Efésios 5.21: O PRINCÍPIO BÍBLICO DA MUTUALIDADE NA VIDA FAMILIAR

O PRINCÍPIO BÍBLICO DA MUTUALIDADE NA VIDA FAMILIAR

Efésios 5.21

A queda nos tornou escravos do egoísmo, o principal inimigo da vida familiar saudável.
Para derrotá-lo, o apóstolo Paulo sugere a submissão mútua.
“Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo”.
“Submetam-se uns aos outros, por reverência a Cristo”.
Ah! Isso é difícil? É. Só buscamos este caminho quando o tomamos como uma tarefa que Cristo nos pede. Este “temor” ou “reverência” a Cristo significa considerar nossa família como um campo de serviço prestado a Deus.
Para tanto, todos nós (cônjuges/pais e filhos/irmãos), precisamos buscar os seguintes valores, na contramão do egoísmo:

1. TRÊS VERDADES PARA NOS ANIMAR A PENSAR BIBLICAMENTE NA FAMÍLIA
Antes, precisamos pensar na relevância da Bíblia para a vida em família.

1. A Bíblia é um livro para a família, em dois sentidos: a Palavra de Deus
a) contém histórias de famílias, exemplares e nada exemplares, com relatos de dramas intensos, como doenças, mortes, desavenças, abandonos, esterilidade;
b) oferece abundantes e sólidos conselhos e
c) garante que pertencemos à grande família de Deus, em que Ele é o Pai, não importa o nosso estado civil.
a) Os exemplos de famílias nada exemplares são mais abundantes: Abraão negando um filho, Davi descuidando dos seus filhos, os irmãos de Jesus com dificuldades para reconhecê-lo como Messias. Mesmo a família exemplar de Timóteo não seguia o padrão porque era constituída de avó, mãe e filho.
b) Há centenas de textos com elevados padrões para a vida familiar, como o relato da criação homem-mulher, os cuidados sugeridos em Cântico dos Cânticos, o ensino de Jesus sobre o casamento e as instruções dos apóstolos, especialmente as de Paulo que, provavelmente, não tinha uma família própria.
c) Eis como a Bíblia nos caracteriza: “Portanto, vocês já não são estrangeiros nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, no qual todo o edifício é ajustado e cresce para tornar-se um santuário santo no Senhor. Nele vocês também estão sendo edificados juntos, para se tornarem morada de Deus por seu Espírito” (Efésios 2.19 -22).

2. Terra de todos nós, a família é o território onde vivemos e morremos, em dois sentidos: ali se desenvolve a história toda de cada um de nós; ali nossas potencialidades se desenvolvem, desde que amados, liberados, estimulados, e ali podemos morrer a cada dia, rejeitados, sufocados, decepados.

3. Não existe família perfeita, mas princípios perfeitos para a família. Esta convicção nos anima a não desistir da nossa, mas a gastar tempo diante de Deus agradecedendo e intercedendo por ela, chorando por ela (em lugar de escondermos seus problemas), lutando por ela (em lugar de desanimarmos), buscando novos caminhos para ela (em lugar de nos acomodarmos). Neste sentido, as tarefas na família, para que seja um espaço de amor, libertação e estímulo, cabem a todos: pais, cônjuges e filhos.

2. VALORES A CULTIVAR NA VIDA EM FAMÍLIA
Podemos, então, agora, considerar os valores que tornam agradável e felicitadora a vida em família.

2.1. RESPEITO
Respeitar o outro é:
. levar em alta conta o interesse do outro. Seu filho gosta de música, mas você acha que música não dá futuro para ninguém. Negocie com ele para estudar música e algo que você acha mais promissor.
. levar em alta conta as limitações do outro. Seu marido tem dificuldade com críticas; evite criticá-lo, procurando uma forma de dizer que não soe como crítica.
. promover o bem-estar (prazer) do outro. Você não quer ir à praia, mas seu irmão quer, e vocês vão.

2.2. COMPLEMENTARIDADE
Outra forma de se submeter ao outro é reconhecer que, na família, cada um complementa o outro. A vida familiar é como uma orquestra composta de vários instrumentos.
Você e seu marido estão em casa, quietos, quietos até demais, aí chega(m) seu(s) filho(s), fazendo barulho, falando alto, pondo música alto. Vocês podem ficar irritados ou alegres; sua casa precisa de alegria e seu filho a trouxe.
Valorize as diferenças de temperamento, de gosto e de ritmo. As diferenças são o tempero da mesa familiar.
Cada um tem um papel a ser desempenhado. O pai, por ser o sustentáculo financeiro da família, não mais importante que o bebê que só suga, suga mas alegra o ambienta, suga mas dá ao pai mais vontade de trabalhar.
Uma boa pergunta, que cada um deve se fazer é: que necessidade na sua família você está complementando? O egoísta perguntará: O que não me estão dando? Você perguntará: O que posso dar para minha família?

2.3. PARCERIA
Uma família mutuamente submetida tem alvos (que são gerais) e metas (que são específicas) em comum, sem prejuízo dos alvos e das metas individuais. Em caso de conflito, o membro de uma família mutuamente submetida negará o que for individual, mesmo que seja por um tempo.
Para que haja parceria, será necessário que cada um entenda que, nela:
. complementamos uns aos outros
. dependemos  uns dos outros
. juntos somos mais fortes

Então, poderemos participar dos projetos e atividades comuns.
. Uma mãe/esposa pode parar de estudar para que seu(s) filho(s) ou esposo o faça. Vencida esta etapa, chegará a sua vez, o que, talvez, exija sacrifício do(s) filho(s) ou do esposo.
. Um pai pode aumentar sua carga de trabalho (em mais de um emprego) por um certo tempo, em que todos economizarão, para a aquisição de uma casa própria ou para o pagamento de dívidas.
. Um deles pode trocar de igreja, se isto for melhor para todos.
. Um filho pode se transferir para uma escola pública até que o orçamento da casa fique equilibrado.
. Todos podem contribuir para um fundo comum visando uma viagem coletiva daqui a quatro anos.
. Um deles pode cuidar da casa enquanto o outro se dedica a um projeto voluntário.
. Um irmão pode adiar a sua pós-graduação para que o outro possa fazer a sua primeiro.
. Um irmão pode chegar em casa mais cedo para ajudar alguém que está doente em casa.

2.4. REVERÊNCIA
A palavra que melhor define esta mutualidade é “temor” ou “reverência”.
. Uma vida familiar será saudável quando Jesus Cristo for o centro (eis um significado de referência) de nossas vidas. Quando Jesus fala, nossa reverência nos manda ouvir. Quando Jesus está presente em casa, Ele comanda.
. A submissão mútua só é possível quando é vista como submissão a Cristo, não ao cônjuge, ou ao pai ou ao filho ou ao irmão. Não há medo nesta sujeição, porque o perfeito amor, amor de Deus operando em nós, lança fora o medo (1João 4.18).
. Com esta visão, nossa vida familiar servirá com um espelho da relação Cristo e Igreja, em que Cristo é o Diretor.
. Com esta certeza, o outro (filho, pai, cônjuge, irmão) é mais importante que eu. A opinião do outro é mais importante que a minha. A necessidade do outro é mais importante que a minha.

3. PERSISTINDO NOS VALORES
Então, você me dirá: “você não conhece a minha família”.
Imagino que, talvez nela, o “cada um por si” seja a lei dominante; que só um faz sacrifício e os demais “deitem”; que haja dificuldades de caráter que tem minado as relações; que haja problemas de temperamentos que têm tornado o convívio difícil; e que haja hábitos que têm produzido conflitos aparentemente insolúveis; que gritos e xingamentos sejam mais comuns que respeito e elogios; que não haja união nem na hora da doença.
Lembro-lhe que sua família não é tão diferente quanto você imagina. Essas realidades estão presentes em muitas famílias, por causa da queda; não foram constituídas para isto, mas para mais, para respeito, para complemento, para parceria e para reverência.

3.1. Continue temendo a Cristo. Continue em família temendo a Cristo. Não desista de continuar temendo a Cristo. Creia menos no seu poder de argumentar, e mais no poder do Espírito em convencer. Deposite menos confiança no seu braço ou na sua língua, para impor sua vontade, e mais no poder do Pai que o colocou numa família.

3.2. Faça a sua parte. Respeite, mesmo desrespeitado. Complemente, mesmo sozinho. Junte-se, mesmo que precise ser teimoso. Reverencie, mesmo que não o levem a sério

3.3. Lembre-se que você não é perfeito. Parte dos problemas de sua família pode ser gerada por você. Ouça o outros membros dela. Veja o que os outros precisam mudar, mas o que você precisa mudar.

34. Ore e trabalhe por sua família.
Se há um problema de caráter (há um mentiroso na família), ore pela transformação; dê o exemplo que vale o outro ache que vale a pena seguir. Você não vai mudar o caráter do seu cônjuge; se houver transformação, é ação de Deus. Ore por isto e espere (talvez muito tempo).
Se há um problema de temperamento (há uma pessoa explosiva), ore pelo ajuste, para que, aos poucos, o Espírito Santo vá moldando essa pessoa, que, talvez, jamais deixe de ser explosiva, apenas menos explosiva, o que já é um avanço.
Se há um problema de hábitos nocivos (em que não há parceria na ajuda em casa, na arrumação das camas, na atenção aos horários, no uso do dinheiro), ore par que haja percepção do problema por parte dos outros; empenhe-se em educar (educação é coisa para longo prazo), com firmeza mas sem desejar moldar os outros ao seu jeito de ser (que é submeter, não submeter-se) e com alegria nas vitórias, mesmo que pequenas.