PORQUE SOU CRISTÃO E NÃO ESPÍRITA, 2
(Marcos 1.15)
Se partimos da Bíblia (não de quaisquer outras fontes, nem de nossas experiências) como o Livro de onde derivamos nossas certezas (crenças e compromissos), o diálogo entre cristãos e qualquer outro credo não-cristão se torna possível, embora difícil.
A dificuldade reside primeiramente na aceitação do ponto de partida. No entanto, felizmente os cristãos não temos outro ponto de partida senão a Bíblia. Nossas interpretações intracristãs podem diferir num ponto ou noutro, mas ela não deixa dúvidas sobre as questões essenciais. O que a Bíblia diz que o Evangelho é, apresentado pelo próprio Jesus Cristo e também por seus apóstolos, não deixa dúvidas sobre o que o Evangelho é. Não há outro Evangelho (Gálatas 1.6) se não o Evangelho de Jesus Cristo, que não é um revelador de Deus, porque Ele é o próprio Deus em forma humana. Jesus Cristo é o Deus que se revela plenamente. Qualquer Evangelho que não seja o de Deus, revelado somente em e por Jesus, deve ser rejeitado, mesmo que pregado por um suposto anjo (Gálatas 1.8).
Se aceitamos a Bíblia como a revelação de Deus, notamos que o Espiritismo, embora prometa realizar as promessas de Cristo, é outro evangelho. Embora o prometa, ele não facilita “aos homens a compreensão e a prática da moral do Cristo, dando a fé inabalável e esclarecida àqueles que duvidam ou vacilam”. (KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 193)
Eis a conclusão a que chegamos lendo o conteúdo do Evangelho de Jesus Cristo, como apresentado no Novo Testamento.
A RECUSA À IDÉIA DE PECADO
Jesus principia sua pregação anunciando que as pessoas precisam se arrepender dos seus pecados e crer no Evangelho (“boas novas”, em português). O historiador bíblico registra assim:
“O tempo é chegado”, dizia ele [Jesus Cristo].
“O Reino de Deus está próximo.
Arrependam-se e creiam no Evangelho [ou “nas boas novas”]!”
(Marcos 1.15)
É por isto que lemos outra fala de Jesus:
“Eu não vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento”.
(Lucas 5.32)
Em outras palavras, Jesus diz que não veio chamar os que se consideram justos, mas veio chamar ao arrependimento aqueles que sabem e reconhecem que são pecadores.
O Evangelho, portanto, é uma oferta de perdão. O apóstolo Pedro, quando do nascimento da Igreja cristã, semanas após a ascensão de Jesus Cristo, captou a mensagem de Jesus, ao convidar os presentes à reunião a uma atitude, nos seguintes termos:
“Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados”
(Atos 3.19)
O ensino espírita rejeita totalmente esta síntese. Segundo Allan Kardec, os “meus defeitos atuais são restos das imperfeições que conservo de minhas existências anteriores. São o meu pecado original, do qual posso me livrar por minha vontade e com a assistência dos bons Espíritos”. (KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 284.) Os pecados que cometemos são, portanto, “imperfeições das vidas passadas que temos que superar (nossa expiação) para nos purificar”. (Cf. nota do tradutor de O Evangelho segundo o Espiritismo, p. 284) Essa purificação vem por “méritos, resignação e intrepidez nas provações”. (DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo)
O Espiritismo não pode aceitar que Jesus que tira o pecado do mundo, como nos convida João Batista: “Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! (João 1.29) Não importa a negação do pecado, como faz o Espiritismo, para quem “a palavra pecado não exprime, em si mesma, senão uma idéia confusa. A violação da lei acarreta a cada ser um amesquinhamento moral, uma reação da consciência, que é uma causa de sofrimento íntimo e uma diminuição das percepções animais. Assim, o ser pune-se a si mesmo. Deus não intervém, porque Deus é infinito; nenhum ser seria capaz de lhe produzir o menor mal”
Enquanto a Bíblia diz que todos pecamos e precisamos da graça de Deus (Romanos 3.23), o Espiritismo garante que “nós não precisamos salvar a ninguém, todos estamos salvos, pois somos destinados à perfeição e teremos tantas oportunidades reencarnatórias, quantas forem necessárias, para atingirmos essa meta e, dependendo do esforço que estejamos empreendendo na direção adequada, poderemos atingi-la mais ou menos rapidamente, com mais ou com menos sofrimento. A predisposição é para o desenvolvimento desse potencial positivo que trazemos, quando despertamos no mundo para mais uma experiência encarnatória”. Na verdade, “na perspectiva espírita, não existe nem mesmo o pecado”. (SOUZA, Dalva Silva. Os caminhos do amor. Disponível em )
Na verdade, não existe sequer a idéia de salvação, como o Evangelho de Jesus Cristo a apresenta. No Espiritismo, salvar-se “é aperfeiçoar-se espiritualmente”, para que a pessoa não caia “em estados de angústia e depressão” após a morte. Salvar-se é “libertar-se dos erros, das paixões insanas e da ignorância”. (MARCUS, João (Hermínio C. Miranda). Candeias na noite escura.) Como escreveu Chico Xavier, salvação é “libertação e preservação do espírito contra o perigo de maiores males, no próprio caminho, a fim de que se confie à construção da própria felicidade, nos domínios do bem, elevando-se a passos mais altos de evolução”. XAVIER, Francisco Cândido e VIEIRA, Waldo. O Espírito da Verdade: estudos e dissertações em torno de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec. Disponível em )
O homem, portanto, não é salvo por Jesus Cristo, mas se salva a si mesmo. Eis como o Espiritismo descreve o papel de Jesus na salvação. Ele é um “mediador, isto é, intermediário, médium incomparável, traço de união que liga a Humanidade a Deus, eis o que é Jesus! Mediador e não redentor, porque a idéia de redenção não suporta exame. É contrária à justiça divina; é contrária à ordem majestosa do Universo”. DÊNIS. Leon. Cristianismo e Espiritismo. Disponível em
Por isto, então, “a missão do Cristo não era resgatar com o seu sangue os crimes da Humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorância e do mal. Nada de exterior a nós poderia fazê-lo. É o que os Espíritos, aos milhares, afirmam em todos os pontos do mundo. Das esferas de luz, onde tudo é serenidade e paz, desceu o Cristo às nossas obscuras e tormentosas regiões, para mostrar-nos o caminho que conduz a Deus: tal o seu sacrifício”. (DÊNIS. Leon. Cristianismo e Espiritismo. Disponível em
Diante destas afirmações, fica claro que “a mensagem da cruz é loucura para os que estão perecendo, mas para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus”. (1Coríntios 1.18)
Precisamos sempre nos voltar para Jesus e deixar Ele mesmo falar. Eis o que Ele disse, quando estabeleceu a Ceia, olhando para o cálice com o vinho, simbolizando seu sangue: “Isto é o meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados”. (Mateus 26.28)
É por isto, como aprendemos com os apóstolos, que em Jesus “temos a redenção por meio de seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas da graça de Deus” (Efésios 1.7). Pelo sangue de Jesus derramado na cruz, nós fomos reconciliados com Deus, estabelecendo-se a paz (Colossenses 1.20). Somos santificados “por meio do seu próprio sangue”. (Hebreus 13.12)
Precisamos pôr em letras garrafais a lembrança do apóstolo Paulo: “Pois vocês sabem que não foi por meio de coisas perecíveis como prata ou ouro que vocês foram redimidos da sua maneira vazia de viver, transmitida por seus antepassados, mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha e sem defeito, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus”. (Romanos 3.24)
Reafirmemos que não podemos conquistar a salvação (ou reconciliação) através de nossos próprios esforços; antes, devemos recebê-la como um presente. “O pecado provocou a separação; a crucificação de Cristo trouxe a reconciliação. O pecado produziu inimizade; a cruz nos trouxe a paz. O pecado criou um abismo entre o homem e Deus; a cruz construiu uma ponte entre eles. O pecado quebrou a comunhão; a cruz a restaurou”. (STOTT, John. Cristianismo básico. Viçosa: Ultimado, 2007, p.111)
A ANUNCIADA INSUFICIÊNCIA DO ARREPENDIMENTO
O discurso inaugural de Jesus (“arrependam-se”) é tornado sem sentido no Espiritismo. Ouçamos suas vozes:
Segundo Allan Kardec, o arrependimento “é apenas a preliminar indispensável à reabilitação, mas não é o bastante para libertar o culpado de todas as penas”. (KARDEC, Allan. O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Disponível em ). Uma vez que “Deus não absolve incondicionalmente, faz-se mister a expiação, e principalmente a reparação”. (KARDEC, Allan. O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Disponível em ) A reparação é indispensável. “O arrependimento concorre para a melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado”, (KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, p. 563.) já que “o arrependimento lhe apressa a reabilitação, mas não o absolve”. (KARDEC, Allan. O livro dos espíritos, p. 565.)
Como complementa um intérprete, “o arrependimento não é a remissão total da dívida, é a faculdade, o caminho para redimi-la. E é nisso que consiste, segundo o código de Kardec, o perdão do Senhor”. (IMBASSAHY, Carlos. Religião: refutação às razões dos que combatem a parte religiosa em espiritismo. Disponível em ) Para outro, “o arrependimento é, com efeito, um meio de chegar ao fim, de chegar à expiação produtiva, à atividade nas provações, à perseverança no objetivo. (…) Todavia, o Espírito culpado não pode avançar, senão mediante a reparação. (ROUSTAING, J.B. (Coord.). Os quatro evangelhos: Espiritismo cristão ou revelação da revelação. Disponível em ) Por isto, como ensina Xico Xavier, o arrependimento é “caminho para a regeneração e nunca passaporte direto para o céu”. (XAVIER, Francisco Cândido. No mundo maior. Disponível em )
O apóstolo Paulo testificou que as pessoas “precisam converter-se a Deus com arrependimento e fé em nosso Senhor Jesus”. (Atos 20.21) Arrependimento e fé são duas faces de uma mesma moeda; um não existe sem o outro. Arrependimento sem fé é apenas admissão de culpa. Arrependimento com fé é admissão de culpa, tristeza pelo pecado cometido, disposição de não pecar mais e oração por vitória sobre o pecado.
É o Espírito Santos que nos convence do nosso pecado e da necessidade de nos arrependermos (João 16.18). O arrependimento, que implica a disposição de não pecar mais, é tudo o que o homem pode fazer, e é também a única coisa. O arrependimento é uma tristeza, diante do pecado cometido, posta em nossos corações pelo próprio Deus (2Corintios 2.7-10).
O JESUS QUE EMERGE DAS ESCRITURAS
Crer “no Evangelho”, portanto, é ter “fé em nosso Senhor Jesus”.
Quem é Jesus? Ele mesmo se apresenta, como lemos no evangelho de João:
. “Eu sou o Messias! Eu, que estou falando com você”. (João 4.26)
. “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim nunca terá fome; aquele que crê em mim nunca terá sede”. (João 6.35; João 6.48; cf. João 6.41; João 6.51)
. “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”. (João 8.12)
. “Eu sou a porta; quem entra por mim será salvo. Entrará e sairá, e encontrará pastagem”. (João 10.9; cf. João 10.7)
. “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas”. (João 10.11)
. “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá”. (João 11.25)
. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim. (João 14.6)
O retrato de Jesus Cristo feito pelo Espiritismo não confere com o quadro pintado pelas Escrituras.
Allan Kardec diz que Jesus “é o mensageiro divino enviado aos homens para ensinar-lhes a verdade, e, por ela, o caminho da salvação”. (KARDEC, Allan. O céu e o inferno ou A Justiça divina segundo o Espiritismo. Citado em “O Espiritismo de A a Z”. Disponível em ) Jesus “era médium de Deus”. (KARDEC, Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Citado em “O Espiritismo de A a Z”) Ele “é filho de Deus”, no mesmo sentido que o são “todas as criaturas”. (KARDEC, Allan. Obras póstumas. Citado em “O Espiritismo de A a Z”)
Um autor espírita deixa bem claro que “como filho, Ele, Jesus, não é Deus e sim Espírito criado por Deus e Espírito protetor e governador do planeta terreno, tendo recebido de Deus todo o poder sobre os homens, a fim de os levar à perfeição; que foi e é, entre estes, um enviado de Deus e que aquele poder lhe foi dado com esse objetivo, com esse fim”. (RIBEIRO, Guillon. Jesus, nem Deus nem homem. Citado em “O Espiritismo de A a Z”) Por isto, tornou-se “o mais alto expoente de evolução espiritual que podemos imaginar”. (QUINTÃO, Manuel. O Cristo de Deus. Citado em “O Espiritismo de A a Z”)
Divaldo Franco o elege como o máximo exemplo da entrega a Deus, como uma “lição viva e incorruptível de amor em relação à Humanidade”. Nesta condição, “mergulhou no corpo físico e dominou-o totalmente com o seu pensamento, utilizando-o para exemplificar o poder de Deus em relação a todas as criaturas, tornando-se-lhe o Médium por excelência, na condição de Cristo que o conduziu e o inspirava em todos os pensamentos e atos”. (FRANCO, Divaldo P. Impermanência e imortalidade. Citado em “O Espiritismo de A a Z”)
A síntese é clara: “Jesus é o ser mais puro que até hoje se manifestou na Terra. Jesus não é Deus”. (ANJOS, Luciano dos e MIRANDA, Hermínio C. Crônicas de um e de outro. Citado em “O Espiritismo de A a Z”) Ele foi apenas um “Espírito sublimado”. (CALLIGARIS, Rodolfo. Páginas de Espiritismo cristão. Citado em “O Espiritismo de A a Z”)
No dizer de Chico Xavier, Jesus é um membro da comunidade dos seres angélicos e perfeitos. (XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Citado em “O Espiritismo de A a Z”)
Nas Escrituras, no entanto, aprendemos que Jesus não apenas ensina a verdade. Ele é a verdade. Ele disse: Eu sou a verdade (João 14.6).
Jesus não é apenas mensageiro de Deus. Ele é Deus. Ouçamos cuidadosamente suas próprias palavras, onde mostra que é mensageiro, mas também a própria mensagem, por ser Deus:
. “Da mesma forma como o Pai tem vida em si mesmo, ele concedeu ao Filho ter vida em si mesmo”. (João 5.26) (Quem tem vida em si mesmo, senão quem é Deus?)
. “Eu tenho um testemunho maior que o de João; a própria obra [obra da redenção, que completa a criação] que o Pai me deu para concluir, e que estou realizando, testemunha que o Pai me enviou”. (João 5.36)
. “Você não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu lhes digo não são apenas minhas. Ao contrário, o Pai, que vive em mim, está realizando a sua obra”. (João 14.10)
. “Ninguém viu o Pai, a não ser aquele [isto é: Jesus mesmo] que vem de Deus; somente ele viu o Pai”. (João 6.46)
. “Quando vocês levantarem o Filho do homem [isto é: me crucificarem], saberão que Eu Sou, e que nada faço de mim mesmo, mas falo exatamente o que o Pai me ensinou”. (João 8.28)
. “Eu vim do Pai e entrei no mundo; agora deixo o mundo e volto para o Pai”. (João 16.28)
. “Eu e o Pai somos um”. (João 10.30)
Dois outros textos, mais longos, não deixam dúvida quanto à divindade de Jesus.
“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia.
Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus, estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz”.
(Colossenses 1.15-20)
“No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio.
Todas as coisas foram feitas por intermédio dele; sem ele, nada do que existe teria sido feito. Nele estava a vida, e esta era a luz dos homens. A luz brilha nas trevas, e as trevas não a derrotaram.
Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Contudo, aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus”.
(João 1.1.5,10-12)
Jesus não foi um homem (ou espírito) que evoluiu. Na verdade, Ele foi um Deus que se rebaixou:
“ Embora sendo Deus , não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!
Por isso Deus [após sua ressurreição e ascensão] o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”.
(Filipenses 2.6-11)
Este é o Jesus das Escrituras.
Com quem ficamos: com as afirmações que Jesus Cristo fez de si mesmo ou nós o consideramos apenas como um mestre da moral ou um ser evoluído?
“Cada um de nós tem que optar por uma das alternativas possíveis. Ou [Jesus] era, e é, o Filho de Deus, ou então foi um louco, ou algo pior. Podemos contra argumentá-lo, taxando-o de louco, ou cuspir nele e matá-lo como um demônio; ou podemos cair a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas não venhamos com nenhuma bobagem paternalista sobre Ele ser um grande mestre humano. Ele não nos deu esta escolha”. (LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. São Paulo: ABU, 1992. p. 29.)
A CONFISSÃO QUE SE FAZ IMPRESCINDÍVEL
Este Jesus só é compreendido através da fé. Como aprendemos nas Escrituras, “todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele, não tem Deus; quem permanece no ensino tem o Pai e também o Filho”. (2João 1.9. cf. 1João 2.23) O Espiritismo vai além do ensino de Cristo. A noção de pecado é um exemplo, entre outros, porque a Bíblia é solene, quando garante que não temos justiça própria, vindo da obediência ou da caridade, porque a justiça que salva é “que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé”. (Filipenses 3.9)
Jesus é a justiça que procede de Deus. O que lemos na Bíblia sobre Jesus é uma afirmação “fiel e digna de toda aceitação: Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores”. (1Timóteo 1.15) Quando faz esta declaração, o apóstolo Paulo pensa nos pecadores e olha para si mesmo e descobre: eu sou o pior dos pecadores.
Este é o Jesus, e não outro, que precisa ser confessado. Ter fé em nosso Senhor Jesus Cristo é crer que Ele é o Salvador, isto é, que Jesus Cristo é Deus; que Jesus Cristo morreu na cruz em nosso lugar (Romanos 5.8 — “Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores”), tomando assim a iniciativa de nos livrar da culpa do pecado; que não há nada que o ser humano possa fazer para ser salvo, exceto confessar que Jesus é o Senhor da sua vida. A salvação não vem das ações humanas (ou obras ou ações de caridade), de modo que ninguém pode se orgulhar da sua salvação ou da sua própria bondade (Efésios 2.4-9). Nos somos justificados (tornados justos, no sentido de que somos perdoados e purificados dos nossos pecados) gratuitamente pela graça de Jesus, graça que nos redime, ou seja, graça que, ao nos ser concedida na cruz, elimina a nossa culpa (Romanos 3.24)
Por isto, “a cruz de Cristo é a única base sobre a qual Deus pode perdoar pecados”. (STOTT, John. Porque sou cristão. Viçosa: Ultimato, 2004, p. 58.) “Se pecamos uns contra os outros, devemos perdoar uns aos outros. Então por que Deus não deveria praticar o que prega? Por que não deveria ser tão generoso quanto espera que sejamos”. (STOTT, John. Porque sou cristão, p. 59) Assim, “quando Jesus morreu na cruz, o próprio Deus, em Cristo, recebeu o julgamento que merecíamos, a fim de nos dar o perdão que não merecíamos. A pena plena do pecado foi paga — não por nós, mas por Deus, em Cristo. Na cruz o amor e a justiça divinos foram reconciliados. (STOTT, John. Porque sou cristão, p. 60)
Graças a Deus, como lemos nas Escrituras, Jesus Cristo “se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras”. (Tito 2.14)
Assim, na cruz, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho (Romanos 5.10). Fomos resgatados do domínio das trevas e transportados para o Reino de Jesus, “pois foi do agrado de Deus que nele [isto é: em Jesus] habitasse toda a plenitude, e por meio dele reconciliasse consigo todas as coisas, (…) estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz”. (Colossenses 1.19-20)
(CONTINUA)
ISRAEL BELO DE AZEVEDO