PRECISAMOS DESENVOLVER UMA MENTE BÍBLICA
2Timóteo 3
“Uma mente cristã não se ocupa apenas de Deus, mas reconhece e se envolve na realidade humana.. (…) Uma mente cristã também não se fixa apenas no mundo dos homens, nem se põe a interpreta e muda a partir de uma visão e dos recursos meramente humanos. [Uma mente cristã] não é nem otimista sem fundamento, nem pessimista sem esperança. A mente cristã tem que escutar a Deus e ao mundo que o rodeia”.
(JOHN STOTT STOTT, John. Desarrollando una mente cristiana… Disponível em <http://www.sigueme.com.ar/vida/temas/00005_la_mente_stott.htm>. Acessado em 9.4.2004.)
Escrevo este capítulo, ao som de uma mensagem que recebi a poucos instantes, nos seguintes termos: “Não alimento desejos de filiar-me a qualquer igreja que venha a me reprimir de qualquer forma por não acreditar que a Bíblia é a Palavra de Deus (expressão pra mim cerne de todos os dramas e pretensões do protestantismo)”.
Esta pretensão tem sido cada vez mais comum e não vou respondê-la aqui. Pretendo, antes, propor que, debates teológicos à parte, precisamos desenvolver uma mente bíblica. Sobre este tema, veja o meu livro RESPOSTAS CORAJOSAS.
A BÍBLIA COMO GUIA
Comecemos por recordar que a Bíblia não nasceu Bíblia. Foi-se tornando. Ela é uma testemunha narrativa da ação de Deus na vida dos seus filhos. Em momentos específicos, Ele levantou líderes (ativistas como Moisés, juízes como Samuel, reis como Davi, profetas com Isaías, evangelistas como Marcos, apóstolos como Paulo) para conduzir/despertar esses Seus filhos com palavras/ações vindas dEle.
As falas de/sobre Deus, as ações de seus filhos e as ações dEle foram registradas em forma oral e escrita. Aos poucos, esse material foi se transformando em uma série de livros, que circularam entre o povo de Israel e depois entre os primeiros cristãos, compondo a Bíblia, que é, pois, Ação e Palavra de Deus.
Portanto, a Bíblia é o guia de Deus para o homem. Ao longo da história, bilhões de pessoas têm moldado suas vidas por ela. Hoje, também.
Como aprendemos em 2Timóteo 2.3-6, o tema da Bíblia é Jesus Cristo, o Salvador. O objetivo da Bíblia é apresentar de Jesus Cristo, o Salvador. O desejo do Autor da Bíblia é que os seus leitores sejam salvos. Só sabemos de Jesus o que a Bíblia nos diz. Você quer conhecer a Jesus? Leia a Bíblia.
De igual modo, a Bíblia é guia para uma vida justa (Mateus 5.43-48). A Bíblia é um relatório completo dos padrões de Deus para a vida dos seus filhos. Neste sentido, é um manual prático. O desejo de Deus para seus filhos é muito elevado: que sejam perfeitos com Ele é perfeito. Este é o nosso Deus: ele não reservou a perfeição apenas para Si mesmos; Eles nos quer perfeitos como Ele. Para tanto, legou-nos a Sua Palavra. Quem conseguir cumprir as regras do manual será perfeito.
Mais ainda, a Bíblia é guia para a doutrina correta (2Timóteo 4.1.4). A Bíblia é um retrato da mente de Deus. Se você quem conhecê-la, leia a Bíblia. Quando não lemos a Bíblia, seguimos a nós mesmos ou a autores que elegemos. Quando seguimos a nós mesmos ou aos autores que elegemos, nós nos afastamos de Deus. Foi isso, por exemplo, que fez o povo de Israel, quando, em lugar de seguir a Deus, preferiu seguia a Arão: fez para si mesmo um bezerro de ouro. É absolutamente incrível a capacidade humana de pensar, o que é prova de sua imagem-semelhança de Deus. No entanto, é triste ver esta capacidade usada para a confecção do erro, mesmo no plano religioso e até mesmo a pretexto da Bíblia. Você quer saber se algo que você ouviu está certo, leia a Bíblia. Você quer saber se uma idéia que você está tendo está correta, leia a Bíblia.
Não bastassde, a Bíblia é guia de encorajamento (Salmo 121.3-4). A Bíblia é uma sucessão de imagens do coração pulsante de amor, que é o coração de Deus. Quando vemos o Ele fez com seus filhos no Antigo e no Testamento, podemos ter certeza que fará o mesmo conosco. Nossos antepassados seguiram por vales de morte, mas não ficaram lá, como nós também não ficaremos.
Meu Senhor é um Deus que não dorme,
como um guarda que jamais cochila.
Firmada nEle, minha fé não morre.
Seguindo com Ele, meu pé não vacila.
Este é o Senhor eterno que me socorre.
Você está desanimado? Leia a Bíblia. Está sem perspectivas? Leia a Bíblia.
NOSSAS DIFICULDADES EM LER A BÍBLIA
Sabemos disto, mas lemos pouco e mau a Bíblia.
Há razões de ordem intelectual.
Acham algunsa estar ela superada em relação aos avanços científicos e as decisões morais contemporâneas. O que pode ela nos dizer sobre namoro virtual, por exemplo?
Pensam outros não encontrar nela o que procuram. O que tem a dizer, por exemplo, sobre doação de órgãos?
Supõem alguns também que jamais terminaremos sua leitura. Afinal, é um livro de 66 livros e cerca de duas mil páginas, conforme a edição. Nestas páginas, há listas enormes de nomes e muitas repetições.
Consideram alguns outros que seu vocabulário muito elevado e as culturas que descreve muito diferentes da nossa. Veja se você entende o seguinte texto de Isaías 7.23-25, numa tradução bem empregada em nosso idioma (ARA)?
Sucederá também naquele dia que todo lugar, em que antes havia mil vides, do valor de mil siclos de prata, será para sarças e para espinheiros. Com arco e flechas entrarão ali; porque as sarças e os espinheiros cobrirão toda a terra. Quanto a todos os outeiros que costumavam sachar, para ali não chegarás, por medo das sarças e dos espinheiros; mas servirão de pasto para os bois, e serão pisados pelas ovelhas.
Quando a Bíblia foi escrita, não havia luz elétrica, e tudo o que dela depende (como geladeira ou ventilador). Não havia telefone. Não havia automóvel. Não havia computador. Não havia casas como as de hoje. Não se usavam roupas como as de hoje.
Temem ainda outros também que ela é profunda demais. Você acha que Paulo é muito profundo demais, quando manda entregar um pecado a Satanás ou quando diz que todos fomos predestinados? Não se assuste. O apóstolo Pedro também achava: E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada; como faz também em todas as suas epístolas, nelas falando acerca destas coisas, mas quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição. (2 Pedro 3.15-16)
Há dificuldades de ordem existencial, pois suas verdades demandam compromisso. Ela pode me pedir para ir por todo o mundo (Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos — Mateus 28.19,20
), mas eu não quero sair de onde estou.
Ela pode me pedir para contribuir financeiramente com alegria para o sustento da casa e da causa de Deus (Cada um contribua segundo propôs no seu coração; não com tristeza, nem por constrangimento; porque Deus ama ao que dá com alegria. — 2Coríntios 9.7), mas eu sou um mão-fechada para as coisas do Reino de Deus.
Ela pode me pedir para eu colocar minhas habilidades a serviço de Cristo (E ele deu uns como apóstolos, e outros como profetas, e outros como evangelistas, e outros como pastores e mestres, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo. — Efésios 4.11-12), mas eu prefiro apenas assistir ao “espetáculo” preparado pelos outros.
Ela pode me pedir para caminhar uma segunda milha com quem me faz mal (Eu, porém, vos digo que não resistais ao homem mau; mas a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar mil passos, vai com ele dois mil. — Mateus 5.39-41), mas eu acho isto completamente antinatural.
Ela pode me pedir para me encher do Espírito Santo (<ii,enchei-vos do Espírito — Efésios 5.18), mas eu acho mais confortável me entupir com os lixos do espírito nada santo do meu tempo.
Podemos ainda alegar FALTA DE TEMPO, pela vida agitada que levamos; FALTA DE DISCIPLINA, para organizar adequadamente nossos tempos pessoais e FALTA DE CONHECIMENTO, que nos leve ao enriquecimento com a sua leitura.
Deus tem algo a nos dizer na agitação da vida, falta de disciplina e escassez de conhecimento, mas não permitimos que Ele fale.
NOSSAS POSSIBILIDADES PARA LER A BÍBLIA
Intelectualmente, a Bíblia não é irrelevante. Não é um livro como qualquer outro; antes, é um livro que nos penetra. A palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração (Hebreus 4.12).
A Bíblia não é superada. Como não é livro de ciência, que muda a cada dia, nem de filosofia, que é necessariamente subjetiva, continua atual.
A Bíblia não é insuficiente. Ela trata do que é importante e atemporal
A Bíblia não é volumosa quanto parece, pois ela só registra parte do que precisava ser registrado (E ainda muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem.
— João 21.25); ademais, pode ser lida em partes com grande proveito.
A Bíblia não é difícil, quando são usados recursos de auxílio à leitura, como versões diferentes e edições anotadas. Entre as versões, recomendamos: Imprensa Bíblica Brasileira, melhores manuscritos; Nova Tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje; Nova Versão Internacional. Entre as edições anotadas, são excelentes a Bíblia Anotada Mundo Cristão, a Bíblia de Estudo Vida e Bíblia de Estudo de Genebra. Para um estudo devocional diário, recomendo o meu DIA A DIA ATRAVÉS DA BÍBLIA, publicado pela editora MK, do Rio de Janeiro.
A Bíblia é profunda, não há como negá-lo, mas o profundo é que é bom. Chega de superficialidade!
Existencialmente , Deus tem expectativas a nosso respeito, mas tem elogios ao nosso deempenho. Deus pede compromisso, mas oferece promessas. Porque o Senhor vosso Deus é um fogo consumidor, um Deus zeloso. (…) Quando estiveres em angústia, e todas estas coisas te alcançarem, então nos últimos dias voltarás para o Senhor teu Deus, e ouvirás a sua voz; porquanto o Senhor teu Deus é Deus misericordioso e não te desamparará, nem te destruirá, nem se esquecerá do pacto que jurou a teus pais. Dt 4.24; Dt 4.30-31)
Metodologicamente, aprendamos que é feliz aquele que tem seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e noite (Salmo 1.2).
Quanto à FALTA DE TEMPO, é um erro viver na agitação e na competição. Há tempo para tudo nesta vida (Eclesiastes 3), mas por vezes atropolamos tudo e não fazemos as coisas como devem ser feitas. Tempo é uma questão de prioridade.
Quanto à FALTA DE DISCIPLINA, ela deve ser uma meta para a vida como um todo. Veja um horário, um estilo, e organize a sua vida.
Quanto à FALTA DE CONHECIMENTO pocure se superar. Não se contente com a sua falta de conhecimento. Não perca os tesouros escondidos sob seu braço (ou colocados sobre suas pernas).
Para conhecer a Deus, precisamos ler a Sua Palavra.
Para viver uma vida digna deste nome, precisamos conhecer os padrões de Deus, que estão na Sua Palavra.
Para saber o que cremos, precisamos estudar o que Deus nos tem ensinar por Sua Palavra.
Para sermos encorajados/fortalecidos por Deus, precisamos permitir que Ele nos fale por Sua Palavra.
DIRETO AO CORAÇÃO DO ENSINO DA BÍBLIA SOBRE A BÍBLIA (2Timóteo 3.10-17)
tu, porém (verso 10)
Nos versículos anteriores, descreve o mundo de sua época, em nada diferente do nosso. Ele descreve a moral (escrava dos deleites pessoais, porque as pessoas só amam a si mesmas — verso 4), a filosofia (orgulhosa de suas próprias perspectivas e sem o temor de Deus — verso 4) e a religião (que tem aparência de piedade e é capaz de arrastar multidões, embora não tenha o poder de Deus — verso 5).
Contra esta correnteza, Paulo lembra (tu, porém) a Timóteo que ele é de outra estirpe (raiz), aquela a quem Pedro chama de “geração eleita” (2Pedro 2.9-10)
Somos mesmo de outra estirpe? Somos mesmos geração eleita?
Nossa época elegeu o relativismo como sua filosofia e sua conduta. A essência do ensino desta visão pode ser resumida em duas frases: tudo é verdade; a verdade é o que eu acho ser a verdade. Predomina a noção do “politicamente correto”, que é um cuidado que devemos exercer, mas que não pode levar ao exagero de mais não julgarmos os comportamentos dos outros, como se todos estivessem corretos tanto do ponto de vista intelectual quanto do moral.
O que diz o relativismo, num plano, o moral, por exemplo? Não é politicamente correto condenar o homossexualismo, por se tratar de um direito que uma pessoa tem sobre sua sexualidade. No entanto, se somos de outra estirpe, lemos na Bíblia claramente, que Deus abomina todas as manifestações de pecado, o do homossexualismo entre eles, mas não somente o homossexualismo.
Segundo o relativismo vigente, não é politicamente correto afirmar que só quem segue a Cristo como Senhor será salvo, para não incorrermos em algum tipo de etnocentrismo, ao julgarmos o mundo pela ótica dos que seguem a Jesus. Afinal, todas as religiões são verdadeiras… Ora, se somos geração eleita, lemos na Bíblia que só há um caminho para a salvação; logo, não podemos inventar outro evangelho. É claro que isto não nos dá direito de massacrar as culturas dos outros povos (como os ingleses fizeram com os indianos e os portugueses com os índios), nem considerar ninguém inferior.
Quem integra o sacerdócio real nada contra a correnteza, por mais forte que ela seja.
O apóstolo Pedro nos adverte contra as fábulas engenhosas. (Porque não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade — 2Pd 2.16)
Todo modo de pensar e viver que esteja em contradição com a Bíblia é uma fábula engenhosa, como o caso do corbã, que ilustra bem a capacidade humana de “dar uma volta” em Deus.
A legislação do antigo Israel era muito severa. Era uma obrigação dos filhos cuidarem dos pais velhos ou pobres. O castigo, para quem não cumprisse, era a morte (Ex. 21:17). Os judeus deram um jeito de fugir a este mandamento. Alguns entravam em acordo com o pessoal do templo e dedicavam (corbã) seu patrimônio ao Senhor. Assim, seus bens não poderiam ser usados. Quando seus pais morriam, davam um jeito (subornando algum religioso) de recuperar o que tinham `oferecido’ a Deus.
Por isto, Jesus ficou tão indignado contra esses espertos (Mc 7.9-13).
Contra o relativismo, que é uma forma de subjetivismo, a Bíblia é o melhor anteparo.
permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado (verso 14)
Não há qualquer contradição entre a ciência e a fé. Ou melhor: pode haver contradição entre a ciência e a fé, mas não entre a fé e a ciência. Um cristão se extasia com as descobertas da ciência e com as maravilhas da tecnologia. A diferença é que o cristão não vê a ciência e a tecnologia como fins em si mesmas, mas competências humanas, dadas por Deus, para o domínio equilibrado da natureza e da vida.
Isto não quer dizer que a ciência faz coisas condenáveis, como armas químicas ou eletrônicas de grande poder de destruição. Não basta dizer que esses artefatos são neutros; ruim é o uso que fazemos delas. Não! Arma não presta para nada.
Esses erros não podem levar os cristãos a se posicionar contra a ciência. Aliás, esta atitude tem levado muitos homens de ciência a fugirem da fé.
Não há qualquer contradição entre a inteligência e a oração. Nós devemos viver nestes dois níveis, sabendo que um não se esgotam sem o outro. A inteligência pode saber todas as características de uma laranja, mas só a experiência de chupá-la pode revelar o sabor da laranja. A inteligência nos ajuda a entender Deus, mas só a oração nos capacita a fruir de sua presença. Nós precisamos entender Deus, pela inteligência; nós precisamos fruir Deus, pela oração.
Nós precisamos apreender. Quem não aprende está longe de fruir o sabor da vida. Quem não estuda a Bíblia não pode alcançar a profundidade de sua verdade. Às vezes, queremos aprender, mas sem esforço. Alguns chegamos a sucumbir à tentação da iluminação direta, que é pedir para Deus nos falar, não por sua Palavra (que dá trabalho), mas por sua comunicação direta conosco (por meio de visões e sonhos, que são meios excepcionais e a critério de Deus, não sendo, pois, legítimo, pedir por eles, embora devamos aceitá-los se Deus os usar para conosco).
Aprendamos de Deus por meio da sua Palavra, porque ela é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito (verso 16b).
desde a infância (verso 15)
Timóteo era um privilegiado, como há muitos cristãos privilegiados, por ter desde a infância aprendido as sagradas letras.
Os mais jovens devem agradecer a Deus este privilégio e pedir a Ele que os mantenha neste caminho, apesar das fábulas engenhosas. Muita gente tem que experimentar o horror do pecado e mesmo a perda da fé, para descobrir que o salário do pecado é a morte e então se voltar para Deus, alguns já alquebrados sem poder fruir aqui o prazer da presença do Pai.
Ouvi de uma senhora cristã, solitária, que começou a namorar um homem e em poucas semanas o colocou em sua casa, em seu quarto e em sua cama. Quando contestada com a Palavra de Deus, ela se saiu com esta: “Estou dando um tempo para Deus”. Ela reconhece seu erro, mas prefere viver nele. Ela não permanece aquilo que aprendeu.
Os mais jovens devem respeitar aos mais velhos, parando para lhes ouvir, buscando seus conselhos. Há muitos juniores, adolescentes e jovens que acham que já sabem tudo da vida, quando não sabem nada. Se os mais velhos sabem quase nada, quanto mais os jovens… É um privilégio ser instruído.
Não importa a nossa idade, devemos permanecer na Verdade que nos escolheu. Crianças, juniores, adolescentes, jovens e adultos, que já temos uma história de fé pessoal, permaneçamos na verdade. Consideremos esta experiência um privilégio. Não precisamos viver longe do Pai para sabermos que sua casa é a melhor de todas as casas.
Ainda para os mais velhos, vamos conservar nossas crianças, nossos adolescentes e nossos jovens. Isto não quer dizer que nunca os vamos corrigir, porque eles precisam da correção da Palavra de Deus, como os adultos também. Nós somos muito intolerantes com eles e muito tolerantes com os adultos, que cometem os mesmos deslizes.
Os mais jovens são mais tolerantes com os mais velhos do que o contrário. Querem um exemplo? Eles agüentam uma forma de culto que nos dão muito prazer e pouco prazer a eles. No entanto, quando há um culto mais ao gosto deles, nós não o toleramos. Há pessoas que olham a ordem do culto e não voltam à noite (ou voltam da porta), se percebem que o culto tem instrumentos e cânticos considerados jovens. Se o culto não lhe agrada e sai, o mais jovem mostra que não tem fé… Se o culto não lhe agrada e não vem, o mais adulto mostra que é zeloso… Não estou legitimando a atitude dos mais jovens, mas estou lamentando profundamente condenando a atitude dos que se acham defensores de um estilo verdadeira de culto. Ambas são intolerantes e ambas se esquecem que o culto é para dar prazer a Deus. Essas atitudes são próprias de fariseus e imprópria para pessoas verdadeiramente piedosas.
Não importam a nossa idade, não importam os nossos gostos, formemos a comunidade dos que aprendem a Palavra Deus, para viver por ela e para Ele.
podem fazer-te sábio para a salvação (verso 15)
O objetivo da Bíblia é apresentar Cristo. Ela pode conter ensinos para a vida, mas será insuficiente se não for lida como o caminho por excelência para a salvação em Jesus Cristo.
No Antigo Testamento, a Bíblia aponta para o Messias que virá para salvar toda a humanidade. No Novo Testamento, a Bíblia apresenta o Messias Jesus que veio e voltará. Assim, portanto, a Bíblia é a história da salvação. Por isto, temos que ler Gênesis com os olhos fixos em Jesus. Temos que ler Crônicas, mesmo as seções genealógicas, com os olhos voltados para Jesus. As genealogias estão na Bíblia por causa de Jesus.
Deus sabe que sem Jesus a história da humanidade, e por inclusão a história de cada um de nós, é vazia. A Bíblia é a história de Jesus.
Jesus é a revelação completa porque é a Palavra de Deus para a salvação. A Lei e a religião falharam como canais de comunicação. Por isto, veio o próprio conteúdo da comunicação divina (Jo 1.1; Ap 9.13).
Jesus é a revelação completa porque comunica o caráter (o próprio ser) de Deus (Jo 14.9). Por Ele, o Deus invisível do Antigo Testamento se tornou o Deus visível do Novo. Não há mais véu. Não há mais rocha no caminho. Não é preciso mais uma nuvem. Não precisamos mais de mediadores institucionais ou pessoais, embora o homem os prefira.
Jesus é a revelação completa pela sua singularidade. Diante dEle, a razão deve se tornar cativa. Diante dEle, as religiões se tornam o que são: insuficientes. Diante dEle, nossa atitude deve ser de adoração, com joelhos (auto-suficiência) dobrados e lábios (competência) contritos.
Jesus é a revelação porque exige uma resposta. O perfeito Comunicador não lança sua mensagem ao léu, mas a envia diretamente ao recebedor e espera uma resposta (Ap 3.20).
A leitura da Bíblia nos torna, assim, sábios para a salvação, como ensina o apóstolo Paulo a Timóteo.
toda Escritura é divinamente inspirada (verso 16)
A expressão divinamente inspirada é uma só palavra no idioma utilizado por Paulo, significando soprada por Deus.
O modo como Deus soprou, inspirou, halitou sua Palavra no homem vem sendo objeto de disputa. Uns acham que os autores da Bíblia foram apenas digitadores das palavras ditadas por Deus. Neste caso, eles sequer sabiam o que estavam escrevendo. O caso de Moisés ilustra bem esta visão. No final de Deuteronômio, há uma descrição da morte de Moisés. Para os que defendem esta maneira de Deus agir acham que Ele ditou para Seu servo seu próprio necrológio.
No extremo oposto, há os que acham que a Bíblia é um livro completamente humano, escrito por pessoas que criam em Deus. Neste sentido, ela deve ser lida como se lê Parmênides, Anselmo, Lutero, Dostoievski, Tolstoi, Machado de Assis, Bonhoefer ou Carlos Drummond de Andrade (para ficar com meus preferidos…). Humano, logo datado, foi válido para uma época, podendo não ser mais para a nossa.
Uma posição equilibrada considera como dinâmico o processo de inspiração de Deus. Quando construiu a terra, Deus lhe deu forma, porque estava vazia e caótica. Quando fez o homem, Deus lhe soprou o hálito da vida, porque não passava de um conjunto de células. Gosto de pensar que o processo de inspiração da Bíblia guarda a mesma semelhança.
Como ensina Pedro, a Bíblia foi produzida por vontade dos homens, mas pela orientação do Espírito Santo, que moveu seus corações e suas mentes (2 Pd 1.21)..
Ao Seu modo e ao seu tempo, Deus tomou os pensamentos humanos, a criatividade humana, os estilos literários humanos, as percepções humanas, próprios de pessoas tementes e em comunhão com Ele e soprou neles seu hálito. Ao fazê-lo transformou o resultado desta produção humana numa obra singular, única, sem par, divinamente inspirada, na sua origem e no seu propósito.
Nela, o homem é plenamente humano e Deus é plenamente divino. Se fosse apenas humana, não valeria a pena lê-la com a mesma disposição. Se fosse apenas divina, não conseguiríamos compreendê-la. Pelo sopro do Seu Espírito, Deus transformou o carvão em diamante, diamente que nos ilumina e nos penetra, por conter o brilho e a plenitude de Deus. Para a apreendermos, temos que lê-la, por esta sua característica divino-humana, com os olhos da inteligência e com a força da oração.
Ao lê-la com inteligência, não seremos presas do literalismo, tenha ele intenções boas ou más, ambos incapazes de nos vivificar, porque assassinadas pelas picuinhas. Antes, usaremos nossa razão para tirar o máximo proveito dela. Ao lê-la com inteligência, não seremos presa do atomismo, que consiste em ler apenas versículos isolados e selecionados da Bíblia, mas permitiremos que ela toda nos penetre. Ao lê-la com inteligência, não seremos presas do legalismo, que põe numa determinada interpretação a verdade, como se a verdade estivesse na interpretação e não na Palavra, porque nossa interpretação (e somos livres para lê-la) é falha. Nossa interpretação, seja qual for sua procedência e carimbo, não é a Verdade.
Ao lê-la com a força da oração, nós nos deixaremos moldar por sua Verdade. Nós iremos além das palavras. Nós meditaremos nela, tanto nos textos conhecidos como nos desconhecidos. Nós a usaremos para nos unir, não para nos dividir como objeto de discórdia. Nós a leremos contra nossas convicções pessoais ou denominacionais. De nada seremos escravos, porque libertos pela Palavra.
perfeitamente preparado para toda boa obra
(verso 17)
A Bíblia Sagrada, ensina o apóstolo, é útil para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, perfeitamente preparado para toda boa obra.
Sem a Bíblia, não temos o que dizer. Quando a lemos, ficamos de prontidão. Que lhes dizer quando pessoas nos procuram para uma palavra de esclarecimento, livramento ou consolo?
Uma das maiores desgraças do Cristianismo é que a maioria dos seus seguidores não está preparada para dar a razão da sua esperança, o que os coloca sem condições de dialogar com o seu tempo e os faz merecedores dos mais duros deboches.
Todos queremos ter as palavras próprias para determinadas horas. Elas se encontram na Bíblia, não para uma recitação mecânica, mas para uma apropriação honesta e profunda. Apropriando-nos do seu conteúdo, elas nos serão úteis na hora em que precisarmos.
Sem a Bíblia, não sabemos como agir adequadamente. Todos queremos fazer a boa obra. Quando estamos impregnados da Palavra de Deus, os exemplos nela expressos (mesmo os negativos) nos ajudam a viver como Deus deseja.
Se queremos estar preparados para toda boa obra, leiamos a Bíblia. Sua leitura se completa quando a aplicamos. A leitura de um poeta nos extasia. Devemos ler os poetas. A leitura da Bíblia nos extasia, nos muda e nos molda.
APREDENDO COM LUTERO
Entre as frases de Lutero, há uma que merece figurar no quadro mental de todo cristão. É aquela que proferiu na Dieta de Worms, em 1521: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém”
1. Em 1514, o monge agostiniano Martin Lutero (1483-1546) era professor de teologia moral da Universidade e padre da igreja de Wittenberg. Por esta época, ele convivia com a incerteza acerca da sua salvação, que tanto buscava. Preparando suas aulas, deparou-se com a afirmativa de Paulo, em Romanos 1.17, de que o homem é justificado pela fé. Para ele, foi o que ele mesmo chamaou de “a descoberta do evangelho”, descoberta que mudou a história do Cristianismo.
Já com esta convicção, ele observou, no seu trabalho pastoral, que o povo, em lugar de comparecer à igreja, ia a cidades vizinhas (como Jüterbog ou Zerbst) para comprar indulgências, pelas quais tinham perdoados os seus pecados sem necessidade de confissão (isto é, de arrependimento). Um dos vendedores de indulgência na região, o comissário papal Johann Tetzel (1465-1519), fazia suas ofertas de modo muito ostensivo, dizendo (segundo consta) que “quando o dinheiro tilinta na caixa, as almas dão um pulo para o céu”.
A prática deixou Lutero repugnado e ele passou a pregar contra o comércio de indulgências. Ele escreveu então 95 teses (frases) para servir de debate sobre o tema. Entre elas, podemos destacar três, por sua contemporaneidade:
. “Erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa”. (21ª Tese)
. “Todo e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem carta de indulgência”. (36ª Tese)
. “Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e, a despeito disto, gasta dinheiro com indulgências não adquire indulgências do papa. mas provoca a ira de Deus”. (45ª Tese)
No dia 31 de outubro de 1517, Lutero enviou cartas a alguns bispos e amigos, com transcrição das teses, sem imaginar a reação que se seguiria. As teses foram impressas pouco depois por diferentes pessoas em diferentes cidades. Tetzel protestou e acusou Lutero de ser um herege, seguidor de Jan Hus, ameaçando-o queimar numa fogueira. Alguns bispos aplaudiram Lutero.
Em seguida, Roma abriu uma inquisição (inquérito) contra ele (1518). Atacado, Lutero se pôs a trabalhar, desenvolvendo uma teologia autônoma, na qual começava a afirmar os postulados fundamentais do que seria a Reforma Protestantes, ausentes nas suas 95 Teses. Seus primeiros livros (“Mensagem à Nobreza Cristã da Nação Alemã”, “O Cativeiro Babilônico [da Igreja Católica]” e “A Liberdade do Cristão”), escritos sob forte emoção, rompiam com Roma, que ameaçou excomungá-lo se não se retratasse.
A resposta de Lutero foi queimar em público a bula (“Exurge Domine”) que o ameaçava. O papa o excomungou pouco depois.
2. Para tentar acalmar os ânimos, uma dieta imperial foi convocada por pressão de principies (governadores) que não o apoiavam). Lutero foi convocado pelo Imperador da Alemanha. Apoiado por outros príncipes, que tinha interesses políticos, Lutero compareceu à reunião, realizada em Worms, onde chegou aplaudido pelo povo. No caminho, pregou em várias cidades.
Por duas vezes, ele compareceu diante do Imperador Carlos verso Seus livros foram colocados sobre a mesa. Ele foi perguntado se os livros eram seus e se se retratava de algo ali contido. Lutero pediu tempo para responder e no dia seguinte ele voltou com a seguinte resposta: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém”.
3. Lutero foi dispensado e só não foi preso porque tinha um salvo-conduto que lhe dava 21 dias de viagem em segurança. Quando ele e os príncipes que o apoiavam deixaram a cidade, o reformador foi declarado proscrito e podia ser morto por qualquer pessoa sem que isto fosse um crime.
Para protegê-lo e evitar mais dificuldades para si mesmo, o eleitor (governador) Frederico, da Saxônia, manteve-o recluso em Wartburg. Ali era chamado de Cavaleiro Jorge e deixou seu cabelo e sua barba crescerem. Neste ínterim, traduziu o Novo Testamento a partir do grego, no curto período de 11 semanas.
Quando deixou o refúgio, a Reforma Protestante estava próxima de se tornar uma realidade, para qual Lutero contribuiu com a ação e com a produção de tratados, comentários, tradução da Bíblia e de hinos que foram 36, dos quais o mais conhecido é “Castelo Forte”, de 1529, baseado no Salmo 46.
4. Um dos postulados da Reforma (“sola Scriptura”, a autoridade da Bíblia como regra de fé e pratica) encontrou seu teste-de-fogo em Worms. A busca pela salvação chegara ao fim com a leitura da Bíblia, que lhe permitiu uma nova e maravilhosa definição da justiça de Deus e a conseqüente compreensão de que a fé é indispensável para salvação (“sola Fide”). O embate contra as indulgências estava na formação do outro postulado, de que não há mediadores entre o homem e Deus no seu caminho para o Pai (“solos Christus”).
Decorrido quase meio milênio da formulação do princípio da autoridade normativa da Bíblia, ainda precisamos dele. Necessitamos entender que a Bíblia deve ser a fonte de nossos desejos e opiniões, bússola para nossas decisões. Não é cristão quem “acha” isto ou aquilo mas aquele que lê a Palavra de Deus, interpreta-a e aplica-a, para si primeiramente e para o mundo em que vive, depois.
A TRISTE ATUALIDADE DAS INDULGÊNCIAS
Olhando para o Cristianismo hoje, podemos vislumbrar a atualidade renovada da prática das indulgências. Ao tempo de Lutero e no nosso, somos bombardeados com o anúncio de um evangelho fácil.
Segundo este evangelho fácil, podemos ter fé sem nos arrependermos; podemos ser evangélicos sem seguirmos o Evangelho; podemos ler a Bíblia, sem conhecê-la e sem seguir os seus ensinos. Precisamos estar atentos a estes convites.
1. Uma fé sem arrependimento destaca que Jesus Cristo é Salvador, que Sua graça é para todos que Ele vem em socorro dos que o buscam. Estas verdades, no entanto, devem ser acompanhadas de outra, que Ele é Senhor e que um cristão é quem submete sua vida ele, começando pelo arrependimento dos pecados. A ordem bíblica é clara: arrependa-se e creia. Narra o evangelista Marcos que, depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. Não há fé verdadeira sem arrependimento verdadeiro, que se realiza com a disposição para uma mudança de vida. As novas indulgências apregoadas hoje põem ênfase nas bênçãos de Deus, chegando algumas a condicionar estas bênçãos à entrega de ofertas, não ao oferecimento radical de vidas. Assim como nas indulgências, Deus era obrigado a fazer as almas saltarem para o céu, nas novas indulgencias Deus é obrigado a ser fiel como aqueles que Lhe são fiéis. Os Tetzel de hoje gritam: “Dê tudo para Deus, que Ele vai lhe dar tudo”. Os papéis se invertem: o homem determina e Deus obedece.
2. Um evangelho sem Evangelho produz doutrinas ou práticas sem o apoio da Bíblia, porque baseadas no comodismo de quem as consome ou no interesse pessoal de quem as formula. Na Bíblia não há lugar para amuletos, quaisquer coisas a que se agarre para a proteção. Só Deus, sem nenhuma intermediação, nos conduz, nenhum outro objeto, nenhum outro ser. O desespero de muitos cristãos, o oportunismo de muitos apregoadores e o desconhecimento da Bíblia têm produzido um evangelho absolutamente com conexão com o Evangelho.
Dê Deus uma oportunidade de servi-lO àqueles, por exemplo, que são convidados, e aceitam, a ir a uma praia, porque a água salgada lava os pecados e leva os problemas das pessoas. Ensine Deus àqueles que, seguindo o paganismo moderno, crêem em anjos protetores e enchem seus corpos de broches angelicais. Inspire Deus àqueles que estão nos extremos de achar que Seu poder, por meio de palavras, de dons e de milagres, ficou no passado, servindo-nos apenas agora de inspiração, ou de achar que são os maestros de Deus, pensando bobamente que podem manipulá-lO com uma batuta mágica para faça as suas vontades e não a do Senhor da história e da glória.
3. Uma vida sem a Fonte da vida é tudo menos a vida transbordante, que se desenvolve a partir de um estudo sério e corajoso da Bíblia, sério porque dedicado e disciplinado, e corajoso porque compromissado em viver o que a Palavra de Deus ensina. Deus é a fonte da vida e a Bíblia é a palavra que vem desta Fonte. Se queremos vida, precisamos ler a Sua Palavra. Se queremos vida, precisamos obedecer a Sua Palavra. A Bíblia não está superada, porque Deus não está superado. Corretamente lida, a Bíblia não nega a razão, se a razão estiver cativa de Deus. Inteligentemente lida, a Bíblia não se contrapõe à consciência, se a consciência é regida pelo amor.
A UTILIDADE PERMANENTE DA BÍBLIA
Olhando para o Cristianismo, podemos ver a necessidade da renovação da frase de Lutero.Diante da força dos desejos, da oposição das tendências, precisamos pensar como o Reformador: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura (…) minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém”.
1. Para tanto, precisamos crer como Lutero, que cria, com Paulo, que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. (1Timóteo 3.16-17)
O apóstolo Paulo deseja que todo cristão seja um homem de Deus, que toda a mulher seja uma mulher de Deus. Esta expressão “homem de Deus”, que significa pessoa que pertence a Deus, que busca fazer a Sua vontade, aparece 70 vezes no Antigo Testamento e duas vezes nas cartas a Timóteo (aqui e em 1Timóteo 6.11), uma claramente aplicada ao filho espiritual de Paulo e outra aplicável a todo cristão.
No Antigo Testamento, são homens de Deus o líder Moisés (Deuteronômio 33.1), os profetas Semaías (1 Reis 12.22), Elias (1 Reis 17.18), Eliseus (2 Reis 4.7), o rei Davi (Neemias 12.24), o funcionário da casa real Jigdalias (Jeremias 35.4) e uma multidão de anônimos (Juízes 13.6, 1 Samuel 2.27, 1 Samuel 9.6, 1 Reis 13.1, 2 Reis 23.16).
Todos foram homem habilitados para desenvolver a missão que receberam, habilitados pela Palavra de Deus. Quando precisaram falar, falaram a Palavra de Deus. Quando precisaram decidir, decidiram segundo a Palavra de Deus. Por isto, foram chamados de homens de Deus, que é como devemos também ser chamados.
2. E nós o seremos se entendermos que a Bíblia foi inspirada por Deus, com objetos claros: ensinar a boa doutrina e educar para a vida reta.
Para tanto, precisamos aceitar e entender que a Bíblia foi inspirada por Deus. Paulo, na verdade, diz que ela foi “soprada por Deus” (theopneustos). Ela se originou na mente de Deus e foi comunicada aos homens por meio de homens e em palavras de homens. Ao longo da história, homens e mulheres captaram a mente de Deus, por uma vida de intimidade com Ele, traduziram-na em palavras humanas, tornando a Bíblia assim uma espécie de tomografia computadorizada do cérebro do Criador. A Bíblia não é Deus, mas palavra dEle. Os homens a escreveram, não foi Deus quem a ditou, porque Deus trabalha em cooperação com os homens. É esta parceria que dá a Bíblia a sua dimensão humana e sua dimensão divina. É por isto que ela nos inspira, ensina e molda.
3. Deus, portanto, inspirou a Bíblia para nos ensinar. A natureza deste ensino, o apóstolo Paulo a apresenta em três dimensões: a dimensão soteriológica, a dimensão teológica e a dimensão ética.
A Bíblia ensina o plano de Deus para a salvação do homem. Ela não é um manual de ciência, a qual valoriza, e não é um livro de história, porque foi escrito para o homem creia. Ciência e historia o homem descobre e descreve pela pesquisa. A salvação, não, esta não vem pela razão, nem pela ciência, nem pelo conhecimento histórico, mas da audição da Palavra de Deus. A Bíblia é o livro da salvação por meio de Jesus Cristo. Ela ensina que todos pecaram e se afastaram voluntariamente de Deus, mas que Deus enviou Seu Filho ao mundo para salvá-lo, para levá-lo de volta ao lar. Ao longo da história, milhares de pessoas têm entendido o plano de Deus para suas vidas lendo a Bíblia. Quem ainda não entendeu este plano e ainda não aceitou o oferecimento do perdão para os seus pecados e ainda não se sente perdoado, e quem sabe nem mesmo pecador, precisa ler, ou continuar lendo, a Bíblia.
Depois desta compreensão de natureza soteriológica, o homem de Deus precisa de uma compreensão teológica, isto é, do entendimento de todo o conselho (plano de Deus), que inclui a salvação e vai além. Estamos nos referindo à utilidade da Bíblia como fonte para um pensar correto. A palavra para este pensar correto é ortodoxia, que tem que ser bíblica, se não, não será ortodoxia, mas tradição e teimosia. Se o nosso pensamento não beber da Fonte bíblica, será bonito, será cortês, será inteligente, mas não terá o hálito de Deus, logo não terá utilidade para uma vida feliz.
A terceira utilidade da Bíblia é de natureza ética. O apóstolo Paulo nos diz que a Escritura bíblica é útil para a educação na justiça, incluindo aí a repreensão e a correção. Se precisamos pensar correto, precisamos viver de modo correto. Tanto quanto precisamos da ortodoxia bíblica, precisamos da ortopraxia bíblica, isto é, de uma vida inspirada por Deus, porque fundada nos ensinos da Sua Palavra. A Bíblia nos ensina a viver e inclui corrigir os nossos erros, evitar os nossos desvios. A Bíblia é sempre a nosso favor, mas, quando suas verdades nos corrigem, ela parece estar contra nós. Na verdade, se ela não estiver contra nós (neste sentido), é porque não a estamos lendo, e, se a estamos lendo, não a estamos levando a sério. Ela tem que nos repreender e corrigir, mesmo quando o erro se enraíza em nós ou mesmo quando parece tão inofensivo.
É a Bíblia que nos ensina a sermos homens e mulheres de Deus.
De que está cativa a nossa consciência? Que seja da Palavra de Deus.
Quem nos tem convencido, no agir e no pensar? Que seja Deus, por meio da Sua Palavra.
Que permaneçamos naquilo que cremos, se o que cremos vem da Palavra de Deus.
Se temos tais intenções, Deus nos ajuda a viver estes compromissos rumo à maturidade cristã.
UMA SÍNTESE
A partir dos ensinos do apóstolo Paulo, podemos sintetizar uma atitude madura diante da Bíblia nos seguintes termos:
1. A leitura da Bíblia nos ajuda a entender, a interagir e a transformar o mundo em que vivemos, sem perda da nossa individualidade (”você, porém” – verso 14).
2. O livre-exame demanda estudo (”permaneça” – verso 14) para que a interpretação não vire livre-invenção. Um conhecimento superficial da Bíblia não produz conhecimento válido para a vida (não é capaz de ‘tornar ninguém sábio”). A Bíblia se explica a si mesma. Por isto, todo texto deve ser visto na intenção do autor e no contexto da sua escritura. Ela está voltada para o que é permanente. À Bíblia não se deve acrescentar nem tirar nada
3. O Antigo Testamento produzirá vida quando iluminado pelo evento crístico (”desde criança, você conhece as Sagradas Letras” – verso 15). Na sua leitura, precisamos nos firmar nos valores (princípios absolutos) que subjazem às suas normas (aplicações temporais)
4. A salvaçãa não se dá pela leitura da Bíblia mas a partir dela, que é pela fé (”salvação mediante a fé em Cristo Jesus” – verso 15). O objetivo da produção e da leitura da Bíblia é nos apresentar o plano divino para a salvação, desde a criação, queda e redenção por meio da graça de Jesus Cristo manifesta na cruz. Como saberíamos disso sem a Bíblia?
5. A autoridade da Bíblia está em sua inspiração divina, que deve ser entendida como tendo sido trazida à existência pelo sopro de Deus, por meio de homens que se tornaram Suas bocas, como ativos cooperadores, considerados os contextos e mantidos os estilos. A Bíblia é literatura, mas não apenas literatura. Ela é tesouro do qual nos apropriamos com os olhos do coração (Efésios 1.18). Ela contém profecias que se cumprem, histórias que mudam vidas (de que Paulo é um exemplo interno), mensagens que satisfazem o ser humano em sua necessidade mais profunda e ensinom que levam as pessoas à maturidade.
6. Deixemo-nos ensinar (a fé para a salvação), repreender (orientação para a conduta), corrigir (instrução para a doutrina) e educar (manual para uma vida feliz) pela Bíblia como homens de Deus que somos.