LIDERANÇA E RESPONSABILIDADE MORAL: ADÃO E EVA (Altair Germano)

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A ordem do Senhor Deus foi clara:
 
“De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás.” (Gn 2.16-17)
 
Apesar do alerta, enganada pela serpente (2 Co 11.3), atraída pelos aspectos estéticos e sensitivos da árvore e do fruto (Gn 3.6a) e pela possibilidade de “poder” independente de Deus (Gn 3.5 e 6b), a mulher: “…tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu” (Gn 3.6c).
 
Adão comeu da árvore em plena consciência de sua transgressão (1 Tm 2.14), ele não foi iludido ou enganado.
 
Conforme Dietrich Bonhoeffer (Ética, 2002, p. 16-17):
 
“A originária semelhança com Deus se converteu em igualdade roubada. Enquanto o ser humano como imagem de Deus vive exclusivamente de sua origem em Deus, o ser humano que se tornou igual a Deus esqueceu sua origem e se transformou em seu próprio criador e juiz. O que Deus deu ao ser humano este quis ser agora por si mesmo. […] Em lugar de Deus, o ser humano enxerga a si mesmo. “E abriram-se-lhes os olhos.” (Gn 3.7). O ser humano se reconhece em sua desunião em relação a Deus e ao semelhante. Reconhece que está nu. Sem a proteção, sem a cobertura que Deus e o outro significam, ele se sente exposto. Nasce o pudor. É a indestrutível lembrança do ser humano da sua separação da origem, é a dor decorrente desta separação e o desejo impotente de desfazê-la”.
 
Como sujeito moral responsável por seus atos, em vez de assumí-los, Adão e Eva:
 
– Esconderam-se de si mesmos (Gn 3.7). Eles perceberam que estavam nus, coseram folhas de figueiras e fizeram cintas para si. Não há registro de diálogos entre os dois no texto, apenas silêncio, vergonha, culpa e medo;
 
– Tiveram medo de Deus (Gn 3.10). A voz de Deus, que proporcionava prazer, gozo, alegria e paz, era agora motivo de transtorno, desespero, angústia e pavor.
 
– Esconderam-se de Deus (Gn 3.8-10). O texto não expressa o timbre e a intensidade da voz de Deus, mas creio que foi doce e amável, apesar de firme. Algumas perguntas foram feitas ao homem e a mulher. Oportunidades lhes foram dadas para assumirem a sua responsabilidade moral diante do erro;
 
“Onde estás?” (Gn 3.9). Diante da primeira pergunta, como muitos na atualidade, quando confrontado e chamado para prestar constas de seus atos, Adão resolve se esconder (Gn 3.10). A fuga não resolverá as nossas pendências morais. O erro precisa ser confessado e tratado. Precisa ser assumido ou responsabilizado.
 
“Quem te fez saber que estavas nu?” (Gn 3.11a). Esta segunda pergunta ficou sem resposta. A consciência da nudez é uma capacidade do ser moral. A resposta deveria ser: “eu mesmo, mediante a tentativa de saber independente de ti, de conhecer em ti, fui autor desta tomada de consciência que estava nu. Respondendo assim, Adão assumiria o erro. Mas, ele resolveu silenciar.
 
“Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?” (Gn 3.11b). Quando a terceira pergunta foi feita, uma atitude que seria reproduzida ao longo da história da humanidade foi tomada. Adão transferiu a responsabilidade do erro para a sua mulher, e pior, para o próprio Deus. Sua resposta foi: “A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, eu comi.” (Gn 3.12).
 
Milhares de líderes estão neste exato momento transferindo a responsabilidade moral de seus erros para outras pessoas, ou para o próprio Deus, perpetuando desta maneira o comportamento e a postura de Adão.
 
“Que é isso que fizeste?” (Gn 3.13). Essa pergunta foi direcionada por Deus à mulher. A atitude da mulher não foi diferente da tomada por seu marido. Ela também resolveu transferir a sua responsabilidade: “A serpente me enganou, e eu comi”. Perceba que a tentativa de fugir de toda a responsabilidade coloca sempre um “outro” como co-responsável.
 
O homem e a mulher não assumiram a responsabilidade, mas, foram por Deus responsabilizados. Todos foram punidos exemplarmente (Gn 3.14-19, 22-24).
 
Acontece que a disciplina de Deus não é meramente moralista. Deus não pune pelo punir. Diante do erro, duas coisas me chamam a atenção. Primeiro, há uma promessa de superação e vitória do descendente da mulher contra a descendência da serpente, símbolo do poder maligno (Gn 3.15).
 
Em segundo lugar, graciosamente e amorosamente o Senhor Deus fez vestimentas de peles para Adão e sua mulher (Gn 3.21). Ele não apenas providencia as vestimentas, mas, pessoalmente os veste.
 
Neste primeiro evento histórico, que nos revela as implicações de erros cometidos por sujeitos morais, temos grandes lições para a nossa vida, que de forma alguma devem ser negligenciadas:
 
– Esforce-se em buscar e fazer a vontade de Deus para a sua vida;
– Seja prudente diante do perigo;
– Ore para não cair em tentação;
– Não fuja de Deus;
– Não transfira a responsabilidade que é sua;
– Confesse o erro;
– Aceite a correção divina;
– Confie no perdão e no amor divino;
– Creia nas maravilhosas promessas do Senhor;
– Aceite a provisão graciosa de Deus;
 
Assuma as responsabilidades!