Salmo 1 — CREIO NO DEUS QUE É AMOR (Felipe Fanuel)

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CREIO NO DEUS QUE É AMOR (Salmo 1)

 
De vez em quando, alguém pode se perguntar sobre o que, de fato, significa esta palavra, amizade. É possível que as definições sejam boas. Mas qual seria o verdadeiro significado de um amigo/a?
Acredito que a leitura do texto bíblico iluminará o nosso caminho em busca de uma resposta para o significado exato desta palavra, amizade. Para tanto, todos estamos convidados a ler o Salmo 1.
É interessante que ao ler um salmo como esse, temos a sensação de que há dois caminhos. Um que se caracteriza pela felicidade, e outro que se caracteriza pela ruína. Aliás, a gente nota que o salmo começa e termina justamente com estas palavras: felicidade e ruína, respectivamente.
Estamos falando aqui de duas grandes possibilidades entre as quais a nossa vida pode oscilar. A felicidade, ou seja, aquele sentimento de bem-estar que aparece vez ou outra. E a ruína, ou seja, aquele sentimento trágico que pode vir a nos incomodar em um momento ou outro de nossa jornada.
Felicidade e ruína fazem parte da nossa condição humana. Não podemos fugir da possibilidade sempre presente de a vida não ser um mar de rosas, mas um “mar de preocupações”, como já disse alguém. (“Sea of troubles”. Cf. Shakespeare, William. Hamlet. London: Penguin, 2001, p. 81).
Mas o que mais alegra o nosso coração é ver que não estamos sozinhos. Temos amigos e amigas que nos acolhem em suas mesas, as mesas da amizade. Estou falando de pessoas que ainda sonham com as palavras de Jesus. Ainda sonham, de dia e de noite, com a maior de todas as leis do Senhor. A lei de amar. Amar as pessoas. Como a nós mesmos. 
Na hora da dor, na hora do desespero, na hora da ruína, o que faz diferença mesmo é a mesa na qual estamos assentados. Se é uma mesa de amigos/as, seremos acolhidos, cuidados e encorajados a continuar sonhando com a lei do Senhor, de dia e de noite. Desta forma, nossa jornada encontra sentido na lei do amor.
Aliás, a única lei possível é o amor. Lembro-me bem de que quando criança eu tinha um exemplar do Novo Testamento intitulado “O mais importante é o amor”. Esta é a mensagem última de nossa fé. Uma fé que nos leva a acreditar nas palavras de Jesus, no evangelho de Mateus (22.34-40), que toda a lei depende do verbo amar. Logo, a única lei possível é amar. 
Como mexe com o nosso coração a leitura daquele célebre texto: “Quem não ama não descobriu Deus, porque Deus é amor.” (1João 4.8)
A grande verdade é que amar não é fácil. Fácil é acreditar na impossibilidade de amar. Principalmente de amar os outros. Essa crença na impossibilidade de amar me aproxima de atitudes de injustiça, perversidade e zombaria diante do amor. É como se tornássemos profana a sagrada palavra que diz quem Deus é.
Só que não há outro caminho para Deus a não ser o amor. Todo amor vem de Deus. O amor se fez e se faz carne, salvando-nos da ameaça de autodestruição sempre presente no não-amor. Ora, se Deus é amor, por que devemos ser outra coisa? 
Mas reconhecer que Deus é amor também não parece ser coisa fácil. Não foi à toa que Paulo disse que tal amor divino nos constrange. (2Coríntios 5.14) De maneira que o amor só pode ser divino mesmo. Porque nós humanos somos vacilantes. Não amamos como Deus. E quando amamos, só o fazemos porque é obra de Deus. Porque Deus é amor. E esta é a sua lei. Amar.
Amando, aumentamos os assentos na mesa de amigos e amigas, na mesa da amizade, e diminuímos o interesse pelos assentos disponíveis na mesa dos injustos, perversos e zombadores do amor.
Amando, sonhamos, dia e noite, com a lei do Senhor, da qual dependem todas as outras leis: “Amar a Deus e ao próximo”. 
Amando, temos prazer em amar.
Amando, somos como uma árvore plantada, que tem sede de água corrente. Nossas raízes querem ser saciadas na mais feia secura do dia-a-dia. Nossas folhas não querem murchar. Nossos frutos querem nascer. Nossos frutos irão nascer. No tempo certo, o melhor de todos os tempos. O tempo do Senhor.
Como cristãos e cristãs, temos acreditado que Jesus, o amor em pessoa, inaugura um novo tempo. Trata-se de um tempo que acontece hoje, agora, o único tempo possível. A fé cristã acredita que esse é o kairós, o tempo oportuno de Deus para a humanidade. Não é um tempo cronológico, mas é um tempo qualitativo. É um tempo especial. 
Esse tempo é importante porque não é o nosso tempo. É o tempo de Deus. Eu diria que amar é um verbo que acontece exatamente neste tempo divino. Neste tempo especial, porque é obra dos céus aqui na Terra. E como já disse Santo Agostinho, “se nós voltamos para Deus, até mesmo isso é um presente de Deus”.  (Apud Brennan Manning. O evangelho maltrapilho. São Paulo: Mundo Cristão, 2005: p. 25)
O Senhor conhece o caminho dos que amam, porque este é o caminho do Senhor. Não queremos nos perder longe do amor. Mas queremos orar, como já o fez o poeta:
 
Jesus, suave e meigo, 
Ensina-nos a amar, 
E como Tu sejamos
Também no perdoar!
Ah! Quanto carecemos
De auxílio do Senhor!
Unidos supliquemos
A Deus por esse amor! 
(Terceira estrofe do hino 381 “Amor Fraternal”. Cantor Cristão. 4a ed. Rio de Janeiro: Juerp, 2004, p. 318).
 
Amém.
 
(FELIPE FANUEL)