Mateus 5.33-37 — EU POSSO SER VERDADEIRO

Eu posso ser verdadeiro
Mateus 5.33-37
Da série “Em busca da mente de Cristo”

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A orientação de Jesus sobre o compromisso cristão com a verdade é bastante eloqüente:

Vocês também ouviram o que foi dito aos seus antepassados: ‘Não jure falsamente, mas cumpra os juramentos que você fez diante do Senhor’.
Mas eu lhes digo: Não jurem de forma alguma: nem pelos céus, porque é o trono de Deus; nem pela terra, porque é o estrado de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei. E não jure pela sua cabeça, pois você não pode tornar branco ou preto nem um fio de cabelo.
Seja o seu ‘sim’, ‘sim’, e o seu ‘não’, ‘não’; o que passar disso vem do Maligno.

Lembremo-nos logo que Tiago repete a orientação de Jesus: “Sobretudo, meus irmãos, não jurem, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outra coisa. Seja o sim de vocês, sim, e o não, não, para que não caiam em condenação” (Tiago 5.12).

O JURAMENTO NA BÍBLIA
Jurar é firmar um compromisso solene.
O juramento, prática antiga, persiste, nos dias de hoje, em várias situações, com ou sem dimensão religiosa.
O juramento é exigido nas cerimônias de posse em determinados cargos, sobretudo os públicos, ou nas formaturas, quando os profissionais prometem que vão agir de acordo com os valores que receberam em sua formação naquele campo de conhecimento. De certo modo, o juramento, transformado em voto, continua no altar, trocado mutuamente entre os nubentes, antes de serem declarados casados. O juramento persiste nos tribunais, antecedendo um testemunho, como garantia de que se falará a verdade.

O primeiro juramento da Bíblia é feito pelo próprio Deus, quando promete, após o dilúvio, que não mais destruiria a terra (Gênesis 8.21). Depois, Deus faz a promessa que fez a Abraão, de lhe dar uma nova e maravilhosa terra (Gênesis 12.1-3).
O juramento típico, no entanto, é o juramento humano. Abraão faz o primeiro deles: “Abrão respondeu ao rei de Sodoma: ‘De mãos levantadas ao Senhor, o Deus Altíssimo, Criador dos céus e da terra, juro que não aceitarei nada do que lhe pertence, nem mesmo um cordão ou uma correia de sandália, para que você jamais venha a dizer: ‘Eu enriqueci Abrão’”. (Gênesis 14.22-23). Mais tarde, ele pediu ao seu funcionário Eliézer que jurasse que buscaria uma esposa para seu filho Isaque em outra região que não Canaã. Ele jurou que agiria conforme o desejo do seu patrão e saiu a campo. Deus mesmo jura de mãos levantadas, simbolicamente, é claro (Deuteronômio 32.40; Isaías 62.8).
Há juramentos até no Novo Testamento. Jesus não repreendeu o sumo-sacerdote que pediu que jurasse por Deus (Mateus 26.62-64). Paulo escreve aos seus irmãos: “Invoco a Deus como testemunha de que foi a fim de poupá-los que não voltei a Corinto” (1Corintios 1.23). 20. Disse mais, ao gálatas: “Quanto ao que lhes escrevo, afirmo diante de Deus que não minto” (Gálatas 1.20).

MENONITAS E BATISTAS
Jesus está preocupado com os juramentos falsos e com o uso do nome de Deus em vão.
Segundo a tradição judaica, havia dois tipos de juramentos: um que era feito em nome de Deus e outro que não o era. Segundo essa mesma tradição, só os juramentos proferidos em nome de Deus eram validos. Jesus, então, mostra que ambos são equivocados, porque Deus é Senhor de todas as coisas (tanto do céu e da terra, como da cidade de Jerusalém).
Alguns cristãos tomaram esta instrução de modo literal.
O anabatismo, movimento europeu do século 16, proibia qualquer tipo de juramento diante do estado. Os menonitas, seus herdeiros, se opõem ainda hoje aos juramentos, inclusive aqueles firmados nas fraternidades secretas, como a maçonaria. “A Confissão de Fé de Dordrecht”, de 1632, deixa clara a posição menonita: “Confessamos que o Senhor Cristo (…) proibiu Seus discípulos [de] jurar de qualquer forma, mas que sim deve ser sim, e não, não; disto entendemos que todos os juramentos, altos e baixos, são proibidos, e que, ao invés deles, devemos confirmar todas as nossas promessas e obrigações, sim, todas as nossas declarações e testemunhos sobre qualquer assunto, somente que nossa palavra “sim” seja um “sim”, e que o “não” seja um “não”; e ainda, que devemos sempre, em todos os assuntos, e com todos, sermos fiéis, manter, seguir, e cumprir [nossa palavra], como se a tivéssemos confirmado com um juramento solene”.

Os batistas temos trafegado por outro caminho. Nem Jesus, nem Tiago disseram que é errado jurar dizer a verdade num tribunal.
Entendemos, nos termos de uma antiga confissão de fé, que “a Palavra de Deus autoriza o juramento, quando para decidir assuntos de grande importância e peso, para uma confirmação da verdade, e para encerrar contendas”. Diante disto, “se a autoridade civil exige um juramento, e se este é legítimo, deve ser prestado”.
Ao prestar um juramento, o cristão deve prestar atenção nas implicações de suas palavras, “para que nada afirme senão aquilo que ela sabe que é verdade, porque juramentos temerários, falsos ou em vão, constituem uma provocação ao Senhor”. Por isto, “o juramento deve ser prestado no sentido claro e explícito das palavras, sem equívocos e sem restrições mentais”.
No entanto, “o voto não deve ser feito a criatura alguma, mas somente a Deus; e deve ser feito e cumprido com todo cuidado e fidelidade religiosa”. (Confissão de Fé Batista de Londres, de 1689). Lealdade absoluta só a Deus e a mais ninguém.
O princípio essencial não é a legislação, que passa, mas a verdade.

Todos os agrupamentos têm seus juramentos, votos ou pactos, como é o caso dos batistas, que se comprometem, pública e voluntariamente, a:
. andar sempre unidos no amor cristão;
. trabalhar para que nossa Igreja cresça no conhecimento da Bíblia, na santidade, na espiritualidade e no conforto mútuo;
. manter os cultos, as doutrinas, as ordenanças e a disciplina da Igreja;
. contribuir generosamente para o sustento dos ministérios da Igreja, incluindo a proclamação do evangelho em todas as nações e a promoção da justiça social.
. manter nossa devoção particular;
. evitar e condenar todos os vícios;
. educar religiosamente nossos filhos;
. orar e trabalhar para a salvação de todo o mundo, a começar dos nossos parentes, amigos e conhecidos;
. ser honestos em nossas transações, fiéis em nossos compromissos, exemplares em nosso comportamento e dedicados em nossos trabalhos seculares;
. evitar a maledicência, a difamação e a ira.
. cuidar uns dos outros, lembrando-nos uns dos outros em nossas orações;
. ajudar mutuamente em tempos de enfermidades e necessidades;
. cultivar relacionamentos sinceros, tratando uns aos outros com educação;
. estar prontos a perdoar as ofensas, buscando, quando possível, a paz com todos as pessoas.

Lembram-se?

A VERDADE, SEMPRE
Não há, portanto, objeção bíblica a se fazer um juramento, seja num tribunal ou numa formatura. O juramento prestado, contudo, deve ser consciente. No caso de um tribunal, o juramento tem que ser verdadeiro. Jurar por Deus falando mentira é blasfêmia.
Jurar falsamente, usando o nome de Deus, é tomar o nome de Deus em vão, sobre o que estamos advertidos já nos dez mandamentos. O terceiro diz: “Não tomarás em vão o nome do Senhor, o teu Deus, pois o Senhor não deixará impune quem tomar o seu nome em vão”. (Êxodo 20.7) A instrução é repetida: “Não jurem falsamente pelo meu nome, profanando assim o nome do seu Deus. Eu sou o Senhor”. (Levitico 19.12)
A recomendação de Jesus pode ser expressa em outros termos: “viva de tal maneira que não precise dizer”. Viva, que as pessoas ouvirão.
O cuidado deve estar presente mesmo quando não se invoque o nome de Deus.
O mesmo se aplica votos ou promessas. Um jogador de futebol vai a um hospital infantil e promete a um fã que vai fazer um gol em sua homenagem. É válido? É.
Os noivos fazem votos de mútuos de que vão lutar pela felicidade um do outro. Votos válidos? Sim, válidos.
A validade está na verdade com que são proferidos.

Fale sempre a verdade. Meia verdade não é verdade. É mentira.
Se fizer algum voto a Deus, cumpra-o. Não brinque com Deus. Ele é graça, mas pode, para fins pedagógicos, pesar Sua mão contra aqueles que tomam o Seu nome em vão, prometendo só para agradar, sem intenção de cumprir.
Leve a sério os votos que fez no casamento. Se prometeu algo ao seu pai (tipo “estudar muito”), cumpra-o.
Se fez um compromisso em casa, no trabalho ou na igreja, cumpra-o. Você não é obrigado a se comprometer, mas é obrigado a cumprir o que prometeu.
Nunca diga algo só para agradar (do tipo “estou orando por você” e não está).
Achou e não é seu? Não é seu. O que não é meu não é meu.
Encontrou um texto na internet? Não é seu. Se for usar, dê o devido crédito.
O gol foi com a mão? Não comemore.
Obteve algo por meio ilícito? Não agradeça a Deus. Devolva.
Seja transparente. Ser transparente é falar sabendo que Deus está ouvindo, sem isto seja um peso, mas conforto.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO