Êxodo 31.1-7 — NA IGREJA NÃO HÁ INCAPAZES

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NA IGREJA NÃO HÁ INCAPAZES

(Êxodo 28.1, 31.1-7, 35.30-34, 38.22-23)
 
 
Na igreja não há incapazes. Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, você não é incapaz.
Quem somos na igreja depende do que cremos sobre o Espírito Santo.
 
O que é a igreja depende do que cremos sobre a razão de sua fundação, como a lemos em Atos 2.
A igreja é o que eu sou. A igreja é o que eu faço.
 
 
SOMOS TODOS CHAMADOS
Aprendemos estas verdades ao longo da Bíblia, como, por exemplo, na experiência da chamada dos sacerdotes e dos artífices hebreus, logo após o êxodo. 
Como lemos, Deus instruiu a Moisés, nos seguintes termos: 
 
“Chame seu irmão Arão e separe-o dentre os israelitas, e também os seus filhos Nadabe e Abiú, Eleazar e Itamar, para que me sirvam como sacerdotes” (Êxodo 28.1).
 
No mesmo contexto, Deus informa a Moisés o seguinte: 
 
“Eu escolhi Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, dando-lhe destreza, habilidade e plena capacidade artística para desenhar e executar trabalhos em ouro, prata e bronze, para talhar e esculpir pedras, para entalhar madeira e executar todo tipo de obra artesanal. Além disso, designei Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, para auxiliá-lo. Também capacitei todos os artesãos para que executem tudo o que lhe ordenei” (Êxodo 31.1-6).
 
Precisamos crer num Deus que não chama apenas pastores. Ele chamou Arão e seus filhos para o sacerdócio (Êxodo 28.1), mas também chamou Belalel, Aoliabe, com suas equipes, para os ministérios artesanais (Êxodo 35.35). Ele chamou todo o povo para participar, contribuindo financeiramente.
Uma igreja saudável é o somatório de participantes saudáveis, que são aqueles que compreendem que o Espírito Santo é para todos, e não apenas para alguns. Uma igreja saudável é uma igreja de cristãos como Filipe, o missionário que corre para alcançar o eunuco etíope.
 
Infelizmente, na igreja há cristãos como Nicodemos (João 3 e 7), que são aqueles que acompanham à distância a vida da igreja. Imagino que o primeiro Nicodemos, como os de hoje, tinha os seus motivos para não se envolver, talvez de ordem profissional ou mesmo de ordem familiar. Pode ser também que os Nicodemos de hoje ainda ajam por não terem entendido a natureza da igreja.
De qualquer modo — e esta é a boa noticia — o cristão-Nicodemos pode chegar a ser como aquele outro mesmo Nicodemos, que encontramos, mais tarde, envolvido com Jesus e comprometido com Jesus, sem se importar com o preço que teria que pagar por essa identificação (João 19.39).
 
Infelizmente, na igreja há cristãos como Tomé (João 20.24-28). Eles olham para a igreja e não vêem qualquer relevância nela. A igreja merece ser criticada; a igreja precisa ser criticada. Nega-la, no entanto, é um equívoco. Nega-la é como negar nossa própria salvação, uma vez que chegamos a Jesus por meio da igreja. 
Os cristãos-Tomé precisam ter a coragem de admitir que há uma igreja, talvez diferente daquela(s) de que participaram, que testemunham de Jesus, perfeito, embora sejam imperfeitos. A igreja, imperfeita, é a única comunidade cuja mensagem é a esperança do mundo, porque a mensagem da igreja é Jesus mesmo. Quem crê em Jesus como Salvador e Senhor precisa se envolver com esta igreja, para ser instruído pela Palavra de Deus, para adorar ao Deus da Palavra e para servir ao Deus encarnada em Jesus Cristo. Os cristãos-Tomé podem crer, não na igreja, mas no Senhor da Igreja, diante de quem confessam: “Senhor meu e Deus meu!”  (João 20.28).
 
Precisamos ser como Filipe, que levava a sua vida para onde o Espírito Santo o conduzia. Na história que lemos sobre ele em Atos dos Apóstolos (Atos 8), Filipe acabara de se envolver na proclamação de Jesus como Senhor, mas o Espírito Santo lhe disse para ir a um outro lugar e ele foi. Estando na estrada, o Espírito lhe disse para se aproximar de um veículo que por ali transitava. Então, Filipe correu em direção ao veículo e ouviu que alguém lia um trecho do livro de Isaias. Esse estranho o convidou para subir e lhe explicar o livro que lia. E Felipe aceitou o convite. A história termina com o estranho sendo batizado por Filipe. Na verdade, a história não termina ai, pois Filipe “porém, apareceu em Azoto e, indo para Cesaréia, pregava o evangelho em todas as cidades pelas quais passava” (Atos 8.40).  
Os cristãos-Filipe não vão onde querem ir, mas para onde seu Senhor os envia. Os cristãos-Filipe não fazem o que querem fazer, mas o que o seu Senhor querem que façam. Ser cristão-Filipe é saber que não devemos fazer o trabalho de Deus do nosso jeito, mas do jeito de Deus. O trabalho de Deus é trabalho de Deus; não é trabalho humano. Quando nos colocamos ao dispor dEle, não fazemos o nosso trabalho, mas, com temor e tremor, fazemos o trabalho de Deus. Encanta-nos ler, no relato de Êxodo, que a obra realizada foi realizada  como o Senhor ordenou (Êxodo 36.1).
Os cristãos-Filipe são aqueles que entendem como Deus chama colaboradores para sua missão. A missão dos cristãos-Filipe é a missão de Deus.
Se queremos ser cristãos-Filipe precisamos aprender e praticar o que Deus ensinou a Moisés, ao chamar os sacerdotes e chamar todas as pessoas para a missão.
 
ENTRE DEUS E O BEZERRO DE OURO
A história destas chamadas conhece um trágico interlúdio. Se em Êxodo 28, temos a chamada dos sacerdotes e, em Êxodo 31, temos as chamadas dos artesãos e do povo em geral, em Êxodo 32 temos a escultura do bezerro de ouro pelos sacerdotes e pelo povo, com todas as suas conseqüências. 
Os sacerdotes e o povo pecaram porque não compreenderam as chamadas que receberam. Os sacerdotes e povo não entenderam que, e por isto pecaram, ou fazemos as coisas para Deus ou fazemos as coisas para nós mesmos. Se Deus não for o centro de nossas vidas, nossas vidas vão esculpir bezerros de ouro e coloca-los no altar de nossas vidas.
 
DEUS CHAMA E CAPACITA
Podemos, então, retornar à história principal, que nos ensina que na igreja não há incapazes. Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, você não é incapaz.
 
1. Em meio ao relato da obediência às chamadas, temos uma interessante sub-história, para nos falar de nossa responsabilidade para com o Deus que nos chama:
 
“Receberam de Moisés todas as ofertas que os israelitas tinham trazido para a obra de construção do santuário. 
E o povo continuava a trazer voluntariamente ofertas, manhã após manhã. Por isso, todos os artesãos habilidosos que trabalhavam no santuário interromperam o trabalho e disseram a Moisés: “O povo está trazendo mais do que o suficiente para realizar a obra que o Senhor ordenou”. 
Então Moisés ordenou que fosse feita esta proclamação em todo o acampamento: “Nenhum homem ou mulher deverá fazer mais nada para ser oferecido ao santuário”. Assim, o povo foi impedido de trazer mais, pois o que já haviam recebido era mais que suficiente para realizar toda a obra” (Êxodo 36.3-7).
 
Os líderes têm muito que aprender aqui. A igreja não é uma empresa, que precisa dar lucro, porque o lucro da igreja não pode ser contabilizado. Os líderes precisam dar conta do dinheiro da igreja, porque o dinheiro da igreja é um dinheiro de Deus. Deve ser usado com sabedoria e contado com transparência. Se a igreja está bem com suas contas, os líderes não podem mentir, dizendo que está faltando dinheiro, para que venha mais dinheiro. 
Todos temos muito o que aprender aqui. Este povo, reprovável quando pede um bezerro de ouro, se faz admirável, pela disposição em participar financeiramente. A participação financeira é a mais fácil e a mais difícil das participações. É a mais fácil, porque é voluntária e porque exige outros compromissos. É a mais difícil, porque, sendo voluntária, pode ser adiada ou mesmo negada e porque mexe com aquilo que nossa sociedade (e nós mesmos) considera de maior valor: o dinheiro; quem se dispõe a por a mão no bolso é quem dispôs o seu coração para participar. Moisés não precisou fazer pesadas campanhas, não precisou oferecer a bênção de Deus para quem contribuísse; o povo entendeu que o seu amor a Deus implicava, naquele contexto, em construir um santuário para Deus e, por isto, compareceu em massa, com recursos mais amplos que os necessários.
Na igreja não há incapazes. Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, você não é incapaz. Você pode contribuir financeiramente para que haja recursos para que você mesmo faça o que Deus lhe pede ou para que outros façam o que Deus espera que façamos.
 
2. Se você pesquisar na sua Bíblia por Bezalel, descobrirá que ele é mencionado mais uma vez, bem mais tarde, em Crônicas, para nos ensinar que aquilo que fazemos para Deus permanece para sempre.
 
Leiamos o texto:
 
“O altar de bronze que Bezalel, filho de Uri e neto de Hur, fizera, estava em Gibeom, em frente do tabernáculo do Senhor; ali Salomão e a assembléia consultaram o Senhor” (2Crônicas 1.5).
 
Entre o ministério de Bezalel e o uso de um dos produtos deste ministério, o altar de bronze (descrito em Êxodo 38.30), passaram-se 480 anos (conforme lemos em 1Reis 6.1, que diz: “Quatrocentos e oitenta anos depois que os israelitas saíram do Egito, no quarto ano do reinado de Salomão em Israel, no mês de zive, o segundo mês, ele começou a construir o templo do Senhor”.) Quando Salomão decidiu fazer outro altar de bronze (2Crônicas 4.1), o de Bezalel lhe serviu de inspiração e modelo. 
Na igreja não há incapazes. Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, você não é incapaz. Aquilo que fizermos (seja a oferta de uma cesta básica, a doação de um instrumento para alguém aprender música, a construção de um tablado para o teatro, uma participação dedicada num grupo vocal ou instrumental, um sorriso dispensado á entrada do santuário, um cargo exercido na diretoria geral ou setorial, uma oração por uma pessoa necessitada, um folheto entregue a um estranho, o tempo dedicado numa escala de serviços no som, no berçário, na recepção, na distribuição da Ceia do Senhor, na transmissão dos cultos pela internet, seja o que for) dará frutos, mesmo que humanamente invisíveis, porque Deus fará com que dê frutos que Ele verá. 
 
3. Aprendemos nestas histórias que o chamado de Deus para nos envolver com Ele tem a ver com as necessidades do mundo e da igreja.
Eram muitas as necessidade em Israel. Havia a necessidade de um grupo para liderar o povo. E Deus chamou os sacerdotes (Êxodo 28).
Havia a necessidade um lugar para a adoração. A lista é grande (“o tabernáculo com sua tenda e sua cobertura, os ganchos, as armações, os travessões, as colunas e as bases; a arca com suas varas, a tampa e o véu que a protege; a mesa com suas varas e todos os seus utensílios, e os pães da Presença; o candelabro com seus utensílios, as lâmpadas e o óleo para iluminação; o altar do incenso com suas varas, o óleo da unção e o incenso aromático; a cortina divisória à entrada do tabernáculo; o altar de holocaustos com sua grelha de bronze, suas varas e todos os seus utensílios; a bacia de bronze e sua base; as cortinas externas do pátio com suas colunas e bases, e a cortina da entrada para o pátio; as estacas do tabernáculo e do pátio e suas cordas; as vestes litúrgicas para ministrar no Lugar Santo, tanto as vestes sagradas de Arão, o sacerdote, como as vestes de seus filhos, para quando servirem como sacerdotes” — Êxodo 35. 11-19) e Deus chamou um grupo para executar a obra.
Eram estas as necessidades. Toda a igreja tem as suas. O mundo tem as suas. E Deus nos chama para atende-las. Somos muitos, mas como as necessidades também são ainda maiores, há sempre um lugar para fazermos o trabalho de Deus com as nossas mãos. O mundo nos foi dado inacabado, para nós o completarmos. A igreja está sempre por ser feita, para que nós as façamos.
Na igreja não há incapazes. Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, você não é incapaz.
 
4. Aprendemos nestas histórias também que o trabalho na igreja é para ser desenvolvido em equipe
O trabalho de Deus na igreja não é para superpessoas, homens ou mulheres, mas para servos, que atuam em equipe, porque a obra é importante e grande demais para ser feita por uma pessoa.
O relato bíblico é bem instrutivo neste sentido, como lemos em Êxodo 36.1-2, Êxodo 35.34 e Êxodo 38.22-23:
 
“Assim Bezalel, Aoliabe e todos os homens capazes, a quem o Senhor concedeu destreza e habilidade para fazerem toda a obra de construção do santuário, realizarão a obra como o Senhor ordenou. Então, Moisés chamou Bezalel e Aoliabe e todos os homens capazes a quem o Senhor dera habilidade e que estavam dispostos a vir realizar a obra” (Êxodo 36.1-7) 
 
“E [Deus] concedeu tanto a ele [Bezalel] como a Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, a habilidade de ensinar os outros” (Êxodo 35.34).
 
“Bezalel, filho de Uri, neto de Hur, da tribo de Judá, fez tudo o que o Senhor tinha ordenado a Moisés. Com ele estava Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã, artesão e projetista, e também bordador em linho fino e de fios de tecidos azul, roxo e vermelho” (Êxodo 38.22-23).


Só temos dois nomes, mas foram muitos, centenas, milhares as pessoas que se envolveram no trabalho de Deus. E quando há este envolvimento, as coisas acontecem, sem que uns poucos morram de cansados. Na igreja, precisamos de gente, gente cujos nomes são mencionados, gente cujos nomes só Deus sabe, gente que forma uma equipe ou várias equipes para fazer a obra de Deus.
Na igreja não há incapazes. Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, você não é incapaz. Há um lugar para você, mesmo que só Deus saiba o seu nome e só ele veja o seu trabalho.
 
Bezalel e a Aoliabe receberam também o dom de ensinar os outros para que a equipe crescesse e fizesse a imensa obra.
A igreja é uma escola, cujas lições valem para todos os segmentos da vida. Muitas pessoas que atuam no campo secular do ensino aprenderam a ensinar na igreja, como professores da Escola Bíblica. Muitas pessoas que se destacam no uso da palavra em suas profissões começaram na igreja. Muitas pessoas que brilham nos palcos da música ou do teatro começaram na igreja.
Na igreja não há incapazes. Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, você não é incapaz. Se você não sabe, Deus vai lhe ensinar.
 
 
***
 
Essas histórias nos mostram, portanto,  que o chamado divino é para todos e é completo.
Se respondemos ao seu convite, Ele nos oferece as condições para o exercício da vocação.
Então, não entre se não se sentir chamado. O chamado é o resultado de um relacionamento com Deus, de uma paixão por Deus.
Se Deus arde no seu coração, não seja o Nicodemos que acompanha a igreja à distância, mas o Nicodemos que se envolve com ela.
Se você crê que Jesus Cristo é o Filho de Deus Salvador da sua vida, não seja o Tome que descrê que a igreja possa fazer algo realmente relevante, por causa das nossas imperfeições, mas o Tome que reconhece que Jesus é Deus e que este Jesus ama a igreja, tendo entregue sua vida por ela, “para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável” (Efesios 5.25b-27).
Se você foi gerado de novo pelo Espírito Santo e é um filho de Deus, seja como Filipe, pronto para ouvir o chamado de Deus e a fazer o que Ele precisa que você faça. Você não é incapaz de fazer o trabalho de Deus, porque na igreja não há incapazes. 
ISRAEL BELO DE AZEVEDO