PARA LER AS CARTAS DE 1 e 2TIMÓTEO

INTRODUÇÃO A 1 e 2TIMÓTEO

POR

DANIEL BRAVO DUARTE

Título: 1 e 2 Timóteo
Capítulos: 10
Versículos: 176
Tempo aproximado para leitura: 20 minutos
 
As epístolas a Timóteo e a Tito são consideradas como “pastorais”. Essa classificação se dá pelo seu conteúdo que é carregado de orientações específicas a líderes e pastores. Mesmo sendo cartas direcionadas a indivíduos específicos, elas têm grande valor para toda a igreja, pois alertam sobre problemas que, em todos os tempos, têm interferência sobre toda a comunidade, além de expressarem com muita beleza a graça de Jesus Cristo. 
 
ESTRUTURA
1 TIMÓTEO:  1. A MISSÃO DE TIMÓTEO (1)
            2. Oração na congregação (2)
            3. O dever dos líderes (3)
            4. Como o líder da Igreja deve se comportar e ensinar (4-6)

SÍNTESE TEOLÓGICA
As Epístolas Pastorais reúnem uma série de conselhos e de alertas para que a Igreja de Cristo não deixe que a filosofia do mundo, ou o espírito da época, que muda constantemente, afete o firme fundamento da Palavra de Deus. Assim, o apóstolo vai afirmar:

1.    A lei de Deus é boa, mas, ao ser usada de forma errada, pode causar discussões tolas e vãs, devendo, portanto, ser bem manuseada, para que então, capacite homens e mulheres para as boas obras (1Timóteo 1.8 e 2timóteo 2.15).
Só podemos ser autorizados a pregar o evangelho pela graça de Deus (1Timóteo 1.14 e 2Timóteo 1.9) e que essa pregação deve alcançar a sociedade em todas as suas instâncias (1Timóteo 2.1-6).
2.    Toda A escritura, ou, toda a Bíblia, desde o Antigo até o Novo Testamento, cada frase, cada partícula é divinamente inspirada e pode usada para ensinar e corrigir (2Timóteo 3.16).
3.    Na segunda vinda de Jesus, DEus julgará a todos, os que já morreram e os que estão vivos (2Timóteo 4.1)

TEXTO DIFÍCIL
Em todas as quatro cartas, poucos textos trazem dificuldade de interpretação. Há, no entanto, um texto em 1Timóteo que apresenta uma complexidade maior na sua compreensão:

PAULO E AS MULHERES – Em 1Timóteo 2.9-15, Paulo traz algumas considerações sobre o papel da mulher. O texto se torna de difícil compreensão porque nos versos 11 e 12 ele diz que a parcela feminina da Igreja deve aprender em silêncio e não deve ensinar, pois não há autorização para tal prática. De fato, quando lemos esse texto com a nossa mente pós-moderna fica complicado assimilarmos isso.
Para entendermos tal conceito temos que voltar alguns anos e penetrar o contexto cultural para o qual o apóstolo direciona a Epístola. Estamos em Éfeso, por volta de 63 d.c. O evangelho inaugura uma era de  grandes mudanças no olhar sobre as pessoas, inclusive as crianças, os escravos e as mulheres. A Bíblia relata situações em que mulheres são apresentadas como participantes ativas do ministério apostólico (Atos 16.14,40 e Atos 18.26). No entanto, Paulo precisava administrar esse momento com muito cuidado, pois a cultura ainda vê as mulheres como uma classe inferior. O apóstolo aconselha seu discípulo a permitir que as mulheres aprendam, mas sem falar nas reuniões pois talvez isso não fosse visto com bons olhos pelos de fora e talvez nem elas, depois de tanto tempo caladas, saberiam como utilizar esse “novo direito”.
Uma outra interpretação dessa expressão diz que no original, a palavra em grego traduzida para “em silêncio” deveria ser “em paz”, assim, a mulher deveria aprender na quietude, sossegada, sem interferências, e não calada, de boca fechada, como a maioria das traduções fixa. De qualquer maneira, o texto é belíssimo pelas recomendações que dá as mulheres quanto aos adornos que devem usar, ensinado-as a revestir-se de boas obras e serviço a Deus.

VIVENDO OS ENSINOS
OREMOS PELOS NOSSOS GOVERNANTES – O Estado é separado da Igreja. Essa, de fato, foi uma conquista da era moderna. No entanto, parece que não soubemos dialogar essa distinção com o texto de 1Timóteo 2.1 e 2. Aceitamos essa separação como um alívio de não mais nos envolvermos com os assuntos do governo e da nossa sociedade, quando, na verdade, deveríamos encará-la como um chamado de Deus a mergulharmos nesse debate, não mais como prisioneiros do sistema, mas como ungidos e capacitados pelo Espírito Santo a transformar esse mundo pelo espalhar da graça divina. Oremos pelos nossos governantes. Oremos pelas feridas da nossa sociedade. Oremos pela manifestação da justiça. Oremos para que os nossos corações ardam por esse ministério.

A INCERTEZA DAS RIQUEZAS – Em 1Timóteo 5.17, Paulo pede a seu filho na fé que exorte os ricos a não colocarem sua confiança nas riquezas e conquistas materiais, pois são incertas e acabam, mas coloquem sua esperança em Deus que concede bênçãos de forma ampla e abundante. Porém, o conselho não é destinado apenas aos milionários. Todos nós devemos atentar para esse conselho. Somos constantemente tentados a desviar nosso foco do poder que Deus tem de suprir cada uma das nossas necessidades, as grandes e as pequenas, e manter os olhos nos recursos financeiros e materiais, que naturalmente são mais visíveis.

COMPROMISSO COM O INVISÍVEL – O trecho de 2Timóteo 4.2-5 narra com clareza e estranha atualidade os dias de hoje. Igrejas e comunidades que têm anulado dos seus púlpitos as pregações que falam sobre pecado, arrependimento, graça, misericórdia e soberania de Deus para dar lugar às inúmeras formas de atender a vontade do público e dizer apenas aquilo que agrada. Nosso compromisso é com Deus (invisível, mas real) que não vemos, mas nos vê, e sonda cada coração.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARSHALL, I. Howard. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007.
STERN, David H. Comentário judaico do Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2008.
SHEDD, Russel P. e MULHOLLAND, Dewey M. Epístolas da prisão. São Paulo: Vida Nova, 2005.