga saudável tende a se considerar imune aos riscos, identificando, contudo, a importância das mensagens de alerta para outros fumantes. “Posteriormente, quanto mais os indivíduos tomam consciência de que são suscetíveis a riscos sérios em curto prazo, mais eles interiorizam as mensagens de apelo ao medo e de perdas associadas ao tabagismo contidas na campanha”, afirmam os autores.