POR QUE COMEMORO O NATAL? (Edson Tinoco da Costa)

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            Nunca ocorreu-me que o Natal se tornasse um assunto polêmico para a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo, mas parece-me que o povo de Deus não consegue viver sem polêmicas, embora o apóstolo Paulo recomende o contrário. O problema é que somos polêmicos entre nós mesmos e não contra as práticas de uma sociedade corrompida pelo pecado. Enquanto polemizamos a respeito do Natal, a sociedade brasileira cada vez mais necessita de presídios (já temos o Bangu 8), de policiais, de delegacias, de sepulturas, de IML, de seguranças, de muros, de carros blindados, de câmaras que interferem em nossa privacidade…

 

            Quero responder à pergunta “por que comemoro o Natal?”. Talvez você se apresse em dizer: – “Mas não lhe fiz pergunta nenhuma!”. Concordo, contudo é possível que você não saiba responder à pergunta que lhe faço: – “Por que você comemora ou não comemora o Natal?”.

 

            Somos uma geração que desaprendeu refletir, pensar, porque temos tudo, ou quase tudo pronto, à nossa disposição para consumo. E quando algo se quebra ou não funciona mais, não queremos ter o trabalho de consertar, preferimos trocar por algo novo. Isso acontece até com os relacionamentos, afinal “a fila tem que andar”. Esse é o tempo do “fast”: “fast-food”, “fast-relationship”, “fast-celebration”, “fast-worship”, “fast-release”, “fast-prayer”…

 

            Esse é o tempo das frases de efeito: -“Diga pro seu irmão isso”, – “diga pro seu irmão aquilo”… e vamos repetindo, irrefletidamente. Quando pergunto a alguém o que significa algumas dessas expressões que ele acabou de repetir, a resposta é: -“Não sei”.

 

            É por isso que, mesmo que você não tenha perguntado, quero dizer-lhe porque comemoro o Natal.

 

            Minha primeira razão é teológica: Deus é eterno. O nascimento de Jesus (encarnação) foi pactuado antes da fundação do mundo (Ap. 13:8). Deus não fez um plano emergencial para dar uma resposta a Satanás quando Adão e Eva pecaram. Deus sabia que Adão e Eva pecariam e providenciou a redenção da humanidade antes da fundação do mundo, isto é, na eternidade. É certo que Satanás como “querubim da guarda ungido” antes de rebelar-se (Ezequiel 28:12-15, Isaías 14:12-14), possuía posição elevada diante de Deus e certamente conhece muito dos planos de Deus. Ao rebelar-se contra Deus e ser derrotado e lançado na Terra, Satanás tenta na Terra o que não conseguiu no céu: usurpar o que é de Deus. A Terra e sua plenitude, o mundo e os que nele habitam pertencem a Deus (Salmo 24:1; 1 cor. 10:25-26). As festas, as celebrações, o Natal, a Páscoa, os aniversários, as pessoas, tudo pertence a Deus. Desta forma, não é Deus quem copia as práticas pagãs, mas são as práticas pagãs que copiam Deus. Portanto, o Natal é a restituição à humanidade do propósito de Deus, de algo que pertence a Deus. Se a Igreja abolir o Natal estará dando ao inimigo o que pertence a Deus.

 

            Ainda, como argumentação teológica, a Bíblia afirma que Deus é único e que não existem deuses pagãos (João 17:3; Marcos 12:29). Desta forma, a alegação de que a celebração do Natal em 25 de dezembro é prática pagã, alusiva ao Dia do Nascimento do Sol Inconquistável (Dies Natalis Invicti Solis) ou data de nascimento do antigo e misterioso deus iraniano Mitra, é atribuir personalidade de Deus a quem nada é. (1 Cor. 8:4). Não nasci para lançar pérolas aos porcos. Não vou dar honra a quem não tem honra, não vou trazer à existência deuses pagãos que Deus, o único Deus, não criou. E se Deus não os criou, portanto, não existem.

 

            A segunda razão porque comemoro o Natal é Cristológica: o nascimento de Jesus Cristo é um fato histórico, e não um mito. Rudolf Karl Bultmann, teólogo alemão do século 20, pretendeu demitologizar o Novo Testamento, retirando dele tudo o que é sobrenatural. O nascimento virginal de Jesus, sua morte e ressurreição, seriam considerados, nesse caso, mito, pois são sobrenaturais. A não celebração do Natal implica numa sutil concordância com Bultmann. O perigo da não celebração do Natal é conduzir a sociedade humana ao esquecimento do fato histórico de que Jesus nasceu (Deus encarnado) e o nascimento de Jesus não pode ser isolado de sua morte e ressurreição, pois se Jesus não nasceu também não morreu, e se não morreu também não ressuscitou. Primeiro acaba-se com o Natal, depois com a cruz e por fim com a ressurreição, pois também esta contém práticas pagãs, como o coelho e os ovos de páscoa. Isso é astuta artimanha de Satanás. Recuso-me lutar ao lado do inimigo de Deus.

 

A terceira razão porque comemoro o Natal é antropológica: o nascimento de Jesus Cristo é a humanização de Deus (João 1:14). Os homens celebram festas e Deus, na sua “humanidade”, instituiu festas. Jesus mandou que nós celebrássemos a Ceia para nos recordarmos dele. A Bíblia é escassa em referências de festas de aniversário porque não se tinha certidões de nascimento, e porque o tempo bíblico não é cíclico, nem linear. Entretanto, Deus é festivo, alegre, “na sua presença há abundância de alegria”. Deus não quer que nós acabemos com a cultura, mas que transformemos a cultura. A humanização de Deus (encarnação) nos ensina a alcançar a plenitude da natureza humana que foi corrompida pelo pecado. O Natal é a celebração da redenção da natureza humana, da plenitude da natureza humana, pois o alvo é “a plenitude do Varão Perfeito”.

 

            Minha quarta razão é sociológico: o homem se organiza socialmente e essa organização exige a contagem do tempo, mas não se tem uma contagem que seja exata. Os calendários que pretendem organizar a sociedade em torno da contagem do tempo, não são confiáveis. São meras convenções humanas. Para se ajustar o calendário que organiza a sociedade globalizada, dias, semanas e meses foram desconsiderados. É do conhecimento nosso que Jesus nasceu no ano 6 a.C. Isso já nos conduz a um erro de 6 anos no nosso calendário. Hoje ainda existem o calendário romano, o juliano, o judeu, o chinês, entre outros. É muito provável que ninguém saiba exatamente o dia em que nasceu. Por exemplo: todos os anos o governo brasileiro altera o calendário ao alterar o horário. Se uma criança nasce aos vinte minutos dia 23 de dezembro de 2008, nasceu no dia 23 ou no dia 22? Afinal são 23 minutos do dia 23 de dezembro ou 23:20 h do dia 22 de dezembro? O Tempo Universal Coordenado (UTC) é estabelecido a partir de Londres (Meridiano de Greenwich). Manaus, por exemplo, está à -4 horas de Londres. Suponhamos que o executivo de uma grande empresa estabelecida em Manaus, onde mora o executivo com sua família, seja mandado a Londres para resolver um problema. Viaja deixando a esposa nos dias de dar à luz. Ao chegar em Londres o executivo recebe uma ligação avisando-o do nascimento do seu filho, às 22:30 h do dia 23 de dezembro. O que o executivo dirá para seus amigos em Londres? Seu filho nasceu no dia 23 ou no dia 22 de dezembro. Bem, quando foi mesmo do dia 25 de dezembro? Será que 25 de dezembro foi 25 de dezembro? Se temos dúvidas sobre o dia do nosso próprio nascimento, como discutir o dia do nascimento de Jesus? Deus não se preocupa com datas, mas com pessoas. O tempo de Deus não é cíclico ou linear, mas é “o padrão recorrente em que julgamento e redenção divinos interagem, até que este padrão chegue à sua manifestação definitiva”. É por isso que não sabemos cronologicamente a data da volta de Cristo: não é uma data, é um evento; não é simplesmente um evento, é uma pessoa. O que importa não é o dia em que Jesus nasceu, mas o fato de que Jesus nasceu. A ênfase está na pessoa e não na data. Desta forma, se a data considerada é 25 de dezembro, então para mim está ótimo.

            Minha quinta razão é missiológica ou religiosa: a missão da Igreja não é acabar com a cultura, mas transformá-la. A missiologia chama isso de contextualização. O Evangelho transforma o homem, portanto, transforma a sociedade humana. Uma sociedade totalmente transformada pelo Evangelho deveria transformar toda festividade pagã em celebrações ao único e verdadeiro Deus. Nós sabemos que, tão cedo quanto no segundo século depois de Cristo, Hipólito, um dos pais da igreja, declarou que Jesus nasceu em 25 de dezembro. No quarto século, João Crisóstomo confirmou essa declaração e, então, 25 de dezembro se tornou tradicionalmente a data oficial aceita pela igreja como o dia do nascimento de Cristo. Essa época foi chamada Patrística ou dos “Pais da Igreja”, os quais deram continuidade ao fundamento apostólico. Foi marcada por muitos concílios para combater heresias. Nenhum concílio discutiu ou aboliu a celebração do Natal. A principal razão porque foi estabelecida a data de 25 de dezembro para o nascimento de Jesus Cristo, foi a contextualização feita pelos Pais da Igreja, pois nessa data se comemorava o nascimento do misterioso deus iraniano Mitra, cujos seus seguidores adoravam-no como o “sol da justiça”, mas antes de Mitra ser adorado como o sol da justiça, o verdadeiro Sol da Justiças já existia, confira em Malaquias 4:2. Logo, o que os Pais da Igreja fizeram foi restaurar a Deus o que é de Deus. Por que daremos o que é de Deus ao Diabo? Se Constantino, Imperador Romano, substituiu a comemoração ao deus-sol (Sol Invictus) pelo nascimento de Jesus Cristo (Sol da Justiça, Malaquias 4:2) ou se isso foi feito por Hipólito em substituição à comemoração do nascimento de Mitra, graças a Deus pela visão desses homens, isso é evidência da transformação de uma sociedade. Como eu gostaria que tivéssemos um governante, verdadeiramente convertido, que no lugar do carnaval celebração três dias de ação de graças ao Deus Criador; que no lugar do dia da padroeira do Brasil, celebrasse o dia do Deus da Provisão para o Brasil; que no lugar da celebração ao são Jorge, celebrasse o dia em que Miguel venceu Satanás e o expulsou do céu. O Senhor Deus mesmo usou o princípio da contextualização quando ordenou aos filhos de Israel que observassem certas festividades. As três principais festividades judaicas, encontradas em Deuteronômio 16, correspondem ao tempo de colheita no Oriente Médio. Nações pagãs tinham seus próprios festivais durante aquele tempo, muitas vezes repletos de rituais imorais…Deus sabia que Israel poderia ser tentado e levado à corrupção e à idolatria das nações vizinhas. Em Sua bondade, Ele deu a Israel dias de festa santificados a serem observados durante aquela época. Ele deu esses festivais para que refletissem Sua verdade, e não mitos pagãos. Os israelitas celebravam a provisão de Deus ao mesmo tempo em que os pagãos celebravam e pediam a seus deuses uma boa colheita no próximo ano. Aleluia! É interessante que boa parte dos evangélicos que estão abolindo o Natal estão cheios de símbolos judaicos em suas igrejas, inclusive celebrando as festas judaicas. Que incoerência!

            Minha sexta e última razão é pragmática: Como vimos, o Natal tem sido comemorado pela Igreja do Senhor Jesus Cristo como o dia do nascimento de Jesus desde o final do século II D.C. Tem sido uma data em que pessoas se convertem a Jesus Cristo. Todo Natal celebrado nas igrejas tem sido em comemoração ao nascimento de Jesus Cristo, o Salvador e não a um deus pagão qualquer. Quantas cantatas celebramos nos presídios, sob olhares cheios de lágrimas de prisioneiros! Quantas celebrações de Natal apresentamos nas ruas! Quantas conversões! Quanta bênção! Quantas crianças só recebem um abraço no dia de Natal! Quantas famílias só colocam uma roupa nova no dia de Natal! Quantas famílias só se aproximam no dia de Natal! E nós, povo agregador, estamos desagregando as famílias com nossa polêmica sobre o Natal. Será que aqueles servos do Senhor que desde o segundo século celebraram o Natal como o nascimento de Jesus Cristo estão no inferno? Afinal de contas adorar a deuses pagãos é idolatria e os idólatras não entram no Reino de Deus. Será que minha irmã Cenyr, meu irmão Silas, meu pai Waldevino, meu filho Adson, todos morreram no Senhor, será que me enganei e todos estão no inferno? Pois todos celebraram e incentivaram o Natal no dia 25 de dezembro. Com certeza todos estão reinando com Cristo. E não adianta me dizer que Deus não leva em conta o tempo da ignorância, pois se é assim é melhor não pregar o Evangelho e deixar o povo ser salvo pela ignorância.

            A Igreja foi chamada para a liberdade: “para a liberdade foi que Cristo nos libertou” (Gálatas 5:1), querem nos algemar outra vez, mas me recuso ser prisioneiro de sofismas, pois Deus me deu poder para destruir fortalezas (2 Cor. 10:4).

            Portanto, retire os excessos, santifique sua comemoração, pois todas as coisas são purificadas pela Palavra e pela oração, ligue na terra o que será ligado no céu e celebre seu Natal, dando a Jesus, consumador da nossa salvação, toda honra, toda glória, todo o poder.
 
Feliz Natal


Pr. Edson Tinoco da Costa