Religiosidade fortalece pacientes na luta contra o câncer

alt

Transcrevemos, a seguir, por causa do tema, uma reportagem veiculada pela agência de notícias da Univerdade de São Paulo (http://www.usp.br/agen/?p=11746):

Uma pesquisa realizada com pacientes com câncer e profissionais de saúde, revelou a importância da religiosidade e da fé na luta contra a doença. A psicóloga Joelma Ana Espíndula, em doutorado realizado na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, mostrou como pacientes reencontram o sentido da vida e fortalecem laços familiares por intermédio da aproximação com a religião.

O interesse da pesquisadora pelo assunto surgiu durante o mestrado, cujo tema foi Vivências de mães em situação de recidiva de câncer. “Nos discursos, as mães apresentaram a fé e a religiosidade como alívio, conforto e segurança para continuar lutando na vida”, relembra Joelma. No doutorado, a proposta inicial foi entrevistar pacientes com câncer, questionando como eles vivenciam a religiosidade e a fé, e como profissionais de saúde veem essa religiosidade dos pacientes, além da sua própria.

A pesquisa foi qualitativa, sendo entrevistados 12 pacientes em tratamento de câncer e 11 profissionais da oncologia (três médicos, quatro residentes, uma enfermeira, um auxiliar de enfermagem, um dentista e um psico-oncologista). As entrevistas foram realizadas no Hospital Beneficência Portuguesa de Ribeirão Preto, em 2006 e 2007.

Joelma teve como orientadora, na EERP, a professora Elizabeth Ranier Martins do Valle. A pesquisa foi concluída na Universidade Pontificia Lateranense, em Roma, na Itália, sendo co-orientada pela professora Ângela Ales Belo.

Os relatos revelaram a situação vivida pelos pacientes que, além da perda da saúde, perdem inúmeras qualidades pessoais e sociais, como autoestima, autonomia, integridade, emprego, capacidade de se relacionar com os outros. Espiritualmente, eles passam a questionar o sentido da vida, que se apresenta como a esperança de ser curado e continuar a viver o presente no lugar que habita e com seus familiares.

E muitos, estreitam suas relações com a religião e com a família buscando esse sentido. “Os pacientes significam a religião como um meio de suporte e sustento fundamental nos momentos de dor e sofrimento causados pelo câncer e por seu tratamento”, explica Joelma.

Os pacientes percebem a comunidade religiosa como um apoio espiritual, no qual podem compartilhar seus sentimentos, conflitos e dores. “A religiosidade e a fé fazem a mediação entre Deus e as pessoas para ajudá-las, principalmente em condição de doença, a responderem às provocações que ocorrem na vida” analisa a pesquisadora.

“Mesmo naqueles que não participavam de nenhuma religião, surgiu, a partir da doença, a necessidade de se buscar uma, pela qual tinham maior afinidade ou onde se sentiam bem acolhidos e recebidos”, lembra a pesquisadora.

Profissionais de saúde
Com os profissionais de saúde, mais da metade não segue nenhuma religião. Porém, todos reconhecem a importância da religião e da fé para o paciente e sua família. “Mas fé e religião devem ser vividas como sustento, proteção e prudência, sempre aderindo à realidade” ressalta Joelma.

Um dos casos pesquisados foi o do médico Rafael (nome fictício), que acompanhou um paciente com um osteosarcoma. O profissional se envolveu afetivamente com ele: “Recordo o que me aconteceu no hospital, e me abalou. Foi um paciente que estava no centro cirúrgico, e eu achei que não ia sobreviver. A equipe médica tinha considerado ele como morto e, sem nenhuma explicação ele voltou a respirar de novo. Nesta hora a minha fé foi abalada, me pegou de surpresa, fiquei impressionado com aquilo”, relatou o médico durante a entrevista com Joelma.

Segundo a pesquisadora, as entrevistas apontaram que todo homem tem dentro de si o sentido religioso e, ao estar aberto a este sentido, busca por meio das experiências vividas, tornar-se mais consciente de si mesmo. “É esse sentido que se manifesta em suas atitudes em relação a si mesmo e ao mundo” conclui.

Para mais informações, escreva diretamente para a autora do estudo joelmaespindula@hotmail.com.