ISRAEL BELO DE AZEVEDO
Título: Êxodo
Capítulos: 40
Versículos: 1213
Tempo aproximado para leitura: 140 minutos
O livro do Êxodo conta a história do nascimento de Israel, a partir da promessa dada a Abraão e confirmada aos seus descendentes (como lemos em Gênesis).
As datações variam, mas José morreu no século 19 a.C. Passaram-se entre dois e três séculos. A data do êxodo é fixada ou no século 15 ou no século 13.
ESTRUTURA
O livro tem duas partes bem claras. A primeira está nos capítulos 1 a 18 e narra o êxodo do Egito em direção a Canaã, história que continuará nos livros seguintes. A segunda parte (capítulos 19 a 40) trata da legislação para a vida.
Na primeira parte, lemos:
A preparação de Moisés (Êxodo 1-6.16)
O “diálogo” de Moisés e Araçao com o Faraó (Êxodo 7.17-11.10)
O êxodo propriamente dito (Êxodo 17.11-18.27)
Na segunda parte, temos:
A legislação para a vida, inclusive os Dez Mandamentos (Êxodo 19-24)
A legislação para o culto (Êxodo 25-30)
A organização do culto (Êxodo 31-40)
SÍNTESE TEOLÓGICA
Quatro frases podem ser usadas para definir a teologia do livro de Êxodo:
. Deus age. O Êxodo é o livro das ações extroardinarias de Deus, mais que qualquer outro livro da Bíblia.
. Deus se revela. Deus diz inclusive como é o seu nome: EU SOU ou EU SOU O QUE SOU..Ele fala ao povo, através do seu profeta (Moisés) e através dos fenômenos naturais, como ventos e trovões.
. Deus é fiel ao pacto que firma com o homem. O pacto firmado com Abraão é renovado, mesmo que tenha que ser repetido (como no caso da quebra das tábuas da lei).
. Deus ensina seu povo a viver. A legislação apresentada e reunida visa precisamente dar ao povo um roteiro para a sua vida durante a caminhada (fuga) e durante o estabelecimento em Canaã como uma nação.
PARA LER DEVAGAR
Um dos salmos da Bíblia está em Êxodo, no capítulo 15. Todo o salmo, de exaltação ao Deus que age, deve ser lido bem devagar, como nesta estrofe:
“O Senhor é a minha força e a minha canção;
ele é a minha salvação!
Ele é o meu Deus e eu o louvarei,
é o Deus de meu pai,
e eu o exaltarei!” (Êxodo 15.2)
O TEXTO QUE MAIS TOCOU MEU CORAÇÃO
Leio sempre com espanto a história da chamada de Moisés. O registro mostra (Êxodo 3-4) como Deus age. Evidencia também como nossas limitações são limitadas. Moisés estava cuidando do rebanho da família, quando algo estranho aconteceu. No fim do horizonte, uma árvore pegava fogo permanentemente. O fogo não se apagava, nem a árvore se consumia. Moisés ficou curioso. Deus esperava por ele. Deus usou as circunstâncias, inclusive a curiosidade de Moisés. Depois, Moisés não teve como “escapar”. Homicida e trânsfuga, seu encontro com Deus foi mudando a sua vida. Relutante em obedecer à chamada, foi convencido a aceitar a missão. O resto é uma história de obediência e intimidade. Uma linda história.
Leio também com prazer a história do trabalho de Bezalel e Aoliabe, à frente de uma grande equipe de voluntários (Êxodo 31). A história começa com a chamada dos dois profissionais, que foram cheios do Espírito de Deus, recebendo “destreza, habilidade e plena capacidade artística” (Êxodo 31.3). Com os profissionais dispostos, Moisés chamou o povo para prover os recursos financeiros. O povo compareceu de modo extraordinário (Êxodo 36.6). Ao final, Moisés inspecionou tudo o que foi feito, pondo seu selo de qualidade (Êxodo 39.43).
TEXTOS DIFÍCEIS
1. Deus endureceu o coração de Faraó para não permitir a saída do povo de Israel. Por 12 vezes, a expressão aparece, indicando a soberania de Deus até sobre o rei pagão do Egito. O problema é que a ação de Deus parece indicar, então, que o Faraó não teve responsabilidade em sua resistência. Para entender esta ação de Deus, devemos nos lembrar da teologia subjacentes: tudo o que acontece na história está sob o controle de Deus. Se o Faraó amolecesse, Deus estava por trás disso. Se o Faraó endurecesse, Deus estava por trás disso.
Ademais, o êxodo não seria uma coisa fácil. O processo até a saída devia também servir para o que o povo de Egito soubesse quem era Deus, o mesmo valendo para a família de Moisés e todas as famílias hebréias.
A ação de Deus não elimina a liberdade (e, por conseguinte, a responsabilidade) do governante. Ele decidiu segundo a sua consciência. Deus sabia como ele agiria.
2. Ante de deixarem a terra da escravidão, as famílias hebréias devem defraudar as egípcias (Êxodo 3.22)
Há um problema ético difícil aqui, porque Deus recomenda que mulheres de Israel usem de um artifício para se apropriaram de bens das famílias do Egito.
Devemos nos lembrar que as hebréias eram escravas das egípcias. Durante muitos anos (pelo menos uns 126 anos), elas foram exploradas. Agora, tinham a oportunidade de tomar dinheiro, numa espécie de “reparação” pelos que sofreram. Podemos entender a recomendação como uma condenação à prática da injustiça. No contexto da revelação neste momento, o conceito de justiça é retributivo, do tipo “tomou, tem que devolver”.
A atitude das mulheres não é um padrão para nós.
3. Êxodo 4.24-26 informa:
“Numa hospedaria ao longo do caminho, o Senhor foi ao encontro de Moisés e procurou matá-lo. Mas Zípora pegou uma pedra afiada, cortou o prepúcio de seu filho e tocou os pés de Moisés. E disse:
— Você é para mim um marido de sangue!
Ela disse “marido de sangue”, referindo-se à circuncisão. Nessa ocasião o Senhor o deixou”.
Como a narrativa é muito curta, não temos certeza absoluta do seu sentido. Provavelmente, Moisés descurou de sua responsabilidade como pai e não circuncidou o seu filho. Deus pretendeu disciplina-lo, com a morte, por sua desobediência. Zípora entrou em cena e fez o papel que cabia ao marido e tudo se acertou. Assim mesmo, recriminou o marido por, em função do seu descuido, ter que ela fazer o trabalho “sujo”, que implicava em derramar sangue (com a circuncisão), tarefa que não lhe cabia.
4. Deus se arrependeu de seguir adiante com seu intento de destruir o povo por causa da idolatria, ao fabricarem um ídolo de ouro para seu deus, em lugar do Único (Êxodo 32.14).
Este arrependimento divino (Gênesis 6.6, 1Samuel 15.35, 2Samuel 24.16, 1Crônicas 21.15, Salmo 106.45, Jeremias 26.19, Amos 7.3 e 6, Jonas 3.10), no contexto da revelação progressiva, é um antropomorfismo, uma forma humana de atribuir sentimentos humanos a Deus. Este arrependimento é emocional, não tendo uma dimensão moral, porque não implica em erro da parte de Deus. Ele quer dizer que a decisão (de castigar/destruir) lhe pesou no coração diante da oração dos homens e o Senhor tomou outra decisão em relação ao assunto.
VIVENDO OS ENSINOS
Há ensinos precisos no livro de Êxodo. Eis alguns deles.
SEM DESCULPAS — Moisés ofereceu desculpas para não atender ao chamado de Deus (Êxodo 3). No entanto, ele era o homem para aquele momento, uma vez que, sem o saber, fora preparado ao longo de oitenta anos para aquela nova jornada.
Também temos uma tarefa a desenvolver no Reino de Deus. Se Deus nos chama, para fazer arder no nosso coração (como uma sarça interna), devemos atender ao Seu convite, mesmo que tenhamos limitações que achemos incapacitantes. Ele também pode nos dar uma Arão.
A ARTE DE LIDERAR — Jetro ensinou ao genro como gerir pessoas (Êxodo 18). Suas lições servem para a família, para a igreja e até para o mundo corporativo profissional.
Moisés se arrebentava de trabalhar orientando o povo e julgando as pendências entre as pessoas, quando o sogro o encontra e sugere:
— O que você está fazendo não é bom. Você e o seu povo ficarão esgotados, pois essa tarefa lhe é pesada demais. Você não pode executá-la sozinho. Agora, ouça-me! Eu lhe darei um conselho, e que Deus esteja com você! Seja você o representante do povo diante de Deus e leve a Deus as suas questões. Oriente-os quanto aos decretos e leis, mostrando-lhes como devem viver e o que devem fazer. Mas escolha dentre todo o povo homens capazes, tementes a Deus, dignos de confiança e inimigos de ganho desonesto. Estabeleça-os como chefes de mil, de cem, de 50 e de dez. Eles estarão sempre à disposição do povo para julgar as questões. Trarão a você apenas as questões difíceis; as mais simples decidirão sozinhos. Isso tornará mais leve o seu fardo, porque eles o dividirão com você. Se você assim fizer, e se assim Deus ordenar, você será capaz de suportar as dificuldades, e todo este povo voltará para casa satisfeito. (Êxodo 18.17-23)
A atitude de Moisés foi a de um líder humilde: “Moisés aceitou o conselho do sogro e fez tudo como ele tinha sugerido. Escolheu homens capazes de todo o Israel e colocou-os como líderes do povo: chefes de mil, de cem, de cinqüenta e de dez. Estes ficaram como juízes permanentes do povo. As questões difíceis levavam a Moisés; as mais simples, porém, eles mesmos resolviam”. (Êxodo 18.24-26)
Os líderes devem aprender que não devem fazer tudo. Os lideres não devem esperar que seus líderes sejam onipresentes e onipotentes.
FUNDAMENTOS DA VIDA — Lendo os Dez Mandamentos (Êxodo 20), que são repetidos ao longo do livro, bem como em todos os outros do Pentateuco, aprendemos os fundamentos para uma vida santa e saudável. Ali estão as bases sobre as quais podemos construir nossas vidas.
RISCO DE VIVER — Quando Moisés viu que o povo tinha feito um bezerro de ouro, teve uma porção de atitudes. Uma delas foi pedir perdão para o seu povo, com uma oração ousada, que só a graça ensinaria (Hebreus 4.16):
— Ah, que grande pecado cometeu este povo! Fizeram para si deuses de ouro. Mas agora, eu te rogo, perdoa-lhes o pecado; se não, risca-me do teu livro que escreveste. (Êxodo 32.31-32)
Moisés se referia ao livro da vida, onde os nomes dos salvos (como aprendemos em Apocalipse 3.5, 13.8, 17.8, 20.12,15 e 21.27).
SERIEDADE COM OS RECURSOS DO POVO DE DEUS (Êxodo 36) — Moisés convocou profissionais para preparar os artefatos ligados ao culto do povo hebreus. Ao mesmo tempo, convocou o povo a ofertar e o povo atendeu tão generosamente que foi solicitado a parar de contribuir.
Os comissionados por Moisés lhe disseram:
— O povo está trazendo mais do que o suficiente para realizar a obra que o Senhor ordenou.
Diante disto, Moisés ordenou que o povo parasse de trazer ofertas para o santuário, “pois o que já haviam recebido era mais que suficiente para realizar toda a obra”.
Quando chamado a contribuir, o povo deve comparecer e fazer o que lhe cabe.
Seus recursos, no entanto, devem ser administrados como o que são: são de Deus porque Lhe foram entregues. Os gestores não podem fazer o que bem entenderem. Não podem esconder informações, como se ainda faltasse dinheiro, se o recebido já é suficiente.
PARA MEMORIZAR
Entre tantos versículos, três vales guardar na memória:
1
“O Senhor é a minha força e a minha canção; ele é a minha salvação! Ele é o meu Deus e eu o louvarei, é o Deus de meu pai, e eu o exaltarei!” (Êxodo 15.2)
2
“Moisés disse ao povo: ‘Não tenham medo! Deus veio prová-los, para que o temor de Deus esteja em vocês e os livre de pecar’”. (Êxodo 20.20)
3
“O Senhor lutará por vocês; tão-somente acalmem-se”. (Êxodo 14.14)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHOURAQUI, André. Nomes. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
COELHO FILHO, Isaltino Gomes. A atualidade dos Dez Mandamentos. São Paulo: Exodus, 1997.
MEHL, Ron. A ternura dos Dez Mandamentos. São Paulo: Quadrangular, 2000.