LOUVOR E PODER
Salmo 68
1. O DEUS QUE SE LEVANTA
Este salmo talvez tenha sido composto para um culto andante de transporte da Arca em direção a Jerusalém. O poeta recorda, sem detalhar historicamente, as várias vitórias que o povo teve sob o comando de Deus.
Sempre imaginamos Deus assentado num alto e lindo trono. É a nossa maneira de imaginá-lO majestoso, grandioso, logo digno de toda adoração. É também a nossa maneira de pensá-lO como um Senhor capaz de nos criar, libertar e salvar.
Aprendamos estas verdades na Bíblia, mas nela aprendemos também que desce do Seu trono e vai adiante dos seus filhos. É isto que o poeta canta. Ele se lembra do que Moisés dizia toda vez que levantavam acampamento. Leiamos o antigo texto (Números 10.34-36): A arca da aliança do Senhor foi à frente deles durante aqueles três dias para encontrar um lugar para descansarem. A nuvem do Senhor estava sobre eles de dia, sempre que partiam de um acampamento. Sempre que a arca partia, Moisés dizia: “Levanta-te, ó Senhor! Sejam espalhados os teus inimigos e fujam de diante de ti os teus adversários”. Sempre que a arca parava, ele dizia: “Volta, oh Senhor, para os incontáveis milhares de Israel”.
Em nossas caminhadas pelos desertos da vida, não estamos sozinhos. Deus não é um Deus que fica assentado, como se não se importasse com as nossas dificuldades. Deus se levanta para seguir conosco.
O que quer dizer isto: Deus se levanta?
1.1. Deus supervisiona a nossa vida. É uma metáfora para dizer que vê melhor, porque vê do alto. Ele não se levanta para ficar mais elevado e distante, mas para ver melhor o nosso percurso.
1.2. Deus nos pede que nos levantemos também. Ele nos dá coragem para enfrentar as dificuldades da vida. Li uma história segundo a qual um homem comprou uma chácara improdutiva e cheia de espinheiros. Dia após dia, ele preparou a terra, cuidou das plantas, plantou outras. Algum tempo depois, um amigo foi visitá-lo e comentou:
— Você deve ser sócio de Deus para essa terra se tornar um verdadeiro jardim.
O homem respondeu:
— Você precisava ver como era isto quando o meu sócio trabalhava aqui sozinho. (REZENDE, Jonas. Salmos para o coração. Rio de Janeiro: Mauad, 2002.p. 94)
1.3. Deus se levanta para participar de nossa história. Os olhos naturais não vêem a marcha triunfal de Deus, mas os olhos espirituais podem ver a presença dEle no mundo agora. Quando Jesus estava aqui, a maioria dos seus contemporâneos não o viu como aquilo que era: Deus conosco.
Diante desta experiência, de um Deus que se levanta, precisamos cantar e tocar. Mesmo que não estejamos vendo o poder de Deus em ação. O fato de não vermos Deus em ação não quer dizer que Ele não esteja em ação, quer dizer que não tem tido fé suficiente para vê-lO em ação.
Quando cantamos, cantamos porque, pela fé, sabemos que Deus está em ação. Isto nos deixa animados.
2. ADORAÇÃO E ALEGRIA
Adoração e alegria são dimensões de uma mesma realidade, como faces de uma mesma moeda.
Não há como não nos enchermos de alegria diante de um Deus que adota os órfãos como seus filhos e defende gratuitamente as viúvas. Nós ficamos indignados quando vemos os corruptos e corruptores da patria, acusados há anos e em liberdade há anos. Ficamos cheios de ira santa quando um ladrão dos recursos brasileiros é flagrado no crime e nada lhe acontece, o que lhes permite continuar na vida pública para tomar mais dinheiro da gente. Parece que Deus não se levanta para julgá-los, e só Ele para o fazer, porque o nosso sistema foi feito para punir os pobres e as viúvas, viúvas que, por vezes, esperam anos para ver justiça, diante da injustiça contra a sua família, para talvez nunca ver… Por isto, sempre que vejo a justiça triunfando, preciso me lembrar da experiência registrada no salmo 37 (versos 35-39): Vi um homem ímpio e cruel florescendo como frondosa árvore nativa, mas logo desapareceu e não mais existia; embora eu o procurasse, não pôde ser encontrado. Considere o íntegro, observe o justo; há futuro para o homem de paz. Mas todos os rebeldes serão destruídos; futuro para os ímpios nunca haverá. Do Senhor vem a salvação dos justos; ele é a sua fortaleza na hora da adversidade.
Não há como não nos enchermos de alegria diante do lar que Deus nos deu. Ele poderia simplesmente nos completar com a Sua presença, mas decidiu que a Sua presença seria manifesta por meio do lar. Ali a criança é cuidada. Ali o adolescente é orientado. Ali o jovem é fortalecido. Ali o adulto é recebido. Ali o idoso é acolhido.
O lar é o lugar da criança, é o lugar do adolescente, é o lugar do jovem, é o lugor do adulto, é o lugar do idoso, mas é sempre o lugar da mãe. Não importa se ela falam muito ou fala pouco, porque ela acolhe muito. Não importa se precisa de cuidado, ela cuida. Na hora em que precisamos dela, ela não se faz de forte; ela é forte.
A descrição bíblica é que Deus dá um lar ao solitário, e Ele o faz por meio de mãe. A mãe antecede o lar, que se forma a partir dela. A mãe acompanhar o lar, cultivado por ela. A mãe sucede o lar; quando todos se foram, ela está ali, com sua espera e com sua saudade.
Todas as promessas de Deus são realizadas por Ele através de seres de carne e osso, como as mães.
Quem vive nas cidades não sabe o que significam as chuvas, sempre associadas a tempo ruim. Quem vive no campo sabe o quanto todos precisamos das chuvas, especialmente nos tempos de secura. Chuva é vida, é alimento, é fartura. Por isto, quando ela vem, é recebida como um presente de Deus, o coração de enche de alegria e de gratidão, “mas não é só a terra que fica exausta; não é só a terra que precisa de chuvas generosas”. “O homem e a mulher também ficam exaustos; também precisam de chuvas generosas. Ficam exautos de tanta decepção, exaustos de tnato sofrimento, exaustos de tanto trabalho, exaustos de tanta tentação, exaustos de tanta maldade, exaustos de tanto ódio, exaustos de tanta guerra, exaustos de tanta espera. Estamos todos precisando de chuvas ‘generosas’, não para a terra, mas para a lma. Precisamos lembrar, cada um de nós, que “o Senhor é o meu pastor” e “em verdes pastagens me faz respousar e me conduz a águas tranqüilas” (Sl 23.1,2). (CÉSAR, Elben L. Refeições diárias.. Viçosa: Ultimato, 2003, p. 155).
Não importa o quão exaustos estejamos, Deus nos refresca. Não importa o quão ermo seja o nosso caminho, Deus marcha conosco pelo chão batido ou pelo asfalto quente, sempre \a nossa frente.
É nossa tarefa prover o pão de cada dia para nossas casas, pão pelo qual já oramos, pão pelo qual nós trabalhamos.
Todos, no entanto, precisamos saber que o que conseguimos arrecadar foi por causa da bondade de Deus. É Ele quem nos supre.
Sabendo disso, seremos menos ansiosos quanto ao ganhar. Nós nos esforçaremos ao máximo para ganhar o máximo, mas não pederemos a nossa vida pelo objetivo de ganhar tudo. O ansioso não dorme porque não pode perder tempo… O ansioso não sabe que enquanto dorme, se não fosse ansioso, Deus desceria sobre a sua vida, como se tivesse asas de pomba, asas adornadas com metais de grande valor: prata e ouro.
3. PRECISAMOS DE PODER E FORÇA
Todos nós precisamos de poder e força.
Poder e força podem ser vistos como sinônimos, mas prefiro sugerir que poder é a energia de Deus que nos capacita para saber que todo o poder pertença ao Senhor. Ele tem a última palavra. Ele conjuga o último verbo. Ele age por último (1Coríntios 15.24).
Poder é a energia de Deus que nos torna Seus filhos a partir da fé em Jesus Cristo (Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus (João 1.12).
Poder é a energia de Deus que nos capacita a servi-lO, primeiramente comunicando o Evangelho, este mesmo o poder de Deus para todo aquele que crê (Romanos 1.16).
Poder é a energia de Deus que nos capacita a ter esperança. Por isto, o apóstolo Paulo orava assim: Que o Deus da esperança os encha de toda alegria e paz, por sua confiança nele, para que vocês transbordem de esperança, pelo poder do Espírito Santo (Romanos 15.13).
Neste sentido, poder produz força.
Força, então, é força para a vida.
Para termos força para viver, força que vem do poder de Deus, precisamos reconhecer que Deus nos dá força. Quando não temos mais de onde tirar força, Deus nos dá força. Ele tira a força para nós dEle mesmo. A Bíblia está cheia de lembranças desta promessa.
Moisés cantou: O Senhor é a minha força e a minha canção; ele é a minha salvação! Ele é o meu Deus e eu o louvarei, é o Deus de meu pai, e eu o exaltarei! (Êxodo 15. 2). O salmita se firmava na mesma esperança: Eu te amo, oh Senhor, minha força. (…) Pois quem é Deus além do Senhor? E quem é rocha senão o nosso Deus? Ele é o Deus que me reveste de força e torna perfeito o meu caminho. Torna os meus pés ágeis como os da corça, sustenta-me firme nas alturas. Ele treina as minhas mãos para a batalha e os meus braços para vergar um arco de bronze (Salmo 18.1, 31-34). Isto significa dizer que a partida é nossa, mas Deus é o nosso treinador… O Senhor dá força ao seu povo; o Senhor dá a seu povo a bênção da paz (Salmo 29.11).
O profeta vê nos lábios dos seus irmãos uma dificuldade de compreender a manifestação do poder de Deus, transformado em força. Pergunta ele: Por que você reclama, oh Jacó, e por que se queixa, oh Israel: “O Senhor não se interessa pela minha situação; o meu Deus não considera a minha causa”? Não parece a gente quando as coisas estão duras? O profeta, então, questiona seu povo: Será que você não sabe e nunca ouviu falar que o Senhor é o Deus eterno, o Criador de toda a terra. Ele não se cansa nem fica exausto; sua sabedoria é insondável. Ele fortalece o cansado e dá grande vigor ao que está sem forças. Até os jovens se cansam e ficam exaustos, e os moços tropeçam e caem; mas aqueles que esperam no Senhor renovam as suas forças. Voam alto como águias; correm e não ficam exaustos, andam e não se cansam (Isaías 40.27-31).
Quem sabe disto, por experiência própria ou mesmo apenas (por algum tempo) pela esperança, é feliz (Salmo 84.5) e vai tirar com alegrias águas das fontes da salvação (Isaías 12.3). Quem espera no Senhor é forte (Salmo 27.14). Fortalecamo-nos no Senhor e seu forte poder (Efésios 6.10).