Branca de Neve e os 7 Anões – Teologia (Prof. Adalberto Alves de Sousa)

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De vez em quando, alguém me pede que fale sobre a interpretação teológica que fiz para a história de Branca de Neve e os sete anões. De agora em diante, quando me fizerem esse pedido vou dizer que está no Prazer da Palavra.
Enquanto realizava um trabalho acadêmico para uma das disciplinas de um curso na universidade, descobri que Branca de Neve e os Sete Anões não é simplesmente uma obra ingênua da literatura infantil, como a temos considerado em nossos dias. Pelo contrário, trata-se de um texto muito sério, que chegou até nós por intermédio da tradição oral. Trata-se uma parábola que encerra a História da Humanidade, que tem seu início no Éden, passa pelo Calvário e continua pela Eternidade. É a própria Bíblia em miniatura.
O leitor se lembra da história: “Era uma vez … “. Bem, como o leitor conhece a história, vamos resumi-la em forma de paráfrase: Branca de Neve é princesa e pequena, sua mãe morre, seu pai se casa novamente. A madrasta é bonita, não tem bom coração, é orgulhosa, não admite mulher mais bonita; tem um espelho mágico, pergunta-lhe se existe mulher mais bela, e ele responde: “Branca de Neve”. A madrasta fica com ciúme; sabe que é verdade.
A madrasta chama um caçador, manda matar Branca de Neve na floresta, ele a leva para a floresta, mas não a mata; fica com pena, manda Branca de Neve embora. Ela chega a uma casinha, bate à porta, mas não atendem; entra e dorme em uma das caminhas.
A casa é dos sete anõezinhos. Eles estão trabalhando na mina de ouro, voltam à tarde e ficam surpresos. Ela conta sua história, eles a convidam para ficar, ela vive feliz.
A madrasta está contente. Pergunta ao espelho se existe mulher mais bela, ele responde: “Branca de Neve”. Ela fica furiosa, prepara uma maçã envenenada, disfarça-se em vendedora de maçã; procura Branca de Neve, dá-lhe a parte envenenada da maçã.
Os anõezinhos voltam pra casa, encontram Branca de Neve dormindo, tentam em vão acordá-la, colocam-na em uma caixa de cristal, levam-na para a colina, tomam conta dela.
Um príncipe passa pela colina, vê Branca de Neve, quer levá-la, os anõezinhos não querem deixar, ele convence os anõezinhos, beija Branca de Neve, ela abre os olhos. Ele a leva para o palácio, casa-se com ela, eles vivem felizes para sempre.
Agora, que recordamos a história, vamos à interpretação:
A pequena Branca de Neve representa o Homem, que foi colocado por Deus no jardim do Éden, para viver na presença dele, puro e inocente. Princesa que era, vive no palácio, cercada de todo o cuidado, assistida por seu pai, o rei, exatamente na situação em que Adão se encontrava no Paraíso.
A madrasta é o pecado, que separa Branca de Neve do convívio com o pai, e o Homem do convívio com Deus. Sob a influência do pecado, Branca de Neve age de modo semelhante a Adão no Paraíso: “Ouvi a tua voz no jardim, tive medo porque estava nu e escondi-me” (Gênesis 3.10). Também com medo, Branca de Neve procura um lugar onde possa se esconder, e encontra uma casinha.
Da mesma forma que no Éden a serpente deu uma força para a consumação do ato pecaminoso, a madrasta agiu diante de Branca de Neve. A narrativa bíblica afirma: “E disse a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim comeremos; mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem neles tocareis, para que não morrais. Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis” (Gênesis 3.2-4). A narrativa de Branca de Neve e os sete anões é idêntica: “Mas uma maçã tão bonita não te fará mal algum – disse a rainha”.
Sabemos, entretanto, que o que o pecado produz, realmente, é a morte: “Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3.23). Ao comer a maçã, Branca de Neve permitiu que o pecado consumasse a sua ação destruidora. O resultado foi a morte, simbolizada pelo sono. 
A atitude dos anõezinhos é exatamente aquela do bom samaritano, da parábola de Jesus, que socorre o homem que descia de Jerusalém para Jericó e que caiu nas mãos dos salteadores, conforme o relato de Lucas 10.30-35. Eles representavam o amor, esse elemento fundamental e imprescindível que se encontra no centro da revelação bíblica. Quando cuidaram de Branca de Neve, não os moveu qualquer tipo de interesse: não esperavam recompensa alguma. Seu ato foi de puro amor, que se materializa em serviço, em doação; que encontrou sua maior expressão em Jesus Cristo: “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a sua vida pelos seus amigos” (João 4. 16); amor perfeito. A ideia de perfeição está contida no número 7 que, segundo a numerologia dos hebreus, tem esse significado.
O príncipe, afastando-se dos limites territoriais do reino, vai em busca de Branca de Neve, e para resgatá-Ia aceita o desafio de subir a colina. Sua atitude lembra a de Jesus Cristo, o “Príncipe da Paz” (lsaías 9.6), que também deixou o seu reino e “habitou entre nós” (João 1.14), interessou-se pelo Homem, vindo “buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19.10) e que aceitou o desafio do Calvário: “Pai, se é possível passa de mim este cálice… ” (Mateus 26.39). O beijo representa o ato de amor de Jesus, praticado na Cruz. O príncipe libertou Branca de Neve das garras da madrasta; Jesus Cristo liberta o Homem do domínio do pecado. Ao se casar com ele, Branca de Neve passa a ser filha do rei, por adoção, da mesma forma que o Homem, ao aceitar a Jesus Cristo como salvador de sua alma passa a ser filho de Deus, conforme lemos no livro de Gálatas: “Mas vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu filho, nascido de mulher, nascido sob a lei. Para reunir os que estavam debaixo da lei, a fim de receberem a adoção de filhos” (4.4,5). “Assim que já não és mais servo, mas filho; e, se és filho, és também herdeiro de Deus por Cristo” (4.7). Na qualidade de filha, de herdeira, Branca de Neve volta a habitar no palácio real, na presença do rei. O mesmo destino está reservado aos salvos: “Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado …” (Mateus 25.34). Finalmente, a expressão “para sempre” refere-se à vida eterna, alcançada por aqueles que aceitam a Cristo: “… para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
Vale ressaltar que Branca de Neve teve de escolher: ou aceitar o convite do príncipe, ou permanecer com os sete anõezinhos. Se resolvesse ficar, mesmo estando cercada de todo o amor e das boas obras dos seus amigos, continuaria sob a influência da madrasta e distante do palácio do rei. Da mesma forma, Jesus Cristo se interessa pela salvação do Homem, mas respeita-lhe o livre-arbítrio, deixando com ele a responsabilidade de aceitar ou não a salvação que lhe é oferecida.
E para o meu leitor, o que significa esta história?