A IMPORTÂNCIA DO HEBRAICO BÍBLICO (Luiz Sayão)

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Quase todos sabem que a Palavra de Deus surgiu no contexto histórico do povo judeu. A verdade é que cerca de três quartos da Bíblia Sagrada foi escrita originariamente em hebraico. E apesar de quase todo restante ter sido escrito em grego, o raciocínio subjacente à maioria dos documentos do Novo Testamento é claramente hebraico. Portanto, se há uma língua importante para os estudos bíblicos mais profundos, sem dúvida alguma, trata-se do hebraico.
Diante disso, temos de reconhecer que existe motivo de sobra para que o cristão  de hoje procure conhecer o hebraico bíblico. Vamos relacionar as razões mais importantes:
1. Conhecer o hebraico é lidar com o sagrado. Esse conhecimento permite-nos falar as mesmas palavras e frases que os antigos profetas e homens de Deus falaram. A língua possui uma sonoridade bonita, exótica e diferente. Sinta o som do primeiro versículo bíblico: Bereshit bará elohim et hashamaim veet haarets. O hebraico é a língua antiga mais preservada que existe. Se Isaías ressuscitasse hoje teria condições de comunicar-se e de pedir um almoço em um restaurante de Jerusalém.
2. Conhecer o hebraico é uma emocionante viagem ao desconhecido. As letras são bastante diferentes e parecem pequenas obras de arte, as consoantes são mais importantes do que as vogais, a língua é escrita da direita para a esquerda (sentido oposto ao do português) e as palavras são totalmente diferentes das que conhecemos. Todavia, por incrível que pareça há termos parecidos: a conjunção ou em hebraico é `o (ô).
3. Conhecer o hebraico significa conhecer uma cultura muito diferente. As línguas humanas não possuem apenas palavras diferentes para as mesmas coisas. Elas são uma expressão da cultura e do modo de ser de um povo. No hebraico não existe gênero neutro como é o caso do inglês. Tudo é dividido entre masculino e feminino; existe, por exemplo, o pronome você (masculino) e você (feminino). Idéias abstratas são muito raras. A expressão bíblica “fazer uma aliança”, por exemplo, é literalmente “cortar uma aliança” em hebraico. É por isso que é impossível fazer uma tradução totalmente literal da Bíblia.
4. Conhecer o hebraico é aprender a pensar de modo diferente. O hebraico também é muito diferente do português e do inglês por possuir um jeito e uma ordem de frase distintos. A gramática é peculiar. Uma característica interessante da língua é o seu aspecto conciso. A antiga língua dos hebreus usava poucas palavras para dizer muito. Os verbos de ligação são dispensados, os pronomes pessoais estão embutidos na maioria das formas verbais e algumas preposições e sufixos de posse aparecem anexadas aos substantivos. Outra questão que merece atenção é o verbo do hebraico. Estamos muito acostumados com a idéia de tempo verbal em português. Para muitos é surpreendente descobrir que o que caracteriza o verbo no hebraico não é principalmente o tempo do verbo, mas sim o modo da ação. O que mais importa é se a ação é acabada ou não. Em muitas passagens bíblicas somente o contexto determinará se o verbo deve ser traduzido no futuro, no presente ou no passado. Um exemplo dessa diferença pode ser visto no Salmo 15.2. Veja a tradução literal comparada com uma boa tradução (NVI):

Andante integramente e praticante (da) justiça
E falante (da) verdade no seu coração

Aquele que é íntegro em sua conduta e pratica o que é justo,
que de coração fala a verdade.


5. Conhecer o hebraico significa entender corretamente as palavras teológicas da Bíblia. Esse conhecimento é muito importante para que não sejam ensinados conceitos errados nas igrejas evangélicas. Os vocábulos hebraicos muitas vezes não possuem correspondentes adequados em português. O campo semântico das palavras é muito particular e até mesmo estranho para nós. É por essa razão que uma tradução totalmente literal da Bíblia não teria sentido em português. Uma das palavras muito importantes do Antigo Testamento, por exemplo, é o termo Sheol, traduzido por Hades no grego do Novo Testamento. A tradução uniforme do termo não é adequada. Sheol refere-se de fato ao “mundo dos mortos”, e, em muitos contextos, refere-se concretamente à sepultura, em outros textos a idéia é profundezas; há contextos poéticos onde o sentido é morte; mas em muitos textos a idéia é mundo dos mortos (no NT Hades pode significar inferno em certos textos). Quem poderia imaginar, sem o devido estudo, que a palavra Shalom, tão conhecida, significa muito mais do que paz. Shalom quer dizer também prosperidade, vida plena, segurança. Em português essas associações não são claras. Quando um judeu cumprimenta o outro, ele pergunta: “Como vai a tua paz?” Paz, portanto, não é um termo simplesmente psicológico e emotivo, mas sim um termo concreto em relação à vida.

Diante de tais fatos, não há dúvida de que a igreja evangélica de hoje deve dar a devida atenção ao estudo do hebraico. Especialmente em nossos dias quando muitos conceitos equivocados são disseminados por quem conhece pouco do assunto, é mais do que necessário ampliar o conhecimento do povo de Deus no campo das línguas originais da Bíblia.

Estude e conheça o hebraico bíblico.

Luiz Sayão