Mateus 13.53-58: ESCÂNDALO

ESCÂNDALO
Mateus 13.53-58

Jesus continua sendo um escândalo, assim como o foi para os judeus. A propósito, a palavra escândalo era usada na antiguidade para indicar uma pedra que se interpõe no caminho das pessoas. Neste sentido, ela cria dois lados. Jesus é uma pedra que divide as pessoas entre as que crêem e as que não crêem. Não é este o seu desejo, mas que todos creiam. Foi por isto que nasceu, viveu e morreu.

A despeito deste seu projeto, tem havido muitas dificuldades para compreendê-lO. Em certo sentido, não podemos compreendê-lo em toda a Sua altitude. Jesus excede o nosso entedimento, e não nos é fácil admiti-lo.
Essas dificuldades, portanto, não advêm de Jesus, mas derivam de nossas próprias características ou limitações.

DIFICULDADES DOS NÃO-CRISTÃOS
Os conterrâneos de Jesus viam Sua sabedoria, mas não a entendiam; viam Seu poder, mas não o aceitavam.

Os não cristãos não entendem a Encarnação, seja na sua dimensão teológica, seja na sua existencial.
Teologicamente, têm surgido várias tentativas, ortodoxas e heterodoxas, para explicar este mistério maior da fé cristã.
Desde cedo, apareceram hipóteses não trinitarianas para explicar a Encarnação. No século 4, os monofisitas (mono = um + fisys = natureza) recusaram aceitar as naturezas ao mesmo tempo humana e divina de Jesus. Para eles, houve apenas uma natureza na Encarnação, como se Jesus não fossem nem homem nem Deus, mas um ser completamente diferente do que podemos imaginar.
A esta tentativa, juntou-se outra. Os adocionistas ensinaram que Jesus foi um homem que, por sua perfeição moral, foi recebido como Filho de Deus quando o Espírito desceu sobre Ele, embora só se tenha tornado efetivamente Deus na ressurreição.
Este aspecto moral tem sido destacado por várias formas religiosas contemporâneas. No entanto, este destaque tira de Jesus a sua essência. Ele só pôde fazer o que fez porque era Deus.

A maior dificuldade está no significado da Encarnação. Ela significa que Jesus viveu para nos ensinar a viver e morreu para que nós não precisássemos morrer. Ele morreu por todos. Ser cristão é aceitar esta morte vicária, isto é, em substituição, isto é, em nosso lugar.
Existencialmente, alguns ainda acham que a culpa é uma invenção do cristianismo. Não! A culpa é um sentimento universal. O que o Cristo fez e faz foi precisamente abolir o poder da culpa. não inventá-la.
De igual modo, existencialmente também, há alguns que não aceitam como moral e politicamente correto alguém morrer em lugar de outros. Para alguns ingênuos, o homem alcançará, pela inteligência e pela ciência, sua própria elevação moral, o que dispensaria a atuação de um  Único Mediador, como Jesus.
Quem pensa assim está ressublinham a verdade bíblica: O homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente (1Coríntios 2.14).
Aqueles que usam a razão, em todos os seus compartimentos, poderão notar também que, se a Encarnação não passa pela razão, e isto por razões óbvias (é mistério mesmo, a cujo se sentido se acessa pela fé), o Jesus histórico passa pelo crivo da razão. Já se fez de tudo para negar que Ele tenha existido, e não se conseguiu. Já se fez de tudo para mostrar que os evangelhos são narrativas fantasiosas, e não se conseguiu. A lógica está do lado de Jesus.

DIFICULDADES DOS CRISTÃOS
Mesmo entre os que crêem, Jesus pode ser também uma pedra. Os cristãos têm dificuldades para entender o Seu Salvador.

Na verdade, alguns não acham que devam compreendê-lO, cabendo-lhes apenas aceitá-lo. Esta atitude tem trazido muito estrago ao próprio cristianismo, que acaba visto como sendo uma religião para fracos e para estultos. Por isto, e pelo prazer que a pesquisa traz, devíamos todos nos empenhar em perguntar e em pesquisar, de modo a podermos dialogar com o tempo em que vivemos.

Outros mostram não compreender o cristianismo de Jesus, ao esperarem que o Senhor viva a lhes atender os pedidos, mesmo os irrelevantes. Há uma cultura da vitória, que tem mais a ver com o paganismo do que com o cristianismo. Claro: o cristianismo é a religião da vitória. Jesus mesmo ressuscitou, mas Ele ressuscitou porque morreu. Há muitos seguidores dEle querendo ser glorificados como Ele foi, mas sem desejar passar pelo Getsêmani e pelo Gólgota. Assim, enganam-se os cristãos que querem sempre que o Cristianismo de Jesus seja uma sucessão interminável de bênçãos

Há ainda outros que, mesmo cristãos, têm-se comportado como os contemporâneos de Jesus, impedindo, com sua incredulidade, que Ele aja. Como lemos no Evangelho (verso 48), por causa da incredulidade das pessoas da cidade (talvez Cafarnaum), Jesus deixou de fazer os milagres que sempre fez. A incredulidade dos homens é um impedimento à ação de Deus.

INVERTENDO OS PAPÉIS
Para não sermos como os contemporâneos de Jesus, nesta história, há algumas atitudes que podemos tomar.

1. Procuremos entender a Encarnação
Mais que entender, procuremos aceitar a Encarnação.
Mais que aceitar o fato da Encarnação, desejemos o efeito dela sobre as nossas vidas. Ela foi por nós.
Sabemos também que já veio o Filho de Deus, e nos deu entendimento para conhecermos aquele que é verdadeiro; e nós estamos naquele que é verdadeiro, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna (1João 5.20).

Quando Jesus diz que é bem-aventurado aquele que não se escandalizar dEle, Jesus está dizendo que é bem-aventurado aquele que crê nEle.

2. A incredulidade daquelas pessoas levou-as a hostilizar alguém de sua própria gente (verso 57).
Valorizemos os nossos valores, não apenas por serem NOSSOS, mas pelo VALOR que têm. Para que, por exemplo, buscar longe o conselho que você pode ouvir aqui?
Crítica à vocação para a xenofilia.

3. Não permitamos que se escandalizem de nós negativamente. Sejamos conhecidos pelo nosso amor pelos de fora e pelo nosso amor pelos de dentro. Os cristãos devem ser pessoas normais, mas têm que demonstrar sabedoria e poder (versos 54-56).
De que estão se escandalizando de nós?
Do bem que temos feito, sendo diferentes deles?
Do mal que temos feito, sendo iguais a eles?

Se, como recomenda o apóstolo Pedro, escandalizamos os não cristãos pelo bem que fazemos, é porque estamos vivendo segundo a vontade Deus (1Pedro 3.17), e não temos de que nos orgulhar, como, infelizmente, muitos cristãos, fazem.

4. Não impeçamos Jesus de agir, em nós e por nosso intermédio.