Lança o teu pão sobre as águas (Amurabe Farel)

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Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás.
Reparte com sete e ainda com oito, porque não sabes que mal sobrevirá à terra.

Eclesiastes 11.1-2) 

Num determinado dia, logo pela manhã, foi incomodado por esses dois versículos do capítulo 11 do livro de Eclesiastes.

Solicitei a dois pastores amigos meus, sem lhes explicar as motivações, ajuda para entender o que Deus estava querendo me ensinar a partir desse texto. Algumas observações me ajudaram e faço questão de anotar por me parecerem relevantes:

1.    Em um comentário bíblico encontramos a possível relação do texto com o fato de que, àquela época,  o rei Salomão comercializava o trigo produzido e o meio de transporte era naval e o trigo, como todos sabemos, é matéria prima para produção de pão.

2.    O pão, na linguagem bíblica, extrapola o sentido literal do alimento básico, traduzindo genericamente a noção de alimento em sentido amplo.

3.    As águas também recebem um sentido de fonte de vida.

4.    Repartir com sete e ainda com oito, no hebraico, mais do que o número propriamente, representa a pluralidade da ação.Rapidamente me veio à mente uma oportunidade em que estive à beira de um lago jogando pedaços de pão para os peixes ali criados. Enquanto esperava que os peixes, pequenos e ariscos se arriscassem ao subir à superfície para abocanhar um pequenino pedaço, migalha mesmo, desse pão, pude observar que logo após tocar a água, o naco de pão se inchava, absorvendo a água e começava a se desmanchar. Como pode então um pão que se desmancha ao contato com a água ser achado depois de dias?

Entretanto, se considero o pão de uma forma genérica, como “alimento”, entendo que esse alimento pode ser encontrado depois de vários dias, na forma do próprio peixe que nos serve de alimento.

Entretanto, embora faça mais sentido, prefiro pensar que, mesmo que fosse a farinha transportada em barcos que, ao contato com a água se dissolve, não podendo mais ser aproveitada, a ação de Deus é suficiente para preservar a sua qualidade e possibilitar que ainda possamos dividir com outros.

Veja que interessante. Para fazer pão ou mesmo uma massa qualquer, é necessário adicionar água à farinha. Outros ingredientes serão acrescentados, dependendo do tipo de massa ou mesmo do tipo de pão que se pretenda. Mas, a proporção de água para uma quantidade de farinha é precisa. Se for adicionada pouca água, teremos uma “farofa” que não vira massa de jeito nenhum. Se for adicionada água em excesso, teremos um caldo chegando mesmo a dissipar toda a farinha e também não teremos a desejada massa. Lançar o pão sobre as águas sempre nos dará a sensação de um volume grande de água para um pequeno pão ou mesmo para uma quantidade pequena de farinha.

Percebi então que o recado de meu Deus não estava na figura que me veio à mente, mas sim na questão da obediência e fé.

Entendi que aquele pedaço de pão que, muitas vezes é jogado no lixo porque estamos satisfeitos, pode alimentar muitos peixinhos que Deus cria e proporcionar-lhes o necessário crescimento.

Entendi ainda que o alimento que tenho me foi possibilitado por Deus e que eu não sou o “fim da linha”, a ação de Deus em minha vida deve me mover a dividir e que a conseqüência dessa partilha é uma multiplicação pela operação milagrosa de Deus. O meu pouco é muito nas mãos de Deus.

Diante dessas conclusões, percebo que em algum momento de minha caminhada perdi essa noção da graça e reconheço como oportuno esse lembrete. Constrangido, peço perdão e agradecido peço forças para trilhar então esse caminho e depositar cada vez mais minha confiança em Deus.

AMURABE FAREL BERNARDES DE ANDRADE