Mateus 8.1-4: O PODER DE JESUS

O PODER DE JESUS
Mateus 8.1-4
Pregado na Igreja Batista Itacuruçá, em 1.12.2002 (manhã).

Jesus é uma personagem fascinante, mesmo para quem não o vê como Deus encarnado para salvar a todo aquele que nEle crer. Jesus é maior do que o que está nos Evangelhos, mas o Jesus que está nos Evangelhos é suficiente para transformar vidas miseráveis em vidas viçosas, oferecendo sentido a vidas vazias de propósito, paz e plenitude.
As pessoas que conviveram com Ele e se deixaram tocar por Ele experimentaram-nO como Salvador, Libertador, Senhor, que é como devemos experimentá-lO sempre. Este é o Jesus que salta das páginas do Evangelho.

1. Desde sua Encarnação, continua o interesse por Jesus (verso 1)
Ao longo da história, grandes multidões, massas mesmo, têm-se interessado por Jesus. Até hoje se nota este interesse, o que não significa, infelizmente, um compromisso por segui-lO, com todos os onus e bonus deste seguimento.

Nos Seus dias e nos nossos, uns O seguem pelo entusiasmo provocado diante do Seu fascinante ensino. Se varrermos a antiguidade, a modernidade ou contemporaneidade, não encontraremos mestre como Jesus. Seus contemporâneos reconheciam que Suas palavras eram proferidas com a autoridade de quem dizia: "eu, porém, vos digo". Sua autoridade vinha de Sua natureza (Ele era Deus), de Sua coerência (não havia distância — ah! essa nossa grande dificuldade — entre o que Ele vivia e o que Ele pregava) e da conseqüência prática das Suas propostas (porque eram palavras que produziam e produzem transbordância).

Nos Seus dias e nos nossos, uns O seguem porque querem ser salvos e querem se comprometer com Ele. Muitos têm aprendido que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Salvos são aqueles que experimentar o Seu jugo, que é leve e suave, e descobriram que vale a pena, muito especialmente por Sua companhia ainda conosco, conforme a Sua promessa de que nos acompanharia até à consumação dos séculos.
Ilustro a dimensão da companhia com uma experiência real. Um homem, crente em Jesus, entrou literalmente em desespero quando achou ter perdido um documento de grande valor e cujo extravio não poderia ser reparado de modo algum. Ele procurou este documento em sua casa, nos lugares onde esteve, convivendo com duas angústias: a de não saber se tinha realmente perdido o documento e de achar o documento em lugar algum. Foi, então, que resolveu voltar para sua casa, ainda agitado. No caminho, sem explicação, veio-lhe a mente e aos lábios aquela canção que nos chama a agradecer a Jesus por tudo o que nos tem feito. Ele simplesmente não acreditou no que lhe acontecia, mas não reprimiu o canto, embora ainda desconfiado. Então, chegou em casa, onde descobriu que o documento não se perderã. Ele entendeu que era Jesus confortando o seu desnecessariamente agitado coração.

Nos Seus dias e nos nossos, uns o seguem em busca de benefícios imediatos, como o leproso da historia narrada pelo evangelista Mateus.

[TEXTO BÍBLICO]
(Mateus 8.1-4)
Ora, descendo [Jesus] do monte, grandes multidões o seguiram.
E eis que um leproso, tendo-se aproximado, adorou-o, dizendo:
— Senhor, se quiseres, podes purificar-me.
E Jesus, estendendo a mão, tocou-lhe, dizendo:
— Quero, fica limpo!
E imediatamente ele ficou limpo da sua lepra. Disse-lhe, então, Jesus:
— Olha, não o digas a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote e fazer a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho ao povo.

Se os ensinos de Jesus fascinam a alguns, a outros provoca rejeição. Há muitos que não O seguem precisamente por causa das exigências do Seu ensino. Ele começou Sua pregação pedindo: arrependei-vos e crede no Evangelho (Marcos 1.15). Aos que se arrependeram e se tornaram seus discípulos, ele exigiu: amai os vossos inimigos! (Mateus 5.44).
Jesus não deixa alternativa: para ser salvo, você precisa se arrepender, confessar os seus pecados e aceitar o perdão que Lhe oferece. Se você quiser começar a viver, a viver de modo que vale a pena, esta é a sua escolha: arrependimento e fé, para recebimento da graça.
Jesus não deixa alternativa: para ser um seguidor dEle, você TEM QUE amar os seus inimigos, como se isto não fosse um fardo. Se você é orgulhosamente do tipo "comigo é assim" (numa indicação de que você segue a regra do "olho por olho, dente por dente", você está longe de ser um cristão. O seu temperamento não pode governá-lO, porque é a mente de Cristo que você deve querer ter, não sua própria mente.

Se o poder de Jesus seduz a alguns, como o leproso da história, outros, que O admiram, não O seguem por não verem este poder em ação, por não aceitarem a loucura da Cruz. Charles Templeton (1915-2001) foi um pregador como Billy Graham, com quem pregou em campanhas evangelísticas. Já assaltado por dúvidas, viu uma foto de uma mãe africana segurando no colo a filha, à beira da morte, por falta de chuvas na região. Ele concluiu que Deus, se existisse, não poderia permitir tamanho sofrimento. Por isto, segundo suas próprias palavras, não cria mais num Deus amoroso, embora cresse em Cristo, sem O adorar. Eis o que, em 1980, ele disse de Jesus, com o que faz coro muita gente: "Jesus foi o indivíduo mais extraordinário da história da humanidade. Para usar uma palavra fora-de-moda, ele foi o maior herói que eu tive na vida. Jesus foi o maior gênio moral da humanidade. Embora eu não seja mais um cristão, Jesus permanece a grande influência da minha vida. Jesus foi o maior revolucionário da história". (SOLBREKKEN, Max. Who Is Jesus Christ? Disponível em <http://www.mswm.org/charlestemp.htm>. Acessado em 30.11.2002)

Se alguns não O seguem por considerarem que Jesus é apenas uma personagem da história, sem qualquer eficácia para os dias de hoje, outros se dizem seus seguidores, mas o que Ele realmente é aproxima-se de um poema de Carlos Drummond de Andrade. O poeta mineiro escreveu que sua cidade-natal (Itabira) era um retrato na parede. Para muitos cristãos, Cristo é uma itabira, uma foto na parede, um crucifixo no peito (que, aliás, está em moda). Por isto, vivem vidas mornas, porque vidas jamais incomodadas por Jesus. Sua fé se resume à leitura de um salmo de vez em quando e a nenhuma paixão por Jesus; a uma oraçãozinha de vez em quando, sem nenhuma dependência do poder de Jesus.

2. Em que consiste o poder de Jesus?
Como reconhecem até aqueles que não crêem nEle, o poder de Jesus se manifestou e se manifesta por seus ensinos, cujo conteúdo os evangelhos resumem.
Como viram Seus contemporâneos e como vemos nós também, o poder de Jesus se manifestou e se manifesta nos seus milagres, dos quais os evangelhos narram alguns.
Como sentiram e sentem os Seus seguidores, o poder de Jesus se manifestou e se manifesta na salvação que traz, salvação que nos torna filhos de Deus (A todos quantos o receberam[recebem] deu-lhes [dá-lhes] o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. — João 1.12).
Como souberam e sabem os Seus discípulos, o poder de Jesus se manifestou e se manifesta na capacitação que dá aos Seus filhos para testemunharem acerca deste poder. Antes de voltar para Sua casa, para onde iremos todos os que crêem nEle, Ele deixou esta promessa: recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (Atos 1.8). É por isto que desde os apóstolos, os crentes têm dado testemunho da ressurreição do Senhor Jesus e recebido pelo poder de Jesus uma abundante graça (Atos 4.33).
Como sentiram e sentem os capacitados por Ele, o poder de Jesus consiste em nos enriquecer, em nos enriquecer de esperança. A oração de Paulo deve ser a nossa: E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo (Romanos 15.13).
É por isto que proclamamos que digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor (Apocalipse 5.12).

3. O poder de Jesus é exercido até hoje, como aconteceu com aquele enfermo.
O texto bíblico começa informando que Jesus desceu do monte onde estava ensinando. Para Ele e para nós, o reino de Deus não pode consistir apenas de palavras, mas também, e principalmente, em poder (1Coríntios 4.20).
Ele desceu porque não é um Deus insensível. Os agnósticos são ateus que não têm coragem de assumir o seu ateísmo. Os agnósticos até reconhecem a existência de Jesus, mas não admitem que Ele é o Deus conosco de que fala Isaías (Isaías 7.14. cf. Mateus 1.23). Se Deus existem, dizem os agnósticos, Ele é insensível, que é o mesmo que negar Sua essência e Sua existência. Para muitos, é difícil aceitar um Deus compassivo.
O enfermo da história, com uma lepra no último estágio, queria precisamente um Deus cheio de compaixão, queria ver o poder compassivo de Jesus em ação na sua vida. E viu. Ele viu um poder sobrenatural. Com um simples toque, sua pele foi reconstituída. Com um simples desejo, sua vida foi purificada.

4. O que fazer diante do Jesus dos evangelhos?
Observamos que são variadas as atitudes dos que procuram a Jesus na hora da necessidade (verso 2)
Como o leproso, uns reconhecem a soberania de Jesus e se prostram diante dEle. Os reis magos que visitaram Jesus ainda bebê (Mateus 2.11). Outras pessoas que se encontram com Ele fizeram a mesma coisa (Marcos 7.25).

Como o leproso, uns reconhecem o poder de Jesus e esperam a sua manifestação. Jairo, o militar romano, também reconhecia o poder de Deus e pediu para que este puder se manifestasse na sua família (Lucas 8.41).

Como o leproso, uns crêem na bondade de Jesus e desejam a sua dispensação. Muitos vivem no reconhecimento que Ele é a manifestação da benignidade e do amor de Deus, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, [pois] nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna (Tito 3.4-7). É por isto que Jesus é o poder e a sabedoria de Deus (1Coríntios 1.24).

5. Quando o poder de Jesus entra em ação?
A resposta da Bíblia é escandalosamente simples.
O poder de Jesus entra em ação quando O adoramos (verso 2), atitude que começa com o reconhecimento do que Ele é, de Alguém que tem vontade de nos alcançar. Aquele enfermo viu o poder de Jesus em ação porque O adorou, isto é, submeteu sua vida a Jesus. Nós podemos fazer o mesmo, se queremos ser desmiserabilizados porque tocados por Ele; transformados e levantados de nossas sarjetas espirituais; esvaziados de nós mesmos e plenificados dEle. Ouvi certa vez uma frase, à saída de um culto de oração, uma expressão que marcou profundamente. Veio de uma jovem que, à primeira vez que apareceu aqui, chorava o tempo todo durante o culto. Algum tempo depois, brinquei com ela, dizendo que era um "prazer miserável" conversar com ela. Sua recomenda me desconcertou: "miserável era a minha vida antes de chegar aqui". Eu a corrigiria ligeiramente: "miserável era a minha vida antes de conhecer a Jesus".]
O poder de Jesus entra em ação quando reconhecemos a nossa situação e cremos que Ele pode alterá-la (verso 2). Qual é a sua enfermidade? Pode ser uma necessidade biológica, uma carência moral, uma escassez emocional? O que no seu corpo precisa ser tocado? A língua? A mente? Como tem vivido você: no preconceito, na indiferença? [A propósito, partir de junho do próximo ano, se Deus deixar, vou pregar uma série de mensagens sobre os pecados capitais, isto é, os pecados que matam. Entre eles, estão o preconceito e a indiferença.]
O poder de Jesus entra em ação quando temos fé o suficiente para viver por ela (verso 4). Jesus recomendou àquele ex-enfermo que fosse se mostrar ao sacerdote e fosse levar sua oferta ao templo, para que seu testemunho pudesser ser validado pela Lei e confirmado pelo povo.
As regras eram bem definidas. A lepra era uma doença que, pelo seu contágio, impedia às pessoas de conviverem na comunidade. Quem a contraísse devia ser afastado, inclusive da sua família. Se alguém ficasse curado, devia se apresentar ao sacerdote, que tinha a autoridade para declará-lo são e apto à vida comunitária. Depois desta inspeção, ele precisava ser purificado mediante uma oferta no templo, uma oferta de duas aves, um pedaço de madeira de cedro e uma erva (hissopo). Uma das aves era sacrificada. Seu sangue, junto com um pano e o hissopo, era aspergida sete vezes sobre o ex-leproso, que era declarado curado. A ave viva era solta. No sétimo dia da cerimônia, a pessoa curada raspava a cabeça, a barba e as sobrancelhas, depois todo o pelo do seu corpo e tomava banho. Só então podia comparecer ao templo e apresentar sua oferta de gratidão e completar seu processo de purificação (Levítico 14.4-9).
Jesus não aboliu o cerimonial, mas fez o que a lei não podia fazer: curar.
Da atitude do ex-enfermo, aprendemos que o poder de Jesus entra em ação quando cremos nEle ao ponto de contar o que Ele fez por nós. Da parte de Jesus, havia a indicação de um compromisso: comparecer perante o sacerdote, submeter-se ao teste da veracidade. Se ele cumpriu ou não a instrução, não temos certeza, mas temos certeza que ele passou a divulgar o que lhe acontecera (Marcos 1.45), tornando conhecida de todos a sua experiência. (Lucas 5.15).
Nos termos de hoje, podemos dizer que o primeiro desejo daquele que foi tocado por Jesus é ser batizado, que é o testemunho do que foi feito pelo Salvador e é o compromisso com este mesmo Senhor por meio da igreja, que é o Seu corpo. Batizar-se é mostrar-se. Batizar-se é se comprometer.
[Um irmão, profissional da área tecnológica, que se apresentou para ser batizado, me disse que durante algum tempo havia um impedimento para pedir o batismo: era o dízimo. Essa era uma parte difícil de ser vivida por causa de tantas necessidades financeiras. "Até que — disse ele — eu entendi que o dinheiro não é tudo na vida". Foi uma libertação. Dar o dízimo deixou de ser um problema. Nada mais agora o afastava de Jesus e estava pronto para ser batizado.]