Uma história de natal, uma criança (inclusive aquela que mora em você)

Príncipe  tem cara de príncipe.
Rei tem aquele jeito de rei.
Não o meu, da história que contarei.

Príncipe nasce em palácio.
Tem um lindo berço de ouro o rei.
Não o meu, na história que contarei.

Se eu nascesse onde Ele nasceu
a ninguém eu contaria.
E você também não diria
se nascesse onde Ele seu primeiro choro deu.

Nosso príncipe, depois, quando saiu de casa,
para fazer o que tinha que fazer,
não tinha cama, mas seu pai era carpinteiro
e  quantas camas quisesse podia fazer
e quando tinha cama, não tinha travesseiro.
— ai que saudade da mamãe — devia Ele dizer,
pois ela tudo cuidava com todo esmero.

Mas quero falar mesmo do príncipe pequeno
não do príncipe já crescido, mas do infante.
Preciso começar com a história de sua mãe
que começa com a história de um anjo falante.

Ela estava em casa. Todos tinham saído.
Ela estava no seu quarto. Ai que silêncio.
Então, o anjo de boas notícias se aproximou.
Eu disse o nome dele? Então, vá: Gabriel.
Maria pensou que fosse um castigo do céu,
mas do céu sempre vem notícias para o nosso bem.
E desta vez não foi diferente, e o anjo falou
que, para a alegria de todos, ela teria um neném,
porque para Deus não existe a palavra “impossível”.
Falou e se foi, deixando a moça cantando
feliz por aquilo que do anjo escutou.

E grávida ela ficou. Perto de neném nascer,
a barriga pesando, uma viagem tiveram que fazer
a mãe montada num jumentinho, saindo de Nazaré,
para ordens do governo obedecer.

José foi junto. Não fugiu à responsabilidade
Chegaram os dois, quer dizer os três,
a Belém — este é o nome da cidade —
só para entregar seus documentos de identidade.

A cidade estava cheia, com tanto turista
por causa da ordem que o governo tinha dado.
José bateu em muitas portas,
umas com placas certas e outras com placas tortas.
em busca de um lugar para se hospedar
E diante de cada um tinha sempre que escutar:
— Desculpe, amigo, nosso hotel está lotado.

Foi quando viram uma placa de hotel simplezinho
e entraram, como se fossem descansar.
Simpático, o moço daquela estrebaria
disse que vaga pros dois também não havia.

Apareceu uma mulher, vendo a difícil situação
e chamou os dois para os fundos da pensão,
onde os animais ficavam perto de uma manjedoura
que podia servir de berço se não importassem com a condição,
quando do nascimento do filho mais velho chegasse a hora.

Eles cumpriram com o seu dever,
mas Maria estava pesada para voltar a Nazaré.
Podia ser perigoso para o bebê.

Resolveram esperar em Belém.
Maria começou a sentir as dores que as mulheres têm.
Ela gemeu:
— Aí, José, a hora está para chegar.
Não seria melhor um hospital procurar?
Mas naquele cidade não havia hospital.

E rápido atravessaram o esperado portal
da única estrebaria em que puderam se hospedar.

José reclamou, enquanto Maria gemia:
— Meu filho não pode mais aguardar.
Ele vai nascer aqui mesmo nesta portaria
e uma cama pra ele temos que arranjar.

E rápido arrumou as roupas no chão
porque não havia mesmo outra solução.

E a dor aumentava, aumentava, aumentava.
Maria pensou nas palavras de Gabriel:
onde estava o anjo que não a ajudava?

Fizeram o melhor que puderam e Maria descansou,
mas foi por alguns minutos, pois a dor aumentou.
Maria em silêncio. Ela chorou de medo e dor.
mas de novo se lembrou do que anjo lhe falou.
José segurou as sua mãos. A mulher ajudou.
Era noite e o silêncio quase nada durou.
De repente, um choro alto se escutou.
— É um menino — José mais alto gritou.
Então, agora de alegria, Maria novamente chorou.
E das palavras do anjo Maria outra vez recordou.

E assim, olhando para o menino no colo, adormeceu.
Depois da agitação, a calma se restabeleceu.
E o silêncio voltou.
Os animais se calaram.
O porteiro cochilava.
José, porém, a tudo vigiava.

De repente, lá fora a correria.
Acabou a calma na estrebaria.
Parece que a noite virou dia.
José acordou Maria.
— Estou ouvindo uma gritaria.
Parecem pastores, mas o que aqui fariam?

Entrou o homem da portaria,
pedindo se podiam chegar os visitantes.
— Quem são? — perguntou José, hesitante.
— São os guardas dos animais do campo.
Querem ver o menino que nasceu há instantes.

Maria se lembrou do anjo Gabriel:
— Deixem que entrem para ver o menino.

Entraram com as roupas cobertas de neblina.
Ficaram encantados. Tudo conferia com a voz do céu.

Voz do céu. Que voz do céu? Não custa perguntar.
José perguntou:
— Como souberam que meu filho nasceu?

Um deles logo respondeu, porque era o mais agitado:
— Ouvimos uma voz do céu, que dizia:
“Hoje em Belém finalmente nasceu o Messias.
Ele está numa manjedoura agora deitado”.
Depois um coro de anjos deixou uma canção:
“Nas alturas dêem a Deus toda a glória,
e na terra anunciem de todo o coração
a paz que Ele quer que alcance a história”.

Depois da visita, todos saíram. Eles gritavam.
As palavras do anjo ainda ecoavam
porque todas se confirmavam.
É por isto que “glórias a Deus” davam
e pelas ruas a sua alegria cantavam.

Enquanto José em tudo prestava atenção,
Maria tudo guardava no coração.

E os pastores não foram únicos a receber a notícia
de que em Belém um príncipe nascido havia.
José não soube então; Maria não soube então,
mas muito, muito, muito longe daquela estrebaria,
uns cientistas foram informados por divina instrução
que em Belém um grande príncipe nasceria.
E começaram uma viagem que muito tempo levaria.

Em Belém, uma semana se passou e tudo corria bem.
Logo um mês se passou e tudo corria muito bem.
Era chegada a hora de irem a Jerusalém,
para apresentarem na igreja o neném.

E lá estava um velhinho chamado Simeão.
Quando viu o menino, deu um grito de satisfação:
— Oh! bondoso Deus, meus olhos viram a salvação
que enviaste depois de tanta preparação.

Na frente de todos, levantou a mão
e ofereceu o menino a sua bênção.
E lá estava também Ana, uma mulher de oração,
que também apresentou a sua gratidão
porque também tinha tido a mesma emoção.

Depois do culto, a família voltou para casa.
Ia começar uma outra dura viagem.
Aqueles cientistas lá de longe — lembra-se? —
depois de muita pesquisa, chegaram a Belém,
com muitos presentes na bagagem.
Passaram por deserto e oceano,
sem aviões e sem navios
por montanhas e rios,
sem ônibus e sem trem.
Tinham apenas um plano:
Visitar um rei e lhe fazer uma homenagem.
Enquanto isto, apavorado, em Jerusalém,
o rei do país esperava que eles o caminho
lhe ensinasse para que pudesse pegar o neném.
Mas eles foram por outra direção para o oriente.
O rei era mesmo muito feroz.
Por isto, depois de ouvirem de Deus a voz,
fugiram, de noite, no maior segredo,
em meio a muitas lágrimas de medo,
para um lugar seguro, mas bem distante
onde não lhes podia alcançar o valente.

E ali ficaram até o dia de voltar para Nazaré,
onde ficava a casa e a carpintaria de José.
E ali o menino crescia e se fortalecia,
enchendo-se de sabedoria
porque a graça de Deus nele residia.
E tudo no seu coração guardava Maria.

Como todo menino, este menino cresceu
e um homem adulto se tornou.
Seu tempo de partir nasceu
para fazer aquilo para o qual se preparou.

E eu vou lhe contar
o que este Amigo sempre Maravilhoso,
este Deus muito Poderoso,
este Pai eternamente Amoroso
e este Príncipe Valoroso,
— este é o nome completo de Jesus —
fez, pelo mundo afora,
para a nossa história se encerrar…
mas, calma! Espere. Não será agora
que a melhor aventura vai começar.

ISRAEL BELO DE AZEVEDO

(Novembro de 2006)